É comovente a
lembrança das cenas infantis sugeridas em um dos trechos de Noites nos Jardins
de Espanha, do compositor espanhol Manuel de Falla, como também as Cirandas, de
Heitor Villa-Lobos, compositor de maior expressão da música das Américas. Minha
Ciranda, de Capiba, merece ser lembrada: “Pra se dançar ciranda, juntamos mão
com mão, fazendo uma roda, cantando essa canção.”
De igual modo,
a contribuição de incomensurável valor do Dr. Dennis Emanuel Friedman
(1924/2014), diretor médico da clínica de estresse no Hospital Devonshire, em
Marylebone (1988-91) e da Clínica Charter, Chelsea (1991-94), psiquiatra
consultor dos Hospitais Florence Nightingale e Cromwell, destacando-se, diante
da mídia, como um perito das complexidades do comportamento humano.
Um dos seus
princípios clínicos conduz ao argumento de que o fator mais importante para uma
criança quando crescer é a sua interação com os pais, principalmente com a mãe,
nos primeiros 12 meses de vida.
Na obra Um
Presente Não Solicitado (An Unsolicited Gift: Why We Do What We Do (2010), o
Dr. Friedman argumenta que muitos problemas são decorrentes do “abuso dos
direitos humanos das crianças” no primeiro ano de suas vidas, pois quando a
mãe, no período de licença de maternidade, ao contratar uma babá está colocando
diante de seu filho a outra [The Telegraph – 10 de dezembro de 2014].
A outra, como
é vista em outra relação de casal, é uma ameaça a esposa. Para a criança a
outra apresentada para cuidar dele não o convence, mas, sem interagir com o
bebê, essa mãe faz a escolha naquela que irá tirar de seus ombros os trabalhos
árduos que alega, entregando-os nas mãos da babá.
Isto acontece
também na relação paciente-cuidadora, na contratação de serviços assistenciais
(home care), onde a relação de parentesco, em muitos casos, é substituída ou
abandonada. Nada substitui a mãe. No Japão já existem mães, irmãos, tios, avós
de aluguel e essa cultura está se espalhando pelo mundo.
No entanto,
toda a ajuda é bem-vinda e lembramo-nos do exemplo do campeão dos manicômios
londrinos, Henry Rapoport Rollin (1911/2014) que ajudou a transformar as
instituições de custódia para os hospitais terapêuticos, através de aulas de
dança, música e teatro ministradas
por músicos e
atores convidados por ele [The Telegraph – 03 de março de 2014].
A criança está
na berlinda desde os sonhos de seus pais, antes mesmo de nascer. A profundidade
do assunto não se limita à esfera física, já existiu antes e continuará a
existir depois. Não há demarcação alguma que prevaleça, pois, como é largamente
difundido, o mapa não é o território.
Um presente
não solicitado diz respeito à babá que o bebê não solicitou porque o colo de
mãe é o primeiro abrigo que encontra e dar a amamentação somente a mãe pode,
mesmo sabendo que as mamadeiras são muito úteis, mas não nos primeiros meses do
bebê. As amas-de-leite no passado tinham uma apreciação melhor mas nunca igual
à mãe.
Tudo isto é
sabido por todos, mas é esquecido nas horas em que se pensa no bem-estar
pessoal sem a participação do bebê. Na Terra a consciência planetária
dissociada, que carreia a separatividade, ainda predomina, mas está indo embora
do planeta, nestes últimos tempos em que vimos a separação do joio e do trigo.
Uma gravidez
indesejada ou mesmo uma simples repulsa da mãe em dar à luz é sentida pela criança,
até mesmo antes de nascer. As implicações são muitas e variáveis de pessoa a
pessoa, pois são as circunstâncias que revelam os fatos.
Os liames
afetivos ou os desafetos têm raízes profundas na alma que não nasce quando o
corpo físico nasce, mas existem muito antes no decorrer de muitas etapas que
nem lembramos que existiram. No entanto, estão arquivadas e vivas em nosso ser
profundo.
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