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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

MÃOS VAZIAS

O samba Mãos Vazias, de Paulo César Pinheiro, revelando a alma ou o perfume brasileiro no passo ondulante e febril, no sucesso do prestigiado autor de Portela na Avenida, Canto das Três Raças, gravadas por Clara Nunes, a esposa dele desaparecida deste mundo pelas mãos do destino, o caprichoso condutor de almas.
Nas mãos do sonhador nasce o grão das ilusões quando surge a oportunidade aproveitada no primeiro sopro. Não temos tempo de avaliar os prós e contras da situação, o importante é o enlevo que nos envolve. A paixão vira magia e envolve o dia na escuridão, frisa o trecho musical.
A ideia ideoplástica que surge no canto traz a lenha escassa fazendo fumaça, assim como a paixão que é algo que tem fogo e fumaça, mas não sabemos a intensidade em que é aceso. Isto pode ser um amor projetado ou um amor que veio nas camadas do tempo mostrando apenas os sinais.
A paixão desperta a identificação dos encontros de caminhos espirituais em outro tempo e em outra ocasião, onde sempre há algo a se recompor. O sábio reconhece os caminhos percorridos, nessa ótica os encontros são missões que devem ser compartilhadas por companheiros de jornada evolutiva. O apaixonado apenas vive as emoções sem compreendê-las os sentidos. Aliás, nem é bom compreender, principalmente se houver marcas de desencantos no ar. [PAIXÃO – 27 de junho de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Mãos Vazias, que a música revela, foram enchidas com o tempo para resolver uma situação inacabada desde que, ao nosso ver, haja o colapso da função da onda, mas como não devemos criar expectativas quando irá chegar a solução, esse tempo pode ser visto no decorrer dos evos, entrando nas camadas que carrega.
Mãos vazias é o símbolo do desprendimento neste mundo de posses de todos os níveis em que estão envolvidas pessoas, situações de trabalho, relacionamento amoroso ou afetivo que não podem permanecer no mesmo desfrutar egóico onde os benefícios não são repassados.
Essas amarras continuam em outro plano em que todos irão se defrontar, o tempo é um sopro e tudo passa quando as circunstâncias não mais favorecem o desfrutar desses momentos transitórios.
Vale mencionar um caso em que tivemos a oportunidade de assistir no plano mais sutil que o mundo físico vive. Eis textos do relato de A BARCA DE CARONTE – blog Fernando Pinheiro, escritor – 15/10/2015:
Em nossas andanças astrais, narradas na Série PÉGASO (I a XXXII) há relatos de comovente beleza como também outros em que vemos a beleza a caminho no decorrer de um tempo em que não podemos medir, mesmo estando estagnados pelos engramas do passado que esses passageiros criaram, embaraçando-lhes o caminhar, ou mesmo em total inação.
Considerando que tivemos oportunidade de escrever relatos históricos e a nossa ligação com entidades de classe trabalhista, vale transcrever textos que interessam a todos os trabalhadores que, de alguma forma, estão envolvidos no meio social, ficando aqui um alerta:
Ao sair dali, vi um amigo nosso que agora não pode mais fazer o colapso da função de onda, expressão reconhecida pela ciência ao fenômeno da morte. Estava ele revoltado contra a situação em que estava, pois fora deposto do cargo que tinha numa empresa estatal.
Quando ele se retirou, aproximamo-nos da pessoa que ouvira os queixumes e reclamações do antigo executivo da estatal e lhe dissemos que conhecíamos o homem que estava com ele e sentíamos admiração pela carreira que ele tivera. A pessoa nos disse que ele estava muito revoltado, em clima de briga.
Há milhares de empregados naquela situação na empresa em  que ele trabalhou e, se fôssemos reunir todas as empresas do mundo, teríamos milhões de pessoas na mesma situação de desconforto emocional. Todas elas precisam desviar a atenção para outro rumo, mudando de frequência de onda, a fim de que sejam cortados todos os liames que fazem prender a pessoas que lhe causaram dano.
Como não houve o entendimento com desfecho feliz naquela situação, ambos, o algoz e a vítima, permanecem interligados na mesma frequência de onda, um intercâmbio nefasto que permanece por um tempo que não acaba até que haja a reconciliação, isto num ambiente em que um deles não pode mais fazer o colapso da função de onda. O sofrimento irá minar suas forças, apresentando em aspectos horríveis.
O título da música sugere-nos que é tempo de pensar em mãos vazias de tudo que nos prende a amarras dilacerantes. Esquecer o que nos causou incômodo em momentos em que buscávamos melhor posição no meio social com nosso trabalho e estudos em andamento.
A carreira profissional é importante quando estamos na ativa, pensar nessa carreira, quando já aposentados, como algo que irá nos acrescentar, é perder tempo. No entanto, as lembranças amáveis são confortadoras.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

TERCEIRA MARGEM DO RIO

“…Que río es éste por el cual corre el Ganges? Que río es éste cuya fuente es inconcebible? Que río es éste que arrastra mitologías y espadas?” – “Heráclito”, Jorge Luis Borges  
‘A Terceira Margem do Rio’ veio-me, na rua, em inspiração pronta e brusca, tão ‘de fora’, que instintivamente levantei as mãos para ‘pegá-la’ como se fosse uma bola vindo ao gol e eu o goleiro” –  Guimarães Rosa
Ainda vemos a fome atingir 800 milhões de pessoas no planeta Terra e a situação grave de 3 bilhões do total de 7,3 bilhões da população mundial que compõem 60 países de renda baixa e média onde houve a diminuição de crianças subnutridas mas permanecendo estável a proporção de adultos em situação de desnutrição grave, além dos problemas de saúde com pessoas com sobrepeso e obesidade.
Segundo pesquisa de Fahad Razak, Universidade de Toronto e do Centro de Estudos de População e Desenvolvimento da Universidade de Harvad, “na maioria desses países a desnutrição severa não está melhorando, pois se trata de uma população que foi deixada para trás”. Essa população rejeitada, conforme menciona Razak, pertence a países em desenvolvimento onde “os dirigentes políticos e os governos devem priorizar também as necessidades desse grupo” [El Pais – Madri, Espanha – 25/11/2015].
Mais uma vez, além da competitividade, vemos aqui a separatividade como principal característica da densa consciência planetária que atinge a tudo e a todos: países pobres, países ricos e os que estão em desenvolvimento, como o Brasil.
No entanto, o planeta está em ascensão dimensional de consciência global, pois a consciência que está nos animais sociais, os homens, homo sapiens, individualmente ou em grupos se interligam projetando-se em raio de ação de consciência que galga sempre um patamar a mais no decorrer dos tempos.
Somos sementes das estrelas e o nosso objetivo e rumo é chegar até lá, revestidos na mesma luz, estamos a caminho, todos nós, sem exceção, não importam as dificuldades momentâneas, como estiveram os seres multidimensionais que passaram pela Terra e continuam a prestar assistência nesta fase de transição planetária.
Não criticamos nada, não criticamos ninguém e vemos em tudo há beleza, como os acontecimentos que levam ao extremismo divulgado pela mídia focando o Estado Islâmico, com sede em Raqqah, Síria, onde atualmente existe mais proteção entre os habitantes do que nos tempos em que a Síria estava mergulhada numa guerra civil sob o comando do presidente Bashar al-Assad.
A propósito, o presidente Putin da Rússia acusou a Turquia derrubar o avião russo apoiada pelo Estado Islâmico e disse que vai haver graves consequências. A Rússia apoia o regime do presidente sírio atacando os militantes do Estado Islâmico.
Embora não seja reconhecido por nenhum país, o Estado Islâmico preocupou o primeiro-ministro francês Manuel Valls ao rejeitar qualquer debate sobre os ataques jihadistas: “os ataques em Paris são um ataque de guerra de um Estado não para destruir o outro, mas para nos enfraquecer e dividir”. É tanto que a França tem 38 caças bombardeios para atacar posições do Estado Islâmico [El Pais – 25/11/2015].
Ao ler esta crônica a nossa amiga Irina Orlova, a mais assídua leitora, no Leste europeu, do blog Fernando Pinheiro escritor fez o comentário: “Curti a sua opinião sobre a situação de hoje. Mas a morte a terroristas, onde quer que eles estejam – eles não têm desculpa!”
Essa densa consciência planetária está indo embora da Terra, vendo-se em alguns lugares a derrocada ou enfraquecimento do Estado, no caso Brasil, reconhecido pelo ministro João Otávio de Noronha, acadêmico (eleito) da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil – Cadeira patronímica Mário Brant, ao ser homenageado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 01/10/2015: “o Brasil vive uma crise e  enfraquecimento do Estado, em contraposição à crescente tentativa de manipulação da democracia pelo jeitinho brasileiro” [O Estado de S.Paulo – 01 de outubro de 2015].
Vale destacar que o ministro Dias Toffoli, presidente do TSE, na ocasião, depois de enaltecer a capacidade e a dedicação do ministro João Otávio de Noronha, ressaltou: “Vossa Excelência tem sempre iluminado o caminho de todos por onde passa. Para mim é uma tristeza ter que anunciar a sua despedida das funções de TSE” [Site do Tribunal Superior Eleitoral].
Ainda com referência ao discurso de despedida o então corregedor-geral da Justiça Eleitoral, João Otávio de Noronha disse ainda que o País passa por um conjunto de crises, entre elas o “sumiço da ética”. A propósito, vale salientar a textos de nossa crônica  A SAÍDA – 25/12/2013 que aborda o tema ética:
Ainda sobre “a potência do agir” do filósofo Spinoza tem respaldo no pensamento de Aristóteles quando diz que “Ética é o pleno desabrochar das próprias potências”, é uma proposta aos moldes da filosofia grega.
Não somos gurus nem orientadores de ninguém, pois cada um tem o seu caminhar que lhe é próprio escolher a direção.
A fé é fundamental, não é a fé em nenhuma ideologia, partido político ou sistema de governo, sempre oscilante no dualismo humano, mas a fé em seu ser profundo que se liga com a fonte.
Se essa fé não existir, então, podemos ouvir notícias de amores mendigando um sorriso e a tristeza de quem está procurando o que não sabe.
A proposta do filósofo Aristóteles abrangia uma ética num pacote inteiro e se estendia até a morte, não havia visão do término, muito diferente da ética atual em que se desdobra uma visão conduzida, no plano do transitório, em condutas isoladas. Esta é a consciência planetária dissociada que está indo embora da Terra com a transição planetária simbolizada na separação do joio e do trigo.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

A OUTRA MARGEM

A narrativa de hoje nos leva ao Paquistão, onde as autoridades locais de Peshawar estavam detendo centenas de pais que se recusaram a entregar seus filhos nos postos de saúde onde estavam havendo a vacinação contra a poliomielite. Em outra localidade daquele país, na província de Punjab, o cerco estava em volta dos pais que permitem o casamento de suas filhas menores de idade.
Um caminhão superlotado de homens amontoados na carroceria surgiu à beira da estrada, onde eu estava caminhando. Dois homens subiram no caminhão, auxiliados por seus companheiros, em seguida, me agarrei na parte externa da carroceria, carregando uma bagagem pesada, e não consegui subir para dentro do veículo, ninguém me deu as mãos.
O veículo prosseguiu viagem, passou por um lugar a esmo, não me interessei em descer, depois foi até a orla marítima, onde saltei, então disse a eles: sou Botafogo. Esta identificação lhes trouxe um respeito muito grande por mim por ser um time brasileiro. A bandeira do Paquistão e a do Botafogo de Futebol, ambas têm uma estrela. (...)
Visitar países diferentes de nossa cultura nos leva a reflexão a respeito de nossa vida em comum: somos seres humanos iguais, em essência, não importando as latitudes e condições climáticas. As experiências são válidas em qualquer tempo e em qualquer lugar. A Terra tem apenas uma humanidade e isto nos une sempre. [PÉGASO XVIII – 11/03/2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Não comentamos guerra, mas damos atenção ao que é noticiado a respeito de milhares de pessoas que vivem no meio de zonas de conflito armado. Os nossos pensamentos devem ser em nome da paz a todos os povos que passam tribulações.  
O Estado Islâmico, não reconhecido por nenhum país, tem a sede na Síria, através de medidas áusteras faz o confinamento de quase meio milhão de pessoas que não pode deixar o país, assustada pelos bombadeiros de aviões russos, americanos e franceses, ao tempo em que chega milhares de combatentes estrangeiros em nome da guerra santa. A venda de bebida alcoólica e de cigarros foi proibida. A reza é obrigatória à população. Os homossexuais e adúlteras recebem chibatadas, pedradas e decapitações [El Pais – 24/11/2015].
A situação de milhares de pessoas naquele país teve ainda a nossa abordagem na crônica de CENÁRIO DE TRANSMUTAÇÃO – 22/12/2013, conforme textos transcritos, a seguir:
A crise não é apenas na Síria, todo o planeta sofre da instabilidade de suas instituições que não conseguem eliminar a estrutura separativista que engloba nações e povos.
Até mesmo o sistema financeiro internacional está em crise, pois não conseguiu solucionar o problema de nações onde está implantado. A riqueza nas mãos de poucos e a pobreza, a penúria esfacelando multidões de vidas humanas, elevando as estatísticas de morte.
Não há ameaças de guerra mundial, apenas a atuação de alguns governantes alinhados com as perspectivas do ponto de vista daqueles que os aplaudiram com olhar voltado para o retorno de cunho político. Os interesses dos aliados sempre aparecerão. Mãos lavando mãos.
Não devemos comentar notícias que trazem desencantos e aflições a populações, apenas frisamos que estamos seguros porque o nosso mundo íntimo não tem ligação com o mundo que está do outro lado da matrix e que começa aqui. Esses mundo se encontrarão, como estão se encontrando depois dos conflitos que geram sangue.
Silenciemos ou até mesmo apaguemos a televisão para não vermos cenas de desencantos que esse clima de tensão provoca. Se não gostamos de guerra para que vermos cenas que despertam a guerra?
Um clima de confiança que nasce em nosso ser profundo é uma luz dentro do cenário de transmutação.
Silenciemos e sigamos com leveza.

domingo, 22 de novembro de 2015

À BUSCA DO PASSADO

Viagem aos seios de Duília, filme luso-brasileiro (1964), tem por base um conto de Aníbal Machado, com roteiro de Orígenes Lessa, sob a direção de Carlos Hugo Christensen, retrata a busca do passado que José Maria empreendeu da cidade do Rio de Janeiro ao lugarejo Pouso Triste, interior de Minas Gerais. No elenco, os atores Rodolfo Mayer (José Maria), Nathália Timberg (Adélia), Lícia Magna (Duília), nos principais papéis.
Antes, ele se lembrava do tempo em que era funcionário público que pegava, nos dias úteis, o bondinho das 10:15h que descia do Silvestre, e largava do trabalho às 19:00h, ao longo de 36 anos. Agora, aposentado da Repartição, acha a vida triste. 
De tanto pensar no passado, numa noite ao dormir, teve um sonho e viu uma cidade erguida numa montanha onde Duília lhe repetiu aquele gesto de outrora quando era namorada dele, aos quinze anos, ao caminhar numa procissão, mostrando-lhe os lindos seios num gesto ingênuo.
Solteiro durante toda a vida, José Maria não pensou em se casar, pensando que um dia voltaria a se encontrar com Duília. Mas tudo muda com o tempo, citando Aníbal Machado: “em verdade o tempo não descansa nunca, nem mesmo nas pirâmides, nem nos horizontes onde parece pernoitar.” 
De certa forma, a vida de José Maria se assemelhava ao castigo de Sísifo (mitologia grega) que empurrava uma pedra que nunca alcançara ao cume da montanha, refazendo a mesma rotina: pegar o bondinho de Santa Teresa, tomar café na Avenida, a mesma sala de trabalho na Repartição, onde era chefe. Tudo isto impossibilitando-o a desfrutar a vida em viagens e passeios. Ele era sócio de um clube na Lagoa mas nunca esteve por lá. Em resumo, mesmo lendo os jornais e ouvindo rádio, não percebia o que estava acontecendo ao seu redor.
Na viagem de retorno a Minas Gerais, defronta-se com a ilusão que nutria em seus sonhos: encontra-se com a viúva Dudu, de cabelos brancos e cariados, lecionando numa escola rural. No encontro, ele falou: “lembra-se de um rapazinho, há muitos anos, que a viu numa procissão. Nós tínhamos parado debaixo de uma árvore... lembra-se?”
De cabeça para baixo, ela lhe disse: “que veio fazer neste fim de mundo, seu José Maria?”. Ele respondeu: “vim à procura do meu passado.” Atônito, ele pousou os olhos no colo murcho da mulher e percebeu que o melhor da Duília estava em sua imaginação e, na tarde que descia, descia também aquele encantamento que não teve mais sustentação.
Ao que tudo indica, podemos ver José Maria alimentando dentro de si o mito de Sísifo, a “máscara fria”, no dizer de Adélia, a secretária que sempre trajava um vestido comprido com largo decote, projetando ele esse mito no decorrer de toda a existência.   
Duília, antes tão longe, agora tão perto, parece não mais existir para ele, a “máscara fria” impossibilita-o a ter a visão que estava acalentando em seus sonhos de profissional competente quando estava na ativa.
Diferente dos sonhos de José Maria é a trajetória de Ovídio Xavier de Abreu, natural de Minas Gerais, o primeiro funcionário a ocupar o cargo de presidente do Banco do Brasil, em caráter efetivo, no período de 23 de julho de 1949 a 18 de dezembro de 1950. Novamente, o interior de Minas Gerais volta a nossa narrativa.
No tempo em que esteve servindo ao Banco do Brasil, o estado civil de Ovídio de Abreu era solteiro. A propósito, transcrevemos textos inseridos na História do Banco do Brasil, de Fernando Pinheiro, obra disponibilizada ao público pela internet no site www.fernandopinheirobb.com.br
Três meses após o banquete de gala em homenagem ao presidente do Banco do Brasil (outubro/1950), ocorrem as eleições e Getúlio Vargas conquista o cargo de presidente da República e, em Minas Gerais, Ovídio Xavier de Abreu é eleito deputado federal com a maior votação nas urnas mineiras (43.115 votos).
Em 18/12/1950, Ovídio de Abreu despediu-se, em eloquente discurso, da Presidência do Banco do Brasil para assumir, em fevereiro/1951, o mandato de deputado na Câmara dos Deputados, enaltecendo a personalidade do diretor Jorge de Toledo Dodsworth que assumia, interinamente, o cargo de presidente [Revista AABB – Rio – 1950]. (...)
No ano seguinte, dia 22 de março de 1952, sob intenso regozijo, a cidade de Araxá, interior de Minas, recebe a visita de ilustres convidados para assistir à solenidade do casamento do deputado federal Ovídio Xavier de Abreu com a jovem Júlia Santos de Abreu. Entre eles, destacamos os governadores Juscelino Kubitschek (Minas Gerais), Arnon Afonso de Farias Melo (Alagoas) e Sílvio Piza Pedrosa (Rio Grande do Norte) [Retrato p & b – 30 cm x 24 cm – Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil].
A cerimônia religiosa foi conduzida por um ilustre filho de Minas Gerais: Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, cardeal–arcebispo de São Paulo [Retratos p & b – 30 cm x 24 cm – Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil].
Vale ressaltar ainda a presença dos deputados federais Benedito Valadares, Ranieri Mazzili, Drault Ernani, Último de Carvalho e Bias Fortes; senador Assis Chateaubriand, além da 1ª dama estadual, Sara Kubitschek, Berent Friele, antigo presidente do American Brazilian Association, Inc., e o jovem bancário Amador Aguiar, superintendente da Casa Bancária Almeida & Cia. Mais tarde, Amador Aguiar iria fazer história no Bradesco.
Na união abençoada por Deus, o casal teve 4 filhos: Ovídio de Abreu Filho, Alexandre Santos de Abreu, Júlia de Abreu, Randolfo Santos de Abreu. Ovídio de Abreu, em mandatos sucessivos, é reeleito, em 1954, 1958, 1962 e 1966, deputado federal, na legenda PSD e, por último, ARENA. Em 1967 a 1970 exerce o cargo de secretário de Finanças de Minas Gerais no governo de Israel Pinheiro.
O advogado Ovídio de Lima Abreu, filho de Randolpho Xavier de Abreu com Dalila de Lima Abreu, trabalhou e aposentou–se pelo Banco do Brasil. Dentre os netos de Randolpho Xavier de Abreu destaca-se Cláudia Abreu, consagrada atriz de cinema, teatro e televisão (Rede Globo), filha de Regina Abreu e de Hélcio Varella.
Cláudia Abreu ingressou na vida artística nos idos de 1986 (episódio Teletema, levado ao ar pela TV Globo), graças ao aconselhamento do tio-avô Ovídio Xavier de Abreu (1898/1990) que, nos idos de 1958/1959, encenou peças no Teatro Tablado, no Rio de Janeiro, em caráter amador, daí a razão de apontarmos o antigo presidente do Banco do Brasil com a fisionomia hollywoodiana, à época em que Hollywood vivia a época de ouro do cinema.
Com mil possibilidades de realização que a vida nos dá, quando a aposentadoria surge, encontramo-nos livres de horário, sem destino e sem chapéu. No passado, era moda os homens usar chapéu quando saíam para trabalhar. Naquela época, o chapéu era um símbolo de responsabilidade. Hoje é diferente, tem até chapéu de aposentado. Chapéu panamá, no passado, restrito aos homens, hoje é usado também pelas mulheres.      
Possibilidades existem, sim, o importante é acionar o destino, esse caprichoso condutor de almas, transformando as  possibilidades em probabilidades. Os sonhos estão aí.
Retratamos duas trajetóras distintas em Minas Gerais ao focalizar situação de dois servidores que se aposentaram de repartição pública (nome que se dava a quem trabalhava em autarquias, ministérios, estatais) e relembramos agora, para finalizar, o comentário que fizemos da música En Aranjuez con tu amor, título de nossa crônica de 7/10/2014:
A letra é derramada em lirismo que nos remete a imagem ideoplástica em que há um rumor de fonte de cristal irradiando uma frequência de onda chegando junto a rosas do jardim. Há folhas secas no chão que também está envolvida no sussurrar da fonte, atingindo as lembranças de um romance que acabou e parece reviver nessa onda.
A letra da canção enfatiza: “talvez esse amor esteja escondido em um pôr do sol, na brisa ou em uma flor à espera de seu retorno.” Olha aí o colapso da função de onda de Schrödinger. Pensando nos Jardins de Aranjuez, Joaquin Rodrigo escreveu esse concerto nos idos de 1939, e 52 anos mais tarde, ei-lo Comendador recebendo o título de Marquês dos Jardins de Aranjuez, concedido pelo rei Juan Carlos I.
No campo dos sentimentos vemos o amor recrudescendo o passado que ficou guardado no coração. Encontros acontecem com os antigos amores que se separaram por circunstâncias diversas e são identificados entre si como naquele instante em que houve o primeiro olhar. Isto transcende à esfera física, pois em sonhos podemos nos encontrar com os amores de nossas vidas.
É necessário manter a frequência elevada de um amor frustrado ou acabado num adeus que se perdeu no tempo, perdido apenas nas aparências, pois o fenômeno de Schrödinger, que todos nós fazemos ao pensar, faz esse entrelaçamento que interliga com os amores escolhidos. Isto é física quântica, tão simples como o modo de pensar.
Em frequência de onda revestida de incerteza e de desencantos há uma predisposição orgânica para uma disfunção que atinge a célula, depois o órgão, instalando a doença. A saudade pode ser benéfica ou maléfica (dualismo humano) dependendo como a encaramos. No primeiro caso, há um doce enlevo encantando-nos a alma, o coração, o nosso ser profundo que emerge para resplandecer a luz. [EN ARANJUEZ CON TU AMOR – 7/10/2014 – blog Fernando Pinheiro, escritor].    

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

TERRA DAS SOMBRAS

Filme de gente que vive da palavra, Terra das Sombras (Shadowlands – ano de 1993), dirigido por Sir Richard Attenborough, narra o relacionamento do escritor C.S.Lewis (Anthony Hopkins) e a poetisa Joy Gresham (Debra Winger) que começou, nos idos de 1952, em Londres onde ele estava proferindo uma palestra e ela assistindo-o na plateia. Na saída, ele lhe dirige a palavra: “não sabia que você estava aqui, ela lhe respondeu: “eu estou aqui, Jack, presente e tensa”.
Lewis vive em saudável solteirice, uma vida tranquila lecionando literatura inglesa no Magdalen College. Americana divorciada, Joy está em Londres, acompanhada do filho Douglas (Joseph Mazzello). Entre o professor e a americana surge uma bela amizade. O carinho e o respeito estão presentes entre ambos.
Uma frase no filme, proferida pela poetisa ao namorado, o célebre autor de As Crônicas de Nárnia, quando estava se tratando de câncer ósseo, no leito do hospital, que nos chamou a atenção: “Por que amar, se a perda machuca tanto? A dor de agora é parte da felicidade futura”. O clima do romance estava em alto astral é tanto que houve o casamento naquele recinto, numa cerimônia religiosa conduzida pelo Rev. Harrigton (Michael Denison).
O que ela disse estava em sintonia com o que ele escreveu: “Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir.” [Os Quatro Amores – Clive Staples Lewis].
Mesmo depois de casados, ambos continuavam a viver separados, e se relacionavam como amigos e eventualmente ela o procurava na casa dele. Esse viver em casas diferentes teve maior repercussão com a iniciativa de Jean-Paul Sartre e Simone Beauvoir, casal que vivia da palavra, exemplo seguido por milhões de casais no mundo inteiro, isto violava o decoro da sociedade masculina britânica.  
Aqui no Brasil, esse pensamento encontrou guarida na música Oceano, de Djavan: “amar é um deserto e seus temores, vida que vai na sela dessas dores não sabe voltar, me dá teu calor.” Lá na frente da música, há algo positivo: “me esqueço que amar é quase uma dor.” De nossa parte, apresentamos um caso semelhante, vivenciando a atmosfera dos sonhos:
No dia 10 de maio de 2015, a sombra do sonho, em que ela via anoitecer, amanhece dentro da madrugada risonha e feliz. Já não há silêncio emudecido, há revelações dentro do silêncio, é que a minha presença junto a ela era a realidade que buscamos, eu ela, dentro de nosso coração.
A revelação dela em poesia quando diz que, ao pensar em mim, tudo fica inerente qualquer palavra que não seja amor, oferecendo-me o que não existe preço no horizonte que se avizinha coberto de campos floridos, imagens ideoplásticas que surgem dentro desse sonho, confirmando a poesia sonhada e revelada.
A súplica dela era a minha súplica, pois eu estava lá, bem perto dela, numa posição ajoelhada em que ficava em silêncio, tocando-lhe as mãos, no mesmo instante em que ela, sentada no sofá, debruçou-se e encostou o rosto em meu rosto, lado a lado e, quando nos viramos frente a frente, em que iriam os lábios dela se encontrar aos meus, passos de gente assomaram a sala.
A poesia que estava em sua alma revelava uma súplica, igual a minha. É que a nossa presença, no campo astral, revelava algo imaginário e mágico para o mundo das aparências, e tão nítido dentro de nós que não precisava de palavras para esclarecer.
Agora, estamos caminhando juntos com leveza, dentro do sonho que é passado para o mundo tangível das formas físicas, isto sem precisar nos conhecer pessoalmente mas que já trocamos idéias em amáveis correspondências. A possibilidade do impossível aconteceu, reafirmando as possibilidades quânticas comprovadas pela ciência.
Não há apoderamento nesta conquista mútua, os laços comuns que envolvem o relacionamento estabelecido em vínculos tantalizantes não nos dizem respeito, isto é pertinente aos casais que pensam que amar é sofrer. É bom salientar o que se contém nas crônicas O CANTO DA SEREIA – 11 de janeiro de 2014 e A MARCA DE TÂNTALO – 11 de maio de 2015 que aborda uma cena da novela Babilônia, da TV Globo, uma televisão brasileira.
Os liames afetivos têm vínculo com outros planos mais sutis, pois ninguém está nem esteve só: há amores do passado que nos acompanham os passos, sem nenhuma marca do mito grego Tântalo, condenado a sofrer porque roubou do Olímpio os manjares dos deuses. Isto se o relacionamento do passado distante foi saudável no plano físico em que ambos vivenciaram o amor.
Naquele instante em que o beijo aflorava como flor nascente, passos de gente interromperam nossos gestos. O que prevalece é a nossa escolha pelo destino que começamos a fazer. O pensamento cria nossas possibilidades, depois probabilidades de realização. A nossa realidade surge e vive dentro de nós. Assim é o destino. [PÉGASO XX – 10 de maio de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Retornando ao tema central que aborda a temática do filme Terra das Sombras, com as melhoras da paciente Joy Gresham (Debra Winger), o Dr. Craig (Peter Firth) autorizou-a a continuar o tratamento em casa. O estado de saúde dela melhorou e ela pode fazer um passeio de carro com o marido, em clima de namoro dos apaixonados, isto é o mínimo que se pode dizer na compreensão humana, pois ambos já estavam vivenciando o clima dos amores eternos, um romance celestial.
Sabemos que os filmes biográficos sempre têm algo a desejar. Por isso, indagado por amigos sobre o filme, o Dr. Bruce L. Edwards, Bowling Green State University, disse: “eu gostei muito, eu só gostaria que tivesse sido sobre CS Lewis”. Um filme que pouco fala sobre a influência da palavra cristã no relacionamento do casal é o mesmo que “falar sobre Michael Jordan com pouca referência ao basquete”, concluiu ele. [Biblical Horizons – março de 1994].  

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A FONTE DAS MULHERES

Lembrando um pouco As Mil e Uma Noites e a peça teatral grega, Lisístrata, de Aristófones, o filme A Fonte das Mulheres, dirigido pelo romeno Radu Mihaileanu, nos idos de 2011, inicia com um letreiro: “É um conto ou uma verdade? Um conto, é claro – o que há de verdade na Terra?”. O aviso diz ainda que o filme tem como cenário uma pequena vila de um país da região do Magheb e conclui: “Ou em algum outro lugar onde corre uma fonte de água e onde o amor seca...”
Nos idos de 2014, cerca de 170 mil migrantes fizeram a travessia no mar Mediterrâneo, número que pode crescer, durante o ano de 2015, a ½ milhão, segundo a Organização Marítima Internacional (IMO), uma instituição das Nações Unidas, em decorrência da migração crescente de pessoas que saem do Magrebe, região noroeste da África, e de outras localidades africanas, tais como Burkina Faso, Costa do Marfim, Eritreia, Gâmbia, Guiné, Mali, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Somália e Sudão, além das regiões da Síria e do Iraque. [A TRAVESSIA – 20 de maio de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor]. 
A cena se desenvolve, nos tempos atuais, numa pequena aldeia patriarcal, desprovida de água encanada e de eletricidade, onde as mulheres estão sobrecarregadas de serviços dentre os quais se destaca carregar água da fonte situada no topo da colina.
Leila, esposa de Sami, inicia um movimento entre as mulheres, a greve do sexo, a fim de motivar os homens a participar de suas lides domésticas que têm raízes patriarcais. Apoiados por seus líderes, os homens resistem, mas no final tudo acaba bem, depois de muitas observações no texto sagrado lido pelos casais.
Não é a guerra dos sexos, pois os sexos se atraem e se curtem aos extremos, é a guerra do ego que oscila nas polaridades que denotam diferenças brutais, em profunda contrariedade. Os desníveis comportamentais correm nessa oscilação, variando sempre em circunstâncias que surgem no confronto das personalidades, até mesmo os apelos religiosos, onde são admirados por cada um, podem estar incluídos nesta questão. [QUEM SENTIU – 20/12/2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor]
Mas o grande vetor desse confronto é a separatividade que já existe antes mesmo que ambos se conhecessem, pois faz parte da consciência planetária dissociada, que todos absorvem, pelo estilo de vida comum a todos. A egrégora que revela o ladrão assaltando pessoas é a mesma que os namorados sentem ao serem explorados não apenas financeiramente mas emocionalmente falando. [QUEM SENTIU – 20/12/2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor] 
Na versão Brasil, o tema do filme tem similariedade com o que acontece ainda no Nordeste onde as mulheres, desde meninas, vão apanhar água na cacimba ou lavar roupa nos riachos, lá mesmo ou em outras plagas do interior.
O samba de carnaval, Lata d´água, de Luís Antonio e J. Júnior, lançado nos idos de 1952, enfatizando “Lata d´água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria, sobe o morro e não se cansa, pela mão leva a criança, lá vai Maria” é algo brejeiro que nos encanta rever a lavadeira do morro trabalhar, subindo e descendo ladeira abaixo no mesmo afã que tem as mulheres árabes tão bem retratadas em A Fonte das Mulheres. 
O trabalho afugenta qualquer mal-estar que pode vir em forma de doença mental. Abordamos na crônica ARDIL DIABÓLICO – 20/9/2014, blog Fernando Pinheiro, escritor, alguns aspectos do paradigma mundial e ressaltamos que a psiquiatria não tem prestígio no mundo árabe:
O paradigma mundial, adotando a competitividade e a separatividade como marca de sobrevivência é altamente desumano e selvagem para todos, principalmente quando atinge as crianças, a partir de 3 anos, idade em que ingressa no aprendizado escolar, aumentando assim a procura dos pais pela psiquiatria infantil, e logicamente o consumo de drogas lícitas.
Segundo a BBC, em 20/06/2014, o número de refugiados no mundo gira em torno de 51,2 milhões. O Paquistão abriga cerca de 1,6 milhão de refugiados afegãos, a Turquia 1,2 milhão de refugiados sírios, e no Líbano o mesmo número de refugiados sírios.
Milhões de pessoas no Iraque, na Síria e na Turquia, onde há forte domínio da população pelos terroristas do Estado Islâmico, sobrevivendo com mil dificuldades, inclusive no meio de bombardeios dos Estados Unidos, existe uma cultura sem recorrer à psiquiatria.
Não é apenas no mundo árabe que existe essa inconformação pelos hábitos patriarcais em que a mulher é subjugada ao homem, há também essa espécie de greve de mulheres, veladamente manifestada na China, Japão, Indonésia e outros recantos distantes onde a globalização tem forte influência nos costumes.
No mundo inteiro, o gênero homem ou mulher, nas repartições públicas (termo muito usado antigamente), dá preferência ao trabalho masculino, com maior valorização salarial, embora o mesmo serviço seja feito pela mulher. Citando dados do relatório da Sociedade Internacional de Pilotas de Aeronaves, apenas 3% do mercado de voos comerciais são ocupados por mulheres, sendo 97% por homens.
A África não nos surpreende pelo pioneirismo em atividades profissionais. É de lá que surgiu, nos idos de 1967, o primeiro transplante de coração humano, realizado pelo médico Christian Barnard, como também o primeiro voo de um Boeing 737, sob o comando de duas mulheres, Chipo Matimba e Elizabeth Petros, pilotas da Air Zimbabwe, decolando de Harare, Zimbábue, no dia 13/11/2015, com destino a Cataratas de Vitória, na fronteira com a Zâmbia.
Em ordem alfabética, no elenco os principais artistas do filme A Fonte das Mulheres: Amal Atrach (Hasna), Biyouna (Velho Fuzil), Hafsia Biyouna (Loubna / Esmeralda), Hiam Abbass (Fátima), Karim Leklou (Karim), Leila Bekhti (Leila), Mohamed Majd (Hussein), Sabrina Ouajani (Rachida), Saad Tsouli (Mohamed), Saleh Bakri (Sami). A música é de Armand Amar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

AS AVENTURAS DE PI

As Aventuras de Pi, filme dirigido por Ang Lee, nos idos de 2012, é a respeito de uma família proprietária de um zoológico em Pondicherry, Índia, que resolve se mudar para o Canadá, embarcando num navio cargueiro que afundou. No elenco os atores Suraj Sharma (Pi), Irrfan Khan (Pi, adulto), Gita Patel (Tabu, mãe de Pi), Adil Hussain (Santosh, pai de Pi), Gérard Depardieu (o cozinheiro), entre outros. A música é de Mychael Danna.
Dentro de um barco salva-vida está um tigre de begala que o jovem o chama de Richard Parker, nome que lembra um personagem do escritor Edgar Alan Poe, e numa pequena jangada destinada à pesca, o jovem Pi luta para se manter vivo nas  mudanças de tempo em alto mar.
Entre ambos há uma relação de sobrevivência que, em algumas vezes, Pi se arrisca para dar assistência ao tigre que, com fome, se alimenta de peixe e água doce. Alguns peixes caem dentro da canoa e outros são pescados pelas mãos de Pi. Na comunicação, ele usa um apito para chamar a atenção do tigre. Com jeito e destreza, ele se aproxima do animal e ambos se tornam amigos.
Nos bastidores da gravação foi divulgado que apenas uma pequena parte da filmagem foi colocada a participação de um tigre, sendo que a maioria das cenas envolve efeitos especiais.  Na vida real, isto poderia acontecer, desde que Pi estivesse na mesma faixa de onda do tigre, esse companheirismo entre o ser humano e os animais selvagens ocorreu com São Francisco de Assis, um ser multidimensional.
O companheirismo é fundamental nas relações sociais, vale destacar as palavras do acadêmico João Otávio de Noronha, membro (eleito) da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao ensejo da homenagem prestada em sua despedida do TSE, in verbis:
“Na vida temos o mínimo de obrigação que é nos tratar cordialmente como colega, mas quando conseguimos ultrapassar a barreira do coleguismo para atingirmos a amizade e a consideração recíproca, tanto melhor para conviver”, enfatizou o ministro João Otávio de Noronha – in Site do TSE – Tribunal Superior Eleitoral – 01 de outubro de 2015.
Há uma cena em que Pi está na canoa e fica perto do tigre que, cansado de se movimentar diante da tempestade que passou, permite a aproximação dele como a identificar a frequência de onda em que ele está. Ele passa as mãos na cabeça do tigre que fica igual a um bebê, ambos sentindo-se bem, conforme já tínhamos observado, com outros animais, nas crônicas abaixo-mencionadas:
Os animais domésticos e aqueles que pertencem à selva, em todo o planeta Terra, têm uma participação muito importante no equilíbrio das espécies, atingindo todos os ecossistemas existentes, do mesmo modo que o reino vegetal também participa desse equilíbrio sustentável na alimentação dos seres viventes. (...)  
Os animais vieram ao mundo para nos possibilitar a ascensão a uma consciência planetária de melhor qualidade de vida. Vejam que eles têm ternura, carinho, meiguice, esses encantos em que se destacam mais na presença feminina. [DEFESA DOS ANIMAIS – 01/10/2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Montar a cavalo, tocar a mão no pelo dos animais, inclusive cães e gatos, possibilita a absorção de energias salutares que beneficiam, em grande escala, os seres humanos, fazendo aumentar a imunidade e a diminuir a ansiedade ou estresse e a baixar a pressão sanguínea, resultados benéficos na recuperação de pacientes e contentamento para os donos. [TERAPIA DOS ANIMAIS – 8/10/2013 – blog Fernando Pinheiro escritor].
O olhar de cavalo, por ter o sentido gregário que se expressa num bando de cavalos, é de comunicação e de receptividade. Ao invés de se reunir em bares e salões de festa onde é servido bebida alcoólica, se as pessoas fossem visitar as haras, certamente teriam muito mais a lucrar.
Uma dessas visitas que fiz a haras de criação de cavalos, tive a satisfação de presenciar a ternura nos olhos de um cavalo que, ao me ver, se levantou da clareira onde estava deitado e veio me cumprimentar. O olhar de ternura não envolve sexualidade, embora a ternura seja mais demonstrada pelas mulheres.
Em outra visita a outra hara, um cavalo de raça árabe, aproximou-se de mim, levantou a cabeça como sinal de comunicação, numa linguagem não verbal, assim como o maestro se comunica com a orquestra mediante a batuta, e expressou uma linguagem cavalar que buscamos entender. [ESSES OLHARES – 06 de setembro de 2015].
Quando a canoa à deriva da corrente marítima chegou a uma ilha, Pi atracou-a e saiu à busca de alimentos, o tigre quando acordou pulou da canoa e se encaminhou pela mata. Tudo na ilha era carnívoro, as plantas, as águas que tinham um sabor durante o dia e à noite tinha outro não salutar. O tigre percebeu isto e voltou à canoa, Pi também.
Quando a canoa chegou em outro lugar, o tigre saltou em direção da mata, reconhecendo o seu habitat. Pi chamou-o três vezes, Richard Park, mas o tigre não olhou para trás. O olhar de Pi era apenas de saudade do amigo que partira para viver melhor. Era o destino dele. O destino de Pi foi encontrar o lar com a esposa e filhos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

À FLOR DA PELE

Manifestando outra personalidade, em sintoma bipolar, no conceito de psicanálise, Nelita (Bárbara Paz) parte para o ataque em cima de Orlando (Eduardo Moscovis) dizendo que ele tem outra mulher: “Mas a outra é muito tonta mesmo! Além de chata, é burra! Você está com uma amante!” E pede a ele apresentá-la. 
Quando Nelita diz a Orlando que ele não quer mais transar com ela, ao invés de falar na primeira pessoa, evidencia que outra personalidade foi acionada pela própria pessoa ou por outra pessoa que se incorpora a personagem, como se fosse alma penada vagando pela atração recebida. Isto está no mundo subjetivo ou na realidade que transcende ao plano físico.
A influência do plano espiritual é fato notório no dizer de filósofo Auguste Comte: “os mortos governam os vivos” e na literatura espírita que abrange os relatos da espiritualidade, basta citar o romance Há 2.000 anos, de Emmanuel (Espírito), psicografado por Francisco Cândido Xavier, de saudosa memória. Ordem e Progresso, palavras inseridas na bandeira brasileira, teve influência na frase de Comte: “o Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim.” 
O fenômeno existe, sim, apreciado em duas vertentes distintas: o materialismo e a espiritualidade. No emaranhamento quântico, ambas estão relacionadas entre si, pois a separatividade só existe no dualismo humano que está indo embora com a ascensão da consciência unificada, alterando o paradigma atual do planeta.
Vale salientar a transcrição contida em nosso post VISÃO MÉDICA – 19 de dezembro de 2014, in verbis:
Carro na garagem é a metáfora que empregamos para definir uma situação, assim como o médico psiquiatra búlgaro Thomas Stephen Szasz (1920/2012) argumentou que o conceito de “doença mental era pouco mais que uma metáfora sem qualquer referencial patológico” [The Telegraph – 18/9/2012].
Esse referencial patológico naturalmente diz respeito à falta de provas que constate a existência de doença comprovada por análise médica convencional em laboratório ou raio X. Essa metáfora se confunde com a realidade e entra na área dos mitos, como fez Freud empregando símbolos mitológicos, de forma que a loucura tem algo fabricado.
Nos idos de 1961, com o lançamento da obra The Myth Of Mental Illness, de Thomas Szasz, o movimento antipsiquiatria nos Estados Unidos ganhou força. No dizer do médico búlgaro, os tratamentos coercitivos, como confinamento involuntário e o uso de diagnósticos psiquiátricos nos tribunais ambos são práticas não-científica e antiética [New York Times – 11/09/2012].
Os dons guardados e não utilizados são carros na garagem que, um dia, não mais funcionarão. Muitos distúrbios mentais surgem com a paralisação das atividades em que se desenvolvia um estilo de vida saudável. [VISÃO MÉDICA (II) – 30 de dezembro de 2014].
Do ator Eduardo Moscovis temos a grata recordação do filme Bela Donna, ambientado nas praias do Ceará, que conta a história de Donna (Natasha Henstridge) casada com o americano Frank (Andrew Mc Carthy), enquanto ele está trabalhando na pesquisa de petróleo naquela região, na década de 1930, Donna busca aventura amorosa com um pescador Nô, vivido pelo ator Eduardo Moscovis. Outros atores: mãe Ana (Florinda Bolkan), Benta (Letícia Sabatella), Tonho (Ângelo Antônio).
Em outro ponto da cidade, no quarto de hotel, mostrado pela novela A Regra do Jogo, da TV Globo, em 05/11/2015, a personagem Lara (Carolina Dieckmann) aguarda ansiosa pela chegada de Orlando (Eduardo Moscovis), depois de se preparar usando uma lingerie vermelha, faz o telefone tocar, ele ouve e pede a chave para Nelita (Bárbara Paz) que coloca na boca e pede para ele pegar.
Uma cena de casal de apaixonados se desenrola na cama e ela fica satisfeita, ele também. No entanto, o compromisso dele com a amante ficou para depois. Algo ficou no ar que Orlando não soube compreender: pensamentos que viajam de uma esfera a outra, pois existe um campo eletromagnético e a conexão é realizada na mesma frequência de onda. 

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INEFÁVEIS MOMENTOS

O filme Jauja, produzido em 2014, pelo argentino Lisandro Alono, é ambientado na região da Patagônia, sul da Argentina, trazendo no elenco Viggo Mortensen, interpretando Gunnar, viúvo, dinamarquês, que está em viagem no deserto, acompanhado de alguns companheiros e de sua filha Ingeborg, papel da atriz Viilbørjk Malling Agger.
Na abertura do filme aparece um letreiro avisando que Jauja é um lugar místico para onde muitos foram, mas ninguém retornou. Isto se justifica pela busca que o pai faz com a finalidade de encontrar a filha que fugiu acompanhada de um homem que estava prisioneiro no acampamento. Esse episódio toma a metade da filmagem em cenas sem muita ação.
Ele segue a caminhada por uma região desértica, com a mente voltada em usar a força nesta busca e encontra pelo caminho um soldado morto e pergunta a ele, sem condições de falar, onde está a filha. Sem resposta, com o sabre desfere-lhe um golpe no pescoço, bastante irritado, pensando que o morto tivesse participação na fuga da filha.
Pelo caminho ele vê um cachorro que acabara de tomar banho, numa poça d´água, e o segue pensando na possibilidade de ter gente pela frente. Subindo uma encosta, entra numa gruta e encontra uma senhora viúva, interpretada pela atriz dinamarquesa Ghita Nørby que lhe oferece comida e lhe indica onde tem água para beber na fonte perto dali.
Ela lhe mostra afetividade, sentindo-se satisfeita em lhe ser útil e até lhe convida para voltar quando ele puder. Mas, ele não percebeu o modo feliz da mulher da gruta, onde ele poderia aprender muitas coisas da vida. Agradece o convite e, bastante preocupado, prossegue a caminhada em busca da filha, mas não vem a encontrá-la.  
Quando estimulamos as pessoas a despertar as forças interiores que possuem, estamos simplesmente dando a elas o direito de ser como são, independentes, com direito a escolhas em suas próprias vidas, e lembrando-nos da canção que enfatiza: você tem tudo para ser feliz. [VOCÊ TEM TUDO PARA SER FELIZ – 5 de novembro de 2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
A mulher da gruta demonstrava possuir uma placidez em que a natureza se manifesta sutilmente, assim como assistimos no campo astral a doces encantos que nos sensibilizaram quando estivemos na vivência do sonho narrado na crônica PÉGASO (XIX) – 12 de março de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor, a seguir:     
Em nossas andanças astrais passamos por lugares que passam a ser estudo para a observação da vida que ultrapassa os limites da matéria conhecida, entrando em espaços além do planeta Terra, embora esteja circunscrito na psicosfera terrestre, esse espaço onde abriga os pensamentos e os espíritos em trânsito pela transmutação das formas almejadas.
Situada entre as cidades de Nara e Kyoto, no Japão, Uji é famosa por santuários naturais. O de Byodo-In é de impressionante beleza. Um charme de ouro estava no horizonte na despedida do sol que descia lentamente, estendendo-se para o Phoenix Pavillon.
Estávamos na fila para receber o pão e a pasta de ervas finas, iguarias comuns nas padarias e supermercadores brasileiros. Uma turista passou na minha frente, furando a fila, um costume aqui no Brasil. A placidez do local repercutia encantos em nosso coração, somente estávamos ligados nisso.
O não-agir era a fórmula de viver adequado ao nosso coração, estávamos em outra cultura, diferente desta que atingiu apenas ½ milênio de civilização. Lembramo-nos da obra Não apresse o rio (ele corre sozinho), de Barry Stevens e da atitude de não-violência de Gandhi que derrubou o império inglês na Índia, levando-a a independência. O grito de D.Pedro I, montado a cavalo, teve também essa conotação. Às margens do rio Ipiranga não houve morte.
O não-agir é sabedoria milenar como o silêncio de Jesus diante da varanda de Pilatos quando lhe foi perguntado o que era a verdade. Frisamos com todas as letras: em nenhum instante, quando estamos na esfera física, o colapso da função de onda deixa de funcionar, mesmo no não-agir.
Vale salientar que tudo no Universo é informação, pois a consciência está em tudo, pois até os insetos possuem consciência, eles também têm o colapso da função de onda. A física quântica, através de mil recursos espaciais, está descortinando horizontes dantes desconhecidos como também o mundo interno do homem.
Prêmio Nobel de Física (1963), Eugene Paul Wigner afirmou que não é possível formular as leis da mecânica quântica sem recorrer ao conceito de consciência. Ele alegou que a medida quântica requer um observador consciente, sem a qual nada acontece no Universo [The Information Philosopher]. Corroboando com esta assertiva, vale mencionar as palavras do Prof. Hélio Couto: “Não existe mecânica quântica sem a ação do observador. É o observador que faz o elétron se comportar daquela forma.” [Visão Remota Negócios In-Formados – Hélio Couto, por Quantum Wave - Vídeo].
Recentemente, em junho de 2011, o experimento da dupla fenda, muito antes testada em laboratório científico, foi confirmada pelo cientista canadense Aephraim Steinberg: a descoberta de que a partícula se comporta como onda mesmo quando passa por uma só fenda. “Ou seja, o fóton é uma partícula e uma onda ao mesmo tempo.” Por analogia, existe a teoria da onda-piloto. [Wikepédia, a enciclopédia livre].
Ao longe no santuário de Byodo-In ouvia-se um mantra acompanhado de sons de flauta de bambu, alentando a atmosfera ao redor que parecia estar em placidez, mas que na realidade estava mergulhada em sons e cores de inefável beleza. Era o não-agir que sentimos e já conhecíamos da sabedoria  que vem do Ganges: não buscar nem fugir. Num átimo, estávamos de volta ao recanto feliz em que vivemos.
Nos últimos momentos do filme Jauja aparece uma garota, não sabemos se é uma retrospectiva do passado daquela mulher da gruta, vivendo num palácio. A cena final, a moça sai do quarto e vai ao jardim onde encontra um homem cuidando de cães, ela conversa com ele e toma um dos cães para passear.    
Acreditamos que a moça é a mesma mulher da gruta, vivendo uma experiência mística, assim como viveu o príncipe hindu Sidarta Guatama que abandonou as riquezas palacianas para viver uma vida naqueles quatro pilares que divulgamos: simplicidade, humildade, transparência e alegria.