O navio sueco, conduzindo os passageiros
suecos, parou na encosta marítima, apenas um passageiro embarcou, era eu, sem
malas e sem documentos, acolhido pela tripulação que estava no convés no navio.
Fui direto ao porão, onde um grupo de pessoas
sentadas em cadeiras confortáveis, conversavam alegremente, apenas um grupo
estava de pé, perto da porta de saída. Fiquei um pouco à frente para observar
melhor o comportamento saudável desse povo nórdico.
Havia alegria nesses passageiros como a
atestar que havia neles uma frequência de onda onde os desencantos não estão
mais presentes, muito comum nas notícias divulgadas pelo pela mídia acerca do
que se passa no Levante e em suas cercanias onde refugiados se protegem contra
as investidas islâmicas dos egressos que saíram do caminho.
O sorriso das mulheres nórdicas era de uma
alegria contagiante como se já tivesse visto elas, desde antes em outras plagas
do destino que o tempo guarda em seus recônditos sagrados.
Não é à toa que na Suécia não há mais
penitenciária nem presos para recolher, conforme divulgado pela imprensa, onde
a lei é cumprida com respeito sem ter esses recursos e medidas que adiam a
execução da lei ou a faz inútil diante da expectativa popular. Essas notícias
fazem alterar o ânimo das pessoas que esperam o desfecho das situações
aflitivas que prejudicaram milhões de pessoas. É claro que a lei alcançou quem
morou em palácio de governo e empresários que acumularam imensa fortuna às
custas de benefícios de órgãos de governos transitórios.
Não se envolver com polícia, com justiça, com
demandas que nos levam a situações embaraçosas que alteram o nosso viver. Uma
simples briga com qualquer pessoa já nos levaria ao desconforto emocional, ao
contrário do estilo de vida que devemos manter caminhando com leveza.
O navio prosseguiu viagem em alto mar,
cruzando águas do Atlântico em direção da Suécia, o destino programado pela
viagem. Na condição onírica, o tempo e o espaço não são subordinados a etapas
conhecidas no plano físico. Uma viagem pode durar o tempo do sono ou
simplesmente uma fração de segundo, se assim for a opção escolhida.
Se na Suécia não há essa gritante separação
de gente que se vê, como num todo, na consciência planetária em que é acentuada
a competitividade e a separatividade, no navio sueco essa acolhida que tive foi
notada por mim como se fosse um conterrâneo deles ou irmão de jornada terrena.
Com o fechamento de presídios, a Suécia, no
ranking mundial, ocupa o 112º lugar em população carcerária [The Guardian –
11/11/2013].
Na crônica anterior, publiquei um tema
nórdico: O SONHO DE MARIANNE que integra o filme Cenas de um Casamento, do
diretor sueco Ingmar Bergman. Vale salientar um trecho:
Numa entrevista concedida a repórter Palm
(Anita Wall) destinada à matéria sobre casamento feliz levada ao ar pela
televisão sueca, o casal Johan (Erland Josephson) e Marianne (Liv Ullmann), ao
completar 10 anos de casados, tem sucesso em suas carreiras: ela, uma advogada
e ele, um professor universitário. Depois de alguns anos, a revelação de Johan
que estava apaixonado por Paula, mulher mais nova do que a esposa, fez com que
o casamento não fosse mais o mesmo.
Na parte final do filme Cenas de um casamento, dirigido
por Ingmar Bergman, nos idos de 1973, há um reencontro dos amores que tiveram
experiências frustradas fora do relacionamento em que o casal desabafou entre
si para eliminar todas as suposições do que ocorreu longe um do outro.
A essa altura, Johan estava desiludido com a
amante Paula que se mostrava ciumenta e possessiva, sem ter aquele jogo de cintura
que a esposa Marianne sempre demonstrava, cobrindo-lhe com mil atenções e
suspiros de apaixonada.
Quando eles foram dormir, um sono terrível de
Marianne a fez despertar agitada e com pânico. Ela se abraçou ao marido como
criança desprotegida e revelou o pesadelo: caminhando com as filhas, queria
segurá-las com as mãos, mas não tinha mãos, apenas o cotoco, resto do que foi
amputado, que os seus antebraços formavam. As filhas, Eva (Gunnel Lindblom)
Karin (Lena Bergman) seguiam em frente caminhando e se distanciando de
Marianne, isto foi horrível para ela. Que arcano é esse que estava arquivado
dentro das camadas do tempo? [O SONHO DE MARIANNE 28 de janeiro de 2017 – blog
Fernando Pinheiro, escritor].
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