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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

PÉGASO (LXIX)

A parede de vidro surgiu entre nós dois: eu e o meu amor do passado distante. Acostumada a reaparecer onde estou com reivindicação e cobrança, admirou-se com a barreira entre nós e apresentou a justificativa de que eu gosto muito do sexo, como se o sexo fosse a única justificativa para unir um casal.
A mercadoria exposta na prateleira não encontrou quem a levasse, isto acontece também com as pessoas que ficam sozinhas depois de usufruir vantagens que o tempo consome. Não cabe analisar o mérito da questão porque as circunstâncias são outras no tempo em que as oportunidades são perdidas.
Somente o amor pode transladar etapas que se sucedem em variações diversas, sem se consumir ou se desgastar, ao contrário ganhando novas forças nas provas ultrapassadas, se formos olhar o percurso percorrido com sacrifício e perda de outras oportunidades de refazimento no caminhar em companhia de outros amores que poderiam, igualmente, dar sentido em nossa vida.
Não somos vidraceiros para criar parede de vidro, isto aconteceu entre nós pelas mãos invisíveis do destino que fazem unir as almas em direção do paraíso, destino de todos nós, mais cedo ou mais tarde, numa precisão de tempo que ninguém, no plano físico, pode prever. O corpo pode ser avaliado pela idade e a alma se perde na contagem dos tempos, segredo que os sábios sentem que é assim, como nós estamos nos acostumando com o tempo que passa sem a presença da pessoa amada.
Saudade, isto é o apego ao percurso do caminho, desprendimento chave que deslinda os enigmas do caminhar, esperança alimentada apenas da fé que o tempo apresenta como oportunidade a ser usufruída. Há deleites entre os amores que se doam como há harmonia no canto dos pássaros e na música clássica que nos dá enlevos sublimes.
Anteriormente, tivemos outros sonhos, ligados a este sonho, conforme descrevemos, a seguir:
Este enredo de sonho compõe-se de três partes distintas: a primeira é ambientada na praia onde um grupo de mulheres estão tomando banho de sol. De repente, eis-me em pé, observando o mar que empurrava ondas que morriam e ressuscitavam ao influxo da maré numa cantilena imortal que desafiam a inspiração dos poetas.
A jovem mulher, que está se encaminhando à velhice, chegou-se a mim a dar boas-vindas em silêncio. É que o pensamento diz mensagem imediata mais rápida que a palavra falada que é uma consequência desse fluxo do pensar. Os animais se entendem sem que haja necessidade da palavra articulada, embora a palavra esteja revestida do pensamento.  [PÉGASO (LXVII) – 28 de dezembro de 2016 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Era a mesma mulher que, na noite passada, entrou no pequeno chalé, onde moro na Mata Atlântica, e deixou no banheiro um biquíni com desenhos verdes, demonstrando que estava interessada em tomar banho de cachoeira, próximo da residência. [PÉGASO (LXV) – 26 de dezembro de 2016 – blog Fernando Pinheiro, escritor]. 
O ambiente em que estava era o ambiente em que vivo no momento atual cercado de muito verde e pássaros ao redor, só que em dimensão planetária diferente da conhecida e vivenciada por milhões de pessoas.
Nas camadas do tempo, uma fase desabrochou como desabrocham as flores do campo carregando sutilmente o perfume. Era que a realidade feminina veio a mim para que pudesse desfrutá-la como se saboreia uma fruta madura. Apenas um toque, entre as pernas, a despertou para o envolvimento que nos unia.
Nesse enlevo aconchegante, preferi comemorar o sucesso da hora que viria, sem ansiedade, sem buscas, por milhões de segundos que o meu coração acalentava. Saí do ambiente acolhedor, usando apenas um calção e comecei a correr pelos caminhos da mata em direção à cidade.
Era que o meu contato com a natureza tinha uma percepção mais acentuada do que a agitação de pessoas nas ruas, em busca de comprar presentes neste final de ano. A minha corrida era em passos firmes e velozes.
Corri, corri e, quando me dei conta, estava na cidade circulando nas avenidas, viadutos, pontes e veredas que se interligam a lugares afastados do que normalmente costumo transitar.
Pressenti a necessidade de retornar ao ambiente campestre em que saí e busquei um retorno que me indicasse a direção. Avistei uma pequena alameda que era o local próprio do retorno. Preferi ir mais a frente, pensando logo retornar ali e cheguei ao fim da rua, onde pude ver na colina onde estava a parte da cidade que abrigava igrejas e monumentos, área de estudo e observação.
Reconheci o lugar onde antes já tinha estado em excursões anteriores. Lembra-me de outras épocas, de outras circunstâncias em que o tempo guarda em suas memórias. Já não mais precisava rever ambientes que passei, embora sabendo que de lá há amáveis lembranças que não mais precisam ser relembradas porque a vida continua em descobertas sempre alvissareiras.
Retornei ao ponto do retorno e comecei o caminho de volta, correndo em velocidade máxima de automóvel. No campo físico, não tenho essa condição física em correr tão rápido, mas no plano etéreo posso correr, voar e estar em lugares longínquos em fração de segundos ou num piscar de olhos.
Há situações especiais em que preferimos deixar a pessoa amada curtir a impressão comovedora que lhe deixamos para que possa avaliar a profundidade do que sentimos por ela. Nesse caso, ficando a sós, é uma meditação contemplativa em que somente quem sente pode avaliar a grandeza que a cerca.
Nesse campo fértil está preparado a receber um plantio que irá gerar ótima colheita, embora não pensamos em colheita quando estamos no momento de semear. Apenas, para explicar que inevitavelmente acontecerá o que pensamos ser realidade a acontecer.
Se mundo físico tivesse a percepção da realidade que o envolve, tudo seria mais fácil de ser conseguido em todas as áreas, em todos os momentos em que sentimos a vida ser mais amena e acolhedora em nossos sonhos que nascem em nosso ser profundo.
Caminhemos com leveza, embora haja a rapidez dos automóveis em velocidade extrema, como aconteceu comigo em sonhos em que nos sentimos confortáveis em percorrer por caminhos que nos levam à realidade sonhada. {PÉGASO (LXII) – 20 de dezembro de 2016, blog Fernando Pinheiro, escritor].
No segmento do sonho, vi muita roupa suja amontoada que estava sendo levada ao aeroporto para ser lavada dentro do avião em pleno voo. Avistei uma camisa minha de malha que estava usando, no dia anterior, e a retirei da trouxa de roupa.
Assim como surgiu a parede de vidro, no campo astral, refletindo a circunstância que nos envolve, o mesmo material pode nos oferecer uma taça como símbolo de um brinde de vitória, se assim houver a anuência em expor o amor que sentimos um ao outro. É tão simples, basta anular o ego ou transcender a uma etapa onde somente o amor existe.

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