Hoje em dia a
serenata está se despedindo da forma original em que foi lançada pelos
brasileiros estudando em Portugal, no século XIX, notadamente os maranhenses
Lisboa Serra e Gonçalves Dias, vale destacar a notícia divulgada pelo Diário As
Beiras – Portugal – edição de 12 de setembro de 2014: “foi a comunidade
estudantil brasileira em Coimbra que introduziu as serenatas”.
Interessante
observar que nessas serenatas não havia o costume de ingerir bebidas
alcoólicas, como hoje em dia se vê em toda festa em que tenha o canto e a
orquestra. Nas chamadas baladas há um convite pairando no ar onde se vê bebidas
e tóxicos. O próprio romantismo que envolve essas festas se dilui facilmente
com a presença das pessoas que pensam unicamente em beber e ficar com a cabeça
rodando.
Somos
aficionados por canções napolitanas e destacamos algumas: Parla più piano, O
sole mio, Non ti scordar di me, Torna a Surriento, Passione, Annarè, Caruso, Tu
ca nun chiagne, Dicitencello vuie, Il canto, I´ te vurria vasà, Si Maritau
Rosa, Sogno, com tanta beleza de música por que não foram os italianos ou
outros povos a introduzir em Portugal, precisamente em Coimbra, as serenatas?
Foi o Brasil, àquela época, brejeiro, romântico e importador.
Nos idos de
1853, quando o Banco do Brasil, sob o comando de Lisboa Serra, o
presidente-fundador, abriu as portas para público e, desde então nunca mais
fechou, na cidade do Rio de Janeiro, em noites de lua cheia, as pessoas se
reuniam na porta de suas casas para conversar, declamar versos e cantar
modinhas brejeiras. Em Coimbra e no Rio de Janeiro já era o tempo de serestas.
Esse
entrosamento das pessoas, sentiu o funcionário do Banco do Brasil, Capiba
(1907/1997) quando se tornou conhecido compositor de frevos, e nos legou, entre
tantas outras, a Serenata Suburbana, Recife, cidade lendária: “Que é feito dos
teus lampiões? Onde outrora os boêmios cantavam suas lindas canções”.
Ele mesmo
disse que carregava alegria para dar e vender e as suas cirandas são de
comovente beleza. Lembro-me dele, trajando terno branco, numa foto na primeira
página do Jornal do Brasil, à época funcionando na Av. Rio Branco, na cidade do
Rio de Janeiro, vindo do Recife, já conhecido em todo o Brasil.
A serenata
existe no Brasil desde os tempos de outrora e tivemos bons seresteiros que é
bom relembrar: Francisco Alves, Vicentino Celestino, Silvio Caldas, Nelson
Gonçalves, Carlos José, Carlos Galhardo, Anísio Silva, Alcides Gerardi,
Francisco Petrônio, Francisco Egídio, Altemar Dutra, Jessé, Evaldo Braga,
Orlando Dias, Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Cauby Peixoto, Roberto Luna,
Roberto Müller, Fagner, Lindomar Castilho, Nilton César, Paulo Sérgio, Fernando
Mendes, José Augusto, Carlos Alberto, Wanderley Cardoso, entre tantos outros.
Até há pouco
tempo, participávamos de saraus em casas e apartamentos na cidade do Rio de
Janeiro, onde havia modinhas tocadas ao violão, às vezes com acompanhamento de
voz, declamação de poesia por poetisas que abrilhantavam a festa, com seu
perfume, doçura e elegância no vestir. Nos intervalos, tínhamos à disposição o
lanche e refrigerantes, sem bebida alcoólica.
A cidade
tornou-se menos segura e esse fluxo de saraus foi diminuindo e passando para os
clubes noturnos, onde a presença de pessoas de terceira idade é sempre
constante, alegrando o ambiente. As bandas de música tocando os grandes
sucessos do passado e do presente despertam interesse do público acolhedor.
Vale destacar
as festas portuguesas nos clubes sociais, onde fomos a muitas delas no Rio, que
assim como nós têm a identificação das músicas e danças folclóricas. O cantor
português Roberto Leal, quando estava radicado no Brasil, animou bastante essas
festas, com muito sucesso. Os grupos folclóricos, vindos de Portugal, é sempre
a maior atração.
De saudosa
memória, é bom lembrar Francisco José e Amália Rodrigues, figuras exponenciais
da música lusitana. Uma das mais belas canções portuguesas teve o original
gravado por Amália Rodrigues e, posteriormente, por Dulce Pontes – Crônica
CANÇÃO DO MAR - Blog Fernando Pinheiro, escritor – post de 4 e 5 dezembro de
2013.
A serenata
sempre foi um deleite, apaziguando a mente convulsionada por pensamentos do
cotidiano, no momento em que as empresas cobram dos empregados as metas a
alcançar e a música despertando sutilmente a nossa alma para os doces enlevos.
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