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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A FONTE DAS MULHERES

Lembrando um pouco As Mil e Uma Noites e a peça teatral grega, Lisístrata, de Aristófones, o filme A Fonte das Mulheres, dirigido pelo romeno Radu Mihaileanu, nos idos de 2011, inicia com um letreiro: “É um conto ou uma verdade? Um conto, é claro – o que há de verdade na Terra?”. O aviso diz ainda que o filme tem como cenário uma pequena vila de um país da região do Magheb e conclui: “Ou em algum outro lugar onde corre uma fonte de água e onde o amor seca...”
Nos idos de 2014, cerca de 170 mil migrantes fizeram a travessia no mar Mediterrâneo, número que pode crescer, durante o ano de 2015, a ½ milhão, segundo a Organização Marítima Internacional (IMO), uma instituição das Nações Unidas, em decorrência da migração crescente de pessoas que saem do Magrebe, região noroeste da África, e de outras localidades africanas, tais como Burkina Faso, Costa do Marfim, Eritreia, Gâmbia, Guiné, Mali, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Somália e Sudão, além das regiões da Síria e do Iraque. [A TRAVESSIA – 20 de maio de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor]. 
A cena se desenvolve, nos tempos atuais, numa pequena aldeia patriarcal, desprovida de água encanada e de eletricidade, onde as mulheres estão sobrecarregadas de serviços dentre os quais se destaca carregar água da fonte situada no topo da colina.
Leila, esposa de Sami, inicia um movimento entre as mulheres, a greve do sexo, a fim de motivar os homens a participar de suas lides domésticas que têm raízes patriarcais. Apoiados por seus líderes, os homens resistem, mas no final tudo acaba bem, depois de muitas observações no texto sagrado lido pelos casais.
Não é a guerra dos sexos, pois os sexos se atraem e se curtem aos extremos, é a guerra do ego que oscila nas polaridades que denotam diferenças brutais, em profunda contrariedade. Os desníveis comportamentais correm nessa oscilação, variando sempre em circunstâncias que surgem no confronto das personalidades, até mesmo os apelos religiosos, onde são admirados por cada um, podem estar incluídos nesta questão. [QUEM SENTIU – 20/12/2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor]
Mas o grande vetor desse confronto é a separatividade que já existe antes mesmo que ambos se conhecessem, pois faz parte da consciência planetária dissociada, que todos absorvem, pelo estilo de vida comum a todos. A egrégora que revela o ladrão assaltando pessoas é a mesma que os namorados sentem ao serem explorados não apenas financeiramente mas emocionalmente falando. [QUEM SENTIU – 20/12/2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor] 
Na versão Brasil, o tema do filme tem similariedade com o que acontece ainda no Nordeste onde as mulheres, desde meninas, vão apanhar água na cacimba ou lavar roupa nos riachos, lá mesmo ou em outras plagas do interior.
O samba de carnaval, Lata d´água, de Luís Antonio e J. Júnior, lançado nos idos de 1952, enfatizando “Lata d´água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria, sobe o morro e não se cansa, pela mão leva a criança, lá vai Maria” é algo brejeiro que nos encanta rever a lavadeira do morro trabalhar, subindo e descendo ladeira abaixo no mesmo afã que tem as mulheres árabes tão bem retratadas em A Fonte das Mulheres. 
O trabalho afugenta qualquer mal-estar que pode vir em forma de doença mental. Abordamos na crônica ARDIL DIABÓLICO – 20/9/2014, blog Fernando Pinheiro, escritor, alguns aspectos do paradigma mundial e ressaltamos que a psiquiatria não tem prestígio no mundo árabe:
O paradigma mundial, adotando a competitividade e a separatividade como marca de sobrevivência é altamente desumano e selvagem para todos, principalmente quando atinge as crianças, a partir de 3 anos, idade em que ingressa no aprendizado escolar, aumentando assim a procura dos pais pela psiquiatria infantil, e logicamente o consumo de drogas lícitas.
Segundo a BBC, em 20/06/2014, o número de refugiados no mundo gira em torno de 51,2 milhões. O Paquistão abriga cerca de 1,6 milhão de refugiados afegãos, a Turquia 1,2 milhão de refugiados sírios, e no Líbano o mesmo número de refugiados sírios.
Milhões de pessoas no Iraque, na Síria e na Turquia, onde há forte domínio da população pelos terroristas do Estado Islâmico, sobrevivendo com mil dificuldades, inclusive no meio de bombardeios dos Estados Unidos, existe uma cultura sem recorrer à psiquiatria.
Não é apenas no mundo árabe que existe essa inconformação pelos hábitos patriarcais em que a mulher é subjugada ao homem, há também essa espécie de greve de mulheres, veladamente manifestada na China, Japão, Indonésia e outros recantos distantes onde a globalização tem forte influência nos costumes.
No mundo inteiro, o gênero homem ou mulher, nas repartições públicas (termo muito usado antigamente), dá preferência ao trabalho masculino, com maior valorização salarial, embora o mesmo serviço seja feito pela mulher. Citando dados do relatório da Sociedade Internacional de Pilotas de Aeronaves, apenas 3% do mercado de voos comerciais são ocupados por mulheres, sendo 97% por homens.
A África não nos surpreende pelo pioneirismo em atividades profissionais. É de lá que surgiu, nos idos de 1967, o primeiro transplante de coração humano, realizado pelo médico Christian Barnard, como também o primeiro voo de um Boeing 737, sob o comando de duas mulheres, Chipo Matimba e Elizabeth Petros, pilotas da Air Zimbabwe, decolando de Harare, Zimbábue, no dia 13/11/2015, com destino a Cataratas de Vitória, na fronteira com a Zâmbia.
Em ordem alfabética, no elenco os principais artistas do filme A Fonte das Mulheres: Amal Atrach (Hasna), Biyouna (Velho Fuzil), Hafsia Biyouna (Loubna / Esmeralda), Hiam Abbass (Fátima), Karim Leklou (Karim), Leila Bekhti (Leila), Mohamed Majd (Hussein), Sabrina Ouajani (Rachida), Saad Tsouli (Mohamed), Saleh Bakri (Sami). A música é de Armand Amar.

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