O olhar de cavalo,
por ter o sentido gregário que se expressa num bando de cavalos, é de
comunicação e de receptividade. Ao invés de se reunir em bares e salões de
festa onde é servido bebida alcoólica, se as pessoas fossem visitar as haras,
certamente teriam muito mais a lucrar.
Uma dessas visitas que fiz a haras de
criação de cavalos, tive a satisfação de presenciar a ternura nos olhos de um
cavalo que, ao me ver, se levantou da clareira onde estava deitado e veio me
cumprimentar. O olhar de ternura não envolve sexualidade, embora a ternura seja
mais demonstrada pelas mulheres.
Em outra visita a outra hara, um
cavalo de raça árabe, aproximou-se de mim, levantou a cabeça como sinal de
comunicação, numa linguagem não verbal, assim como o maestro se comunica com a
orquestra mediante a batuta, e expressou uma linguagem cavalar que buscamos
entender.
Vai-se um estória toda nessa
linguagem que, de início, ele, o cavalo, se expressou sem subterfúgios ou
alguma máscara que as pessoas buscam se comunicar quando se apresenta vantagens
pessoais, isto ocorre na relação amorosa e de trabalho. A amizade de Atena, de
risada escancarada, vivida pela atriz Giovanna Antonelli) com a ricaça Sumara
(atriz Karine Teles), na novela A Regra do Jogo, é nesse sentido, todos veem.
Já se vê que é muito salutar mais
falar dos animais do que os humanos que se concentram apenas no lado que entra
em conflito com a natureza. O homem, por ser parte da natureza, é a própria
natureza. Quando revelada, ele se descobre e deslinda os enigmas do caminhar.
De outra vez, defronte dessa hara,
passei caminhando a pé, e do outro lado uma casa nos chamou a atenção. Uma moça
na lira dos seus vinte anos, dentro do carro fazia uma manobra em que denotava
algo de anormal. Parei para não ser atropelado, ela parou o carro perto de mim
e disse: “a minha mãe está partindo”. Fiquei por alguns minutos parado,
observado a casa da moribunda que se despedia no adeus de mãos frias.
Como sou de tribuna, fiquei parado
ali, caso tivesse sido convidado entraria na casa e faria uma prece de
improviso, antecedida pelas palavras de Ali-Omar, conhecidas na famosa Oração
da Manhã, largamente divulgada pela internet. Quem ainda não a conhece? Vou dar
uma dica: “Senhor, no silêncio desta prece, venho pedir-te a paz, a sabedoria,
a força. Quero olhar sempre o mundo com os olhos cheio de amor.”
Depois de alguns minutos, saí em
direção do asfalto onde iria fazer uma transferência de dinheiro para pagamento
de serviços prestados. Aquele olhar de mulher que me falou sensibilizada,
naquele instante em que a conheci, tinha ternura e a voz se refletia em suave
sonoridade, embora a aflição estivesse presente. Ela confiou em mim, à primeira
vista, assim como os cavalos confiam nas pessoas que estão na mesma frequência
de onda onde vivem, pois a natureza se faz sentir.
Já de volta do asfalto, na mesma
estrada, a gentil donzela veio andando apressada em minha direção e disse:
“você não é quem estava olhando para minha casa?” Eu, já desligado do ocorrido,
lhe disse: “eu estou chegando, não sou eu, parece não é?” Ela respondeu: “é
parece” e saiu frustrada porque iria me dar a notícia do que estava ocorrendo
quando eu tinha olhado para a sua casa. Depois de alguns minutos, olhei para
trás e a vi perto da sentinela da estrada e a ouvi falar: “a minha mãe morreu.”
Não irei falar sobre a morte de quem
não a conheci, nem mesmo da própria morte, como argumento de vida, apenas dizer
quem melhor falou sobre esse percurso da vida, não é o fim, bem explicado,
foram os grandes compositores clássicos, basta citar o Requiem de Mozart,
Brahams e, principalmente, o de Verdi a que assisti, no dia 23 de agosto de
2012, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Isto é que é vida.
Passarei, sem dúvida, outras vezes
por essa estrada e quem sabe, se houver outra chance de falar com essa jovem na
lira de seus vinte anos, mas não serei eu quem irá traçar esse destino. Sou
apenas caminhante dessa estrada, como peregrino que a vida me ensinou a
caminhar.
Uma coisa é certa: os animais me
ensinaram a ter essa ternura que já existe em mim, agora em dose aumentada, não
digo na dose cavalar para não exagerar, pois a simplicidade é um dos cinco
pilares que sustentam o meu viver, acrescida de humildade, transparência,
alegria e gratidão.
Aqui na mata, ainda vou saber qual é
o pássaro que canta quando a chuva cai. Será que é o mesmo que tem um ninho na
pequena árvore debaixo da minha varanda? Sou apenas um aprendiz de observador
da natureza, e me sinto muito satisfeito. Obrigado pela leitura.
Por último, ressaltamos os textos de
nossa crônica O VENTO, O GRITO – 17 de fevereiro de 2013 – blog Fernando
Pinheiro, escritor, in verbis:
Os animais, os peixes, os répteis, as
aves e todo o reino animal (excetuando-se o homem), por não ter o
livre-arbítrio, entregam-se ao movimento renovador da natureza e absorvem essa
energia que flui na terra e no mar, na superfície subterrânea e na amplidão dos
espaços, com chuva e com sol e nos nevoeiros que anunciam a mudança de tempo.
Os raios adamantinos, esses
raios-gamas que foram observados por cientistas, esses raios descendo do centro
da galáxia Via-Láctea em direção do sistema solar onde a Terra gira, são
espalhados a todos os seres humanos que, ainda aprisionados ao livre-arbítrio,
não se deixam ser envolvidos por tantas blandícias que nos evocam o paraíso.
A mente está mergulhada no efêmero,
entorpecida pela ilusão que oblitera a sua realidade imortal. Os seres da
espécie animal não têm esse problema, a entrega os faz participar da unidade.
A notícia alvissareira da chegada da
Era Dourada (Era de Aquarius) é que o homem irá adquirir o que o reino animal,
dito irracional, já possui: o sentido gregário. Vejam os cardumes de peixe, os
bandos de animais movimentando-se em equipe, a comunicação é correspondida
mutuamente.
A comunicação é vibração, os animais
se comunicam em grupos, os ventos são emanações desse calor que o instinto
revela, o grito dos animais também é inteligente, só que numa inteligência
ainda não compreendida, integralmente, pelo ser humano por causa do uso do
livre-arbítrio. Com o ascender desse fenômeno, o homem se integra com a unidade
do universo que se manifesta na diversidade das formas e dos conteúdos.
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