Transição planetária. Acontecimentos que envolvem milhões de pessoas, memória institucional, narrativa de sonhos, relacionamentos, saúde mental, música, cinema e balé.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
LENDA PESSOAL
Há, em cada coração, uma lenda pessoal que se revela em nítidas
impressões. É impossível fazer a comparação, com vistas a destacar qual a mais
importante delas. A revelação de cada uma define circunstâncias próprias, variando
sempre entre si.
No cenário do Cosmos,
as sementes e os ninhos estendem famílias vegetais e animais, em ritmo de
reprodução. No reino humano, toda criação está ligada ao destino que cria a
cada pulsar do seu coração.
Em todos os
instantes, deixa-se ser levada pelo ritmo da vida que escolheu, tentando
desfazer aquilo que não gosta de lembrar, sempre procurando preencher suas
lacunas das fontes límpidas que está descobrindo.
Nessa busca de se
completar, almeja ser feliz e conta para si mesmo todos os planos de
cor-de-trigo, sonhos de primavera que formam a sua lenda particular.
Assim como as aves
que cantam a poesia do entardecer, a criatura humana volta ao seu ninho para
aquecer seus familiares com o calor da convivência noturna.
Há uma troca de impressões
do dia que passou, do dia a ser vivido e as situações que marcam esperança de
dias melhores.Mas é no silêncio íntimo que sente a realidade da vida lhe tocar,
de maneira agradável ou não, conforme a sua predisposição emocional.
Há muitas ações em
jogo; emoções em desalinho buscando seus rumos; pessoas que conhece no trabalho
e na rua, trazendo-lhe mensagens de enigma. Entre vacilações e acertos,
ansiedade e desprendimento caminha tentando decifrar o que lhe convém.
Um olhar, uma voz em
monossílabo e um sorriso são acrescidos a tantos outros que lhe chegam para
marcar presença de algo que lhe diz respeito. Nessa busca do caminho íntimo,
vagueia em lugares onde o brilho das preciosidades materiais lhe desperta a
atenção, com as borboletas ofuscadas pelo fogo. E como na lenda de Fênix -
ressurgindo das cinzas - vê a sua lenda particular nascer das desilusões e
desencantos. Não sente saudades das circunstâncias que passaram deixando-lhe um
vazio.
A sua vontade é
contar a todos como a vida lhe brindou com os encantos que sonhou, com os
amores que se doam, com a paz que sente tudo se interligando.
Compreende, então, o
destino de seus passos. A presença de pessoas que lhe suplicavam, em silêncio,
resignação e paciência quando as horas ainda estavam em outro alvorecer. No
lar, valoriza o soluço de quem tem dificuldades em amar da forma tão sublimada
quanto sublimado está seu coração.
Nas searas de
trabalho coletivo, a satisfação por ter contribuído pelo clima de harmonia, nas
horas em que o fogo arrasador ameaçava a plantação. E dentro de si, a leveza, o
bem-estar suave como as nuvens brancas que passam ao longe deixando impressões
de sonho.
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Fernando Pinheiro, escritor
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quarta-feira, 29 de agosto de 2012
DESPERTAR DA EFLORESCÊNCIA
O esclarecimento é foco de luz na escuridão. Todos passam pela
incompreensão de atitudes alheias. Nem todos têm a oportunidade de avaliar os
fatos que surgem unindo-os entre si.
É tão simples a
justificativa de postura. Além de revelarmos aquilo que estamos vivendo, damos
a oportunidade de alguém nos conhecer, partindo de nossas autênticas
reafirmações.
A transparência da autenticidade é fundamental. Num
mundo de defesa de valores perecíveis, era necessário ter muita argúcia e
habilidade para não deixar a observação alheia nos atingir em nosso ponto
fraco.
Mas estamos vivendo
em um novo tempo de descobertas íntimas, onde os valores subsistem à toda
prova. Quem já atingiu esse estágio, não tem mais medo de se revelar ao
público.
A ligação permanente
de sua consciência humana, mesmo falível, com a supraconsciência que rege o
ritmo do destino de todos os seres do Cosmos dá uma força inexaurível a todas
as carências.
Tudo está ligado a
esse ritmo que vibra no tempo e espaço, criando circunstâncias peculiares a
cada um, numa autêntica demonstração de sabedoria e justiça. Mesmo que algo
pareça deslocado do lugar onde desejaríamos, há implicações que nos fogem à
compreensão.
A inversão de valores
íntimos é inadequada. Quem tem o dom de falar não pode recusar a presença do
público, a pretexto de ter experiência de profissões que desconhece. Nenhum
profissional pode ocupar um lugar onde não tenha condições de sair-se bem.
Tudo está ligado
intrinsecamente. Os aromas suaves vêm das flores, as forças hidráulicas das
cachoeiras represadas, a poesia dos príncipes dos cânticos, as notícias
públicas dos repórteres e todo o deslizar dos movimentos que nossos sentidos
observam.
É tão bonito vivermos
o que somos. A energia de nossos atos tem uma característica, em decorrência
daquilo que fazemos. O artista age revelando a arte. Se há incompreensão alheia
sobre atitudes assumidas por nós, devemos esclarecer que estamos mais ligados
ao desempenho de nossas atividades do que ao desejo de sermos diferentes.
O homem tem o direito
de sonhar, fazer planos, mesmo aqueles considerados aparentemente audaciosos,
sempre dentro do caminho que buscou num momento de ligação com as forças
superiores da natureza.
É nesta combinação -
vontade circunstância - que o destino surge. Ninguém pode deter o ritmo, o
tempo, os fatos que estabelecem situações. Há uma força - despertar da
eflorescência - que vem das raízes, alimentando as flores que desabrocham.
Num mundo em que há uma
preocupante comparação de atitudes pessoais que desperta o preconceito social,
é necessário esclarecer que não estamos ocupando lugar de ninguém, mas seguindo
o nosso com naturalidade que nos caracteriza.
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terça-feira, 28 de agosto de 2012
ANEIS DE FOGO
Estudo e diploma, namoro e casamento, trabalho e emprego, envolvem
responsabilidades - aneis de fogo.
Mais do que o brilho
das aparências, há uma cumplicidade mágica que une o protagonista ao papel que
exerce na escola, no lar e no trabalho.
Todos caminham nesse
roteiro, de forma convencional ou não. Todos aprendem na vida, com ou sem
livros; todos namoram e casam, com ou sem formalidades; todos trabalham, com ou
sem vínculo patronal. Assim, nesses estágios diferentes de viver, cria-se a
escola, cria-se o lar, cria-se o local de trabalho.
A observação de
valores íntimos desperta a inteligência a voos de reconhecimento de lugares que
ocupamos na sociedade. Sem a vontade de caminhar, ninguém caminha. Portanto, é
necessário crescer, sem preocupação de lutar, mas deixar-se ser levado pela
energia do nosso trabalho.
A atração dos pares é
manifestação que se observa desde os movimentos dos elementos do átomo, nos
tecidos dos corpos vivos, expandindo-se às famílias das espécies, em
denominações variadas como grupos minerais, vegetais, animais e, no círculo
humano, as raças e nações se agrupam nos três mundos do planeta de consciência
trina, a Terra, e, ainda, nos sistemas planetários, prosseguindo, em ritmo
crescente, nas galáxias e nebulosas.
As famílias das
espécies pertencem à unidade da vida universal. Os graus evolutivos dos seres
vivos são marcados por experiências de vidas que se ligam umas às outras.
Os reinos da Criação
são ligações permanentes que espelham a variedade incontável de aromas, sons,
luzes e cores. No reino humano, a busca de recursos de sobrevivência e as
necessidades orgânicas e emocionais, levam-nos ao contato com outras pessoas
muito importantes às experiências da vida que escolhemos.
Em tudo há um vínculo
de responsabilidade. Cada pessoa vai entendendo, ao seu modo, que viver é ser
responsável por si. Mesmo que esteja sozinha, há deveres que não pode desprezar
como, por exemplo, fazer higiene, alimentar-se, dormir, etc.
Com relação ao
agrupamento social a que está ligada, há ditames comuns que beneficiam a todos,
regulados por disciplina para que haja um clima adequado ao ambiente onde
vivem. E aqueles que exercem a direção dos trabalhos possuem em suas mãos esses
aneis de fogo que resplandecem com maior brilho. Assim como ninguém pode deter
a luz, a claridade do ambiente envolve a todos.
No lar e no trabalho,
temos oportunidades valiosas de mostrar versatilidade, criação e bom senso, ao
mesmo tempo em que somos gratificados pela presença daqueles que nos ouvem e
assistem, alentando-nos os sonhos, num embalo dos dias que se sucedem, uns após
outros, até a concretização de nossos projetos.
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Fernando Pinheiro, escritor
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
IMAGENS DO DESERTO
Flores atiradas ao deserto por caravanas que passam apressadas. Suas
cargas estão pesadas de coisas supérfluas. São necessárias ao consumo
transitório, mas não têm proveito no destino da viagem.
O tempo vai fenecendo
as flores desprendidas de suas raízes. Chegará um momento em que essas flores
virarão adubos fertilizando as searas, mesmo que se encontrem em terrenos
desérticos.
No campo humano, há
aridez dos sentimentos quando desprezam anjos solitários em tenra idade, a
vagar pelas ruas, vendendo limões, balas de açúcar, limpando pára-brisas de
outras caravanas, nos sinais de trânsito, ou ingressando, por vítimas do erro
adulto, no mundo do crime.
Segundo informação
divulgada numa entrevista levada ao ar, em 14 de setembro de 2002, pela Rádio
Catedral FM, são mortos, anualmente, 3.000 menores no tráfico de drogas na
cidade do Rio de Janeiro.
Não obstante as
vicissitudes da vida, o olhar da criança é sempre doce, sem medo das
circunstâncias. A feiúra vem da comparação tendenciosa do adulto que a aprecia
do seu ponto-de-vista.
Além das aparências,
as necessidades existenciais ressurgem com força dominadora. O destino das
flores tem percursos imprevistos pelo homem. Ele se livra delas, pensando em
seu trajeto pessoal, sem saber das consequências.
O homem,
desconhecendo a realidade imortal que o envolve, ainda se debate nos grilhões
da morte, onde coloca tristeza e desolação.
Mas é preciso que ele
se inspire em Francisco de Assis (1182/1226), o mais santo dos italianos e o
mais italiano dos santos, que poeticamente nos falou do irmão-sol, da irmã-lua
e da proteção dos animais, sem perder a referência principal do homem no
contexto do universo.
Ao ensejo da abertura
do 5° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social, proferimos discurso em
homenagem a Caio de Mello Franco, na presença do escritor Afonso Arinos de
Mello Franco Filho, citando a poesia:
“És o
gênio do Amor, na natureza!
Teu irmão Sol te aquece e te ilumina ...
Se é
noite, Soror Lua, cristalina,
Desfaz-se em ouro,
toda em ouro acesa ...” (12)
(12) CAIO DE MELLO
FRANCO (in Vida que passa... (poemas) - p. 197 - Typographia do Annuário do
Brasil - Rio de Janeiro – 1924.
Nós sabemos que as
necessidades das criaturas são imensas. Há andorinhas piedosas em louvor do
Criador nos claustros dos conventos, pardais solitários que buscam galhos secos
para construir novos ninhos, abelhas se ligando ao trabalho de classe, borboletas
voejam em saltos que sobressaem a cor, o brilho, a destreza dos movimentos.
Se a fauna é rica em
suas espécies, a flora tem flores e arbustos em tapetes mágicos que encantam
todos os olhares.
Se uma flor cai, sozinha, mostrando o tecido de veludo que
a compõe, não podemos ver a beleza morrendo. A beleza é eterna, tem uma
transparência que fica registrada no campo astral, assim como o exemplo
daqueles que vieram ao mundo para servir.
A tristeza do homem
em ver as flores perdendo o viço e a graça é em decorrência de sua visão
voltada ao curto espaço-limite onde está circunscrito.
Quando ele não
destruir a fauna e a flora e ver nos anjos solitários das ruas de cidades
companheiros em difícil teste, compreenderá que a vida está em tudo.
Testes difíceis todos
passam, até mesmo aqueles que contribuíram na evolução planetária sentiram a
aridez do deserto - Spinoza, indigente, Galileu, escarnecido, Beethoven, surdo,
Braille, tuberculoso, Pavlov, cego, Gabriela Mistral, cancerosa, e os mártires
que marcaram a História.
A revelação dos profetas e
poetas que viam a vida resplandecer, em estados mais sutis, é decantada em
linguagem comovente por aqueles que saíram vitoriosos de suas provas de
libertação íntima.
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domingo, 26 de agosto de 2012
SOMBRAS NUMERADAS
Facebook - Mural de Otávio Amaral de Carvalho, gerente do Banco do Brasil,
na cidade de Campos dos Goyacazes - RJ: “Brasil tem 4ª maior população
carcerária”.
Em recintos fechados,
circulam sombras numeradas. O destino que seguem não foi o mesmo planejado em
suas nascentes.
Envolvidas por substâncias sem nome que muitos
classificam como inconformação, medo, desamor e paixão, deixaram-se ser levadas
a lugares que as comprometiam.
O estímulo a viver
suas próprias vidas foi apagado temporariamente por essas ondas nebulosas que
passam assustando a tudo que lhes tem algo em comum. Isto é apenas o domínio
das aparências que agem tentando apagar o brilho de um olhar.
Aqueles que desejam
caminhar por lugares amenos encontrarão perfume de flores e cantar dos
pássaros. Mas, se preferirem lama e escuridão, a caminhada será mais difícil.
Não há tempo para lamentar os lugares onde o sol não apareceu. O ciclo das
manhãs surge a cada dia. A esperança é importante.
Durante o passar dos
dias, isolados da agitação do mundo que cresce a duras penas, os passageiros do
tempo marcado, que o cinema imortalizou em O Expresso da Meia-Noite, esperam
que um dia seja diferente de outro.
Há um clima de
incerteza do futuro, porque não aceitam a realidade que lhes classificou como
sombras numeradas. Esta confrontação vem lhes trazer um benefício muito grande:
o encontro consigo mesmo.
Se observarmos a
paisagem num nível mais elevado, veremos que, nessas mesmas circunstâncias,
monges e sacerdotes de cultos diversos estabeleceram uma conduta semelhante.
Em termos transcendentais, há um maior privilégio da
criatura humana em ter a oportunidade de conhecer a si própria, na aparente
solidão?
A sociedade, que
busca se harmonizar no equilíbrio emocional, não permite que excessos de
conduta lhe comprometam o andar. É uma ideia isolada, mas amparada por sagrados
regimentos.
Somente na
compreensão da realidade única que nos envolve, a assistência que espalha o
amor pode criar um clima de perfeita liberdade, embora esteja presa por laços
de pura respeitabilidade.
A separação não se
restringe a grades. Há muitas outras formas de isolamento mais drásticas,
conhecidas como preconceitos de classes, educação, religião e outros que levam
o homem a se afastar de tudo que está à sua volta.
Sabemos que o
caminhar é o objetivo de todos nós. Mas, quando os pés estão cerceados, devemos
dar asas ao pensamentos e buscar as fontes que inspiram o amor e a harmonia,
onde as carências sentimentais desaparecem.
Muitos ainda
acreditam que a felicidade é dissipar os talentos, de que dispõem, em excessos
que danificam o corpo e estimulam os sentidos a terem uma função distorcida.
Nesse clima denso, em que a sociedade humana está
envolvida, as pessoas influenciáveis não resistem ao convite destruidor e
aceitam o engano que lhes muda o destino.
Uma atitude piedosa,
em respeito a todas as dificuldades, serve para compreendermos porque estamos
habitando a mesma casa planetária, embora haja recintos diferentes.
O Expresso da
Meia-Noite - Cenas do filme – Jovem
americano, em busca de emoções em desalinho, não percebe o erro, é preso. Tráfico
de drogas na Turquia.
Pena de 2 anos e
meio. A esperança de sair logo. Depois, a revisão do processo. O aumento da
pena para 30 anos. Bode expiatório da rixa dos governos de Washington e Ancara.
A tentativa da fuga - O Expresso da Meia Noite - foi frustrada
ao amanhecer. Na repressão, o companheiro de cela.
Um momento de
ternura, a visita da noiva do jovem americano. No desespero da dor, a súplica
para ela desabotoar a blusa. Atrás da divisória de vidro, mamilos róseos nos
seios de pera e o olhar de quem gostaria de se doar, aliviam a tensão emocional
do jovem.
Depois desta cena de
amor à distância, aumentou nele a vontade de fugir. Vence a briga com o guarda,
veste a roupa militar e escapa. Em suas mãos, as chaves do presídio. Na rua,
cruza com um carro da polícia, passa adiante, com o disfarce. Ultrapassa a
fronteira. Da Grécia volta à sua terra natal. Entre abraços e beijos, a
presença dos amores. Reencontro feliz.
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sábado, 25 de agosto de 2012
VOO DOS PELICANOS
Nos bandos dos pelicanos há um instinto forte em alimentar seus filhotes
com a comida que trazem no peito, guardada da pesca dos peixinhos do mar.
Há um ritual que
converge todos ao mesmo lugar. Na orla marítima, pescam com as asas levantadas,
depois vão tirar o sal em recantos de água doce. E, então, partem em seus voos
de regresso aos ninhos.
A imagem dessa
família de aves pernaltas nos dá a alegria em ver como a doação está presente
em toda a natureza, além de vermos o Sol e a Lua se doando em luz para iluminar
a Terra.
As sociedades humanas igualmente se agrupam nos
trabalhos que proporcionam o bem-estar, doando-se umas as outras.
Em todas os campos das atividades
humanas, há uma convergência de valores que se mobilizam em benefício de todos
seus integrantes. No campo, as lavouras dão boas safras; nas cidades,
indústrias abastecem mercados numa comunhão de mãos dadas, quando as condições
ajudam os trabalhadores.
A seara é sempre imensa e
fecunda. As sementes, o tempo e as condições de semear estão à disposição de
todos. Cada um se doa na medida de suas forças. O futuro se encarrega de reunir
os produtos da colheita.
No campo individual, a observação
do trabalho em benefício da coletividade traz-nos um contentamento muito grande
porque somos estimulados a fazer aquilo que nossas carências exigem para serem
completadas.
Assim como as espécies do reino
animal se doam, buscando o sentido da cooperação mútua, embora reconheçamos que
há entre elas umas destruindo outras para sobreviver, no reino humano este
exemplo é seguido com as marcas do atavismo que vem dos animais selvagens.
O voo dos pelicanos, levando aos
filhotes o alimento no peito, traz-nos a mensagem de doação que devemos ter
para com aqueles que precisam dos recursos que detemos provisoriamente em
nossas mãos.
Todos carregam preciosidades em
suas bagagens. Quem não recebeu o dom de servir? Em que campo de atividade, a
vida nos situou a fim de sermos úteis?
Os talentos são distribuídos, no
critério justo, de acordo com as possibilidades de serem manifestados. Toda
fonte escorre beneficiando os lugares por onde passa.
O cenário do Cosmos, entre
agruras e entraves, está se completando em todos os aspectos, a fim de que nada
fique incompleto.
Assim como o vento reúne as
nuvens negras que se derramam em chuvas, a energia dos talentos postos em ação
preenche todas as lacunas humanas.
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sexta-feira, 24 de agosto de 2012
DIREITO DE NASCER
Em 12 de abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal aprovou a legalização
de aborto de anencéfalo.
A propósito, Maria
Angélica de Oliveira Farias, representante da Sociedade de Divulgação Espírita
Auta de Souza, presente no plenário declarou: "Para mim não se justifica o
direito brasileiro depois do que vi hoje" (Jus Brasil - 2012).
É oportuno salientar
que os artigos 124 a 127 do Código Penal consideram o aborto um crime contra a
vida. No entanto, há duas exceções: gravidez decorrente do estupro ou risco de
vida para a mãe. Acrescentamos que estão parados há vários anos, no Congresso
Nacional, dois projetos sobre a revisão da Lei do Aborto.
Já vai bem longe o tempo em que a mulher buscava o
simples direito de andar de seios soltos debaixo da roupa. Hoje, com a
permissividade nos costumes de uma sociedade que luta para se recompor, ela vai
às ruas em favor da lei do aborto, adotada em muitas localidades do planeta.
Aplausos para as
mulheres que se libertaram da condição de propriedade de marido imposta por uma
sociedade opressora e medrosa que vem desde os tempos do Brasil-colônia. Não é
apenas o nosso País, mas o planeta inteiro está dominado pelo mito de Prometeu.
O medo faz parte
desta consciência dissociada que apregoa a dualidade e que está indo embora com
os sinais do advento da nova Era, agora na consciência unificada, como existe
em Vênus, Vega de Lira, Arcturius e outros mundos felizes.
As ligações físicas
são revestidas de ligações mentais em que se vê compromissos assumidos. Não
podemos desmanchar laços que estabelecem uma união.
O que seria da
planta, se fossem arrancadas suas folhas? Onde nasceriam as flores e os frutos?
Em qualquer contenda, devem ser ouvidas as partes interessadas, como deu
mostras de sabedoria o rei Salomão.
O que se vê na
sociedade que permite o aborto é apenas a satisfação dos desejos de uma parte
em detrimento de outra que não foi ouvida.
Em circunstâncias
adversas, quem defende o direito de nascer? Quem tem a disposição de plantar no
deserto para que haja diminuição na aridez da paisagem?
É por isso que nossa
voz se levanta diante dos movimentos que propõem uma revisão da legislação
sobre o aborto, e o nosso silêncio diante da aprovação pelo Supremo Tribunal
Federal que teve por objetivo eliminar a vida de fetos sem chances de
sobreviver.
Por mais estranho que
pareça aos que veem a questão em apenas de um lado, o encontro das pessoas está
subordinado à lei de atração que une todos os seres vivos ao núcleo em que está
vinculado, desde os átomos, as famílias das espécies dos reinos da natureza até
os sistemas planetários dentro de suas respectivas galáxias.
Se na teoria da
origem das espécies, Darwin estabeleceu que o Universo foi criado de matéria
inorgânica é porque sabia que há uma ligação entre as espécies perpetuando a
vida. Entre os homens, ela prossegue em seu ritmo colossal unindo os seus
pares, numa determinação precisa, independente da incompreensão de uma gravidez
censurada.
Se fôssemos observar
a questão no ponto em que a transcendência surge, veríamos a razão justa de
todos os nascimentos. Assim, a gravidez deve ser aceita, tratada com carinho e
amada em respeito à vida que ganha formas humanas.
Deixemos de lado o
ímpeto que forçou a vontade de quem inconscientemente, nos planos mais sutis,
buscou ser engravidada. E nos casos em que a lei do aborto evoca os riscos de
vida da gestante (legalizados) ou a interrupção da gravidez nos casos de fetos
sem chances de sobrevivência (legalizada pelo STF), nos indagamos não seria
este mais um pretexto para se tornar legalizado um ato contra a natureza?
A morte provocada
pelo homem não encontra apoio nas leis que sustentam o equilíbrio do Universo.
Amemos as situações que surgiram com a nossa vontade, sem reclamar dos lampejos
que se iluminaram em nosso caminho, revelando as responsabilidades que
assumimos, consciente ou inconscientemente, perante a vida.
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quinta-feira, 23 de agosto de 2012
FOLHAS SOLTAS
A música Folhas Soltas, de José Siqueira, compositor e regente
(1907/1985), é uma suave melodia. A letra é de autoria da poetisa Lúcia Aizim
que estende uma atmosfera de sonhos mais ligada a esferas onde a luz
resplandece intensamente do que nossos desejos pessoais que buscam se alinhar
com esses sonhos.
“Leves auroras se
instalam nas moradas sem porta”, inspiram-nos a ideia de luz surgindo no
caminho de quem não colocou obstáculos à frente. É a entrega, o doar-se à luz
que se interioriza em seu ser mais profundo. O símbolo da aurora é o símbolo da
iluminação interior, roteiro indispensável a todos que estão conhecendo um
mundo de paz profunda.
“Os caminhos se
tornam prodigiosos, próximos”, revela uma situação confortadora para nós que
estamos na lida na realização dos ideais sublimes. Não é apenas um mundo melhor
que aspiramos, mas uma participação ativa e atuante que este mesmo mundo pode
oferecer-nos e a todos aqueles que convivemos, de maneira mais próxima ou
afastada fisicamente.
Os prodígios surgem à
medida que tomamos conhecimento dessa realidade que vem de fontes límpidas,
onde colocamos o nosso pensamento, a nossa alma, a nossa vida. A atração é
irresistível e a ligação se faz presente através do mecanismo causa-efeito, ou
mais precisamente, ação e ressonância para cobrir de nova roupagem esse antigo
mecanismo.
Pensamos em beleza e
a beleza surge. É um privilégio destinado a todos que se ligam à própria beleza
que está em todas as partes da natureza, principalmente a do reino espiritual.
Quantos recursos imateriais surgem diante da alegria, da satisfação de viver um
sonho que é realidade! Pessoas que pensam e vibram neste mesmo diapasão vêm-nos
ao encontro para somarmos valores imarcescíveis.
Todo esse enlevo
espiritual se reflete na parte material que torna acessíveis os sonhos de
consumo pessoal e coletivo. O dinheiro, fonte de riqueza, surge, ampliando cada
vez mais as nossas possibilidades de realização de nossos ideais. A ideia da
beleza material ou transcendente, por nós escrita ou falada, é passada através
de comunicação que se interliga a inúmeras pessoas, crescendo o nosso círculo
de amizades.
“Nada se curvou aos
nossos desejos, mas é preciso inaugurar estrelas” são palavras que denotam a
dualidade das pessoas: humana e divina. Na parte humana, nada se curvou aos
desejos pessoais, porque a vida é fluxo de energias que corre em direção de
seus objetivos e nada impede esse fluxo. É a voz do destino que fala mais alto.
No segmento divino há
uma agenda superior a todos os compromissos humanos, acima mesmo das mais
elevadas autoridades nacionais e internacionais: inaugurar estrelas. Esse
estágio evolutivo é mais pertinente aos seres iluminados, anjos, seres humanos
que evoluíram dentro das escalas ascensionais da criação divina. Um dia, no
decorrer dos milênios, este privilégio será estendido a todos que estão, a
duras provas, seguindo o caminho da luz.
Já existem mesmo aqui
no planeta multidões de pessoas que já fazem viagens astrais a planetas onde um
dia, em corpos sutis, irão desempenhar missões que contribuirão para a evolução
nesses mundos de beleza imperecível.
Diante da
instabilidade que passa a vida planetária, tudo muda, num processo que evolui,
é natural sentir-se frágil, mas a fragilidade desaparece quando há a ligação
com os planos superiores de consciência, onde a luz é perene.
Nessa firmeza, a
música finaliza: “colho canções onde não há”. As canções colhidas é o fruto de
tudo quanto semeamos no coração de todos aqueles que o destino colocou em nosso
caminho e que voltam cantando canções que são mais delas do que nossas.
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Fernando Pinheiro, escritor
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
A ESTRADA DO SERTÃO
Em andamento dolente no compasso 2/4, nas claves de sol e de fá, a música
A Estrada do Sertão, é de autoria de João Pernambuco (João Teixeira Guimarães –
1883/1947), o célebre autor do Luar do sertão, com letra do poeta Catulo da
Paixão Cearense, gravado pelo cantor Vicente Celestino.
A Estrada do Sertão
foi escrita, nos idos de 1946, na poesia de Wilson W. Rodrigues. Ao ensejo da
solenidade presidida pelo escritor Fernando Pinheiro, em homenagem ao letrista,
realizada, em 24/09/1997, na Casa França-Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, o
poeta catarinense Solange Rech fez citações de autores consagrados. Vale
assinalar:
“E, finalmente, consignamos as referências elogiosas
de Guilherme de Almeida, o príncipe dos poetas brasileiros: “tudo está tão vivo
nos versos sentidos do livrinho, e tão musical que a gente, quando lê aquelas
linhas dançantes, tem a impressão de que aquilo é letra para música.”
O estribilho da canção repete os
versos do poeta baiano: “há sempre alguém esperando nas estradas do sertão...
Quanta alegria nos que vêm e saudades dos que vão...”
Fora da partitura, os versos do
poeta compara a estrada à saudade e recrudesce a intensidade do amor no
reencontro dos amores, quando mais distante, fica muito mais amante. Na saudade
não há tristeza por causa da certeza da volta, numa noite de luar, de quem
caminha pela estrada conduzindo tropa e boiada [RODRIGUES, 1946].
A música ressalta os sentimentos
dos amores que ficam aguardando a chegada dos entes amados e, ao mesmo tempo,
revela a saudade daqueles que estão viajando.
A saudade é manifestação de amor.
A certeza do regresso da pessoa amada elimina a tristeza. Aliás, num nível de
consciência superior, onde a nossa mente se expande, não existe a separação. O
amor tem esse dom: eliminar a distância. O pensamento é tudo, a revelação de
nossa alma.
Quando a Terra ascender a um grau
de evolução superior ao estágio atual em que se encontra não haverá mais
confinamento, pois a inspiração daqueles que vieram ao mundo, somente para
servir, fará a conexão com a espiritualidade superior espalhada nos mundos
felizes.
A inspiração, quando está na
consciência unificada, é muito diferente da consciência dissociada que trata de
assuntos, embora respeitáveis, referentes ao bem/mal, certo/errado,
saúde/doença e outras dualidades que caracterizam esta densa consciência
planetária que está indo embora.
Vamos ingressar na nova
consciência planetária, a quinta dimensão unificada, onde não existem mais os
desencantos que confinam a humanidade sofredora a sombras, e nada mais, cerca
de 5 bilhões de pessoas, sendo que os 2 bilhões restantes já estão vivendo a
transição planeta.
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Fernando Pinheiro, escritor
terça-feira, 21 de agosto de 2012
TROVAS – 1, 2 e 3
No dia 8 de abril de 1957, na
cidade do Recife, o Pe. Jaime Cavalcanti Diniz (1924/1989), compositor,
regente, musicólogo, escreveu a música Trovas n° 1, 2 e 3, inspirado nas trovas
de Adelmar Tavares. O compositor foi fundador e regente do Coro Guararapes e
membro efetivo da Academia Brasileira de Música.
Sem a repetição do primeiro verso constante em cada trova, iremos tentar
interpretar o pensamento do poeta pernambucano, Adelmar Tavares, o jurista que
advogou para o Banco do Brasil e, posteriormente, presidiu o Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro e a Academia Brasileira de Letras, passando
por três instituições que engrandecem, ao longo do tempo, a sociedade
brasileira.
Assim como o rio corre em direção do mar, a mesma substância de que é
feito, o nosso destino segue em direção da mesma matéria de que somos feitos, a
essência divina que está em tudo e em todos e se espalha pelo
infinito.
No nosso caminhar,
ainda não sabemos onde vai parar o nosso destino porque as possibilidades de
realizações são imensas e ainda não dispomos de todas as informações que formam
a vida, imensamente rica de recursos colocados à nossa disposição para que algo
grandioso resplandeça, num processo crescendo e transformação constante,
alquimia que desafia os próprios alquimistas. Converter desencantos em encantos
é o ponto central desse segredo.
Na segunda trova há
um recado e uma resposta: “dizer adeus nada custa, alguém mandou me dizer, mas
quem diz que nada custa, queira bem e vai dizer.”
É muito comum as
pessoas, menos conscientes da realidade da vida, opinar sobre problemas
pessoais de terceiros como se fosse fácil dar uma solução. Dizer a alguém dar
adeus a quem alguém conhece, e quem diz não conhece, é entrar no escuro e
indicar caminho. É uma ingenuidade que pode cair em leviandade.
O conselho só seria
válido, após ouvir as razões de quem está passando o problema. Nesse caso, toda
sugestão que torna mais claro a realidade é válida e digna de apreciação,
deixando o caminho livre a quem compete dizer adeus ou permanecer na situação
que pode trazer mensagem de vida.
A terceira estrofe
finaliza: “a morte não é tristeza, é fim, é destinação. Tristeza, tristeza é
ficar vivendo depois que os sonhos se vão."
Blog
Fernando Pinheiro, escritor
domingo, 19 de agosto de 2012
O BRILHO DO ORVALHO
Entre o desejo e a satisfação existe um
caminho onde verificamos os acidentes que nos fazem pensar naquilo que
desejamos.
Quando o desejo não é satisfeito, sentimos frustração como se fôssemos uma criança que chora por um brinquedo que gostaria de ganhar.
Nas brumas do alvorecer, no horizonte que vem surgindo claro, ainda não prestamos a atenção no brilho do orvalho. Na noite que passou, lembranças de fantasias ronda-nos a mente como se a vida fosse um tapete onde estendêssemos tudo que pensamos realizar.
Ainda sem a visão da luz que descortina os horizontes, pensamos que só existe um lugar no mundo onde cultuamos o nosso ego. O meu espaço, o meu bem-querer, o meu filho, o meu carro, a minha roupa, onde tudo parece se resumir apenas nisso.
Onde está a ideia do desprendimento, o amor à causa coletiva, a renúncia de prazeres que desperdiçam nossas melhores energias?
As situações da vida estabelecem, com precisão, tudo aquilo que serve ao nosso aprendizado como seres em evolução. E por desconhecermos o que nos convém, temos necessidade de nos decepcionar com as pessoas e coisas que nos fazem sentir as horas de monotonia.
Se tivéssemos tudo que desejamos, a nossa vida seria um inferno porque ainda não sabemos escolher aquilo que nos convém, naquele sentido que nos dá a plenitude, a realização dos sonhos nascidos das fontes límpidas.
É por isso que a vida nos dá o melhor momento, o atual, de fazermos fluir nossos pensamentos e ações numa corrente que busca imitar o canto das fontes anunciando a água que alimenta as searas.
Na precisão do tempo e do espaço, temos exatamente o que devemos ter. A natureza, que faz fluir o equilíbrio dos seus reinos, não iria nos envolver num clima de desconforto.
E como ainda não somos senhores do destino, aceitemos a vida como aceitamos a chuva, o sol, o frio, o calor, sabendo que o nosso caminho pode ser alterado naquilo que podemos fazer, sem nenhum instante quebrar o curso normal de outras vidas que seguem paralelas ou na mesma linha.
O orvalho refresca o reino vegetal num momento em que a noite desdobra os véus da escuridão para encobrir os segredos que só o vigor das plantas pode revelar.
E nos primeiros raios do alvorecer, o orvalho volta ao reino da atmosfera, numa despedida silenciosa, deixando um clima de fertilidade.
A evolução humana, como a dos demais reinos em que a natureza se manifesta, tem ligações comuns entre tudo que existe, numa escalada que vai descortinando os estágios que evidenciam a posição exata de cada um.
Quando o homem estiver consciente de que tudo está no processo de evolução, não sentirá desejos por aquilo que desconhece. Se houver sabedoria, o desejo e a satisfação ocorrerão num mesmo instante.
Enquanto isto, os desencantos serão atraídos pela sua necessidade de se afirmar na vida que possui um direcionamento mais justo do que se pode imaginar.
A sabedoria e o brilho do orvalho
só acontecem quando a luz, nesta ou em outra dimensão, os conduz a reinos que
sustentam a vida planetária.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
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