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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

DESIGUALDADE (II)

Aos aficionados dos grandes espetáculos musicais, a Broadway é o ponto máximo. Nos últimos 50 anos, Phantom of the Opera, Crazy for you, Show Boat e Carroussel bateram record de público. Essa fluência de gente em direção dos grandes musicais é sustentada por um marketing imbatível, conforme revelado em New York, New York, de Márcio Cotrim, membro (eleito) da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, crônica publicada no Correio Braziliense (edição de 06/11/1994).
Atração noturna de Paris, Moulin Rouge, onde há a tradicional apresentação de showgirls e as dançarinas do cancan. No passado recente, ocorreram vítimas de atentado naquela boate, onde os terroristas disseram que Paris é a capital mundial da prostituição, mas que preferimos lembrar Hemingway: Paris é uma festa. 
O marketing dançarinas foi apresentado, aqui no Brasil, com a exibição de filmes ambientados em lugares onde havia homens trabalhando: Meteoro, filme dirigido por Diego de la Texera, nos idos de 2007, trazendo no elenco: Meirelles (Cláudio Marzo), Aloísio (Lucci Ferreira), Dr. Raffaldi (Pietro Marcio), Madame (Daisy Granados), Turco (Daniel Lugo), Gordo (Leandro Hassum), Eva (Paula Burlamaqui), Nova (Maria Dulce Saldanha), Maria (Danielle Ornelas), entre outros.
O que nos chamou a atenção em Meteoro foi o instante em que o turco estava em frente do caminhão de roupas femininas, ofereceu as dançarinas batom para os lábios, Meirelles se adiantou e lhe disse: “aqui não entra dinheiro”, ele imediatamente tomou delas o batom.
Em Serra Pelada, filme dirigido por Heitor Dhalia, nos idos de 2013, traz o enredo da vida de dois amigos Juliano (Juliano Cazarré) e Joaquim (Júlio Andrade) que deixam a cidade de São Paulo, nos idos de 1980, em busca do ouro de garimpo, ajuntando-se a milhares de “homens formigas” que escavam a terra e carregam sacos cheios de barro e lama. Ainda no elenco: Tereza (Sophie Charlotte), Carvalho (Matheus Nachtergaele), Lindo Rico (Wagner Moura).
O que nos chamou a atenção foi ver o Juliano, na boate próxima ao garimpo, mandar o músico repetir a mesma música, mania de bêbado, e apresentou diante de todos um maço de dinheiro que ganhou com a venda do ouro. A música escolhida: “Eu te amo meu amor”, de Frankito Lopes, um sucesso daquela época.
A desigualdade social em Nova Iorque, a capital mundial das finanças, atingiu 86% nos últimos anos com o aumento de indigentes, numa época em que a cidade apresenta mais empregos e maior crescimento. O antigo metrô de Nova Iorque é o ponto em comum onde se ajunta essa desigualdade no mesmo espaço.
No post de 21 de janeiro de 2015, abordamos o tema Desigualdade, citando o jornal El Pais – Madri, Espanha, edição de 19/01/2015: “todos os dias, o mundo joga no lixo entre ¼ e 1/3 da comida que produz. Enquanto isso, 870 milhões de pessoas acorda e vai dormir sem saber o que e quando vai comer.”
É bom assinalar que 870 milhões de pessoas não fazem nenhum tipo de refeição ou lanche por falta de recursos, pois como dissemos, anteriormente, na crônica NO MEIO DO CAOS – 29/11/2014: de 2 bilhões, do total de 7,3 bilhões de habitantes do planeta Terra, atualmente, ganham trabalhando, cada um, apenas 2 dólares por dia (R$ 4,86 ou £ 1,24).
Segundo Oxfam Internacional, “o patrimônio das 85 pessoas mais ricas do mundo equivale às posses de metade da população mundial” [BBC – Brasil – 20/01/1015].  Esta é a densa consciência planetária que, conforme vimos anunciando, está indo embora.
Certamente que os participantes do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça (janeiro/2015) e da Conferência Mundial sobre o Clima, em Paris, França (dezembro/2015), dirão que a economia de seus países está bem e os programas sociais em plena atividade.
Enquanto isso, 99% da população mundial continua sob o jugo de escravidão imposto por 1% que detém a riqueza e faz-nos lembrar do pensamento do filósofo Immanuel Kant: “você é livre no momento em que não busca fora de si mesmo alguém para resolver os seus problemas”.
Anteriormente, tínhamos dito que para o casal ser feliz é necessário que ambos os parceiros sejam independentes em todos os sentidos e isto repercute em todas as situações da vida.
Em dezembro de 2012, quando o calendário Maia era foco de atenção daqueles que buscavam interpretar o fim de um ciclo planetário, a música A Novidade, de Gilberto Gil, estava e ainda está hoje no auge revelando que a sereia da praia tem o busto de uma deusa Maia e a cauda de baleia.
A novidade, que veio da praia, virou disputa entre o poeta que sonhava mil sonhos com a encantadora beleza de mulher e o esfomeado que queria apenas saciar a fome comendo peixe. Esses sonhos foram despedaçados, caindo os pedaços de mulher e o de peixe para o lado de cada um dos pretendentes.
O canto da sereia revela um canto que ninguém até hoje ouviu no formato de canto que conhecemos, a não ser em imagens sonhadoras que nos tiram de foco a realidade. A própria sereia, quando foi revelado pela mitologia grega, tinha aspectos de monstro submarino, depois foi amenizado na forma de mulher e cauda de peixe. [O CANTO DA SEREIA – blog Fernando Pinheiro, escritor – 11 de janeiro de 2014].
Não ouvimos o canto da sereia e nem o queremos nem para nós e nem para ninguém. É no ser profundo que todos somos que a voz interna se faz ouvir, a única que pode resplandecer o que somos em essência: seres de luz. [O CANTO DA SEREIA – blog Fernando Pinheiro, escritor – 11 de janeiro de 2014].
A novidade revelada nesta música de Gilberto Gil é a realidade vivenciada por bilhões de pessoas no planeta em que se vê a desigualdade em tudo, assim como a sereia que apresenta o lado mulher e o lado peixe, sonhos distintos do poeta e do esfomeado na ênfase produzida pela canção: “oh! mundo tão desigual, tudo é tão desigual, de um lado esse carnaval, de outro lado a fome total”.

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