Ao anoitecer,
vínhamos andando pelo canal das Tachas, na Comunidade do Terreirão, bairro do
Recreio dos Bandeirantes, na cidade do Rio de Janeiro e ouvimos o som de um
carro estacionado à beira da calçada de um restaurante, onde havia pessoas
sentadas ao redor de mesas ao ar livre em animada conversa e no passar das
pessoas que iam e vinham. A gravação era da voz do saudoso cantor Jessé, cheia
de lirismo, suave e elegante.
CHÃO DE
ESTRELAS, escrita pelos compositores Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, foi
interpretada por uma plêiade de cantores: Sílvio Caldas, Nelson Gonçalves,
Jessé, Francisco José, Maysa, Maria Creuza, Elizeth Cardoso, Trio Irakitan, Os
Mutantes.
A letra da
valsa-canção se desdobra numa retrospectiva feliz de quem alcançou os louros
nesta vida, sempre após a aposentadoria relembrada, com carinho, por seus
amigos ou sem eles no ostracismo que lança para fora a ostentação do brilho de
outrora.
Em nossa
carreira sempre há um palco iluminado, pois a empresa a que servimos está
estruturada em bases sólidas que vem de longe, no tempo, e que nos faz lembrar
do deputado Lisboa Serra (PL/MA), presidente-fundador do Banco do Brasil, em
discurso proferido, em 21/6/1853, na tribuna da Assembleia Legislativa
Imperial: “a instituição com que queremos dotar o País há de ser fonte de
muitos benefícios.”
É muito
importante sabermos distinguir a nossa personalidade que é muito importante
para nós e para a empresa que trabalhamos ou deixamos de trabalhar, por
aposentadoria, e o que somos realmente dentro de nós que é sempre inalterável e
eterno: o nosso ser sublime que transcende tudo isto e resplandece no campo
vibracional em que mantemos a nossa vida, vida eterna.
O barracão no
Morro do Salgueiro, como diz a canção, tinha o cantar alegre de um viveiro, e
pensamos que existem viveiros de luz em outros mundos de beleza onde
resplandece o amor que sentimos em nosso coração.
Lembranças
felizes despertam saudades, mesmo na ausência da mulher amada que seu foi,
pássaro que voou, deixa voar, estamos voando também em outras direções, os
ventos, as marés, as luas estão esparzindo energias para quem voa. É momento de
festa, regozijemo-nos todos nós, com muita alegria, esfuziante e bela.
A evocação da
natureza é o ponto máximo da valsa-canção:
“A porta do
barraco era sem trinco, mas a lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas
nosso chão, tu pisavas nos astros distraída, sem saber que a alegria desta
vida, é a cabrocha, o luar e o violão.”
No lirismo
encontramos a forma de viver e tudo que aprendemos vem da natureza, pois somos
natureza, a natureza tem prodígios e temos esses prodígios quando despertamos
para a nossa realidade existencial.
Esqueçamos o
mote: “eu vivia vestido de dourado”, como diz a valsa-canção, e as andanças
pelo mundo “entre as palmas febris dos corações”, àquela altura dentro das
fantasias, e vamos encontrar, em companhia das mulheres, o nosso público
favorito, o lirismo, a forma de viver, o encantamento que elas nos transmitem.
O Morro do
Salgueiro foi lembrado em outra comunidade, a do Terreirão, onde a colônia de
moradores nordestinos está presente e lembranças de nossas raízes do Brasil
lírico e perfumado vem à tona neste chão de estrelas.
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