Dirigido pelo cineasta Walter Hugo
Khouri, nos idos de 1972, o filme As Deusas
narra a vida do casal Paulo (Mário Benvenutti) e Ângela (Lilian
Lemmertz) passando uma breve temporada na mansão de Ana (Kate Hansen),
psicanalista de Ângela, situada dentro da floresta onde tem um lago.
A
cena mais envolvente é o passeio no lago onde estão as duas mulheres dentro da canoa remada pela
proprietária da mansão, numa tarde
risonha onde os pássaros cantam alegres trinados. Depois surge a nudez
mergulhada na água onde está Ana, em movimentos de natação, sentindo-se feliz.
Essa
satisfação foi transmitida a Ângela que, motivada, tirou a roupa, mergulhou na
água e começou a nadar nesse clima contagiante de beleza. O porte esbelto de
nadadora foi notado por Ângela que lhe disse: “você parece uma deusa” e,
completou: “estou me sentindo muito feliz como nunca antes”.
A
psicanalista demonstrou ser a melhor amiga de Ana, fazendo o papel de mãe,
embora esse momento era mais apreciado nos deleites que a natureza propicia,
aliás a natureza é mãe de todos. Um bom mergulho, exercícios de natação em
águas cristalinas era arrebatador.
A
nudez feminina, além de encantos, há o mistério em volta, se o homem não puder
decifrá-la termina o relacionamento amoroso, é por isso que já vou avisando,
repetindo a canção: “eu que não sei quase nada do mar.” Assim, toda a
descoberta é uma conquista, só chego quando estou lá.” [in A NOSSA CANÇÃO – 07
de agosto de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
A
palavra Ânima na parede da mansão, leva-nos a crer que a médica psiquiatra é da
linha jungiana. Sabemos que o filósofo Carl Gustav Jung, o criador da
psicanálise analítica, conhecia o conceito Yin-Yang, fundamental no diagnóstico
e tratamento na Medicina Tradicional Chinesa, encontrando assim a correção para
estabelecer os arquétipos Animus/Anima.
Quando
em sua primeira visita à mansão, a psiquiatra dá à paciente uma pílula para ela
tomar. Não foi revelado o nome da medicação, poderia ser qualquer um, menos
Addy, autorizado para ser comercializado a partir de outubro de 2015, conforme
descrevemos na crônica PÍLULA ADOCICADA – 22 de agosto de 2015 – blog Fernando
Pinheiro, escritor:
A
pílula foi adocicada desde o momento em que a Administração de Alimentos e
Remédios dos Estados Unidos (FDA na sigla em inglês) concedeu, em 18/08/2015,
ao Laboratório Sprout Pharmaceuticals a aprovação para que fosse
comercializado, a partir de outubro de 2015, o medicamento Addyi, uma flibanserina,
o viagra rosa, mediante receita médica a mulheres diagnosticadas com TDSH.
No
prontuário médico, TDSH significa transtorno do desejo sexual hipoativo. É
questionável a queda da libido feminina até mesmo entre os especialistas do
ramo. É tanto que a pílula é destinada a mulheres pré-menopáusicas. No entanto,
o critério do uso fica restrito à interpretação médica, em cada caso em que o
diagnóstico recaia nessa disfunção sexual.
A
apreciação do desejo sexual da mulher varia de pontos-de-vista diferentes em muitas
culturas e no decorrer dos tempos, pois, no século passado ou até antes, esse
desejo era tido como caso de histeria. Hoje em dia, isto é normal, e o
contrário passa a ser patologia.
Vale
mencionar o que nos diz Cindy Whitehead, em entrevista ao Wall Street Journal,
nos idos de 2014: “é irônico que agora a mulher que não tenha interesse em sexo
seja classificada como doente mental e aqueles que discordem considerados
sexistas.” – Apud Site MOTHERBORD – Ladybits – O “Viagra Rosa” vem aí para
resolver um problema que talvez não exista – Escrito por Emma Paling – 6 July
2015.
As
palavras de Cindy Whitehead tem algo nietzschiano: “Minha solidão não tem nada
a ver com a presença ou ausência de pessoas... Detesto quem me rouba a solidão,
sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia” – Friedrich Nietzsche.
“E
os que foram vistos dançando foram julgados insanos pelos que não conseguiam
ouvir a música” – Friedrich Nietzsche.”
Como
se trata de um produto que atinge diretamente o cérebro, vale salientar os
textos de nossa crônica ARDIL DIABÓLICO – 20 de setembro de 2014:
O
sistema de diagnóstico, na área de psiquiatria, conforme observamos na mídia, é
altamente pressionado pela indústria farmacêutica. O consumo de remédios
antidepressivos tem aumentado muito, na última década, sem que haja a
diminuição do índice de depressão no mundo.
A
5ª e última versão do DSM – Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais está em vigor desde maio de 2013, elevando o número de patologias
mentais a 450 categorias diferentes que eram 182, nos idos de 1968, no Manual
DSM–2 [Folha de S.Paulo – 14/05/2013].
Com
o apoio da mídia, a indústria farmacêutica joga pesado e faz convencer os médicos
e a sociedade em geral que os problemas psicológicos são resolvidos com
remédios de sua fabricação.
Em
alguns casos, sim, são úteis, mas o excesso provoca dependência, inclusive está
havendo “mais mortes por abuso de medicamentos do que por consumo de drogas”,
segundo o Dr. Allen Frances, Catedrático emérito da Universidade Duke, Carolina
do Norte, EE.UU., na entrevista concedida em 27/09/2014, ao Jornal El Pais –
Madri, Espanha.
Não
somos apologistas nem detratores da pílula Viagra Rosa, mantemo-nos em
imparcialidade, apenas vemos nisso uma ampliação de produtos da indústria
farmacêutica no mercado consumidor que já tem o Viagra para os homens com
disfunção sexual.
No
entanto, é bom salientar que uma boa terapia e os exercícios físicos, como uma
boa caminhada diária, estimulam as mulheres que sentem baixo o nível da libido
a reverter a situação, sem a necessidade de tomar a pílula adocicada. No
entanto, se ocorrer a gravidade do problema, o recurso é buscar alternativas de
solução.
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