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sábado, 13 de setembro de 2014

SERENATA

Hoje em dia a serenata está se despedindo da forma original em que foi lançada pelos brasileiros estudando em Portugal, no século XIX, notadamente os maranhenses Lisboa Serra e Gonçalves Dias, vale destacar a notícia divulgada pelo Diário As Beiras – Portugal – edição de 12 de setembro de 2014: “foi a comunidade estudantil brasileira em Coimbra que introduziu as serenatas”.
Interessante observar que nessas serenatas não havia o costume de ingerir bebidas alcoólicas, como hoje em dia se vê em toda festa em que tenha o canto e a orquestra. Nas chamadas baladas há um convite pairando no ar onde se vê bebidas e tóxicos. O próprio romantismo que envolve essas festas se dilui facilmente com a presença das pessoas que pensam unicamente em beber e ficar com a cabeça rodando.
Somos aficionados por canções napolitanas e destacamos algumas: Parla più piano, O sole mio, Non ti scordar di me, Torna a Surriento, Passione, Annarè, Caruso, Tu ca nun chiagne, Dicitencello vuie, Il canto, I´ te vurria vasà, Si Maritau Rosa, Sogno, com tanta beleza de música por que não foram os italianos ou outros povos a introduzir em Portugal, precisamente em Coimbra, as serenatas? Foi o Brasil, àquela época, brejeiro, romântico e importador.
Nos idos de 1853, quando o Banco do Brasil, sob o comando de Lisboa Serra, o presidente-fundador, abriu as portas para público e, desde então nunca mais fechou, na cidade do Rio de Janeiro, em noites de lua cheia, as pessoas se reuniam na porta de suas casas para conversar, declamar versos e cantar modinhas brejeiras. Em Coimbra e no Rio de Janeiro já era o tempo de serestas.
Esse entrosamento das pessoas, sentiu o funcionário do Banco do Brasil, Capiba (1907/1997) quando se tornou conhecido compositor de frevos, e nos legou, entre tantas outras, a Serenata Suburbana, Recife, cidade lendária: “Que é feito dos teus lampiões? Onde outrora os boêmios cantavam suas lindas canções”.
Ele mesmo disse que carregava alegria para dar e vender e as suas cirandas são de comovente beleza. Lembro-me dele, trajando terno branco, numa foto na primeira página do Jornal do Brasil, à época funcionando na Av. Rio Branco, na cidade do Rio de Janeiro, vindo do Recife, já conhecido em todo o Brasil.
A serenata existe no Brasil desde os tempos de outrora e tivemos bons seresteiros que é bom relembrar: Francisco Alves, Vicentino Celestino, Silvio Caldas, Nelson Gonçalves, Carlos José, Carlos Galhardo, Anísio Silva, Alcides Gerardi, Francisco Petrônio, Francisco Egídio, Altemar Dutra, Jessé, Evaldo Braga, Orlando Dias, Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Cauby Peixoto, Roberto Luna, Roberto Müller, Fagner, Lindomar Castilho, Nilton César, Paulo Sérgio, Fernando Mendes, José Augusto, Carlos Alberto, Wanderley Cardoso, entre tantos outros.
Até há pouco tempo, participávamos de saraus em casas e apartamentos na cidade do Rio de Janeiro, onde havia modinhas tocadas ao violão, às vezes com acompanhamento de voz, declamação de poesia por poetisas que abrilhantavam a festa, com seu perfume, doçura e elegância no vestir. Nos intervalos, tínhamos à disposição o lanche e refrigerantes, sem bebida alcoólica.
A cidade tornou-se menos segura e esse fluxo de saraus foi diminuindo e passando para os clubes noturnos, onde a presença de pessoas de terceira idade é sempre constante, alegrando o ambiente. As bandas de música tocando os grandes sucessos do passado e do presente despertam interesse do público acolhedor.
Vale destacar as festas portuguesas nos clubes sociais, onde fomos a muitas delas no Rio, que assim como nós têm a identificação das músicas e danças folclóricas. O cantor português Roberto Leal, quando estava radicado no Brasil, animou bastante essas festas, com muito sucesso. Os grupos folclóricos, vindos de Portugal, é sempre a maior atração.
De saudosa memória, é bom lembrar Francisco José e Amália Rodrigues, figuras exponenciais da música lusitana. Uma das mais belas canções portuguesas teve o original gravado por Amália Rodrigues e, posteriormente, por Dulce Pontes – Crônica CANÇÃO DO MAR - Blog Fernando Pinheiro, escritor – post de 4 e 5 dezembro de 2013.
A serenata sempre foi um deleite, apaziguando a mente convulsionada por pensamentos do cotidiano, no momento em que as empresas cobram dos empregados as metas a alcançar e a música despertando sutilmente a nossa alma para os doces enlevos.

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