Lembrando um pouco As Mil e Uma Noites
e a peça teatral grega, Lisístrata, de Aristófones, o filme A Fonte das
Mulheres, dirigido pelo romeno Radu Mihaileanu, nos idos de 2011, inicia com um
letreiro: “É um conto ou uma verdade? Um conto, é claro – o que há de verdade
na Terra?”. O aviso diz ainda que o filme tem como cenário uma pequena vila de
um país da região do Magheb e conclui: “Ou em algum outro lugar onde corre uma
fonte de água e onde o amor seca...”
Nos idos de 2014, cerca de 170 mil migrantes
fizeram a travessia no mar Mediterrâneo, número que pode crescer, durante o ano
de 2015, a ½ milhão, segundo a Organização Marítima Internacional (IMO), uma
instituição das Nações Unidas, em decorrência da migração crescente de pessoas
que saem do Magrebe, região noroeste da África, e de outras localidades
africanas, tais como Burkina Faso, Costa do Marfim, Eritreia, Gâmbia, Guiné,
Mali, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Somália e Sudão, além das regiões da Síria
e do Iraque. [A TRAVESSIA – 20 de maio de 2015 – blog Fernando Pinheiro,
escritor].
A cena se desenvolve, nos tempos
atuais, numa pequena aldeia patriarcal, desprovida de água encanada e de
eletricidade, onde as mulheres estão sobrecarregadas de serviços dentre os
quais se destaca carregar água da fonte situada no topo da colina.
Leila, esposa de Sami, inicia um
movimento entre as mulheres, a greve do sexo, a fim de motivar os homens a
participar de suas lides domésticas que têm raízes patriarcais. Apoiados por
seus líderes, os homens resistem, mas no final tudo acaba bem, depois de muitas
observações no texto sagrado lido pelos casais.
Não é a guerra dos sexos, pois os
sexos se atraem e se curtem aos extremos, é a guerra do ego que oscila nas polaridades
que denotam diferenças brutais, em profunda contrariedade. Os desníveis
comportamentais correm nessa oscilação, variando sempre em circunstâncias que
surgem no confronto das personalidades, até mesmo os apelos religiosos, onde
são admirados por cada um, podem estar incluídos nesta questão. [QUEM SENTIU –
20/12/2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor]
Mas o grande vetor desse confronto é
a separatividade que já existe antes mesmo que ambos se conhecessem, pois faz
parte da consciência planetária dissociada, que todos absorvem, pelo estilo de
vida comum a todos. A egrégora que revela o ladrão assaltando pessoas é a mesma
que os namorados sentem ao serem explorados não apenas financeiramente mas
emocionalmente falando. [QUEM SENTIU – 20/12/2013 – blog Fernando Pinheiro,
escritor]
Na versão Brasil, o tema do filme tem
similariedade com o que acontece ainda no Nordeste onde as mulheres, desde
meninas, vão apanhar água na cacimba ou lavar roupa nos riachos, lá mesmo ou em
outras plagas do interior.
O samba de carnaval, Lata d´água, de
Luís Antonio e J. Júnior, lançado nos idos de 1952, enfatizando “Lata d´água na
cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria, sobe o morro e não se cansa, pela mão leva
a criança, lá vai Maria” é algo brejeiro que nos encanta rever a lavadeira do
morro trabalhar, subindo e descendo ladeira abaixo no mesmo afã que tem as
mulheres árabes tão bem retratadas em A Fonte das Mulheres.
O trabalho afugenta qualquer
mal-estar que pode vir em forma de doença mental. Abordamos na crônica ARDIL DIABÓLICO
– 20/9/2014, blog Fernando Pinheiro, escritor, alguns aspectos do paradigma
mundial e ressaltamos que a psiquiatria não tem prestígio no mundo árabe:
O paradigma mundial, adotando a
competitividade e a separatividade como marca de sobrevivência é altamente
desumano e selvagem para todos, principalmente quando atinge as crianças, a
partir de 3 anos, idade em que ingressa no aprendizado escolar, aumentando
assim a procura dos pais pela psiquiatria infantil, e logicamente o consumo de
drogas lícitas.
Segundo a BBC, em 20/06/2014, o
número de refugiados no mundo gira em torno de 51,2 milhões. O Paquistão abriga
cerca de 1,6 milhão de refugiados afegãos, a Turquia 1,2 milhão de refugiados
sírios, e no Líbano o mesmo número de refugiados sírios.
Milhões de pessoas no Iraque, na
Síria e na Turquia, onde há forte domínio da população pelos terroristas do
Estado Islâmico, sobrevivendo com mil dificuldades, inclusive no meio de
bombardeios dos Estados Unidos, existe uma cultura sem recorrer à psiquiatria.
Não é apenas no mundo árabe que
existe essa inconformação pelos hábitos patriarcais em que a mulher é subjugada
ao homem, há também essa espécie de greve de mulheres, veladamente manifestada
na China, Japão, Indonésia e outros recantos distantes onde a globalização tem
forte influência nos costumes.
No mundo inteiro, o gênero homem ou
mulher, nas repartições públicas (termo muito usado antigamente), dá
preferência ao trabalho masculino, com maior valorização salarial, embora o
mesmo serviço seja feito pela mulher. Citando dados do relatório da Sociedade
Internacional de Pilotas de Aeronaves, apenas 3% do mercado de voos comerciais
são ocupados por mulheres, sendo 97% por homens.
A África não nos surpreende pelo
pioneirismo em atividades profissionais. É de lá que surgiu, nos idos de 1967,
o primeiro transplante de coração humano, realizado pelo médico Christian
Barnard, como também o primeiro voo de um Boeing 737, sob o comando de duas
mulheres, Chipo Matimba e Elizabeth Petros, pilotas da Air Zimbabwe, decolando
de Harare, Zimbábue, no dia 13/11/2015, com destino a Cataratas de Vitória, na
fronteira com a Zâmbia.
Em ordem alfabética, no elenco os
principais artistas do filme A Fonte das Mulheres: Amal Atrach (Hasna), Biyouna
(Velho Fuzil), Hafsia Biyouna (Loubna / Esmeralda), Hiam Abbass (Fátima), Karim
Leklou (Karim), Leila Bekhti (Leila), Mohamed Majd (Hussein), Sabrina Ouajani
(Rachida), Saad Tsouli (Mohamed), Saleh Bakri (Sami). A música é de Armand
Amar.
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