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segunda-feira, 3 de junho de 2013

A FUGA

       Em 03 de junho de 2013, o capítulo da novela Amor à Vida, da TV Globo, uma televisão brasileira, mostrou a cena em que o personagem Atílio, interpretado pelo ator Luis Melo, fugiu do hospital onde estava internado, vítima de acidente de carro. Ele passou defronte da Estação da Luz e se encaminhou para debaixo do Viaduto Minhocão, na Avenida São João. Lá ele encontrou os mendigos que, ao vê-lo, imaginam ser o Alfredo Gentil que usava barbas ao estilo de Papai Noel, agora em nova aparência que denotava ser mesmo o amigo deles.

Atílio aceitou a ideia imaginada dos mendigos e se passa a se chamar Alfredo Gentil. Ao amanhecer o casaco, que usava, é roubado, então ele se levanta e caminha pelas ruas da cidade de São Paulo.

Ao chegar ao início da ladeira da Rua 25 de Março, onde havia uma mulher-estátua em exibição pública e bem próximo uma kombi vendia cachorro-quente, fez com sofreguidão um lanche rápido oferecido pela dona do carro.

No momento em que acontecia um rapa, com medo de ser visto pelos policiais, se esconde dentro da kombi, juntamente com a motorista em direção da casa em que ela residia, levando consigo o estranho que protegia.  

Ao chegar em casa, mando-o ir embora, e ele, pressentindo o perigo de voltar à rua, atira-se no chão da sala, passando por doente necessitado de ajuda.

A fuga hospitalar é um incidente que sempre aconteceu em todos os tempos. Vale recordar a do compositor Ernesto Nazareth, o célebre autor da música Odeon, comentada em nossa crônica do dia 6 de agosto de 2012. O compositor fugiu do Manicômio Juliano Moreira, onde estava internado e, ao atravessar uma represa em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro, morreu afogado.

No caso do Atílio, em que aparece com a cabeça enfaixada, houve uma fuga consciente diante do impacto da realidade em que vive: ameaça de morte iniciada pelo acidente de carro e prolongada, ao despertar no leito hospitalar sobre circunstâncias que poderiam ocorrer longe da custódia do hospital.

Como dissemos, anteriormente, na crônica O Desmame, postada em 28 de fevereiro de 2013, no blog Fernando Pinheiro, escritor, as lesões cerebrais nem sempre denotam que existem distorções mentais, pois a Psiquiatria trabalha na observação dos sintomas apresentados que são vistos dentro dos parâmetros estudados porque a doença é construída e é expressa conforme as medidas adotadas para enfrentá-la [BASAGLIA, 1979].       

Ora, nesse contexto do famoso psiquiatra italiano, pode ocorrer um instrumento de rotulação suscetível a insucesso terapêutico e o hospital psiquiátrico passa a ser instrumento de destruição daquele que foi rotulado [BASAGLIA, 1979].

Além disso, a medicação aplicada em desacordo com a receita médica e o convívio com outros pacientes podem anular todas as expectativas de recuperação.

Atílio, o paciente, estava inserido no título da novela Amor à Vida, embora escapasse das circunstâncias que pareciam protegê-lo. Na verdade, a proteção que ele sentiu, no momento da fuga, veio das mãos de Márcia, vendedora de lanche, personagem interpretada pela atriz Elizabeth Savalla.      



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