Páginas

domingo, 29 de janeiro de 2017

VIAJANDO EM NAVIO SUECO

O navio sueco, conduzindo os passageiros suecos, parou na encosta marítima, apenas um passageiro embarcou, era eu, sem malas e sem documentos, acolhido pela tripulação que estava no convés no navio.
Fui direto ao porão, onde um grupo de pessoas sentadas em cadeiras confortáveis, conversavam alegremente, apenas um grupo estava de pé, perto da porta de saída. Fiquei um pouco à frente para observar melhor o comportamento saudável desse povo nórdico.
Havia alegria nesses passageiros como a atestar que havia neles uma frequência de onda onde os desencantos não estão mais presentes, muito comum nas notícias divulgadas pelo pela mídia acerca do que se passa no Levante e em suas cercanias onde refugiados se protegem contra as investidas islâmicas dos egressos que saíram do caminho.
O sorriso das mulheres nórdicas era de uma alegria contagiante como se já tivesse visto elas, desde antes em outras plagas do destino que o tempo guarda em seus recônditos sagrados.
Não é à toa que na Suécia não há mais penitenciária nem presos para recolher, conforme divulgado pela imprensa, onde a lei é cumprida com respeito sem ter esses recursos e medidas que adiam a execução da lei ou a faz inútil diante da expectativa popular. Essas notícias fazem alterar o ânimo das pessoas que esperam o desfecho das situações aflitivas que prejudicaram milhões de pessoas. É claro que a lei alcançou quem morou em palácio de governo e empresários que acumularam imensa fortuna às custas de benefícios de órgãos de governos transitórios.
Não se envolver com polícia, com justiça, com demandas que nos levam a situações embaraçosas que alteram o nosso viver. Uma simples briga com qualquer pessoa já nos levaria ao desconforto emocional, ao contrário do estilo de vida que devemos manter caminhando com leveza.
O navio prosseguiu viagem em alto mar, cruzando águas do Atlântico em direção da Suécia, o destino programado pela viagem. Na condição onírica, o tempo e o espaço não são subordinados a etapas conhecidas no plano físico. Uma viagem pode durar o tempo do sono ou simplesmente uma fração de segundo, se assim for a opção escolhida.
Se na Suécia não há essa gritante separação de gente que se vê, como num todo, na consciência planetária em que é acentuada a competitividade e a separatividade, no navio sueco essa acolhida que tive foi notada por mim como se fosse um conterrâneo deles ou irmão de jornada terrena.
Com o fechamento de presídios, a Suécia, no ranking mundial, ocupa o 112º lugar em população carcerária [The Guardian – 11/11/2013].
Na crônica anterior, publiquei um tema nórdico: O SONHO DE MARIANNE que integra o filme Cenas de um Casamento, do diretor sueco Ingmar Bergman. Vale salientar um trecho:
Numa entrevista concedida a repórter Palm (Anita Wall) destinada à matéria sobre casamento feliz levada ao ar pela televisão sueca, o casal Johan (Erland Josephson) e Marianne (Liv Ullmann), ao completar 10 anos de casados, tem sucesso em suas carreiras: ela, uma advogada e ele, um professor universitário. Depois de alguns anos, a revelação de Johan que estava apaixonado por Paula, mulher mais nova do que a esposa, fez com que o casamento não fosse mais o mesmo.
Na parte final do filme Cenas de um casamento, dirigido por Ingmar Bergman, nos idos de 1973, há um reencontro dos amores que tiveram experiências frustradas fora do relacionamento em que o casal desabafou entre si para eliminar todas as suposições do que ocorreu longe um do outro.
A essa altura, Johan estava desiludido com a amante Paula que se mostrava ciumenta e possessiva, sem ter aquele jogo de cintura que a esposa Marianne sempre demonstrava, cobrindo-lhe com mil atenções e suspiros de apaixonada.
Quando eles foram dormir, um sono terrível de Marianne a fez despertar agitada e com pânico. Ela se abraçou ao marido como criança desprotegida e revelou o pesadelo: caminhando com as filhas, queria segurá-las com as mãos, mas não tinha mãos, apenas o cotoco, resto do que foi amputado, que os seus antebraços formavam. As filhas, Eva (Gunnel Lindblom) Karin (Lena Bergman) seguiam em frente caminhando e se distanciando de Marianne, isto foi horrível para ela. Que arcano é esse que estava arquivado dentro das camadas do tempo? [O SONHO DE MARIANNE 28 de janeiro de 2017 – blog Fernando Pinheiro, escritor].

Nenhum comentário:

Postar um comentário