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domingo, 6 de setembro de 2015

ESSES OLHARES

O olhar de cavalo, por ter o sentido gregário que se expressa num bando de cavalos, é de comunicação e de receptividade. Ao invés de se reunir em bares e salões de festa onde é servido bebida alcoólica, se as pessoas fossem visitar as haras, certamente teriam muito mais a lucrar.
Uma dessas visitas que fiz a haras de criação de cavalos, tive a satisfação de presenciar a ternura nos olhos de um cavalo que, ao me ver, se levantou da clareira onde estava deitado e veio me cumprimentar. O olhar de ternura não envolve sexualidade, embora a ternura seja mais demonstrada pelas mulheres.
Em outra visita a outra hara, um cavalo de raça árabe, aproximou-se de mim, levantou a cabeça como sinal de comunicação, numa linguagem não verbal, assim como o maestro se comunica com a orquestra mediante a batuta, e expressou uma linguagem cavalar que buscamos entender.
Vai-se um estória toda nessa linguagem que, de início, ele, o cavalo, se expressou sem subterfúgios ou alguma máscara que as pessoas buscam se comunicar quando se apresenta vantagens pessoais, isto ocorre na relação amorosa e de trabalho. A amizade de Atena, de risada escancarada, vivida pela atriz Giovanna Antonelli) com a ricaça Sumara (atriz Karine Teles), na novela A Regra do Jogo, é nesse sentido, todos veem.
Já se vê que é muito salutar mais falar dos animais do que os humanos que se concentram apenas no lado que entra em conflito com a natureza. O homem, por ser parte da natureza, é a própria natureza. Quando revelada, ele se descobre e deslinda os enigmas do caminhar.
De outra vez, defronte dessa hara, passei caminhando a pé, e do outro lado uma casa nos chamou a atenção. Uma moça na lira dos seus vinte anos, dentro do carro fazia uma manobra em que denotava algo de anormal. Parei para não ser atropelado, ela parou o carro perto de mim e disse: “a minha mãe está partindo”. Fiquei por alguns minutos parado, observado a casa da moribunda que se despedia no adeus de mãos frias.
Como sou de tribuna, fiquei parado ali, caso tivesse sido convidado entraria na casa e faria uma prece de improviso, antecedida pelas palavras de Ali-Omar, conhecidas na famosa Oração da Manhã, largamente divulgada pela internet. Quem ainda não a conhece? Vou dar uma dica: “Senhor, no silêncio desta prece, venho pedir-te a paz, a sabedoria, a força. Quero olhar sempre o mundo com os olhos cheio de amor.”
Depois de alguns minutos, saí em direção do asfalto onde iria fazer uma transferência de dinheiro para pagamento de serviços prestados. Aquele olhar de mulher que me falou sensibilizada, naquele instante em que a conheci, tinha ternura e a voz se refletia em suave sonoridade, embora a aflição estivesse presente. Ela confiou em mim, à primeira vista, assim como os cavalos confiam nas pessoas que estão na mesma frequência de onda onde vivem, pois a natureza se faz sentir.
Já de volta do asfalto, na mesma estrada, a gentil donzela veio andando apressada em minha direção e disse: “você não é quem estava olhando para minha casa?” Eu, já desligado do ocorrido, lhe disse: “eu estou chegando, não sou eu, parece não é?” Ela respondeu: “é parece” e saiu frustrada porque iria me dar a notícia do que estava ocorrendo quando eu tinha olhado para a sua casa. Depois de alguns minutos, olhei para trás e a vi perto da sentinela da estrada e a ouvi falar: “a minha mãe morreu.”
Não irei falar sobre a morte de quem não a conheci, nem mesmo da própria morte, como argumento de vida, apenas dizer quem melhor falou sobre esse percurso da vida, não é o fim, bem explicado, foram os grandes compositores clássicos, basta citar o Requiem de Mozart, Brahams e, principalmente, o de Verdi a que assisti, no dia 23 de agosto de 2012, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Isto é que é vida.
Passarei, sem dúvida, outras vezes por essa estrada e quem sabe, se houver outra chance de falar com essa jovem na lira de seus vinte anos, mas não serei eu quem irá traçar esse destino. Sou apenas caminhante dessa estrada, como peregrino que a vida me ensinou a caminhar.
Uma coisa é certa: os animais me ensinaram a ter essa ternura que já existe em mim, agora em dose aumentada, não digo na dose cavalar para não exagerar, pois a simplicidade é um dos cinco pilares que sustentam o meu viver, acrescida de humildade, transparência, alegria e gratidão.
Aqui na mata, ainda vou saber qual é o pássaro que canta quando a chuva cai. Será que é o mesmo que tem um ninho na pequena árvore debaixo da minha varanda? Sou apenas um aprendiz de observador da natureza, e me sinto muito satisfeito. Obrigado pela leitura.
Por último, ressaltamos os textos de nossa crônica O VENTO, O GRITO – 17 de fevereiro de 2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor, in verbis:
Os animais, os peixes, os répteis, as aves e todo o reino animal (excetuando-se o homem), por não ter o livre-arbítrio, entregam-se ao movimento renovador da natureza e absorvem essa energia que flui na terra e no mar, na superfície subterrânea e na amplidão dos espaços, com chuva e com sol e nos nevoeiros que anunciam a mudança de tempo.
Os raios adamantinos, esses raios-gamas que foram observados por cientistas, esses raios descendo do centro da galáxia Via-Láctea em direção do sistema solar onde a Terra gira, são espalhados a todos os seres humanos que, ainda aprisionados ao livre-arbítrio, não se deixam ser envolvidos por tantas blandícias que nos evocam o paraíso.
A mente está mergulhada no efêmero, entorpecida pela ilusão que oblitera a sua realidade imortal. Os seres da espécie animal não têm esse problema, a entrega os faz participar da unidade.
A notícia alvissareira da chegada da Era Dourada (Era de Aquarius) é que o homem irá adquirir o que o reino animal, dito irracional, já possui: o sentido gregário. Vejam os cardumes de peixe, os bandos de animais movimentando-se em equipe, a comunicação é correspondida mutuamente.
A comunicação é vibração, os animais se comunicam em grupos, os ventos são emanações desse calor que o instinto revela, o grito dos animais também é inteligente, só que numa inteligência ainda não compreendida, integralmente, pelo ser humano por causa do uso do livre-arbítrio. Com o ascender desse fenômeno, o homem se integra com a unidade do universo que se manifesta na diversidade das formas e dos conteúdos.

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