Páginas

segunda-feira, 28 de abril de 2014

VESTIDO ESTAMPADO

É inacreditável o término de um namoro porque os namorados estão ainda ligados na atmosfera que os une. Algo fica de recordação, o beijo, o calor da nuca, o olhar que mergulha na indagação e o vestido de presente doado em momentos alegres.
O casal nem sabe porque está havendo a separação, mas algo forte lhe faz tomar a decisão: é o arquétipo da competitividade e separatividade pairando em todo o planeta Terra, essa consciência planetária dissociada que está indo embora (o joio do trigo).
Vestido Estampado, de Ana Carolina, é um samba tipicamente carioca que nos faz lembrar de gafieiras, casas noturnas da Zona Sul: “o amor que eu dei não foi o mesmo que eu vi acabar, o amor só mudou de cor, agora já tá desbotado, corra, lá vem a tristeza atirando pra todos os lados.”
Quando se doa amor é o nosso ser profundo que se manifesta, quando o amor muda de cor é porque a nossa personalidade, constituída exclusivamente do ego, se manifestou mais alto. Aí estão incluídos os planos que o parceiro ou a parceira não compreendeu e não quis acompanhar.
Alguns saem dessa situação numa boa, sem olhar para trás e até esquecendo o que se passou, como se o outro não existisse, nem antes, nem depois. É uma alienação para dribrar a realidade, se ambos estiverem nessa condição, será como um ficar, assim como ficam com outras pessoas num bar, num baile, numa festa, num telefone ou num bate-papo na internet.
Mas aquelas que têm recordações, isto fica mais complicado porque a letra da música mostra às claras: “corra, lá vem a tristeza atirando pra todos os lados.” A palavra atirar tem uma correlação com arma e arma com a guerra, onde ocorreram mais de 34 milhões de soldados que não voltaram aos braços das suas namoradas ou esposas durante a II Guerra Mundial. Isto é apenas a morte provocada, uma espécie de suicídio coletivo permitido pela matrix, e com relação à morte natural quantos foram embora estendendo o manto da viuvez?
A perda, qualquer tipo de perda, é um sintoma que leva à depressão, aí incluída a separação de casais ou de namorados que não correram porque a tristeza os alcançou.
A expressão “agora que eu não posso mais caber em ti” é característica dessa consciência planetária dissociada. Como iriam entender que todos somos um? Tudo está numa só onda, embora haja diferentes frequências de onda, a onda é a mesma, esta é a tese que levou a ciência para um novo paradigma, saindo do paradigma da física newtoniana para a física quântica.
Considerando que a mecânica quântica é inseparável da física quântica, vale mencionar o texto da crônica LAGOA PROFUNDA, publicada em 28 de março de 2014, no blog Fernando Pinheiro, escritor:
O ponto-de-vista À Sombra da Mecânica Quântica, de Ulisses Capozzoli, editor-chefe da Scientific American Brasil – março 2014, é altamente revelador porque mostra jornais, noticiário de telejornais, revistas científicas e de divulgação no “esforço da construção de uma teoria do campo unificado, a teoria do tudo, capaz de descrever todas as interações nos domínios tanto micro como macrocósmico.”
Essa tese derruba a inutilidade do suicídio, a pessoa vai fugir para onde, se tudo é uma onda? A pessoa se separa pensando que está saindo de perto de uma pessoa, isto é apenas fisicamente, mas no espaço tudo está emaranhado. Em sonhos, podemos perceber essa realidade.
A música embalada em cadências marcantes de um sax, acompanhado de um violão, vai nos levando, quase dançando, e sentimos a impressão de que ambos os amores estão dispostos a se tornarem, outra vez, velhos desconhecidos e até se desfazerem do vestido estampado, doando a quem servir, ou então guardando-o para o carnaval como se a alegria dessa festa fosse resolver tudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário