O luar iluminava a cidade silenciosa, ninguém a andar pelas ruas em noite
de luar esplêndido. Quando voltava para dentro da casa, um vulto veio vindo em minha
direção, quando se acercou do portão, encontrou-o fechado e foi embora. Ele não
queria roubar, apenas ter a curiosidade de saber quem morava ali.
Em noites das cidades, em ambos os planos, físico e astral, caminham a
esmo pessoas em busca de novidades ou ficam à espreita de encontrar alguém para
tirar vantagem em algum gesto que denote usurpação. São salteadores que atacam
quando as vítimas aparecem perdidas ou vagando a esmo.
Nos lugares ermos à noite, onde o comércio de dia regurgita de
transeuntes, o perigo é constante quem se defronta com os moradores de rua. Eles
cometem pequenos delitos entre si, furtam pedaços de papelão, um pano em
maltrapilho, qualquer coisa que diminua a indigência extrema em que vivem.
Mas na zona residencial, onde casas confortáveis embelezam as ruas em
formoso casario, o luar esplêndido é apreciado pelos moradores. Mas, a maioria
deles, absorvida com os pensamentos de negócios e afazeres, recolhida em seus
aposentos, nem percebe o luar esplêndido.
Hoje os tempos são outros, diferentes dos daquela época em que as
pessoas, na metade do século 19, ficavam à porta de suas residências, reunidas
com os conhecidos e transeuntes, curtindo as noites de lua cheia com saraus de
canto e de poesia.
Hoje o recolhimento em suas residências é o melhor do que se tem a fazer
longe da confusão que gera sempre desconforto e prejuízo. Mas, em muitas
localidades, onde se vive à procura de diversão e de passatempos, convive-se
com o perigo.
Diminuiu bastante o número de residências onde afluíam convidados para
assistir à declamação de poesia, apresentação ao piano ou violino por artistas
que são amadores com excelente repertório.
As casas de show aumentaram bastante com a apresentação de artistas
pouco conhecidos pelo público, salvo aquelas que são tradicionais e reduto dos
grandes artistas que ganham enorme cachê. Há bares e restaurantes onde se
apresentam cantores que recebem remuneração bem pequena, mal dá para um jantar,
em preços módicos.
As noites de luar esplêndido passam a ser uma noite qualquer em que a
maioria dos habitantes se recolhe para descansar e dormir, acompanhada ou não
de seus entes familiares, pois há forte tendência social para se morar sozinho.
Mesmo morando sozinhas, as pessoas esperam encontrar ou reencontrar o amor
de sua vida, andando a pé, de carro, seguindo viagem de ônibus ou de trem, no
Trem do Amor, na voz da cantora petropolitana Célia Vilela, de saudosa memória
(1939/2005): “o último trem ao longe apitou, traga o meu amor que me abandonou,
u, u, u, o meu amor nunca mais voltou.”
O luar esplêndido que vinha do céu era o mesmo luar esplêndido que se
fazia acontecer dentro de mim, na mesma frequência de onda, em noite que me fez
sonhar em suave deleite.
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