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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

AS DEUSAS

Dirigido pelo cineasta Walter Hugo Khouri, nos idos de 1972, o filme As Deusas  narra a vida do casal Paulo (Mário Benvenutti) e Ângela (Lilian Lemmertz) passando uma breve temporada na mansão de Ana (Kate Hansen), psicanalista de Ângela, situada dentro da floresta onde tem um lago.
A cena mais envolvente é o passeio no lago onde estão as  duas mulheres dentro da canoa remada pela proprietária da mansão, numa tarde  risonha onde os pássaros cantam alegres trinados. Depois surge a nudez mergulhada na água onde está Ana, em movimentos de natação, sentindo-se feliz.
Essa satisfação foi transmitida a Ângela que, motivada, tirou a roupa, mergulhou na água e começou a nadar nesse clima contagiante de beleza. O porte esbelto de nadadora foi notado por Ângela que lhe disse: “você parece uma deusa” e, completou: “estou me sentindo muito feliz como nunca antes”.
A psicanalista demonstrou ser a melhor amiga de Ana, fazendo o papel de mãe, embora esse momento era mais apreciado nos deleites que a natureza propicia, aliás a natureza é mãe de todos. Um bom mergulho, exercícios de natação em águas cristalinas era arrebatador.
A nudez feminina, além de encantos, há o mistério em volta, se o homem não puder decifrá-la termina o relacionamento amoroso, é por isso que já vou avisando, repetindo a canção: “eu que não sei quase nada do mar.” Assim, toda a descoberta é uma conquista, só chego quando estou lá.” [in A NOSSA CANÇÃO – 07 de agosto de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
A palavra Ânima na parede da mansão, leva-nos a crer que a médica psiquiatra é da linha jungiana. Sabemos que o filósofo Carl Gustav Jung, o criador da psicanálise analítica, conhecia o conceito Yin-Yang, fundamental no diagnóstico e tratamento na Medicina Tradicional Chinesa, encontrando assim a correção para estabelecer os arquétipos Animus/Anima.
Quando em sua primeira visita à mansão, a psiquiatra dá à paciente uma pílula para ela tomar. Não foi revelado o nome da medicação, poderia ser qualquer um, menos Addy, autorizado para ser comercializado a partir de outubro de 2015, conforme descrevemos na crônica PÍLULA ADOCICADA – 22 de agosto de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor: 
A pílula foi adocicada desde o momento em que a Administração de Alimentos e Remédios dos Estados Unidos (FDA na sigla em inglês) concedeu, em 18/08/2015, ao Laboratório Sprout Pharmaceuticals a aprovação para que fosse comercializado, a partir de outubro de 2015, o medicamento Addyi, uma flibanserina, o viagra rosa, mediante receita médica a mulheres diagnosticadas com TDSH.
No prontuário médico, TDSH significa transtorno do desejo sexual hipoativo. É questionável a queda da libido feminina até mesmo entre os especialistas do ramo. É tanto que a pílula é destinada a mulheres pré-menopáusicas. No entanto, o critério do uso fica restrito à interpretação médica, em cada caso em que o diagnóstico recaia nessa disfunção sexual.
A apreciação do desejo sexual da mulher varia de pontos-de-vista diferentes em muitas culturas e no decorrer dos tempos, pois, no século passado ou até antes, esse desejo era tido como caso de histeria. Hoje em dia, isto é normal, e o contrário passa a ser patologia.
Vale mencionar o que nos diz Cindy Whitehead, em entrevista ao Wall Street Journal, nos idos de 2014: “é irônico que agora a mulher que não tenha interesse em sexo seja classificada como doente mental e aqueles que discordem considerados sexistas.” – Apud Site MOTHERBORD – Ladybits – O “Viagra Rosa” vem aí para resolver um problema que talvez não exista – Escrito por Emma Paling – 6 July 2015.
As palavras de Cindy Whitehead tem algo nietzschiano: “Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas... Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia” – Friedrich Nietzsche.
“E os que foram vistos dançando foram julgados insanos pelos que não conseguiam ouvir a música” – Friedrich Nietzsche.”
Como se trata de um produto que atinge diretamente o cérebro, vale salientar os textos de nossa crônica ARDIL DIABÓLICO – 20 de setembro de 2014:
O sistema de diagnóstico, na área de psiquiatria, conforme observamos na mídia, é altamente pressionado pela indústria farmacêutica. O consumo de remédios antidepressivos tem aumentado muito, na última década, sem que haja a diminuição do índice de depressão no mundo.
A 5ª e última versão do DSM – Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais está em vigor desde maio de 2013, elevando o número de patologias mentais a 450 categorias diferentes que eram 182, nos idos de 1968, no Manual DSM–2 [Folha de S.Paulo – 14/05/2013].
Com o apoio da mídia, a indústria farmacêutica joga pesado e faz convencer os médicos e a sociedade em geral que os problemas psicológicos são resolvidos com remédios de sua fabricação.
Em alguns casos, sim, são úteis, mas o excesso provoca dependência, inclusive está havendo “mais mortes por abuso de medicamentos do que por consumo de drogas”, segundo o Dr. Allen Frances, Catedrático emérito da Universidade Duke, Carolina do Norte, EE.UU., na entrevista concedida em 27/09/2014, ao Jornal El Pais – Madri, Espanha.
Não somos apologistas nem detratores da pílula Viagra Rosa, mantemo-nos em imparcialidade, apenas vemos nisso uma ampliação de produtos da indústria farmacêutica no mercado consumidor que já tem o Viagra para os homens com disfunção sexual.
No entanto, é bom salientar que uma boa terapia e os exercícios físicos, como uma boa caminhada diária, estimulam as mulheres que sentem baixo o nível da libido a reverter a situação, sem a necessidade de tomar a pílula adocicada. No entanto, se ocorrer a gravidade do problema, o recurso é buscar alternativas de solução.

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