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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

MUSA QUE PASSA

           Do ciclo 6 Líricas, para canto e piano, escrito nos  idos de 1932 pelo compositor Francisco Mignone, a música Musa que passa tem o início no movimento vivo sustentado    pela  semínima  =  126  e  o  final  morrendo,  ritenuto.

        Fazendo uma breve retrospectiva da vida artística do  compositor e regente Francisco Mignone, ressaltamos que a   sua primeira ópera, O Contratador  de Diamantes, foi inspirada   na  obra  de  Afonso  Arinos  de  Melo Franco.

        Destacamos que Congada, peça orquestral da ópera O   Contratador de Diamantes, foi, num momento histórico dos  idos de 1923, regido pelo maestro e compositor Richard  Strauss à frente da Orquestra Filarmônica de Viena, no   Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Com a morte do  compositor  alemão,  o  célebre  autor  da  ópera  O Cavaleiro    da Rosa, encerrou-se, nos idos de 1949, o ciclo dos grandes  compositores  clássicos  da  música.

        A respeito  da  importância  de  Strauss  na  música,  o  maestro espanhol Rafael Frübeck de Burgos, segundo Jornal     O Globo – Sinfônica de Viena celebra sua tradição, por Adriana  Pavlova – edição: 11/10/2001, declarou que “Strauss foi quem  melhor  escreveu   para  a  orquestra  no  século XX”.

       A era moderna nos grupos sinfônicos foi inaugurada por Strauss que fez introduzir nas orquestras os instrumentos      de  trompas,  cornos  e  muitas  madeiras  [BURGOS, 2001]

        A letra da música é de Yde Blumenschein (1882/1963),  poetisa paulista, que narra uma estória de uma castelã, enclausurada na torre da ilusão, vivendo a sonhar com          um  herói  que,  em  breve,  viria  para  ela.

        A  estória  da  castelã  poderia  ser  a  estória  de  uma  cortesã  com  os  mesmos  hábitos  de  aventura  amorosa.  A  cortesã   teria   a   vantagem  de  conviver  na  corte  e  aldeã  de  rua  em  rua. A  ilusão  como  ponto  em  comum  entre  ambas.

        “Viver enclausurada na torre da ilusão, romântica a  sonhar” é uma expressão que ultrapassa os limites do      castelo onde se encontrava a aldeã e atinge, neste mundo  permissivo em que vivemos, a esferas sociais onde a ilusão    não  tem  fronteiras.

        Antigamente,  os  costumes  sociais  impediam  a  mulher  ficar  exposta  aos  perigos  que  existem  na  rua.  Hoje,  em  nome de uma liberdade permissiva que desvirtua os     chamados  bons  costumes,  a  mulher  fica  mais  propensa  a ter uma ilusão do que viver uma vida emocionalmente    saudável.

        Na  busca  do  amor  a  qualquer  custo,  com  qualquer pessoa ou situação, sem perceber que existe, no íntimo de   cada um de nós, o sentimento norteando o destino, pode        ser perigoso para quem entrega a sua vida numa arriscada    aventura.

        De  rua  em  rua,  de  bar  em  bar,  de  braço  em      braço, acumulando energias desvirtuadas do amor e                  permanecendo em lugares pestilenciais onde os tóxicos           ou  simplesmente  a  bebida  alcóolica  é  vendida  pela        noite adentro, traz consequências desastrosas previstas        não apenas pelos códigos de ética, mas principalmente      dentro  do  mundo  íntimo  de  cada  um  que  está  iludido.  Daí   a   necessidade   de   encontrar-se   para   achar   o  amor.

        A  letra  da  música  faz  um  alerta  as  mulheres  que  se   iludem  em  castelos  de  ilusões,  para   ver  aquela  que  andou  de rua em rua, derramando as  lágrimas de sangue. Na     ilusão  é  muita  dor  para  uma  mulher   só.

        Fazemos parte deste mundo onde sempre nos iludidos,  principalmente pelas aparências. Tem musa que fica e tem   musa  que  passa.    

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terça-feira, 7 de agosto de 2012

FARÂNDOLA DAS HORAS

           Nos movimentos allegro non troppo, um poco rallentando,  molto vivo, molto lento e pianíssimo, a música Farândola das Horas, de Francisco Mignone, traz os versos de Goulart de Andrade (1881/1936),  poeta,  romancista,  teatrólogo  e  membro  da Academia Brasileira de Letras. No início da letra da     música  surge  a  dança  das  horas:

“Sobre nuvem de ouro, com festões de ouro, passa aéreo       bando girando, claras como auroras dançam no ar as horas   como  gentis  meneios  de  seios.”

        Evocando Gonçalves Dias (in Obras Poéticas I, p. 224 – “Tenho também uma lira / De festões engrinaldada!), vê–se que        a imortalidade aí está no símbolo da lira e dos festões. Os campeões  olímpicos  também  possuem  os  louros  em  coroa.   

        Relembrando um pouco os feitos do grande maestro e  compositor paulista, ressaltamos que, em 1976, a ópera           O Chalaça, de Francisco Mignone, foi estreada no Theatro  Municipal de São Paulo, tendo no papel-título o barítono     Paulo Fortes. O libreto é de autoria de Mello Nóbrega, patrono da Cadeira n° 35, da Academia de Letras dos Funcionários       do Banco do Brasil, atualmente ocupada por Ivo Barroso, o príncipe dos poetas-tradutores brasileiros.

        A dança das horas que inspirou ao compositor     Ponchielli a música de balé e ao poeta Guilherme de Almeida,   o poema–título do livro, é, também para nós, um ponto   reflexivo sobre a vida. Para conferir esse argumento, basta  mencionar  a  presença  do  relógio  na  vida  humana.

        Desde que foi inventado, foi colocado nos lugares   públicos para lembrar a população que existe um horário          a  ser  obedecido:  hora  de  acordar,  hora  das  refeições,  hora  de trabalho, hora de passeio, hora de viagem, hora de dormir,  etc., obedecendo à sabedoria do rei Salomão: “na vida, há   tempo  para  tudo.”

        A imagem usada por Goulart de  Andrade é repleta de   riqueza não apenas pelo ouro que as nuvens transportam,     em auroras rutilantes, mas por imagens de elevado valor       que traz uma leveza sublime, certo encantamento que vem     das horas passando lentamente e das mulheres que passam nas ruas vestindo roupas em que sobressaem os meneios         de  seios.

       As horas, que dançam, são comparadas a mulheres em  movimento, onde surgem, além dos meneios de seios, o  encanto e a sedução que a cintura revela: “os braços nevados   como  eletrizados,  e  as  ancas  redondas  como  ondas”.

        Quando a minha namorada, por telefone, me dizia: “ái, ái, Fernando, eu estou com a dor nas ancas”, eu já sabia o que ela sentia, era a saudade inebriante dos enlevos que ainda não tivemos. Em Petrópolis, teremos a nossa honeymoon. É nessa lua que o nosso saudável celibato será desfeito.

       A letra da canção evoca ainda um cenário, onde se desenrola, num clima de alvura, no símbolo do arminho,       um  desfile  de  horas / mulheres  em  várias  situações  de:

        agitação:  no  semblante  esvoaçante;

confiança:       no  rosto  sorridente;

rapidez:   aquela  que    voltas,  viaja,  passeia; 

evidência:   é  a  daquela  que  tem  glória; 

riqueza:   aquela que se veste de ametista, joia que se  debruça  sobre  corpos  lindos  de  mulher;

saudade:  aquela  que  tem  pensamentos  leves,  como  a  brisa,  que  chega  a  uma  transcendência,  o  gozo  de  infinito  bem  que  apenas  soa  e  voa.

          um  constante  desfile  de  horas / mulheres. Todas  passam,  muitas  fazendo  alaridos,  entre  risos  e  guizos,  para  mostrar que estão vivas como faz a cigarra morrendo e  cantando.  Aquela  que  encontrou  a  felicidade  não  volta  pela   onda revolta. No espaço nuvens vão se diluindo (problemas   que  passam)  e  surge  a  estrela  vespertina,  revelando-nos  o   paraíso  que  criamos.


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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

ODEON

            A música Odeon, de Ernesto Nazareth, foi  escrita  para  piano.  Na  quarta  capa  da  partitura,  editada  por  Mangione  & Filhos, a música é igualmente destinada para violão    (acompanhamento)  e  canto.

        Odeon é tocado ao piano na armadura de Mi Maior,       com 4 sustenidos (fá, dó, sol e ré sustenidos) no compasso  binário que denota a característica de um tango e se      expressa num clima caliente seguindo a trajetória musical: gingando, medianamente forte, expressivo, sempre crescendo, diminuindo, expressivo, diminuindo, fortíssimo, com brilho,  menos  fortíssimo,  mimoso,  forte  e  ritenuto.

        A letra da música é de autoria de Humberto Maurício       que fala da saudade dos matinais e dos vesperais no Cine  Odeon, no Rio de Janeiro. Na sala de projeção, filmes de  faroeste,  e  no  saguão  o  pianista  distraía  os  frequentadores  tocando tangos, choros brejeiros, valsas lentas  bem  dolentes.

Os cavalheiros e as damas se aproximavam, emocionados,  olhando  uns  aos  outros,  com  vontade  de  dançar,  ou  quase  dançando.  A  letra  fala  do  modo  de  conquistar  uma donzela.

        Os antigos “torpedos” eram “bilhetes” que passavam   voando das mãos do conquistador para as da sua amada. Temos notícias de que esses recados por escrito ainda são usados em casas noturnas onde há grandes concentrações      de jovens que buscam se divertir. É mais uma “paquera”    inocente  do  que  o  encontro  programado  de  casais.

        Esse  costume  se  expandiu  ainda  nos  dias  de hoje,  em forma de cartões-de-visita, utilizados também na identificação  de  autoridades,  ou  prestadores  de  serviços  que  divulgam   suas   atividades.

        Os  filmes  de  ontem  são  os  mesmos  de  hoje:  “soco,  tapa,  ponta-pé,  bofetão”.  A  violência    denotava, naquela época, sinais de escalada, em acontecimentos aparentemente  inocentes. A plateia, em coro, gritava: “pega, bate, pisa, mata,   mata  esse  grande  “vilão!”

        A saturação desses momentos agitados era abafada      pela presença do pianista que tocava, após o término das sessões as músicas brejeiras e as músicas dolentes. O efeito   era surpreendente: “num repente ao pianista vão cercando,       se  chegando,  quase,  quase  a  dançar,  Ah!...   (bis)”.

        Assim como a música tocada pelo pianista fazia desaparecer os gritos da plateia no cinema, não devemos peso  e referência a notícias revestidas na densa dimensão trina que está indo embora do planeta. Vamos deixar seguir tudo aquilo que  não  nos  diz  respeito.  

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domingo, 5 de agosto de 2012

CANTILENA

         Escrita nos movimentos musicais muito devagar e com verdadeira unção, legato e simplice, crescendo, diminuindo, com elevação, declamando com suavidade e com elevação, morrendo em pianíssimo, a música Candura, de Alberto Nepomuceno, tem um poema de Radindranath Tagore, adaptado para o português pelo tradutor Plácido Barbosa (1871/1938).
A consagrada poetisa Cecília Meireles, numa conferência sobre a vida e a obra de Tagore, realizada na ABI - Associação Brasileira de Imprensa, declarou: “A poesia tagoreana conduz a uma visão de santidade, de serenidade, na contemplação geral.”
A letra da música inicia revelando gestos delicados que envolvem ternura e carinho entre os namorados: “as tuas mãos nas minhas mãos, os meus olhos nos teus olhos, assim começou o nosso amor.”
Hoje em dia, quase não se vê os casais andar de mãos dadas, nem olhar nos olhos, talvez para não demonstrar em público o compromisso entre eles. A tendência atual dos namorados é ficar ou namorar, não há alternativa.
O carinho alimenta o namoro; as mãos, os olhos emitem vibrações sutis que afaga, anima, dulcifica e extasia o nosso coração, uma sensação de voo leva-nos ao estado emocional de leveza e sentimos vontade de voar mais longe, como pássaro abrindo o espaço.
Voar juntos, em sonhos acalentados, o êxtase é ainda muito maior como a sensação de orgasmo que não pode ser sentida isoladamente. Compartilhar a nossa energia dulcificada nas emanações sutis que o amor nos inspira é viver duplamente, corpo e alma.
O cenário ajuda-nos a viver esses momentos inefáveis. No clima romântico, que criamos, pode haver lua cheia ou outras fases da lua e o ambiente adequado ao encontro amoroso, de uma cabana a uma moradia onde o requinte e o luxo se ostentam.
A letra da canção revela a claridade perfumada nos sentimentos dos amores. A atmosfera de amor, que os enamorados criam, tem luar, flores se abrindo, perfume no ar, silêncio que revela tudo correndo como os rios em direção ao mar e nossos pensamentos criando situações estáveis que constroem o lar, o refúgio que buscamos imitar do ninho de pássaros.
Quando os pensamentos inspirarem a beleza da rosa, podemos dizer que são pensamentos perfumados. O vidro de perfume acaba com o uso, mas o perfume que colocamos nos sentimentos de amor nunca termina, pois a fonte é inesgotável, isto porque colhemos do amor universal que se espalha em todas as coisas que existem.
A letra da canção também nos diz que a pureza do amor prende-nos os olhos e enaltece o elogio como forma de estímulo maior. Elogiar a beleza é criar uma atmosfera azulada onde o nosso amor flui com ternura e intensa emoção.
A música Candura finaliza num contexto social que sobressai a luta pela sobrevivência, onde o relacionamento de casais consegue ultrapassar obstáculos que influenciam o estado d'alma de quem ama e busca o amor correspondido: “E nos buscamos e nos fugimos, doces lutas simuladas, risos... timidez... Como é puro este nosso amor.”

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sábado, 4 de agosto de 2012

TU E O VENTO

        No movimento lento, com simplicidade e vivo, a      música Tu e o Vento, do maestro e compositor Edino Krieger, escrita em 02 de maio de 1954, em Teresópolis-RJ, traz a     letra  de  Adelmar  Tavares.

        Advogado do Banco do Brasil (1925/1930), Adelmar  Tavares  foi  eleito,  em  1924,  para  a  Academia  Brasileira  de Letras, presidindo-a em 1948. No período 1948/1950, ocupa        o cargo de presidente do Tribunal de Justiça do Estado do     Rio de Janeiro.

        Nos idos de 1960, o poeta pernambucano, durante o        1° Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, é aclamado          “o rei da trova brasileira”, até hoje insuperável, com apoio do  poeta e trovador Walter Waeny (1924/2006) (Cadeira n° 40, patronímica de Rodrigues Crespo, da Academia de Letras dos  Funcionários  do  Banco  do  Brasil).

        O poeta da canção descreve um momento passado na  praia:  o  vento  e  a  mulher  sentada  na  areia  iniciam  um  envolvimento amoroso. O olhar dela se espalha pela distância  afora e vê, ao longe, velas que brincam perdidas na esteira      do mar, alto mar. Sem imaginarmos o que se passa num  minúsculo ponto no horizonte de águas, pensamos que tudo      distante  são  brincadeiras  flutuantes  como  as  marés  que   vem  e  vão.

        A conquista amorosa diante da mulher é a mesma que  temos  com  as  aves e  os  animais.  Um  olhar,  um  gesto  mal  direcionado pode afugentá-los para bem longe de nós. Tudo depende da forma como exteriorizamos nossos sentimentos,   pois a aproximação tem que ser natural e espontânea, como     os gestos do amor à primeira vista. Os domadores de animais  sabem  o  que  eles  querem,  e  entram  nessa  onda  do  querer  em  comum,  atingindo até um  clima  de afinidade  de  gostos.

        A mulher, naquela época, educada para o decoro social,  tinha restrições sobre a liberdade e, até mesmo liberta dos  preconceitos ainda se sentia, dentro de si, presa a  condicionamento de atitudes imposto pela sociedade. Até     hoje  no  mundo  islâmico,  a  mulher  tem  severas  restrições   no  comportamento  social.

        Livre no andar e no pensar, igualando-se em condições  idênticas ao homem na vida moderna, a mulher da canção      foi   à   praia   para   tomar   banho   de   sol   e    de    mar.   O  vento a envolveu no enlevo dos amantes, sacudindo seus cabelos, acariciando seus ombros, até mesmo amenizando   pensamentos.

        Ela  entrou  em  conflito  íntimo,  sentia  a  suavidade  do   vento,  ao  mesmo  tempo  a  invasão  de  algo  impetuoso  em  seu  corpo,  como  se  fosse  um  príncipe  ousado,  atrevido  e   conquistador,  no  dizer  do  poeta  pernambucano.

        Ela ficou amuada, desligou-se da contemplação das    velas distantes no mar afora e prendeu os cabelos, prendeu     os vestidos, a nudez fugiu-lhe da imaginação, ao mesmo    tempo sentiu-se seduzida, envolvida pelo vento que a tornava   mais  mulher.

        Por analogia, a mulher conquistada é a pantera que         se deixa ser domada e levada aos carinhos que a confortam    ou, numa linguagem mais  singela, é a garça que vem beber água  nas  mãos  de  quem  ela  viu  inocência.

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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

LINHA RETA

     O poema Linha Reta, de Cecília Meireles, foi dedicado pela autora ao poeta Cassiano Ricardo, nos idos de 1964. O compositor Dom João Evangelista Enout, escreveu a música, com o mesmo título, no movimento moderato suave e harmonioso. A canção finaliza entoando um acalanto: “nan-nan, nan-nan, nan-nan, nam, nam-nam.”
Dom João Evangelista Enout, recebendo a letra da poetisa Cecília Meireles, compôs a música Linha Reta, revelando ambos a compreensão do destino, da rota, da linha reta do voo dos pássaros e, logicamente, do fluxo da vida humana que se apresenta em diversas atividades, tão variáveis quanto forem as necessidades existenciais de cada uma.
O primeiro verso do poema traz um aviso: “Não tenteis interromper o pássaro que voa em linha reta de leste a oeste. alto e só.” No voo dos pássaros, há um incentivo à reflexão a respeito do que possamos transmutar na apreciação do comportamento solitário daqueles que trazem uma mensagem gravitando nos interesses em comum da classe a que pertence.
O momento da espera é sempre em silêncio para não perturbar o fluxo do acontecimento que está sendo impulsionado pela circunstância favorável. Na trajetória do destino, vemos que há uma pausa que antecede à realização dos sonhos.
A canção fluindo suave e harmoniosa como a própria vida do autor e da letrista, estimula-nos a seguir a mesma trajetória que nos conduz inteligentemente a um recanto feliz, revestida do sentimento que nos induz a contemplar a vida que vemos em outros voos.
Como muita gente pensa o que é bom para si é bom para os outros, não percebendo o plano divino que o destino traz, tenta interromper a trajetória alheia que é diferente daquela que traz consigo. Na busca para escolher o melhor estilo de vida para si mesmo e aos seus companheiros do caminhar, tenta interromper quem segue aparentemente na solidão.
A curiosidade, que é mais uma forma de procurar saber superficialmente o que não consegue identificar no íntimo, é sempre abafada pela evidência dos fatos que traz a verdadeira identidade daquilo que deve ser dentro da realidade única. Aí a sabedoria do silêncio é a única forma que produz efeitos.
Comparar comportamentos em estilos diferentes, buscando o mesmo resultado em situações divergentes por natureza própria, é não considerar dois fatores primordiais: o tempo e o espaço. Não tem nem rumo a indagação curiosa sobre paisagens íntimas que não estão no olhar de quem tem outros voos sublimados por música que permanece no reino da criação íntima.
A vida, dádiva preciosa em que os talentos surgem para resplandecer a beleza das formas e dos conteúdos, tem variações que denotam movimentos como a própria música.
Assim como não podemos comparar os estilos de vida que se processam em planos superiores ao da Terra, com as mesmas ferramentas usadas nesta densa dimensão, do modo o pássaro, na apreciação de Cecília Meireles, “não passa para contemplar essas coisas do mundo”.
No mundo tridimensional dissociado da unidade, como o planeta Terra, as trevas ainda dominam os campos de ação onde o homem não coloca o amor no coração. As trevas o fazem estar em confinamento, mesmo sabendo que é possível a conexão com os planos superiores, desde que haja a elevação de teor vibratório de seus pensamentos.
Em outros planetas, na 5ª dimensão unificada e seguintes, não há mais doenças nem aprisionamento da consciência às trevas, pois a luz irradia energias salutares que promovem a plenitude em todos os sentidos.
A alimentação, nessas dimensões, passa a ser fluídica, não há velhice de idade, pois a flor da idade é mantida no decorrer de longo tempo que pode durar 100, 200 anos, dependendo da missão realizada. O pensamento plasma as roupagens mais bonitas no vestir, em luzes e cores de inefável beleza. O encanto feminino é mil vezes superior. Em sonhos tivemos a oportunidade de ver.
Saíamos desta densa consciência dissociada, que ainda existe no planeta, não criticando nada e não criticando ninguém nem ouvindo comentários inadequados, principalmente na midia, o que nos levaria a inadequação.
Valorizemos os quatro pilares (simplicidade, humildade, transparência e alegria) que possibilitam o nosso abandono à luz, a transmutação de nossa personalidade (transitória) na consciência do ser etéreo que todos nós somos, o ser etéreo que se liga à fonte.

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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

IRREMEDIÁVEL CANÇÃO

Com o movimento lento, a Irremediável Canção, de Cláudio Santoro, escrita para canto e piano, traz os versos de Ary de Andrade, o autor de Balada de Campos do Jordão  (1942), Canto do tempo presente (1946), Poemas de mãos      calejadas (1951), Café Society (1955), Romance das estradas (1971).

        Cláudio Santoro (1919/1989), professor, compositor,  violinista,  maestro,  fundou  e  regeu  a  Orquestra  Sinfônica  do  Teatro  Nacional  de  Brasília,  morreu   no  palco do  teatro, hoje denominado Teatro Nacional Cláudio Santoro, no  momento  em  que  estava  ensaiando  o  Segundo  Concerto para  piano  e  orquestra,  de  Brahms.

        Comentar  a  letra  que  a  música  embala  lentamente  é colocar a poesia em dois cenários completamente opostos:     um céu de beleza indescritível e um inferno que buscamos,       o mais possível, silenciar. As paisagens íntimas que o         poeta  sentiu  na  mulher  amada,  vê-se  no  final  mergulhada  em  profundo  abismo.

        Quando o despertar de um romance começa, há sonhos  que imaginamos serem sonhos, talvez pela vontade de  sentirmos  que  a  pessoa  amada,  depois  não  amada,  estar no mesmo sentimento que vivemos. É claro que a beleza     física  da  mulher  inspira-nos  ao  enlevo  dos  amores  eternos.

        O letrista criou um clima de colorido poético, onde  destaca a leveza e a mansuetude no olhar da mulher       amada, comparando-a ser ela feita de luar. No envolvimento  amoroso, a paixão desenfreada invade o terreno das     sensações em que o corpo se entrega aos prazeres sensuais.     O silêncio da mulher amada encobre, momentaneamente, a  realidade  em  que  ela  vive  e  a  luz  que  ele  viu  no  sorriso  dela  se  espalha  pelas  estrelas.

        Em  resumo,  em  seu  idílio  amoroso,  ele  a  cantou  em  versos  que  a  compara  também  com  a  fonte,  a  música,  a  praia,  o  mar,  tudo,  enfim,  que  inspira  luz  e  calor.  Esse amor  não  foi  correspondido  nessa  mesma  intensidade. Almas  incompatíveis  se  debatem  intimamente,  de  abraços em abraços, mesmo que as aparências sejam envolvidas no clima  de  amor.

        Há um tempo–limite na espera dos sonhos acalentados, não bastam apenas colo e perfume, abraços e ternura,  respiração   mergulhada  no  orgasmo  e  deleite;   os   jogos   da lua-e-dos-ventos são bastante concorridos e requerem         uma preparação não apenas física, mas principalmente      emocional.

        O tempo se encarrega de nos entregar aquilo que   pertence  ao  nosso  destino,  assim  vão-se  embora  os  amores  que pensamos ser verdadeiros, e vêm-nos, para nossa  felicidade,  os  amores  que  muito  têm  a  ver  com  a  nossa  alma,  sem  esquecer  que  os  atrativos,  que  nos  encantam,  têm   igualmente   um   papel   muito   importante  em  nossa   vida,  não  exclusivamente  primordial.

        O passado amoroso que não traz nenhuma recordação agradável deve ser esquecido, sem, no entanto, menosprezar  quem  para  nós  foi  praia  e  mar,  fonte  e  música,  deixando  que outros ventos, que não precisamos saber de onde vêm,  levem  aquele  amor  que  não  vive  mais  em  nosso  coração.


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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

CANÇÕES DE AMOR

         Escritas nos idos de 1958, as três músicas Em algum   lugar, Ouve o Silêncio e Acalanto da Rosa, de Cláudio Santoro,  trazem os versos de Vinícius de Moraes, e integram o ciclo  Canções  de  Amor.

        A música Em algum lugar começa dentro do movimento  andante, a letra é revestida da esperança de haver algum    lugar  onde  o  amor  possa  ser  vivido  em  paz.

        A canção Ouve o Silêncio do ciclo Canções de Amor,        como é óbvio, estende uma atmosfera sussurrante quase silenciosa, a expressar um segredo de um amor, em      aparente  solidão,  a  cantar  a  beleza  de  viver.

        A terceira música do ciclo tem por título Acalanto da      Rosa que expressa o dormir da estrela no céu, o dormir da   rosa no jardim e o dormir do amor de quem o faz dormir.          O texto cita a frase: “é preciso pisar leve”, fazendo–nos     lembrar a canção O bilhete, de Jair Amorim e Evaldo      Gouveia, na voz do cantor Altemar Dutra: “quando chegares,  viu,  pisa  bem  devagar  que  a  minha  dor  dormiu.” 

        Os  versos  do  poeta  Vinícius de Moraes começam,  na  primeira canção, falando-nos da possibilidade da existência     de algum lugar onde o amor possa viver em paz. Realmente,      é  muito  difícil  se  encontrar,  neste  planeta, um  recanto  que  esteja  em  eterna  primavera.

        Mas sempre existe àqueles que trazem o amor no    coração,  um lugar de paz onde se pode viver o amor e ser    feliz, bem feliz. A felicidade, que semearmos, será a mesma    que iremos receber de volta, embora tenha percalços para chegar ao ponto em que desejaríamos. Uma simples visão do    caminho que buscamos já é o suficiente para estarmos bem  com  a  vida.

        Na  segunda  música,    um  convite  para  ouvirmos  o  silêncio que fala do amor triste que não pode acontecer entre um casal. Os motivos dos amores impossíveis são muitos          e  alguns  deles  permanecem  em  segredos  insondáveis.

        A  canção,  logo  de  início,  diz  para  não  falar  e,  um  instante depois, pede para falar bem de leve, dizer bem  baixinho  de  um  segredo  e  um  verso  cheio  de  esperança  no  amor  que  eles  sentem.  Antes  que  a  amada  possa  manifestar algum desencanto, ele se antecipada, impedindo-a:   “não”.

        Em seguida, ele a incentiva a cantar a beleza de viver,  fazendo uma saudação ao Sol e a alegria de amar, mesmo       na aparente solidão. Se há um vínculo de amor, sustentado   por pensamentos intensos e profundos, a separação é      apenas  física e não emocional. Não há motivos para tristeza.    O  amor  é  o  cântico  que  persiste.

        Pensar no Sol, em forma de saudação, é muito salutar,  pois  a  energia,  que  dele  se  derrama,  pode  envolver-nos,  a qualquer hora, de dia ou de noite, em fortes emanações  etéricas. O pensamento em direção as conquistas maiores         um  sentido  maior  em  nossa  vida  e ajuda-nos  a  ficar  mais confiantes no caminhar. Lindas imagens ideoplásticas, que o cérebro cria, facilitam a contemplação da beleza ao      nosso  alcance.

        De efeito semelhante, podemos, sem buscar nenhum   meio exótico, atrair pelo pensamento as energias que emanam  de paisagens conhecidas: o deserto do Saara, as savanas africanas, as nascentes do rio Nilo, os Alpes franceses ou suíços, os fiordes escandinavos, as florestas eslavas, as paisagens polares, o pantanal mato-grossense, as cachoeiras  do  Iguaçu,  os  igarapés  da  Amazônia,  as  areias  dos  lençóis  maranhenses, em Araioses e Barreirinhas, e também na  própria  ilha  de  São  Luís  nas  dunas  da  praia  de  Araçagi.   

        No Acalanto da Rosa o pensamento de Vinícius de Moraes segue em direção da estrela, da rosa, da lua e do amor         para revelar que há sono. Há, também, como vimos, um       sutil alerta: “é preciso pisar leve, aí é preciso não falar”. 

        Quando  a  amada  adormece  o  perfume  dela  é  suave  e  ele   a compara a rosa pura dentro de um sono que, devido à     longa  espera,  supomos,  não  tem  fim.  Pois,  do  contrário,  iríamos reconhecer a morte ou a própria vida ressurgida         em  outra  dimensão  maior.     

Blog  Fernando Pinheiro, escritor

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