É
inacreditável
o término de um namoro porque os namorados estão ainda ligados na atmosfera que
os une. Algo fica de recordação, o beijo, o calor da nuca, o olhar que mergulha
na indagação e o vestido de presente doado em momentos alegres.
O casal nem
sabe porque está havendo a separação, mas algo forte lhe faz tomar a decisão: é
o arquétipo da competitividade e separatividade pairando em todo o planeta
Terra, essa consciência planetária dissociada que está indo embora (o joio do
trigo).
Vestido
Estampado, de Ana Carolina, é um samba tipicamente carioca que nos faz lembrar
de gafieiras, casas noturnas da Zona Sul: “o amor que eu dei não foi o mesmo
que eu vi acabar, o amor só mudou de cor, agora já tá desbotado, corra, lá vem
a tristeza atirando pra todos os lados.”
Quando se doa
amor é o nosso ser profundo que se manifesta, quando o amor muda de cor é
porque a nossa personalidade, constituída exclusivamente do ego, se manifestou
mais alto. Aí estão incluídos os planos que o parceiro ou a parceira não
compreendeu e não quis acompanhar.
Alguns saem
dessa situação numa boa, sem olhar para trás e até esquecendo o que se passou,
como se o outro não existisse, nem antes, nem depois. É uma alienação para
dribrar a realidade, se ambos estiverem nessa condição, será como um ficar,
assim como ficam com outras pessoas num bar, num baile, numa festa, num
telefone ou num bate-papo na internet.
Mas aquelas
que têm recordações, isto fica mais complicado porque a letra da música mostra
às claras: “corra, lá vem a tristeza atirando pra todos os lados.” A palavra
atirar tem uma correlação com arma e arma com a guerra, onde ocorreram mais de
34 milhões de soldados que não voltaram aos braços das suas namoradas ou
esposas durante a II Guerra Mundial. Isto é apenas a morte provocada, uma espécie
de suicídio coletivo permitido pela matrix, e com relação à morte natural
quantos foram embora estendendo o manto da viuvez?
A perda,
qualquer tipo de perda, é um sintoma que leva à depressão, aí incluída a
separação de casais ou de namorados que não correram porque a tristeza os
alcançou.
A expressão
“agora que eu não posso mais caber em ti” é característica dessa consciência
planetária dissociada. Como iriam entender que todos somos um? Tudo está numa
só onda, embora haja diferentes frequências de onda, a onda é a mesma, esta é a
tese que levou a ciência para um novo paradigma, saindo do paradigma da física
newtoniana para a física quântica.
Considerando
que a mecânica quântica é inseparável da física quântica, vale mencionar o
texto da crônica LAGOA PROFUNDA, publicada em 28 de março de 2014, no blog
Fernando Pinheiro, escritor:
O
ponto-de-vista À Sombra da Mecânica Quântica, de Ulisses Capozzoli,
editor-chefe da Scientific American Brasil – março 2014, é altamente revelador
porque mostra jornais, noticiário de telejornais, revistas científicas e de
divulgação no “esforço da construção de uma teoria do campo unificado, a teoria
do tudo, capaz de descrever todas as interações nos domínios tanto micro como
macrocósmico.”
Essa tese
derruba a inutilidade do suicídio, a pessoa vai fugir para onde, se tudo é uma
onda? A pessoa se separa pensando que está saindo de perto de uma pessoa, isto
é apenas fisicamente, mas no espaço tudo está emaranhado. Em sonhos, podemos
perceber essa realidade.
A música
embalada em cadências marcantes de um sax, acompanhado de um violão, vai nos
levando, quase dançando, e sentimos a impressão de que ambos os amores estão
dispostos a se tornarem, outra vez, velhos desconhecidos e até se desfazerem do
vestido estampado, doando a quem servir, ou então guardando-o para o carnaval
como se a alegria dessa festa fosse resolver tudo.