Páginas

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

CHÃO DE ESTRELAS

Ao anoitecer, vínhamos andando pelo canal das Tachas, na Comunidade do Terreirão, bairro do Recreio dos Bandeirantes, na cidade do Rio de Janeiro e ouvimos o som de um carro estacionado à beira da calçada de um restaurante, onde havia pessoas sentadas ao redor de mesas ao ar livre em animada conversa e no passar das pessoas que iam e vinham. A gravação era da voz do saudoso cantor Jessé, cheia de lirismo, suave e elegante.
CHÃO DE ESTRELAS, escrita pelos compositores Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, foi interpretada por uma plêiade de cantores: Sílvio Caldas, Nelson Gonçalves, Jessé, Francisco José, Maysa, Maria Creuza, Elizeth Cardoso, Trio Irakitan, Os Mutantes.
A letra da valsa-canção se desdobra numa retrospectiva feliz de quem alcançou os louros nesta vida, sempre após a aposentadoria relembrada, com carinho, por seus amigos ou sem eles no ostracismo que lança para fora a ostentação do brilho de outrora.
Em nossa carreira sempre há um palco iluminado, pois a empresa a que servimos está estruturada em bases sólidas que vem de longe, no tempo, e que nos faz lembrar do deputado Lisboa Serra (PL/MA), presidente-fundador do Banco do Brasil, em discurso proferido, em 21/6/1853, na tribuna da Assembleia Legislativa Imperial: “a instituição com que queremos dotar o País há de ser fonte de muitos benefícios.”
É muito importante sabermos distinguir a nossa personalidade que é muito importante para nós e para a empresa que trabalhamos ou deixamos de trabalhar, por aposentadoria, e o que somos realmente dentro de nós que é sempre inalterável e eterno: o nosso ser sublime que transcende tudo isto e resplandece no campo vibracional em que mantemos a nossa vida, vida eterna.
O barracão no Morro do Salgueiro, como diz a canção, tinha o cantar alegre de um viveiro, e pensamos que existem viveiros de luz em outros mundos de beleza onde resplandece o amor que sentimos em nosso coração.
Lembranças felizes despertam saudades, mesmo na ausência da mulher amada que seu foi, pássaro que voou, deixa voar, estamos voando também em outras direções, os ventos, as marés, as luas estão esparzindo energias para quem voa. É momento de festa, regozijemo-nos todos nós, com muita alegria, esfuziante e bela.
A evocação da natureza é o ponto máximo da valsa-canção:
“A porta do barraco era sem trinco, mas a lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão, tu pisavas nos astros distraída, sem saber que a alegria desta vida, é a cabrocha, o luar e o violão.”
No lirismo encontramos a forma de viver e tudo que aprendemos vem da natureza, pois somos natureza, a natureza tem prodígios e temos esses prodígios quando despertamos para a nossa realidade existencial.
Esqueçamos o mote: “eu vivia vestido de dourado”, como diz a valsa-canção, e as andanças pelo mundo “entre as palmas febris dos corações”, àquela altura dentro das fantasias, e vamos encontrar, em companhia das mulheres, o nosso público favorito, o lirismo, a forma de viver, o encantamento que elas nos transmitem.
O Morro do Salgueiro foi lembrado em outra comunidade, a do Terreirão, onde a colônia de moradores nordestinos está presente e lembranças de nossas raízes do Brasil lírico e perfumado vem à tona neste chão de estrelas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário