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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

DERRUBAR O GIGANTE - Parte 2



Não pretendo fazer nenhuma doutrina sobre o que escrevo, mesmo porque a Era de Ouro, que já se adentra em nossos dias, não comporta mais ideologias e estudos complexos como tem sido a característica da terceira dimensão dissociada de consciência, estágio evolutivo em que a Terra passa e que está indo embora.
Aliás, o plano espiritual, com a ascensão de multidões, cifra que atinge a mais de 1 bilhão de habitantes e, continua a crescer em ritmo acelerado, no total de 7 bilhões na Terra, comemora a passagem para quinta dimensão unificada, ultrapassando a quarta dimensão dissociada. São revelações simbólicas dos sonhos meus.
Na nova consciência planetária será apenas a presença do ser etéreo que está ligado à fonte, em outras palavras será apenas o coração ligado à fonte. Sinto uma alegria inefável diante da transparência da realidade em que vivemos, sem mistérios. O amor deslinda os enigmas do caminhar. 
Este é um cabedal de informações acerca de minhas atividades como escritor que busca o ensaio e a inspiração para elucidar o que está confuso e falsificado na sociedade humana e demonstrar, nesse enlevo, o que se passa no coração de criança que não está confinado dentro da ilusão.
A comissão de frente da Escola de Samba Grande Rio apresentou a brincadeira de crianças com os travesseiros, aqueles personagens que conhecemos no Programa Zorra Total da TV Globo.
A letra do samba-enredo trouxe um convite para a libertação. Toda ela consiste na afirmação do ser, a partir da fé, não essa fé naquilo que as pessoas acreditam que elas sejam, mas que se revela na síntese crística: "vós sois deuses".
Como podem as pessoas aceitar essas palavras de Jesus se o que prevalece ou que elas deixam prevalecer, dentro da  ilusão, o ego que é confuso que não admite a humildade, que é simples, a personalidade que acredita que só existe esta vidinha de comer, dormir, distrair-se, trabalhar, numa rotina que se fecha a uma realidade transcendental.
Dissemos que a Grande Rio anunciou a chegada da Era de Ouro no planeta, os jornalistas a viram apenas como o samba-enredo da superação.
A letra do samba diz: “lutar sem desistir, das cinzas renascer”. Se os puxadores do samba entoassem os versos: "não lutar nem resistir deixar a vontade de Deus me conduzir", certamente "mataria" o gigante que a letra fala.
O abandono à luz é o primeiro passo para ascender a uma dimensão superior a que vivemos. Os poetas parnasianos usavam muito a palavra abandono, não no sentido de abandonar, deixar de lado, mas entregar-se, sem questionamentos.
Não existe nenhuma ideia de superioridade ou de separação dos meus amigos, assim como Jesus não se separa, embora ele esteja em infinitas dimensões das muitas moradas do Pai, Senhor das estrelas, Luz do Mundo, viajante de galáxias intermináveis, sem perder de vista a nossa Via-Láctea, onde veio implantar num pequenino burgo distante, numa província romana, o paraíso para os seres humanos.
Mensagem que recrudesce nos tempos atuais para estabelecer a volta gloriosa e triunfal, dentro de nossa galáxia, conforme prometido na Galileia, da luz crística que se mistura  à onda galáctica que já chega à Terra em forma de eflúvios de amor, essas benesses da luz violeta, os raios-gama dos cientistas chegando à atmosfera terrestre.


Blog Fernando Pinheiro, escritor


sábado, 27 de outubro de 2012

DERRUBAR O GIGANTE - Parte 1



 “A esperança, que os anjos vêm anunciar, brilha no carnaval da Grande Rio. Olha aí, gente, a chegada da Era Dourada derrubando o "gigante" (os sistemas falsificados). "Eu "to" sentindo que chegou a nossa hora" (a separação do joio e do trigo). "A imaginação ao som da melodia" é a inspiração sublime que derruba o confinamento do ser humano e o conecta à luz das esferas. Esta é a arte de viver que a Grande Rio veio nos ensinar da melhor maneira: cantando. Parabéns, somos todos beneficiados por esta arte [Fernando Pinheiro - YouTube - Grande Rio 2012  -  Samba Campeão.wmv]”.
Há 26.000 anos, com o fim da civilização atlântida, era instalado no planeta Terra uma consciência voltada à materialidade, até hoje existente, a terceira dimensão dissociada. Os atlandes não tiveram as conquistas materiais iguais as de hoje na Terra, mas nos legaram a inspiração que descortinou o céu com as informações de nomes e posicionamento de astros e estrelas, referendado até hoje pela ciência.
Nos mundos dissociados, como a Terra, o mecanismo ida e volta (lá e cá), a existência moroncial (erraticidade) e a existência física neste mundo de ilusões (maya, para os hindus) produz o confinamento do ser humano comprovado pela morte da consciência, quando ocorre a morte física, na maioria dos casos, segregados a desterros que os atraíam e atraem por afinidade de vibrações.
O sublime peregrino, referência sobre Jesus no dizer de Ramathis, conhecendo esse mecanismo, desceu dos páramos de luz, e se encarnou na Palestina, como propósito de libertar a humanidade das algemas escravocratas que a impelia a esse  mecanismo, embora seja amparado por outro mecanismo causa-efeito, produzindo carma sobre carma. Quem dizer que para evoluir tem que passar pela encarnação tem que trocar de opinião, se assim a pessoa quiser.
Na lei da graça, que produz somente luz, suplanta a lei de causa e efeito, o livre-arbítrio, a dualidade (bem e mal, certo e errado, belo e feio, e outras conotações similares) estão com os dias contados nesta densa dimensão em que o planeta está deixando ir embora.
A nova consciência planetária é a luz crística que nunca se afastou da Terra, desde 2.000 anos atrás, e volta dos mesmos páramos de luz, quebrando a cadeia reencarnatória que subjuga a humanidade ao sofrimento e à dor.
Sentindo que a hora é essa, faço um convite a cada um dos meus amigos, inspirado na letra do samba-enredo do carnaval da Escola de Samba Grande Rio: “me dê a sua mão  por liberdade”
Esse pedido de mão não é para mim, mas para você mesmo, libertando-se do mental que foi útil durante muito tempo, mas que agora é a hora do coração, do ser profundo, o ser etéreo que todos somos, ligados à fonte. É tão simples resplandecer a luz.


Blog Fernando Pinheiro, escritor


sábado, 20 de outubro de 2012

FESTAS GALANTES

       Assim como a suíte Quadros de uma Exposição, de Mussorgsky, veio da pintura, as músicas Clair de Lune, da suíte Bergamasque e Festas Galantes, de Debussy, vieram da  poesia de Paul Verlaine que retratou a obra de grandes   pintores franceses, notadamente Watteau e Fragonard, que se inspiraram em personagens de comédia (Commedia dell´Arte), atrizes e cortesãs, as festas campestres, serenatas   ao luar, dentro da fascinante vida parisiense.  

         Inspirados nos poemas de Verlaine, Debussy e Gabriel Fauré compuseram, cada um ao seu estilo, a música Clair de Lune. O poeta francês, em Festas Galantes, descreve o tema estendendo uma paisagem encantada sobre a alma da mulher amada, onde passam dançando, ao som de alaúdes, fantasias e máscaras (Votre âme est un paysage choisi que vont charmant masques et bergamasques, jouant du luth et dansant ...”) 

         A poesia de Verlaine, contida na obra Festas Galantes, foi traduzida nos idos de 1934, no Brasil, por Onestaldo de Pennafort, poeta homenageado pelo acadêmico Ivo Barroso, em 8/12/1998, ao ensejo da realização, em 7 a 11/11/1998, do 2° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social, promovido pela Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, este Cenáculo, o grande vetor da imortalidade no BB, sob a presidência do escritor Fernando Pinheiro, prestigiado com a  presença  das  seguintes  autoridades:

         Francisco Welffort, ministro de Estado da Cultura; Eduardo Portella, presidente da Fundação Biblioteca Nacional; Alberto Venâncio Filho, membro da Academia Brasileira de Letras; Mauro Fernando Orofino Campos,     presidente da Companhia Docas do Rio de Janeiro; Mário Gibson Barbosa, ministro de Estado das Relações Exteriores (1969/1974); Afonso Arinos de Melo Franco Filho e Sizínio Pontes Nogueira, embaixadores da  República; Paulo de Tarso de Medeiros, representante do Banco do Brasil em Washington-DC, USA; Luiz Carlos de Azevedo, professor de Direito Processual da Universidade de São Paulo; Ronaldo Cunha Lima, senador da República; Ernane Galvêas, ministro de Estado da Fazenda (nos idos de 1980); Juarez Moreira Lessa, delegado federal do Ministério da Agricultura e do Abastecimento no Estado do Rio de Janeiro; Otávio Mello Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura; Álvaro Pacheco dos Santos, adido cultural da República de Angola, em Brasília - DF; Giuseppe Magno, cônsul-geral da República da Itália, na cidade do Rio  de  Janeiro.

      A Boa Canção, opus 61, de Fauré, igualmente inspirada nos poemas de Verlaine, ilustra o encantamento mágico da vida parisiense, com seus amores, seus repastos ao ar livre, seus encontros de amores febricitantes de emoção e o ar nostálgico  de uma época de passou. O clima poético é parnasiano na literatura, e impressionista na música de Fauré.

        A poesia de Paul Verlaine, em Festas Galantes, focalizando esse clima, traz uma súplica a estrela matutina  que, na visão do poeta, tem olhar banhado no azul da aurora: levar o seu pensamento longe, muito além, no encantador sonho que  envolve, sem parar,  a  sua  amada.

       A Boa Canção, contida na obra Festas Galantes, de Verlaine, embala os sonhos do poeta; a lua branca brilha no bosque (la lune blanche luit dans les bois); há uma lúcida quietude vindo do céu que a lua irisa. O cenário é comovedor: o recanto amoroso, a lâmpada acesa, o olhar correspondido, o êxtase de ver a tarde caindo, caindo...

         Buscar o romance de amor, dentro do namoro, é criar um clima de enlevo em que o nosso coração se manifesta pela pessoa amada. Desde o aroma dos cabelos e da pele à contemplação do olhar, que envolve toda uma história de amor, existe uma oportunidade valiosa que se estende nos caminhos   entrelaçados.

         É claro que um detalhe, envolvendo a boca, os olhos, as mãos, os braços, o colo, os seios, a cintura, as pernas e os pés, pode embalar ainda mais esses sonhos a uma dimensão maior que têm raízes profundas no enlevo amoroso que sentimos haver existido desde antes. O destino se manifesta não apenas no futuro, mas no passado e no presente.

         Além do destaque físico, há um clima de magia que se manifesta na voz, nos gestos do caminhar e do falar; no jeito silencioso de ser, mesmo assim há vibrações que denotam a característica de cada criatura humana e, em especial, da pessoa amada. Essas informações são tão preciosas que, quando surgem notícias, mesmo baseadas em fatos reais, contrárias ao modo que conhecemos, não damos valor ao que  dizem.

         Festas Galantes são estímulos para que a nossa vida possa ser sempre envolvida por amores que nos despertam os sonhos mais lindos da existência e nos fazem sentir felizes com a vida que levamos. O nosso destino, vivido em clima de festas, é a felicidade de uma eterna primavera. O amor faz esse milagre, não apenas nos sonhos acalentados, mas em tudo.

Blog Fernando Pinheiro, escritor


A NONA SINFONIA

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           Quando o barítono canta as palavras escritas na  partitura:  “ó,  amigos,  não  esses  sons!  Cantemos,  antes, algo  mais  agradável  e  alegre”,    início  ao  canto  coral  da  Nona  Sinfonia,  de  Beethoven.

         “Alegria, centelha de imortal chama, filha do Eliseu!, ébrios de fogo, deusa celestial, invadimos teu santuário” desdobra a primeira estrofe de Ode à Alegria. O canto prossegue louvando a vida e, na expansão do amor a milhões sem conta, lança um beijo ao mundo inteiro!

       O compositor alemão, envolvido em sua mensagem de luz, sonhou com o momento em que a Terra inteira tivesse o ar do paraíso.

       Nestes últimos tempos, presenciamos o final do reinado do homem que destrói aquilo que foi criado com muito amor.

       O advento da angelitude ainda está a caminho em distâncias que podem ser encurtadas. No planeta em renovação haverá uma civilização sem temores do futuro e dócil à  inspiração superior.

      A consciência de que tudo é manifestação de Deus, recrudescência dos sábios do passado que citamos, Jesus e Spinoza, encurtando o espaço e alargando o horizonte, estenderá o paraíso ao planeta onde cada ser humano se sentirá como o mais moço dos anjos. A profecia maior será cumprida na herança da Terra aos  mansos de coração.

        O amor fará o maior milagre que jamais aconteceu no planeta, transformá-lo em paraíso, na consciência dos anjos que a revelam em suas mensagens de luz. Dores, tristeza, saudade, lutas e sofrimentos serão recordações do homem que deixou a influência do instinto selvagem nele aparecer.

      O amor, a mais visível manifestação do infinito, transmuda a lacuna em preenchimento, situações passageiras em situações eternas. O tempo apenas o acompanha resplandecendo sua existência como fogo alimentado por combustível que nunca  acaba - a sarça ardente.

         Os vínculos de afetividade marcam os pontos na escala evolutiva. O planeta ainda não alcançou melhor categoria no mundos mais evoluídos devido a amarras da  retaguarda.

       A sinfonia coral de Beethoven, pela música e pela letra, tem o dom de despertar a humanidade para a consciência unificada planetária, a consciência do terceiro milênio, ganhando mais espaços inimagináveis, numa festa perene de alegria “como sóis incandescentes que cruzam, gloriosos, os espaços celestiais”.

Blog Fernando Pinheiro, escritor

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

NOITES NOS JARDINS DE ESPANHA

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        A música, uma suíte de 3 impressões sinfônicas para piano e orquestra, se espalha suavemente carregada de beleza luxuriante dos grandes jardins cobertos de flores, poesia lírica e perfumada que se reflete nas noites de Andaluzia.

         O clima é completamente romântico, mas a expressão musical das Noites nos jardins de Espanha é a prova de que, sem possibilidades de discussão, o compositor espanhol Manuel de Falla é um representante autêntico do impressionismo.

      A primeira das três impressões sinfônicas derrama uma sonoridade orquestral sobre suaves acordes num tema simples que evoca a infância: as canções infantis, os olhares e sorrisos da primeira namorada, as aulas de alfabetização, o recreio na  escola, os sonhos saindo das fontes.

         A evocação da tenra idade é doce como o canto dos pássaros e nos faz recordar a ternura dos pais, a simplicidade, as alegrias inocentes que não se misturam às oscilações  passageiras.

         A inocência das crianças tem uma magia doce que nos faz lembrar do paraíso. Tudo é primaveril: há flores crescendo     até mesmo sobre os montes de pedra. Estas flores estão mais perto das fontes e recebem algumas gotas, o suficiente para mantê-las vivas.

         A segunda e a terceira das impressões sinfônicas espalham um clima de dança. A segunda, a princípio  lânguida e distante, cresce aos poucos até ligar-se completamente à outra que  possui  um  ritmo  excitante.

         E, ainda dentro do tema musical, o clima de danças reflete a alegria dos amores, o encontro que marca a presença da ternura, do beijo que deixa um gosto de algo mais que a  imaginação pode criar.

         A empolgação nos caminhos do amor reflete a felicidade dos sonhos despertados, o encanto dos ninhos que os pássaros cantam, e sentimos como é bom imitá-los em seus cantos. A natureza nos envolve porque é o amor em festa.

         Há um clima de mistério nas noites de Andaluzia. Quantos suspiros derramados nos romances de califas, sultãos,   príncipes e ciganos que atraíram mulheres de pele bronzeada  que  traziam  no  olhar  o  fascínio  e  a  sedução!

        Quando os sonhos estão em suas nascentes, é preciso mantermos uma atitude mental que possibilite a transmutação da forma, numa leveza que sentimos ao nosso alcance. Não pensar além do que existe, apenas sentir o clima em que  estamos  envolvidos.

         Muitos sonhos nascem no sono e independe de sabermos se sonhamos ou não. A realidade da vida ultrapassa todas as formas e vive nos conteúdos, conhecidos ou não.

         Viver o que sentimos vir desses mistérios é como mergulharmos no rio e deixar que a correnteza nos leve à praia que buscamos. A naturalidade, o fluir dos acontecimentos são   forças  revelando  o  destino.

      Quando mantemos uma atitude mais inteligente do que emocional, temos maior chance de sentir que os sonhos sejam verdades. A emoção alegra-nos como os sinos das catedrais, mas pode despertar nas pessoas estranhas a incompreensão ou em nós mesmos planos fora de nosso alcance.

         Viver a vida é, antes de tudo, deixar que a vida viva dentro de nós. Tudo segue um ritmo que estabelece as condições adequadas para cada ser humano. Casamento, separação conjugal, emprego, estudos, viagens, moradia são situações revelando nossos sonhos, inconscientes ou não.

         Quando sonhamos com a pessoa que foi tudo em nossa vida, e agora caminha em direção de novas paisagens, vem-nos,  com maior vigor, não apenas o sonho que acabamos de ter, o grande amor que nos enternecia nos primeiros encontros.

         A recordação desse passado ditoso, mesmo que tivesse sido mergulhado em ondas quebradiças, faz-nos mais leves e sentimos crescer o verdadeiro amor que desconhece a   saudade.

         Assim como nos separamos por acreditar ser o melhor naquelas circunstâncias, a certeza do reencontro feliz acontecerá, não importa o tempo, as distâncias que não  existem  quando  estamos  ligados  em  pensamento.

         Os sonhos vencem a morte, unindo dois amores nos lugares mais românticos que escolheram: as fontes, as praias desérticas, o luar esplêndido, os jardins adornados das mais belas flores, o lirismo revelando a força do romance e da poesia.

         Essas revelações são espaços abertos que se estendem diante de quem buscou o amor como forma de viver, independente da circunstância em que se encontra. Quem resolveu brigar com a vida, também terá outros sonhos que   indicam caminhos.

         As horas sonhadas são reflexos daquilo que somos a um nível mais profundo de consciência. As nossas necessidades existenciais têm nesse campo a circulação livre  e espontânea.

         Como é importante aceitar a realidade em outras dimensões, a vibração de amor que sentimos com as  pessoas ausentes fisicamente e manifestadas claramente nessas   circunstâncias.

         Os sonhos, os amores, os encontros são revelados pela vida para sentirmos o clima que desfaz a descrença e a timidez e resplandece como mensageiro de um  novo  dia.

         O compositor espanhol conseguiu retratar, num tema comovente, os sonhos no amanhecer e os sonhos nos  vesperais,  em  noites  que  trazem  o  perfume  de  Andaluzia.    

Blog  Fernando Pinheiro, escritor







quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A VIDA BREVE

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        No segundo ato da ópera A Vida Breve, de Manuel de Falla, ocorre a festa de casamento de Carmela e Paco, numa casa situada numa estreita rua de Granada. Neste cenário  surge a célebre Dança Espanhola.

         Salud, uma jovem cigana, doente do mal de amor, como era dito antigamente, e triste como um pássaro na gaiola, aproxima-se da  janela e canta uma ária em que diz: “antes a vida breve que um longo martírio”.

         Longe das emoções, sentimos um amor tão grande por aqueles que passam por testes difíceis. Quase sempre, não os conhecemos pessoalmente, apenas os vimos nos teatros e nas  imagens  apresentadas  pela  televisão.

        Seus sonhos, seus amores, o cenário de suas apresentações estão dentro de suas vidas. Tudo gira num turbilhão de movimentos e seus pensamentos viajam nesse  carro  invisível.   
 
         As etapas, que compõem a escalada do sucesso, se convergem num só instante, transfigurando a celebração consagradora de quem ama os palcos.

         Olhares que interpretavam enredos de cenas dramáticas e líricas empolgaram o público que via neles a encarnação do  personagem  da  peça  teatral.

         O intérprete encarna a vida e a transmite na fidelidade da fonte de origem. São vibrações múltiplas que saem de seus olhos, suas mãos, seus gestos e modos de respirar.

         Mensageiro da arte, ele tem o dom de perpetuar sentimentos que inspiram a beleza, preenchendo horas vazias  do  público  que  busca  algo  para  se  recompor.

         Nesse mundo criativo, a pausa das atividades não tira o talento e a vontade de interpretar de quem ama a arte. Apenas, o público perde. O artista, mergulhado nesse mundo, adquire novas disposições, mesmo que a maioria delas seja apenas  mental.

         Quem pode ver tristeza na crisálida, morte de uma forma para renascer em outra, mais bonita, mais cheia de cores e  com asas para voar?

         Presença marcante na vida, o intérprete não se intimida com os ventos que passam levantando poeira que pode prejudicar a visão de um olhar que se manteve sempre calmo e   confiante.

         Estamos todos neste palco  -  vida expressiva de luz e cor - que congrega aqueles que conhecemos pessoalmente ou nos enredos transmitidos pelo teatro e pela televisão, naqueles instantes em que buscávamos aprender com a mensagem   neles contida.

     Se nas horas em que o refletor iluminou seus passos, na interpretação eficiente, estivemos tão perto deles, na hora em que a luz muda de lugar a nossa posição é aplaudi-los sempre.

         A curiosidade humana é sempre pequenez e não apaga nunca os rastros de luz que suas interpretações deixaram no coração daqueles que os viam com os olhos de quem vê a  manifestação  divina  se  irradiando  em  tudo.

         As paisagens de areia, que o vento muda de lugar, em nenhuma hipótese perdem a vida que nelas existe. E, quando fazemos parte dessas paisagens, vamos caminhando,  acompanhando  os  contornos  que  vão surgindo.

         Mesmo não tendo convivido no cenário dos artistas do teatro e da televisão, sentimos que tudo que vemos, longe ou perto, nos leva a um círculo sem falhas e compreendemos porque, na ópera A Vida Breve, a jovem cigana, doente de  amor, queria tanto viver, sem sofrer.

Blog  Fernando Pinheiro, escritor





quarta-feira, 17 de outubro de 2012

DANÇA DOS ESPÍRITOS ABENÇOADOS

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        Um dos mais belos solos escritos para flauta, Dança dos Espíritos Abençoados, da ópera Orfeu e Eurídice, de Gluck, é  uma  composição  lenta  e  muito  doce  que  se modula  em    menor,  sustentada  pelo  violino  pianíssimo.

         Os Campos Elíseos substitui o Inferno em que se encontrava Orfeu, a ausência da mulher amada, depois de um canto comovedor que abrandou as fúrias. A iluminação do cenário é completa e produz efeitos de luzes e cores.

         Nesse clima festivo e triunfante, o personagem mitológico e musical conseguiu o milagre da transmutação, o sonho em realidade tangível, a presença da sua amada que saiu do mundo das sombras, a vitória do amor acima das circunstâncias  transitórias.

         Quando os amores estão reunidos em êxtase, a melodia paradisíaca se desdobra suave, bem suave e um grupo de espíritos se rejubila caminhando em passos cadenciados que   se  transformam  em  dança.

         A composição musical de Gluck retrata a lenda mitológica de dois amores que se separam em mundos diferentes, mas permanecem ligados pela lembrança, pelos olhares que lhes revelaram a alma, pelo amor que ultrapassa  barreiras.

         Adormecida em sono letárgico, Eurídice não tinha condições de manter vivo um relacionamento de um passado feliz. Mas a ligação que a prendia estava tão perto dela  como os fios elétricos ligados a uma tomada.

         A mensagem do compositor alemão se amplia universalmente para mostrar que a criatura humana está cercada pelos amores e, nos passos em direção à plenitude, busca sempre aqueles que permanecem distraídos ou entorpecidos por substâncias estranha. Ninguém caminha sozinho.

         O canto de Orfeu, em sua lira imortal, é a exaltação da vida, é o canto da Terra, simplesmente porque é o amor atuante que vibra até às sombras para trazer de volta quem para ele era  Deus mais próximo.

         Mesmo cantando o amor, Orfeu estava impaciente antes da chegada de sua amada, como acontece a todos nós diante do desenrolar dos acontecimentos em que buscamos promover nossos sonhos. Nossos amores nos preocupam quando não sabemos a direção de seus passos.

         Cercado de vibrações tumultuadas, o personagem mitológico coloca toda sua alma naqueles momentos em que sente que deve continuar cantando. Nem mesmo se importaria se o seu canto iria ou não sensibilizar quem estava lhe ouvindo. Queria apenas cantar para extravasar sentimentos profundos.

         Isto vem nos provar que o amor não se projeta prevendo benefícios, mas se revela espontâneo como força que dá expansão ao fluxo que aglutina as situações do amanhã, num processo  contínuo  e  eterno.
         Na caminhada dos amores há incidentes que nos fazem refletir sobre a dança das horas, a dança dos ventos, a dança dos espíritos abençoados quando o nosso amor consegue despertar quem não estava entendendo o nosso coração.

         A questão familiar, a questão social, a questão planetária está baseada no conceito de que tudo se interliga e é impossível caminhar isoladamente ou mesmo em grupos sectários. Na caminhada para ser feliz, a humanidade busca a mesma   direção.

         O sentido gregário, no caminhar dos animais, já nos revela a ideia de que o homem, mais cedo ou mais tarde, acompanhará esse movimento da natureza, fazendo-o de modo consciente e com maior abrangência em todos os níveis: pessoais, familiares e sociais.

Blog  Fernando Pinheiro, escritor