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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

CHANEL & STRAVINSKI

O amor nunca é proibido, mas as convenções sociais o fazem, como aconteceu no filme Coco Chanel & Igor Stravinski, misto de realidade e ficção, dirigido em 2009 por Jan Kounen, tendo como principais artistas Anna Mouglalis (Coco Chanel), Anatole Taubman (Artur Boy Capel), Mads Mikkelsen (Igor Stravinsky), Elena Morozova (Chaterine Stravinsky), Natacha Lindinger (Mísia Sert).
O enredo se desdobra a partir de 1913 quando estreia no Théâtre des Champs Elysées, Paris, o balé A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, apresentado por Ballets Russes, coreografia de Vaslav Nijinsky, música de Igor Stravisky, que se achava presente regendo a orquestra.
Quem fazia parte do Ballets Russes era a bailarina Anna Pavlova que assistiu à apresentação do maxixe, a primeira dança urbana do Brasil, pelos dançarinos Duque (1884/1953) e Gaby, pois o maxixe alcançou sucesso, nos idos de 1909 a 1915, em Paris, Londres e Nova York. Segundo a Revista da Semana – 23 de janeiro de 1915, os movimentos dessa dança inspiraram a bailarina russa em sua coreografia para balé, as chamadas Pavlovianas.
Acostumada a ouvir O Lago dos Cisnes, A Bela Adormeida, O Quebra Nozes, de Tchaikowsky, a plateia não assimulou a música de vanguarda de Stravinsky e, inconformada, gerou uma confusão, sendo chamada a polícia para intervir. O escândalo chamou a atenção da estilista Coco Chanel que se achava presente acompanhada do amante Artur Boy Capel e de sua amiga Mísia Sert.
Corre o tempo... Sete anos mais tarde, sem a presença do amante morto em acidente, e com o sucesso de sua Maison Chanel, a dona da loja é apresentada formalmente ao compositor russo, exilado em Paris e sem dinheiro, lhe oferece a mansão em Garches, a fim de que ele possa compor com tranquilidade. Ele aceita, levando a mulher e os quatro filhos.
Lá nessa mansão art-decô, Stravinsky trabalha no aperfeiçoamento de A Sagração da Primavera, conforme ele mesmo confessou a Chanel: “é preciso se esquecer para escrever música.” Tempos depois, quando é reapresentada teve acolhida da crítica e do público.
Chanel revolucionou a moda, com a retirada do uso de espartilhos, adotando o tecido jersey, como ela própria pediu a Stravinsky tocar na roupa que usava, e apresentando roupas inspiradas em modelos masculinos que poderiam ser usadas pelas mulheres e o lançamento do perfume Chanel nº 5. Um desses modelitos ela ofereceu a Catherine para ser usado pela filha do casal. 
A mulher de Stravinsky agradeceu a Chanel a temporada que passou na vivenda, mas não conseguiu tolerar a situação de  do marido que se encontrava às escondidas com a proprietária, e, assim, se retirou, com os filhos, para o interior da França. Ela já estava com pneumonia, sob os cuidados médicos que tinha, desde quando estava hospedada em Paris.
Os liames sagrados da família são eternos e estamos sempre atentos para participar dos momentos que nos unem, sem perder de vista a nossa participação de caminhar juntos, embora em espaços físicos diferentes. [TAPETE – 23 de fevereiro de 2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Quando esses liames se espalham em direção de outros círculos afetivos, o cuidado ainda se faz presente, deixando cada um seguir o caminho que lhe convém. Se houver receptividade de nosso carinho, a alegria é sempre esfuziante. Não tenhamos apego a nada e a ninguém, vivamos simplesmente sem esperar nada, pois a expectativa pode gerar desconforto emocional. Tudo passa, por que esse tempo que pensamos não irá passar? [TAPETE – 23 de fevereiro de 2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
A atriz francesa Anna Mouglalis foi modelo da Maison Chanel e sentia-se confortável em desempenhar um papel que tinha bastante intimidade e afeição, assim como aconteceu com outras artistas de Hollywood que mencionamos na crônica TOP MODEL – 15 de fevereiro de 2016 – blog Fernando Pinheiro, escritor:
Paris é a capital da moda, do turismo e dos amores em festa. O filme Cover Girl, rodado em 1944, nos Estados Unidos, mostra como era a vida de manequim, atualmente modelo, sem ainda ter o glamour que o mundo veio adotar  com o “top model”, contratos milionários, horários rígidos de trabalho e propaganda internacional muito poderosa.
Nos Estados Unidos, a era do “top model” teve impulso inicial ao sucesso, nos idos de 1946, com a Ford Modeling Agency, à frente Eileen Ford (1922/2014), que começou a se rivalizar com as agências de modelo parisienses. Dois anos mais tarde, ela teve mais de 30 meninas em seus “books” de modelo, trazendo US$ 250 mil em receitas. [The Telegraph – 11/07/2014].
Segundo ainda o jornal britânico, os modelos femininos da Ford Models eram altas, esbeltas, geralmente loiras, de longos pescoços, pernas longas, seios bem formados como Suzy Parker e Jean Patchett que foram sucedidas por Lauren Hutton, Kim Basinger, Elle Macphersn, Brooke Shields e Christy Turlington, entre outras. Esse modelo de modelos mudou muito pouco ao longo das décadas que se sucederam.
O prestígio da Ford foi tão grande que muitas modelos passaram a fazer carreira de sucesso em Hollywood e muitas artistas de cinema passaram a ser modelo da agência, como Suzy Parker, Jane Fonda, Ali MacGraw, Brooke Shields, Candice Bergen, Kim Basinger, Lauren Hutton e Jean Shrimpton. [The Telegraph – 11/07/2014].
Nos idos de 1971, a Elite Model Management, de John Casablancas (1942/2013), cedeu modelos ou teve modelos compartilhados com a Agência Eileen Ford, em Nova York. Mas, a parceria não deu certo, segundo Casablancas porque “ela era uma puritana”, alguns diziam que a agência dela parecia um convento. A primeira supermodelo de Casablancas foi Christie Brinkley, depois vieram Cindy Crawford, Naomi Campbell, Claudia Schiffer, Gisele Bündchen [The Guardian – 24/07/2013].
Numa proposta do diretor de Coco Chanel & Igor Stravinski, a parte final do filme revela uma cena ocorrida nos idos de 1971, ano em que Chanel e Stravinsky morrem, aparecendo dois seres, em outra dimensão, que se tocam em corpos sutis como a eternizar o amor que, na Terra, foi impossível. Aliás, o amor nunca é impossível, apenas a supremacia das convenções é que impera, de maneira transitória. É por isso que vale a pena amar.

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