Dirigido pelo cineasta Michael Haneke, o filme “Amor”, premiado em
Cannes, conta o enredo de um casal de professores de música: Georges (Jean-Louis
Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), ambos octogenários vivendo num luxuoso
apartamento de rua tranquila de Paris. A filha Eva (Isabelle Huppert) também é
musicista e tem uma vitoriosa carreira que lhe obriga a fazer apresentações
internacionais.
Atores franceses que
fizeram sucesso no passado: Jean-Louis Trintignat (de “Um Homem, Uma Mulher”,
1966), e Emmanuelle Riva (de “Hiroshima, Meu Amor”, de 1959), voltam a
surpreender o público com magnífica apresentação.
Transcorrem os dias em
clima de felicidade. Numa cena, a filha comenta que, no passado quando chegava
em casa, o casal estava sempre fazendo amor, talvez seja este o motivo do
título, em português, do filme, mas não basta isso. No decorrer do tempo, vemos
muita dedicação e amor numa situação de solidariedade face à gravidade que vem a
ocorrer quando Anne necessita de cuidados médicos.
Submetida à cirurgia, a
operação teve grave sequela, paralisando o lado direito do cérebro, obrigando-a
a andar de cadeiras de rodas, em consequência, a musculatura facial fica
paralisada, impossibilitando-a a falar. Traumatizada, ela rejeita nova
internação no hospital, passando a fazer o tratamento em casa, sob os cuidados
do marido que vem a precisar de enfermeiras (Carole Franck e Dinara
Droukarova).
No mundo dos sonhos,
passamos por igual situação do filme “Amor” revelada na crônica PÉGASO (XVII) –
18 de fevereiro de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor:
A
narrativa de hoje é pertinente ao encontro que tivemos com Alice, não é a Drª
Alice Howland do filme Para Sempre Alice, protagonizado pela atriz Julianne
Moore, no papel-título, revela o sentido das juras eternas que fiz, em 25 de
julho de 2012, quando entramos, eu e ela, na Catedral de Petrópolis, ouvindo a
música de Bach tocada no órgão.
Elegantemente
vestida de uma camisola rosa, ela surgiu defronte de mim que estava parado na
entrada social do apartamento. Distante alguns metros, na sala-de-estar,
estavam três funcionárias que faziam parte do home care que
prestava assistência à ela. Reconheci uma delas, a senhora que estava presente
na minha despedida, em 17 de julho de 2013, da capital paulista.
Ela
aproximou-se de mim, pegou na minha mão, com carinho, e me conduziu ao sofá,
abrindo num átimo e fechando em seguida a parte superior da camisola onde pude
ver, num relance, seios em forma de pera ressequida, pois o tratamento
psiquiátrico envolveu muita medicação e a fez bem magra, magra de dar pena. Ser
magra no mundo da moda é requinte de beleza.
O encontro
aconteceu como se nunca tivéssemos separados: a nudez espontânea numa fração de
segundo revelava que a intimidade estava à minha disposição. A satisfação do
encontro era mútua, de ambas as partes, explicando melhor.
Ela me
falou: eu gostaria de estar com você na cama, mas precisamos conversar.
Interessante tudo que tínhamos de falar já estava revelado às claras, sem a
necessidade de revelar, como se faz quando estamos acordados. No plano físico,
isto iria custar muitas horas de conversa para revelar os fatos ocorridos em
nossa ausência e as impressões que viriam com a nossa apreciação.
No filme
Para Sempre Alice, a personagem Alice sofre de Alzheimer (veja a nossa crônica
ALZHEIMER – 9/11/2014) e Alice dos sonhos meus não sofria de nada e acabou
sendo levada pelo filho (ausente no sonho), a consultório médico que receita
medicação que causa dependência química.
A
propósito, é oportuno destacar os dois primeiros parágrafos da nossa crônica
VISÃO MÉDICA (II) – 30 de dezembro de 2014:
Vale
salientar a opinião do Dr. Ernesto Venturini, médico italiano que participou da
reforma psiquiátrica que culminou com a Lei Basaglia, de 1978, que aboliu os
hospitais psiquiátricos (manicômios) na Itália: “a psiquiatria hoje é um
simulacro.”
A
medicalização e os conhecimentos de uma psiquiatria vazia foram os temas
debatidos no 4º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, organizado pela Abrasme –
Associação Brasileira de Saúde Mental, realizado entre 4 e 7 de setembro de
2014, na cidade de Manaus – AM.
Os sonhos
são reveladores da verdade que todos buscam encontrar. Tenho no meu coração o
título do filme: Para Sempre Alice.
Na crônica
MOMENTO MUTÁVEL comentamos outro filme, textos, a seguir:
O filme You´re Not You, com roteiro de Jordan
Roberts e Shana Feste, adaptado do romance de Michelle Wildgen, dirigido por
George C. Wolfe, leva ao público o conhecimento da doença de Lou Gehrig que
afeta as células nervosas no cérebro. Considerando ser uma doença degenerativa,
o paciente vai tendo dificuldade em falar, andar e até mesmo respirar.
O filme começa, no clima de felicidade,
apresentando a festa de aniversário da pianista Kate (Hilary Swank), ao lado do
marido Evan (Josh Duhamel) onde compareceram amigos e familiares. Quando ela,
ao piano, vai interpretar a Polonaise em A major, Op. 40, n° 1, de Chopin, seus
dedos começam a tremer. Um ano e meio depois, ei-la numa cadeira de rodas. A
situação se agrava quando ela descobre que o marido a traiu, fazendo-a ter
raiva e culpa, ao mesmo tempo.
Os personagens centrais deste filme que
recebeu, no Brasil, o título Um momento pode mudar tudo, não são a mulher e o
marido, e sim a paciente Kate com a cuidadora Bec (Emmy Rossum). Há ainda a
participação dos atores Jason Ritter (Will), Stephanie Beatriz (Jill), Julian
Mc Mahon (Liam), Ali Larter (Keely), Loretta Devine (Marlyn), entre outros.
No momento em que o mundo vive a mulher
invisível, o homem invisível, tão comum no relacionamento de casal, como
aconteceu com Bec (Emmy Rossum) que cuida de Kate, pessoa que sofre de doença
degenerativa, vivida pela atriz Hilary Swank, no filme Um momento pode mudar
tudo (título original You´re Not You), dirigido por George C. Wolfe. No final
do filme, Kate, no leito de morte, diz a Bec: “você procure casar com alguém
que lhe enxergue.” [SOFRER E NÃO SOFRER – 30 de dezembro de 2016 – blog
Fernando Pinheiro, escritor].
Retomando a narrativa inicial, o filme “Amor”
apresenta a cena final onde vimos Anne, recuperada da saúde, saindo a passeio,
ao entrar na rua, disse sorrindo ao marido: “você não vai apanhar o seu
casaco?”
Essa recuperação já estava sendo alimentada
por ela mesmo, quando da visita de Alexander, ex-aluno de Anne no filme, em sua
residência, que lhe perguntou pela doença. O pianista Alexandre Tharaud,
interpreta ele mesmo, Alexandre, pianista e ator, ao mesmo tempo. Na resposta,
ela lhe disse: vamos mudar de assunto, conte-me como está a sua carreira, e
pediu a ele tocar ao piano uma música de Schumann que ela lhe ensinara.
Somente existe doença se dermos peso e
referência. Se trocarmos a preocupação, qualquer que seja, no caso a da doença,
por um momento de prece, poderá acontecer, se você acreditar, coisas
inimagináveis, reafirmando o titulo do filme em português: Um momento pode
mudar tudo. [MOMENTO MUTÁVEL – 31 de dezembro de 2016 – blog Fernando Pinheiro,
escritor].
Observar o
luar esplêndido é muito melhor do que dar atenção a notícias e filmes que
transmitem desencantos divulgados pela mídia, afinal somos o que nos
alimentamos, principalmente do alimento que nos dá a sustentabilidade do corpo
físico e de outros corpos mais sutis que estão intrinsecamente interligados.
[PÉGASO (XXII) – 2 de junho de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor]~.