Numa madrugada risonha e feliz, o passado
ditoso recrudesceu dentro do sonho carreando engramas que não foram
transmutados para outra fase do viver, o oblivion dos poetas parnasianos.
Nesse clima que nos favorecia o momento,
disse-lhe: estou com vontade de lhe abraçar, esse abraço tinha mais uma conexão
de união espiritual do que material, pois o corpo físico é apenas um
instrumento, mas nesse caso o corpo etérico, o duplo em que está em tudo,
descoberto pela ciência, comprova que nem tudo é matéria.
O abraço surgiu como formalidade de um rito
que nos favorecia a aproximação. É claro que, devido aos engramas que surgiram
naquele momento, a nossa aproximação não veio revestida dos encantos dos amores
que se apaixonam à primeira vista.
Em seguida, a vi se dirigir ao banheiro que
possuía uma banheira rasa, o mais simples possível, quase rés ao chão, onde ela
se deitou numa água enferrujada, aquela água em que surge quando a torneira é
aberta depois de um período em que ocorreu a falta d´água.
Depois do mergulho na banheira rasa, a vi
envolta numa toalha branca e um novo abraço surgiu entre nós, melhor do que o
anterior, num clima em que o banho eliminou os engramas, com as possibilidades
futuras de haver a nudez feminina que ainda predomina nos encantos da primeira
hora em que a conheci.
É que os engramas do passado são forças
coercitivas superiores à mudança de atitudes de quem busca se beneficiar em
atitudes que ocasionaram perdas. O interlocutor carrega os pensamentos que lhe
deixamos como carga que o faz sucumbir ou se elevar, se houver enlevo amoroso.
É que as pessoas necessitam caminhar em direção de novas paisagens tanto
íntimas quanto externas que repercutem no mundo onírico. [O SONHO DE MARIANNE –
28 de janeiro de 2017 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Isto fez deslindar o enigma do sonho da noite
anterior em que estava em frente da Igreja da Candelária, na cidade do Rio de
Janeiro, presenciando os preparativos de uma festa que me levou a supor que
eram destinados a um casamento sem que aparecessem os nubentes.
Vivemos, realmente, no estado de vigília e no
estado do sono, principalmente quando sabemos a vivência do sonho ocorrido.
Ambos se completam nas atitudes escolhidas, não importando os graus de
nivelamento de consciência em que ocorreram. Aliás, a descoberta científica é
fantástica: a consciência e a informação estão em tudo, ao mesmo tempo.
A realidade da vida é criada por nossos
pensamentos com a participação do elemento primordial de que nos fala o enigma
de Platão, que revelamos ser a fé, acoplado à participação do interlocutor em
que mantemos a comunicação, no presente caso, a interlocutora. A comunicação é
sempre os dois interligados, assim como na relação sexual.
No abraço que tive com ela, vestida com o
roupão de banho, uma sombra desvaneceu saindo pela rua afora, era a companhia
sobrenatural eleita por ela em seus momentos em que sentia solidão. No entanto,
uma peça de roupa caiu no chão, a joguei fora pela janela e vi a peça seguir a
caminho do dono.
Isto nos faz lembrar o Princípio da Incerteza,
de Werner Karl Heisenberg, em que os néutrons, ao receber cargas de fótons, se
movimentam na direção escolhida pelo observador, constatada anteriormente no
fenômeno da dupla fenda, de Thomas Young (1773/1829), médico e egiptólogo
britânico. É que o amor ilumina nossos caminhos.
No Princípio da Incerteza, de Heisenberg, há
restrições à precisão em medidas simultâneas, pois não pode haver a posição da
partícula e a velocidade ao mesmo tempo, esse princípio está imantado não
apenas no mapeamento das partículas elementares do átomo, como também entre
duas pessoas em convivência amorosa, pois todos nós somos constituídos de
átomos. [ANÉIS SOLTOS NOS DEDOS – 29 de março de 2014 – blog Fernando Pinheiro,
escritor]
Como tudo é consciência e informação por
causa da presença do átomo e suas partículas, iríamos encontrar a afinidade em
que nos apegássemos o pensamento, pois ao pensar criamos o endereço astral
pertinente ao nosso mundo íntimo que se interliga com os interesses afins.
[PÉGASO (LI) – 25 de abril de 2016 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Na obsessão de almas errantes, o quadro
clínico se complica, o paciente já não mais possui a liberdade de escolha e os
tremores involuntários do corpo se confundem na patologia da discinesia tardia,
distúrbio que a Psiquiatria apresenta questionamentos para estudo e observação.
[O DESMAME – 28 de fevereiro de 2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Enquanto houver a oportunidade de fazer o
colapso da função de onda, novas disposições do viver surgem alterando os
panoramas íntimos em que não sentíamos confortáveis. Se os ex-amores, em todo o
planeta, soubessem desse recurso infalível, disponível e capaz de acontecer,
voltariam a viver os momentos felizes em que viveram no passado. Os amores são
eternos já antes cantados por poetas e sonhadores.
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