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domingo, 24 de junho de 2012

LÍRIOS QUE CRESCEM

A ministra Nancy Andrighi, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ao finalizar conferência em recente seminário, em Brasília, citou o poeta Carlos Drummond de Andrade: "os lírios não nascem nas leis". Certamente, nas leis não se encontram o que está ao redor dos lírios.
São tantas as situações de desconforto que passam as pessoas, principalmente nas grandes cidades. Há uma procura interminável pelos bens de consumo em escala maior àquela que lhes dá o conforto emocional.
Como a maioria das festas sociais tendem a cair ao nível da viciação mórbida, onde se vê olhares lânguidos de paixão se entredevorarem como se houvesse uma luta pela sobrevivência. A sensibilidade por aquilo que está acima dos momentos fugazes quase não é notada.
Ainda vitimado pelo desejo de se completar, o homem busca, de qualquer maneira, o momento de não ficar solitário. Como existe a afinidade de tendências exercendo uma força de aproximação entre os seres semelhantes, os encontros acontecem.
Mas, em poucos dias, com a avaliação de valores íntimos, de uma ou de outra parte, há um desgaste no relacionamento que veio com sorrisos aparentemente alegres. Quantos liames de paixão são desfeitos, um longe do outro, após uma noite de dormir, onde o sono fez o papel regenerador!
No entanto, aqueles que persistem perambular nos lugares de consumo do álcool e dos tóxicos, estarão acumulando desencantos, desperdiçando energias, encurtando o tempo que eles têm para viver.
Cada um tem a hora de despertar. O momento de decisão por hábitos sadios só pode ser percebido por aqueles que sentem quando é chegada a hora. Mas podemos contribuir, com nossos pensamentos de amor, para que isto aconteça o quanto antes possível.
Quando o viajante dos caminhos de muitas voltas entende que a reta está em seus planos, um novo alento lhe dá forças a caminhar. Percebe, então, que o desconforto emocional, provocado por essas buscas perdidas, não tem mais nenhum sentido.
Como a crisálida, sente um renascer que lhe descortina paisagens íntimas, antes desconhecidas, agora ao seu alcance, à sua sensibilidade plena. A leveza de seus pensamentos o reconforta como os ventos de verão.
Não pensa mais buscar os encontros que se desmancham nas manhãs como os sonhos ao acordar. Vive simplesmente, esquecido dos planos que não pode executar, sabendo que seu caminho tem espaços próprios, diferentes daqueles que seguem em outra direção.
Convertido pelos argumentos da vida, sente piedade e respeito pelos embaraços humanos. Desaparece a condenação.
A princípio, sente tristeza por tanta desolação mas aos poucos, vai percebendo que não há violação na natureza e o que terá de ser feito, em benefício daqueles que ainda não se encontraram, virá sempre na hora certa.
Tudo caminha em direção do destino. As águas da fonte para os rios, os rios para o mar e o mar se movimentando nas marés e nas chuvas num ritmo de círculos que se alteram.
Há um sentido pleno de grandeza quando se entende a finalidade dos recursos colocados em nossas mãos, como os talentos, a inteligência, a beleza, entre tantos outros que modificam circunstâncias aparentemente irreversíveis.
Quando o homem compreender o seu destino, ele se sentirá feliz, vendo em tudo a manifestação divina, embora haja lodo e lama nos lírios que crescem.

Blog Fernando Pinheiro, escritor    
Site 
www.fernandopinheirobb.com.br

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