Com estreia em
26 de julho de 1882, no Festival de Bayreuth, sob a regência de Hermann Levi, a
ópera Parsifal, do compositor alemão Richard Wagner, alcançou pleno sucesso e,
saindo da Alemanha, é apresentada, em forma de concerto, em 24 de dezembro de
1903, no Metropolitan Opera House.
Depois de conquistar os teatros do mundo inteiro,
o drama lírico voltou, mais uma vez, ao Metropolitan para ser apresentado no
dia 7 de abril de 2001, tendo a participação do tenor Plácido Domingo, no
papel-título.
No elenco os personagens: Parsifal, Titurel,
antigo rei do Graal, Amfortas, filho de Titurel, rei do Graal, Guernemaz,
cavaleiro do Graal, Klingsor, o feiticeiro, Kundry, e ainda: cavaleiros do
Graal, moças-flores de Klingor, escudeiros.
O enredo musical revela a lenda do Santo Graal: 2
objetos preciosos, uma lança que feriu mortalmente Jesus e o cálice utilizado
na ceia, guardados no Castelo de Monsalvat, na Espanha, onde vivia uma
comunidade de veneráveis cavaleiros, os senhores da arte real.
Impedido de participar da Ordem do Santo Graal, o
feiticeiro Klingsor arma vingança contra a Ordem, ao montar um jardim
frequentado por encantadoras mulheres que foram enfeitiçadas com o propósito de
seduzir os cavaleiros do Graal. Com a lança divina, Amfortas resolve limpar o
ar pestilencial que contaminou o jardim. Kundry, uma das moças-flores,
conseguiu enganá-lo. Surge o feiticeiro, toma-lhe a arma e desfere-lhe um golpe
mortal.
No primeiro ato, o prelúdio cria a atmosfera
mística do Graal. O cenário é uma clareira na floresta. Amfortas é carregado
numa liteira, acompanhado por diversos companheiros. Com os cabelos anelados
soltos, trajando vestido arregaçado, Kundry aparece trazendo um frasco de
bálsamo. Guernemanz, cavaleiro da Ordem, conhecedor do poder curativo das
plantas, recebe o frasco e o entrega a Amfortas que agradece e vai para o
banho. Guernemanz esclarece o episódio que envolveu o homem ferido e a mulher
sedutora sente-se arrependida.
Uma flecha risca o espaço e alcança um cisne que
cai no lago. Em volta o atirador, um jovem empunhando o arco, é Parsifal. Ele
se aproxima e conta a todos sua vida nas florestas. Gurnemanz canta uma
comovente moliana sobre o erro de matar animais. O rapaz arrependido quebra o
arco e flechas.
Os cavaleiros do Graal se reúnem num salão para o
banquete. Carregado na liteira, chega Amfortas. Em seguida é ouvida com atenção
a preleção de Titurel que finaliza pedindo que se descubra o Graal. Nesse
instante, diante da taça descoberta, Amfortas, numa situação de dor, faz uma
prece em que coloca toda a sua alma e, num momento de enlevo espiritual, uma
luz ilumina o cálice sagrado. Perguntado se compreendera o acontecimento,
Parsifal disse não. Uma voz de contralto entoa a ária Tolo Inocente. Outras
vozes cantam o tema do Graal, sucedidas pelo som de sinos. A cena se encerra
numa beleza mística.
No segundo ato, o cenário desdobra os domínios do
feiticeiro Klingsor, a torre e os jardins. Ecoam cânticos das moças-flores que
atraem o novo visitante, Parsifal. Ele é seduzido por Kundry que o beija
ardilmente, no beijo Parsifal compreende a sua missão e se afasta da armadilha.
Surge Klingsor atirando-lhe a lança. A arma é
agarrada pelas mãos de Parsifal que anuncia o fim dos poderes malévolos do
feiticeiro. Com o sinal da cruz, ele faz
implodir o castelo, os jardins fenecem e se transformam em deserto. Com olhar
demorado, a mulher sedutora vê a retirada de Parsifal.
No terceiro ato, a cena se passa numa região
próxima ao Castelo dos Cavaleiros do Graal. Corre o tempo. Muito mais tarde,
Guernemanz está idoso e, num belo dia, ao despertar de um tranquilo sono, ouve
um som de gemido. Levanta-se, sai caminhando e encontra Kundry. Aparece
Parsifal, trajando uma armadura, tira o capacete, baixa a lança, se ajoelha e
faz uma oração. Depois, levanta-se devagar, espraie o olhar em volta, reconhece
Gurnemanz e o saúda.
Nesse instante, a orquestra apresenta o conhecido
movimento em que se desdobra o Encantamento e Paz da Sexta-Feira Santa e surge
o corpo de Titurel, recém-falecido, erguido num cortejo solene. Amfortas, em
pé, suplica aos Cavaleiros da Ordem a cura de seus ferimentos.
Nesse instante, entra Parsifal e coloca a ponta da
lança sagrada na perna machucada do paciente e ordena-lhe a cura e, em seguida,
ergue o cálice, numa prece. Uma luz se derrama sobre o Graal. Em seguida, num
clima de gratidão, Parsifal é reverenciado por Amfortas e seus confrades,
enquanto a música evoca um trecho místico de fé.
No campo espiritual, a ópera Parsifal, de Richard
Wagner, evocando o Santo Graal, traz uma mensagem de transformação pela fé e
pela oração.
Finalizando nosso comentário a respeito das cenas
líricas de 3 óperas (Navio Fantasma, Tannhäuser e Parsifal), queremos ressaltar
que Wagner viaja pelos continentes e, não obstante a presença de inúmeros
compositores alemães de grande prestígio internacional, a música wagneriana
representa um símbolo da República da
Alemanha.
BIBLIOGRAFIA
WAGNER – A ÓPERA DO FUTURO (Apostila de Curso de
Música), de Victor Giudice (1934/1997), membro da Academia de Letras dos
Funcionários do Banco do Brasil, sob a presidência do escritor Fernando
Pinheiro.
JORNAL DO BRASIL – Caderno B – 20 de junho de 2001
– Matar a sede de Wagner, por Clóvis Marques.
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