Atílio aceitou a ideia imaginada dos mendigos e se
passa a se chamar Alfredo Gentil. Ao amanhecer o casaco, que usava, é roubado,
então ele se levanta e caminha pelas ruas da cidade de São Paulo.
Ao chegar ao início da ladeira da Rua 25 de Março, onde havia uma
mulher-estátua em exibição pública e bem próximo uma kombi vendia
cachorro-quente, fez com sofreguidão um lanche rápido oferecido pela dona do
carro.
No momento em que acontecia um rapa, com medo de
ser visto pelos policiais, se esconde dentro da kombi, juntamente com a
motorista em direção da casa em que ela residia, levando consigo o estranho que
protegia.
Ao chegar em casa, mando-o ir embora, e ele,
pressentindo o perigo de voltar à rua, atira-se no chão da sala, passando por
doente necessitado de ajuda.
A fuga hospitalar é um incidente que sempre
aconteceu em todos os tempos. Vale recordar a do compositor Ernesto Nazareth, o
célebre autor da música Odeon, comentada em nossa crônica do dia 6 de agosto de
2012. O compositor fugiu do Manicômio Juliano Moreira, onde estava internado e,
ao atravessar uma represa em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro, morreu
afogado.
No caso do Atílio, em que aparece com a cabeça
enfaixada, houve uma fuga consciente diante do impacto da realidade em que
vive: ameaça de morte iniciada pelo acidente de carro e prolongada, ao despertar
no leito hospitalar sobre circunstâncias que poderiam ocorrer longe da custódia
do hospital.
Como dissemos, anteriormente, na crônica O Desmame,
postada em 28 de fevereiro de 2013, no blog Fernando Pinheiro, escritor, as
lesões cerebrais nem sempre denotam que existem distorções mentais, pois a
Psiquiatria trabalha na observação dos sintomas apresentados que são vistos
dentro dos parâmetros estudados porque a doença é construída e é expressa
conforme as medidas adotadas para enfrentá-la [BASAGLIA, 1979].
Ora, nesse contexto do famoso psiquiatra italiano,
pode ocorrer um instrumento de rotulação suscetível a insucesso terapêutico e o
hospital psiquiátrico passa a ser instrumento de destruição daquele que foi
rotulado [BASAGLIA, 1979].
Além disso, a medicação aplicada em desacordo com a
receita médica e o convívio com outros pacientes podem anular todas as
expectativas de recuperação.
Atílio,
o paciente, estava inserido no título da novela Amor à Vida, embora escapasse
das circunstâncias que pareciam protegê-lo. Na verdade, a proteção que ele
sentiu, no momento da fuga, veio das mãos de Márcia, vendedora de lanche,
personagem interpretada pela atriz Elizabeth Savalla.
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