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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VISÃO MÉDICA (II)

Vale salientar a opinião do Dr. Ernesto Venturini, médico italiano que participou da reforma psiquiátrica que culminou com a Lei Basaglia, de 1978, que aboliu os hospitais psiquiátricos (manicômios) na Itália: “a psiquiatria hoje é um simulacro.”
A medicalização e os conhecimentos de uma psiquiatria vazia foram os temas debatidos no 4º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, organizado pela Abrasme – Associação Brasileira de Saúde Mental, realizado entre 4 e 7 de setembro de 2014, na cidade de Manaus – AM.
Abordando o tema “Anatomia de uma epidemia global: História, ciência e efeitos a longo prazo das drogas psiquiátricas”, o escritor americano Robert Whitaker argumentou que a sociedade consumindo mais  medicamentos antipsicóticos parecer haver o aumento dos problemas psiquiátricos.
Nos idos de 1987, quando o medicamento Prozac entrou no mercado, conforme alega Robert Whitaker, havia 1,2 milhão de pessoas, nos Estados Unidos, recebendo auxílio do governo por incapacidade causada por transtorno mental, em 2014 esses pensionistas aumentaram para 5 milhões. De 2001 a 2007, conclui o escritor, houve um aumento de quatro vezes de pessoas portadores de transtornos mentais na Nova Zelândia, ocorrendo também na Dinamarca e Suécia.
Participante do referido congresso, o médico espanhol Manuel Desviat alegou que “a crise da saúde mental hoje é a crise do conhecimento”, pois ao invés de se unir, o que existe: “as pessoas separadas por cor, religião e patologias”, o que confirma a abordagem, no blog Fernando Pinheiro, escritor, de uma consciência planetária dissociada onde existem a separatividade e competitividade.
É oportuno lembrar que o Dia Mundial da Saúde 2001 teve por tema “Cuidar, sim. Excluir, não”, destinado naturalmente a comunidades que possuem portadores de doença mental.
Essa densa consciência planetária está indo embora do planeta nesta fase de transição em que presenciamos a separação do joio e do trigo neste final de ciclo evolutivo no limiar da Era de Aquarius que começamos a viver.
Publicado ao ensejo da realização da 3ª Conferência de Saúde Mental no Brasil, O Relatório sobre a Saúde no Mundo – 2001 – Saúde mental: nova concepção, nova esperança, publicado pela OPAS e OMS, merece ser lido por profissionais da área de saúde e ao público em geral, a fim que possa se formar uma egrégora capaz de diminuir a apropriação da psiquiatria na vida das pessoas.
Ainda sobre o Relatório das Nações Unidas, pertinente ao ano de 2013, há a referência de que os hospitais de custódia destinados a abrigar os prisioneiros em conflito com a lei são espaços de tortura.
Os primeiros questionadores da psiquiatria foram Franco Basaglia e Thomas Szasz, mencionados em nossas crônicas, David Cooper, Ronald Laing, Aaron Esterson, e os médicos brasileiros Nise da Silveira, Jairo Idel Goldberg, Paulo Amarante e Ana Maria Fernandes Pitta.
Vale salientar a transcrição contida em nosso post VISÃO MÉDICA – 19 de dezembro de 2014, in verbis:
Carro na garagem é a metáfora que empregamos para definir uma situação, assim como o médico psiquiatra búlgaro Thomas Stephen Szasz (1920/2012) argumentou que o conceito de "doença mental era pouco mais que uma metáfora sem qualquer referencial patológico” [The Telegraph – 18/9/2012].
Esse referencial patológico naturalmente diz respeito à falta de provas que constate a existência de doença comprovada por análise médica convencional em laboratório ou raio X. Essa metáfora se confunde com a realidade e entra na área dos mitos, como fez Freud empregando símbolos mitológicos, de forma que a loucura tem algo fabricado.
Nos idos de 1961, com o lançamento da obra The Myth Of Mental Illness, de Thomas Szasz, o movimento antipsiquiatria nos Estados Unidos ganhou força. No dizer do médico búlgaro, os tratamentos coercitivos, como confinamento involuntário e o uso de diagnósticos psiquiátricos nos
tribunais ambos são práticas não-científica e antiética [New York Times – 11/09/2012].
Os dons guardados e não utilizados são carros na garagem que, um dia, não mais funcionarão. Muitos distúrbios mentais surgem com a paralisação das atividades em que se desenvolvia um estilo de vida saudável.
O arquétipo condução está ligado ao nosso mundo interior onde estão todas as ferramentas necessárias, inclusive para acionar os dispositivos que farão o carro sair da garagem (símbolo).
Nos sonhos, quando nos deslocamos de um lugar para outro, podemos utilizar um meio de transporte ou nos deslocamos em milésimos de segundos ou instantaneamente sem precisar usar outro qualquer meio, isto porque o pensamento cria a nossa realidade, princípio quântico que vimos falando.
Descoberta científica recente que nos chamou a atenção foi a optogenética, técnica manipuladora da atividade neural mediante a aplicação de raios de luz, testada em insetos e animais roedores, ainda não aplicada em seres humanos. Acendeu-se uma luz no meio do túnel, mas a iluminação é ainda fraca para iluminar os caminhos da cura de alguns distúrbios psíquicos como o estresse e o Alzheimer.
Enquanto essa manipulação da atividade neural ainda não está sendo utilizada no campo humano, que pode ser desvirtuada de seus propósitos pela influência desta densa consciência planetária, em despedida do planeta, opinamos pela intercessão de preces que podem mudar as paisagens íntimas configurando um novo estado clínico onde a saúde está presente.
Numa sociedade manipulada pelos meios de comunicação em que estabelece o medo como figura de dominação e controle, os esforços médicos, na área de saúde mental, aparecem como recurso de libertação.
Nascidas na formação médica, a psiquiatria e a antipsiquiatria têm pontos-de-vista diferentes entre si e podem até se debater em exercício de gladiadores, mas  o tempo dirá quem está com a razão. No final das contas, eles mesmos se mantêm em neutralidade, deixando seus clientes seguir o caminho que escolheram.
Numa sociedade dominada por mitos e crenças, sair da zona de conforto é ainda um desafio, sabendo-se que a indústria farmacêutica, fabricando drogas lícitas, ocupa espaços onde a presença de outras alternativas de processo de cura agem com timidez. Enfim, cada um tem o seu caminho.
Enquanto isso, a fabricação de zumbi pelo entorpecimento dessas drogas continuam em grande escala, envolvendo milhões de pessoas pelo mundo inteiro, algumas conhecidas em nosso círculo de amizades e de solidariedade, pois não somos indiferentes à dor alheia.
As criaturas humanas têm um jeito de se recompor diante dos tumultos sociais que trazem para dentro de si, as terapias são múltiplas e de acordo com as conveniências e momento.
Acendamos a candeia que estava escondida debaixo do alqueire, lembrando-nos da metáfora bíblica, em nossa comparação com o carro parado na garagem, e a luz iluminará o ambiente em que estamos, nem precisamos dizer que tipo de terapia nos agrada escolher. Assim, o carro anda.

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