Transição planetária. Acontecimentos que envolvem milhões de pessoas, memória institucional, narrativa de sonhos, relacionamentos, saúde mental, música, cinema e balé.
terça-feira, 31 de julho de 2012
segunda-feira, 30 de julho de 2012
LUA BRANCA
Nos idos de 1912, no final da belle époque do cinema nacional e no início da entrada de filmes estrangeiros, sob o comando do empresário Francisco Serrador, e ainda da construção de salas de projeção e cinemas no País, a compositora, instrumentista e maestrina Chiquinha Gonzaga (1847/1935), escreveu a música Lua Branca.
A primeira estrofe é cantada nos versos:
“Oh! lua branca de fulgores e de encanto,
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo,
Vem tirar dos olhos meus o pranto.
Ai, vem matar esta paixão que anda comigo.”
A canção Lua Branca é uma súplica enternecida de quem ama e busca uma proteção ao amor apaixonado que, no íntimo, sente vontade de matar aquela paixão que sente, dentro de si, andando com ele. Esse sentimento provoca prantos e incomoda demais.
A luz da lua é um véu imenso que se espalha em chuvas de prata pelo céu aberto, estendendo um enlevo inebriante que desperta uma satisfação de beleza inefável e está intimamente ligada a um doce estado de espírito que ameniza e dulcifica.
A poetisa a viu e a transmitiu aos ouvintes a lua como a salvadora de angústias de amar apaixonadamente. Sem dúvida, um recurso valioso para sentir, no íntimo, a suavidade da luz que dela se derrama, como também existem outros meios que possibilitam a recomposição de ânimo firme no caminho da vida.
Assistimos, nos dias de hoje, a uma minoria de pessoas, que detém o poder da mídia, promovendo uma cultura centrada no escândalo político e na administração pública, nas notícias de crime em detrimento da informação da memória nacional ricamente encontrada em todos os setores da sociedade, principalmente na música, nas artes plásticas, na literatura, no cinema e na televisão.
Assim, divulga-se gratuitamente o desencanto em espaços onde os empresários gastam fortunas para promover seus produtos. Diante do desprestígio da virgindade e da banalização do sexo, a tendência dos casais é buscar apenas a satisfação do prazer sem que haja manifestação de amor.
Livrar-se do amor para não sofrer é o mesmo que livrar-se da vida para não viver. O que se aprende na saudade, na separação, vem enriquecer o nosso mundo íntimo para sentirmos melhor a vida que se estende em outros caminhos.
Quando um dia, na longa estrada do destino, tivermos a missão de confortar corações tristes, apaixonados, desiludidos e até mesmo abandonados pelos entes amados que se foram por outros caminhos, saberemos, neste nosso aprendizado, como ser útil, a fim de que possamos promover uma sociedade que tenha mais consciência da beleza que a lua inspira.
E na verdade ao amor que damos abrigo, vamos tirando dos olhos dos entes queridos o pranto, a paixão que mata, a amargura que desanima, e, seguindo o destino da lua, vamos iluminando os dias felizes dos amores que nos esperam.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site www.fernandopinheirobb.com.brCANÇÕES DE AMOR
Escritas nos idos de 1958, as três músicas
Em algum lugar, Ouve o Silêncio e Acalanto da Rosa, de Cláudio Santoro, trazem
os versos de Vinícius de Moraes, e integram o ciclo Canções
de Amor.
A música Em algum lugar começa dentro do movimento andante, a letra é revestida da esperança de
haver algum lugar onde
o amor possa
ser vivido em
paz.
A canção Ouve o Silêncio do ciclo
Canções de Amor, como é óbvio, estende uma atmosfera
sussurrante quase silenciosa, a expressar um segredo de um amor, em aparente
solidão, a cantar
a beleza de
viver.
A terceira
música do ciclo tem por título Acalanto da
Rosa que expressa o dormir da estrela no céu, o dormir da rosa no jardim e o dormir do amor de quem o
faz dormir. O texto cita a frase:
“é preciso pisar leve”, fazendo–nos
lembrar a canção O bilhete, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, na voz do cantor Altemar Dutra:
“quando chegares, viu, pisa
bem devagar que
a minha dor
dormiu.”
Os
versos do poeta
Vinícius de Moraes começam,
na primeira canção, falando-nos
da possibilidade da existência de
algum lugar onde o amor possa viver em paz. Realmente , é
muito difícil se
encontrar, neste planeta, um
recanto que esteja
em eterna primavera.
Mas
sempre existe àqueles que trazem o amor no
coração, um lugar de paz onde se
pode viver o amor e ser feliz, bem
feliz. A felicidade, que semearmos, será a mesma que iremos receber de volta, embora tenha
percalços para chegar ao ponto em que desejaríamos. Uma simples visão do caminho que buscamos já é o suficiente para
estarmos bem com a
vida.
Na segunda
música, há um
convite para ouvirmos
o silêncio que fala do amor
triste que não pode acontecer entre um casal. Os motivos dos amores impossíveis
são muitos e alguns
deles permanecem em
segredos insondáveis.
A canção,
logo de início,
diz para não
falar e, um
instante depois, pede para falar bem de leve, dizer bem baixinho
de um segredo
e um verso
cheio de esperança
no amor que
eles sentem. Antes
que a amada
possa manifestar algum
desencanto, ele se antecipada, impedindo-a:
“não”.
Em
seguida, ele a incentiva a cantar a beleza de viver, fazendo uma saudação ao Sol e a alegria de
amar, mesmo na aparente solidão. Se há um vínculo de
amor, sustentado por pensamentos
intensos e profundos, a separação é
apenas física e não emocional.
Não há motivos para tristeza. O amor
é o cântico
que persiste.
Pensar
no Sol, em forma de saudação, é muito salutar,
pois a energia,
que dele se
derrama, pode envolver-nos,
a qualquer hora, de dia ou de noite, em fortes emanações etéricas. O pensamento em direção as
conquistas maiores dá um sentido maior
em nossa vida e
ajuda-nos a ficar
mais confiantes no caminhar. Lindas imagens ideoplásticas, que o cérebro
cria, facilitam a contemplação da beleza ao
nosso alcance.
De
efeito semelhante, podemos, sem buscar nenhum
meio exótico, atrair pelo pensamento as energias que emanam de paisagens conhecidas: o deserto do Saara,
as savanas africanas, as nascentes do rio Nilo, os Alpes franceses ou suíços,
os fiordes escandinavos, as florestas eslavas, as paisagens polares, o pantanal
mato-grossense, as cachoeiras do Iguaçu,
os igarapés da
Amazônia, as areias
dos lençóis maranhenses, em Araioses e Barreirinhas, e
também na própria ilha de
São Luís nas
dunas da praia de
Araçagi.
No
Acalanto da Rosa o pensamento de Vinícius de Moraes segue em direção da
estrela, da rosa, da lua e do amor
para revelar que há sono. Há, também, como vimos, um sutil alerta: “é preciso pisar leve, aí
é preciso não falar”.
Quando a amada
adormece o perfume
dela é suave
e ele a compara a rosa pura dentro de um sono que,
devido à longa espera,
supomos, não tem
fim. Pois, do
contrário, iríamos reconhecer a
morte ou a própria vida ressurgida
em outra dimensão
maior.
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domingo, 29 de julho de 2012
CONSELHOS
Comentar a música Conselhos do compositor e maestro Carlos Gomes é uma honra muito grande que muito nos sensibiliza, principalmente porque tivemos a oportunidade de ler a partitura escrita por ele (Acervo: Biblioteca Nacional).
Alguém já ouviu falar o que é a Cinelândia? Pois é, é uma praça onde está a estátua do maestro e compositor Carlos Gomes, em frente do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
As marcas indeléveis do próprio punho do autor eram traduzidas por nós em perfeição e beleza comovente. Os primeiros movimentos da música: Allegreto (accentada la prima), staccatissimo, aumentando e diminuendo, suave, crescendo, diminuindo, staccato, suave. O final é allegro deciso, fortíssimo.
A poesia do Dr. Velho Expediente compõe a letra da canção. A estrofe que mais justifica o título é a segunda:
“Se o homem idoso for, se ainda rapaz,
Tome a lição que ele quiser lhe dar.
Se funções, contradanças não quiser,
Também não queira, para não brigar...”
A letra da canção traz conselhos a mulheres casadas. Os tempos em que vivemos são outros dos aqueles em que viveu Carlos Gomes, mas reconhecemos que o relacionamento entre casais ainda está sujeito a condutas saudáveis que fortalecem a união da família.
Em cada estrofe há uma sucessão de conselhos úteis, vindo da vivência dos relacionamentos do passado que alcançaram êxito, e logicamente serve como bússola para guiar aqueles que, perdidos entre tantas informações, ainda não encontram o caminho certo.
Logicamente em cada um dos parceiros, haverá sempre uma variante de opiniões que oscila entre aquilo que deve ser e aquilo que pode ser ou mesmo não ser nada, o que vem caracterizar a separação.
Fazer a vontade do marido é o melhor caminho para as jovens esposas, desde que essa vontade esteja revestida de indícios de bom–senso, discernimento e os cuidados que vêm do amor verdadeiro.
Neste caso, entra muito a apreciação inteligente do que seja bom para ambos. Não apenas a satisfação e os gostos inclinados para um lado só, mas ao que convém para manter o casamento. O amor verdadeiro é feito mais de renúncia e desprendimento do que as vantagens pessoais.
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sábado, 28 de julho de 2012
PÉROLA
O movimento tempo di minuetto dá início à música Pérola, de Carlos de Campos (1866/1927), escrita para canto e piano. No período de 1924 a 1927, o compositor foi governador do Estado de São Paulo.
Carlos de Campos é também autor das óperas A bela adormecida e Um caso singular, estreadas em abril de 1924 e agosto de 1926, respectivamente, no Theatro Municipal de São Paulo e encenadas nas temporadas de 8 a 16 de novembro de 1924 e 30 de julho e 5 de agosto de 1926 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
A letra da música é do livro Cantos de Luz, de Luís Guimarães Filho (1878/1940), diplomata, poeta, ensaísta, filho de Luís Guimarães Júnior (1845/1898), imortal da Academia Brasileira de Letras, autor do célebre verso: “depois de um longo e tenebroso inverno”.
A letra da canção remete-nos à reflexão da vida, principalmente na oportunidade de vivenciar aquilo em que todos nós estamos envolvidos. Não é apenas exclusiva à pérola, figura de mulher representada diante do mundo, mas sim à criatura humana, de modo geral.
O título da canção Pérola tem maior significação, se compararmos ao ser mais profundo que habita em cada um de nós. A pérola, a que estamos nos referindo, merece maior atenção e cuidados especiais do que ao próprio corpo físico. É questão de transcendência.
O nosso ser mais profundo -
sinônimo de alma, espírito, essência divina, corpo somático, energia do mundo
(denominações consoante a linha do pensamento ético ou religioso) - está
encarcerado dentro do corpo físico.
O poeta Luís Guimarães Filho, em sua ideia luminosa e
cristalina, começa revelando-nos o mundo que as ilusões despertam. Quantas
oportunidades de viver a felicidade são perdidas:
“Lúcida pérola encarcerada
Na rósea concha de um débil ser.
Teu berço dança como a jangada
que nos recifes se vai perder...”
Em busca da liberdade, em melhores
ares, faz eclodir de dentro de si mesmo os talentos das artes e dos sonhos,
negociando favores transitórios que o tempo desgasta.
Brilhos de festa, risos e contentamento se misturam
para celebrar a vitória. A taça é cheia, em borbulhões, e se derrama.
Aos poucos, estará vazia, refletindo a vacuidade no ser mais profundo. Na alquimia dos opostos, a lágrima revela o excesso. Adeus às ilusões!
Corre o tempo. O cansaço chega. Desilusões acumuladas são expurgadas como lixos mentais que precisam de reciclagem em outros espaços que não nos pertencem.
Abençoado o esquecimento que não promove mais os desencantos. Virão, sim, a verdadeira alegria, os verdadeiros amores, os sonhos das fontes límpidas.
Nessa nova condição de vida, que estabelece em definitivo a felicidade que buscamos, sentimo-nos vontade de ter a simplicidade das crianças e dos amores primeiros, saudades de sermos nós mesmos, puros e belos, como disse, em analogia, o poeta da canção:
“Mas, ai! de súbito eis que te cansas,
Perdes o brilho do teu olhar...
Da antiga concha talvez lembranças!
Talvez saudades do velho mar!"
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sexta-feira, 27 de julho de 2012
ALAMÔA
Nos idos de 1948, quando o médico Guilherme da Silveira dirigia os destinos do Banco do Brasil, o funcionário Lourenço da Fonseca Barbosa, Capiba, escreveu a canção Alamõa, retratando uma lenda do arquipélago Fernando de Noronha.
Sobre o autor, ressaltamos que, nos idos de 1943, escreveu a canção Maria Betânia, destinada para a peça Senhora de Engenho, de Mário Sette, dirigida pelo teatrólogo Hermógenes Viana, à época funcionário do Banco do Brasil.
Posteriormente, a canção foi gravada pelo cantor Nelson Gonçalves, hoje um dos clássicos da música popular brasileira. Outro sucesso de época foi a Serenata Suburbana, de Capiba, na voz de Dalva de Oliveira e regravada por inúmeros cantores.
Ao ensejo do lançamento do disco Mestre Capiba Raphael Rabello e convidados, sob o patrocínio do Banco do Brasil, banco que divulga a memória nacional, citamos matéria publicada pela imprensa: “Mestre Capiba” está bem longe de ser mais um tributo comercial.” (3)
(3) JOÃO PIMENTEL (in Capiba pelo violão genial de Rafhael – Jornal O Globo (05 de novembro de 2002).
Capiba era mais conhecido como compositor de frevos. No entanto, na área erudita, escreveu um concerto para piano e outro para flauta, um trio para violão, violino e cello, e ainda uma suíte para piano, orquestrada pelo compositor Guerra Peixe. Nos idos de 1950, obteve o 2° lugar no concurso comemorativo ao 1° Centenário do Teatro Santa Isabel, na capital pernambucana, com a apresentação de uma abertura solene para orquestra sinfônica.
Ferreyra Santos, poeta e romancista pernambucano, é o autor da letra da música Alamôa que começa narrando uma sombra de gente dançando dentro da noite, num lugar lambido pelo mar.
A lenda contada pelos habitantes de Fernando de Noronha é a respeito do episódio dramático ocorrido com um jovem casal. Ela, loira, de longos cabelos, parecendo uma alemã (alamôa para os nativos) foi morta pelo noivo. Motivo do crime: ciúme. Ele foi condenado a cumprir pena. Numa noite de temporal, ele morreu de remorso porque foi constatada a inocência da amada.
Em noites de tempestade, ela
surge dançando entre os rochedos a caminho da cela onde esteve preso o noivo.
A letra da canção revela uma sombra de mulher a dançar
num lugar isolado, rodeado de mar, açoitado pelo vento da tempestade. O ser
mais profundo que nela vivia, enquanto noiva de um homem ciumento, recrudesce
em imagens vivas que a morte não conseguiu eliminar.
Os noivos do passado, em transes
dolorosos e de sofrimento, buscam o reajuste que a harmonia estabelece. O amor
tem esse encantamento que faz surgir a beleza.
Particularmente, mesmo não aceitando o crime por amor,
vemos que o canto nordestino se converte em prece fervorosa em súplica pedindo
a Alamôa sair dos olhos do pobre pecador e perdoá–lo.
No mundo espiritual os passageiros do mundo material são recebidos e encaminhados a esferas de comportamento em que semearam seus corações. Quem semeou a noite escura colherá a noite escura, quem semeou o dia claro colherá o dia claro.
Os liames afetivos permanecem vivos dentro da durabilidade de que são revestidos, o que enseja pensar em grau ou escala de envolvimento, intensidade e teor vibratório das emanações psíquicas ou emocionais revelando a beleza, para concluirmos que somente o amor pode transmudar, no tempo e no espaço, a situação que revela a imortalidade do próprio sentimento.
Esse fenômeno que se irradia na natureza e se faz presente no homem, numa consciência plena, que é integrante da própria natureza, independe da condição de crença ou aceitação, assim como o átomo já existia, embora não descoberto, desde os primórdios da civilização humana.
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quinta-feira, 26 de julho de 2012
CANÇÕES DO VENTO
Destinadas para voz grave e piano, as Canções do Vento (Elegia, O Vento é
quando? e Quem me dirá quem sou?), de Bruno Kiefer, têm os movimentos tempo
justo (semínima = 92), (Elegia), moderato, semínima = 76 (O Vento é quando?) e
tranquilo, semínima = 72 (Quem me dirá quem sou?).
Na primeira canção do vento (Elegia), a letra é de
Ribeiro Couto (1898/1963), poeta santista, membro da Academia Brasileira de Letras.
A segunda canção (O Vento é Quando?) traz a letra do poeta Carlos Nejar, membro da Academia Brasileira de Letras. A terceira canção (Quem me dirá quem sou?) tem os versos do poeta português Fernando Pessoa.
A Elegia, o canto primeiro das Canções do Vento, inicia indagando o que quer o vento, como se fosse alguém vindo das praias desérticas que chega, nas horas frias, batendo à porta, querendo entrar. O poeta santista diz que as invisíveis bocas dos mortos andam de ronda, em longo queixume. E depois de morto, virá acordar a sua amada em carícias perfumadas de flores que o vento da primavera carrega.
Na hora do sono, morte parcial que vivemos todos os dias, quantas vezes, o nosso corpo astral saiu do corpo físico para entrar em ambientes que nos atraem e seduzem, até mesmo nas casas de nossos amores que nos alegraram a vida nesta e em outras dimensões!
A vida, apesar de ser única, é
múltipla, em suas formas e conteúdos. E quem garante que, após o desenlace da
matéria, não iremos vagar à busca de encontros felizes?
A letra do poeta Carlos Nejar, contida na segunda
canção, revela-nos que o tempo é quando depois de ter amado, depois de ter
lutado. Em ambas as circunstâncias, a sensação de calma mergulhada numa leveza
e quietude e relaxamento.
A letra da última canção vem nos versos de Fernando Pessoa que lamenta a perda de vitórias e de sonhos de amor em situações que não queríamos, na hora certa: “... que vitórias perdidas por não as ter querido! / Quantas perdidas vidas! E o sonho sem ter sido...”
Realmente, deixamos de realizar planos e ideias que poderiam ser de grande proveito para nossa vida, apenas porque não sabemos o momento oportuno.
A época em que o poeta Ribeiro Couto (1898/1963) escreveu a letra da canção era diferente a dos dias atuais.
Atualmente, com a sacralização do planeta, o vaguear de almas penadas está acabando porque, mesmo com os vínculos do passado com os comparsas, elas não permanecem mais na psicofera terrestre, sendo conduzidas por suas próprias vibrações a mundos afins que, logicamente, possuem a mesma densidade em que vivem.
No entanto, o que sobressai nas letras das Canções do Vento é o amor.
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quarta-feira, 25 de julho de 2012
ORAÇÃO DA NOITE
Escrita nos idos de 1945, na cidade do Rio de Janeiro, e destinada para coro misto e contralto solista, a música Oração da Noite, de Brasílio Itiberê (1896/1967), compositor, folclorista, membro fundador da Academia Brasileira de Música, tem os versos do poeta paranaense Emiliano Perneta (1866/1921).
A leitura musical da Oração da Noite é longa. O movimento inicial é suave (semínima = 66). O final se desdobra em pianíssimo, molto pianíssimo.
A leitura da letra menciona que a noite chegou. A sombra envolveu o vale, a montanha e o mar. É o momento que antecede ao sono. É hora de rezar. O clima é bastante favorável. A quietude das horas é um estímulo suave e ameno.
O pai de Maria conduz a singela cerimônia familiar convidando-a ajoelhar ante as estrelas e bendizer inicialmente a luz que a criou como a mais formosa dentre as mais formosas mulheres do vale.
A oração prossegue bendizendo a terra e aqueles pobres e mansos animais: a ovelha que deu a lã que cobre o corpo dela e o boi que ajudou no campo a ganhar o pão. Não apenas ao boi, mas também a todos aqueles que trabalham com o arado.
Há um convite para ver como a noite está silenciosa, mergulhada em doces e suaves mistérios que nos despertam a sentir o paraíso que está nas estrelas. No plácido recôndito onde Maria reza, a lua misteriosamente apareceu. Talvez nem soubessem que era dia de noite de lua cheia.
O momento reflexivo estimula abençoar a carícia do sono que chega suavemente junto aos olhos nus de Maria e como diz a canção: “mais leve que uma folha de outono, mais leve que o som, mais leve que a luz”. Sentindo a quietude das horas, o pai nem se lembra que o som, dentro dos movimentos musicais, possui também o movimento forte.
A oração finaliza sintetizando um
convite a todos que estão numa atitude meditativa em busca do alívio para suas
dores:
“Basta que a tua dor venha do fundo d'alma, basta
ergueres o olhar, basta ergueres a voz e logo tu verás como tudo se acalma. Oh!
Jesus! Oh! Senhor, tem piedade de nós.”
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CÂNTICOS SERRANOS N° 2
Os Cânticos Serranos n° 2, de Guerra Peixe, foram escritos em 24 de março
de 1976, e iniciam-se no movimento andante
forte e terminam
poco affretando
e ritardando.
A letra da
música traz os
versos do poeta Raul de
Leoni (1895/1926) que revela um encontro casual
mergulhado na inocência,
transformando a intimidade
em saudações de
simples cortesia. Ao
finalizar a poesia,
ele descreve:
Nunca mais nos falamos... vai distante...
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa.”
“E eu sinto, sem no entanto compreendê-la
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la...”
Na sabedoria do silêncio, Jesus calou-se diante de Pilatos e Raul de Leoni, o poeta da emoção filosófica, faz calar fundo quem busca a verdade:
“Não sofras mais à espera das auroras
Da suprema verdade a aparecer:
A verdade das cousas é o prazer
Que elas nos possam dar à flor das horas...
Essa outra que desejas, se ela existe,
Deve ser mais fria e quase triste,
Sem a graça encantada da incerteza...
Vê que a Vida, afinal – sombras, vaidades –
É bela, é louca e bela, e que a beleza
É a mais generosa das verdades...” (5)
(5) RAUL DE LEONI (in Luz Mediterrânea, p. 106)
Ambos, o
compositor e o autor da letra da música Cânticos Serranos, são naturais da
cidade de Petrópolis, conhecida como a cidade imperial, que está erguida dentro
da Serra dos Órgãos.
A
Pousada Chalé da Montanha, de propriedade de Jean Vieira, é confortadora e nos
leva a certo encantamento que a paisagem serrana nos desperta.
Encanto
de inefável beleza é poder ouvir, à noite, sempre quando ocorre, os ventos
correr em sons graves e agudos por todas as montanhas da Serra a nos fazer lembrar
os órgãos (instrumentos musicais). À primeira impressão, quando ouvimos,
pareciam ser os ventos que anunciam as chuvas. Mas, na verdade, são os cantos da
Serra que a natureza nos oferece.
Mesmo
dentro do teor filosófico, há, a nosso ver, uma pequenina opacidade na poesia
de Raul de Leoni marcada apenas por uma palavra: incerteza que, se fosse
substituída por inocência, perderia a
rima com a palavra beleza, mas ganharia um sentido mais transparente,
característica marcante do grande
poeta petropolitano.
Os
Cânticos Serranos têm uma letra que retrata uma situação muito comum no
relacionamento de pessoas, principalmente àquelas que têm um convívio no
trabalho ou nos
ambientes sociais onde
buscam a recreação
e o lazer.
Cumprimentar as
pessoas é um
gesto de cortesia
e envolve sentimentos que podem
despertar algo mais que uma palavra
de saudação ou
de elogio.
No
passado não muito distante, o poeta tinha um clima
favorável para declamar
palavras de amor
a gentis donzelas ou às senhoras casadas,
estimulando-as a prática das virtudes
cristãs ou à apreciação da beleza inefável da
natureza. A mulher é sempre a musa que inspira os mais belos
sonhos de amor.
A
comunicação no passado era mais retraída e estava subordinada a condicionamentos sociais que
impediam uma aproximação mais à vontade onde os desejos pudessem ser manifestados. Hoje, com maior
rapidez, o telefone e a internet propiciam oportunidades de
aproximação muito maior do que
naqueles tempos de outrora, onde o amor
era uma manifestação
acanhada e inocente.
E assim
o tempo corre... ou, melhor dizendo, aproveitando as palavras do poeta “E a vida foi andando
para frente...” Sem a comunicação
desejada, há algo novo para ser
completado. Um olhar que ficou pairando no ar e guardado no coração, uma palavra que veio numa
linguagem que precisa, como capítulo de
novela, de uma continuação e de um final
feliz.
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terça-feira, 24 de julho de 2012
MAGDALA
Escrita para canto e piano, a música Magdala, de Assis Republicano, traz os versos de Silveira Neto (1872/1942), membro da Academia Paranaense de Letras, pai do poeta curitibano Tasso da Silveira. No início surge o movimento allegro con furia, allargando molto lentamente que dá espaço à letra: “Colo que inveja o mármore leitoso, em taças rubras, tremula de gozo”.
A seguir, no andamento poco più mosso surgem as palavras do canto: “o champanhe dos beijos gole a gole, Magdala”. No meio da trajetória musical há um crescendo molto que envolve a pergunta: “como ao sonho convertê-la?” A letra da música finaliza dentro do andante lento dolce.
Antes de comentar o enredo que se adapta aos costumes atuais, apresentamos as palavras de Villa–Lobos sobre o autor: “Assis Republicano é um dos mais talentosos compositores brasileiros, equipado de fartos recursos técnicos e de um fraseado espontâneo e agradável”. (2)
(2) HEITOR VILLA-LOBOS (in Acervo Virtual – Catálogos on line – Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro - RJ)Acrescentamos que o compositor Antônio de Assis Republicano (1897/1960), a exemplo de seu mestre Francisco Braga, compôs peças sinfônicas. A ópera de sua autoria A Natividade de Jesus foi encenada, em março de 1937, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Nos idos de 1942, o Hino Nacional Brasileiro, orquestrado pelo compositor gaúcho, foi oficializado por decreto-lei.
A letra da música Magdala, para canto e piano, aborda um tema bastante atual, o colo feminino, comentado em emissoras de rádio, jornais, e em emissoras de televisão.
Antigamente, e ainda hoje, os poetas se encantam diante dos seios da mulher. Castro Alves, o poeta libertador, imaginou sonhos vislumbrando a ideia de seios virginais, Lisboa Serra, poeta e presidente do BB (1853/1855), menciona o encanto feminino nos colos de alabastro.Blog Fernando Pinheiro, escritor
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segunda-feira, 23 de julho de 2012
ELEGIA – CREPÚSCULO DE OURO
Destinada para baixo cantante e piano, Elegia – Crepúsculo de Ouro, Opus 10, do compositor paraense Artur Iberê de Lemos (1901/1967) foi escrita em 15 de junho de 1925, nos movimentos andantino moderato, pianíssimo, com suavidade, più mosso, molto legato, cantante e pianíssimo. A letra é de Félix Pacheco. O início descreve um panorama bucólico no qual o sol adormece no poente.
Membro da Academia Brasileira de Letras e, em várias décadas, jornalista do Jornal do Commercio, José Félix Alves Pacheco legou-nos uma obra rica nas áreas da poesia, história e ensaios. Na política exerceu mandatos de deputado federal, senador da República e ministro de Estado das Relações Exteriores.
O canto elegíaco, que a música revela, cria uma atmosfera contemplativa, até mesmo de meditação, e estende sentimentos que buscam o sagrado. A hora é mística do mistério e não do misticismo enganador. É a viagem à alma, sol divino que anima o corpo, numa contemplação ao pôr-do-sol que se espalha no horizonte revelando imagens de beleza transcendente.
O crepúsculo de ouro veste as tardes sentimentais e sugere-nos paz e melancolia. A natureza toda adormece, a tarde é vencida, os pássaros voltam aos seus ninhos, o silêncio cobre a paisagem no horizonte, fazendo a vida diminuir as atividades e o homem percebe que é a hora do silêncio e da meditação. O encontro com a beleza da paisagem o faz voltar-se a si mesmo, em pensamentos reflexivos que o ajudam a sair dos embaraços do caminho.
Assim como precisamos desfazer de um programa para entrar em outro, tanto na informática como na prática, é indispensável desligarmos das coisas passageiras para nos ligarmos as que têm um sentido eterno, mergulhado no sagrado. Daí ter surgido, às seis da tarde, a hora da Ave-Maria, em outros tempos mais reconhecida e devotada. Sem apreciação desse movimento, surgiu, nos dias atuais o declínio de valores éticos e sociais.
O comércio de permuta de valores espirituais sempre esteve presente na vida humana, desde que o mundo é mundo. No roteiro bendito das religiões sempre houve o estímulo à prece como recurso de atrairmos as dádivas preciosas que estão à disposição de todos, independente de qualquer condição social, basta que nos coloquemos à altura de recebê-las.
No sentido inverso, esse comércio também se estabelece, porque as vibrações do pensamento são energias que ganham espaço em direção do estado mental que escolhemos. Se na sustentação dos valores éticos há um clima que estabelece a beleza, na estrada da sombra há perigos que podem dificultar ou mesmo interromper a nossa caminhada, afastando os ideais sublimes que a vida nos oferece.
Se na sabedoria do rei Salomão
encontramos as setas que voam pela noite, na palavra do vate piauiense há um
aviso sobre a estrada, colocado à beira do abismo:
“Núncios da noite, irmã do mal que do alto desce lenta
e lânguida, abrindo um pálio às agonias, só quem vos pode ouvir é o coração do
poeta.”
Entre uma e outra, a decisão é sempre nossa. Precisamos dizer mais? Não. Estejamos sempre à vontade para escolher. Vida sublimada pelos ideais nobres, que elegemos num momento de inspiração, eis a nossa opção.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site www.fernandopinheirobb.com.br
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