A ópera
Tannhäuser, em três atos, do compositor alemão Richard Wagner, teve a sua
estreia no dia 19 de outubro de 1845, na cidade de Dresden, Alemanha, sob a
regência do compositor.
Em cinco récitas nos dias 22, 24, 27, 30 de junho
e 03 de julho de 2001, Tannhäuser esteve, mais uma vez, nos palcos do Theatro
Municipal do Rio de Janeiro, sob a direção cênica de Werner Herzog, cineasta
alemão. Os tenores Wolfgang Neumann e Heikle Siukola fizeram o revezamento no
papel-título. O papel de Elisabetta foi representado pela soprano americana
Cheryl Studer, a diva do Festival de Bayreuth, Alemanha, enquanto o de Vênus
pela brasileira Céline Imbert. Wladimir de Kanel encarnou o personagem Hermann
e os brasileiros Lício Bruno (Wolfram), Fernando Portari (Walter) e Paulo Szot
(Biterolf) [JB, 2001]
A música de Wagner, esplendidamente manifestada em
momentos de sublime enlevo, em que se destacam o revérbero e a pujança de uma
tessitura divinamente bela que marcou na Alemanha um símbolo nacional, foi
apresentada, naquela oportunidade, pela Orquestra Sinfônica e Coro do Theatro
Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência do maestro suíço Karl Martin.
A cena lírica se abre, no século 13, época de
menestréis, e surge uma caverna incrustada dentro da Montanha de Vênus, domínios
da deusa do amor, em que frequentam ninfas, mênades e faunos, personagens
mitológicos. No fundo, são estendidos paineis retratando lendas antigas. Perto
está o Castelo de Wartburg, Saxônia.
No primeiro ato, Tannhäuser, cavaleiro e poeta,
desfruta dos prazeres sensuais oferecidos por Vênus. Esgotado, ele sente
saudades da vida de homem comum. A deusa do Amor, lhe pede cantar as delícias
do prazer. Em sua lira, ele entoa o Hino a Vênus, dando a todos perceber que
estimaria voltar a ser livre, então, pronuncia o nome da Virgem e o mágico
encanto desaparece. O cenário fica escuro, a orquestra emite sons fortes e
violentos.
Na segunda cena, o cenário é comovente: um vale
próximo ao castelo de Warturb. Na montanha, ouvem-se sinos de cabra. O pastor
entoa uma singela canção em louvor de Holda, a deusa germânica da bondade e da
doçura. No final, executa com a flauta alguns sons vibrantes. Ao redor, uma
caravana de peregrinos passa em direção a Roma.
Em frente ao santuário da Virgem, Tannhäuser,
arrependido em sua solidão, faz uma prece. Ele é interrompido pelo toque de
caça que dá início aos sons de fanfarra tocados por trompas. Acompanhado de
muitos cavaleiros, surge Hermann, o príncipe de Turíngia. Tannhäuser é
reconhecido por eles e o conduzem alegremente ao castelo.
Segundo ato – A cena se desenrola no castelo. Com
um prelúdio em andamento dançante, tem início o torneio de canto, a fim de
prestar homenagem a Tannhäuser, o mais importante menestrel do reino e ao mesmo
tempo outorgar um prêmio ao vencedor que será entregue por Elisabetta. O
prelúdio prossegue até chegar a um dos trechos mais conhecidos do repertório
wagneriano: a entrada dos convidados. A jovem Elisabetta fica encantada com a
presença do homenageado, e canta a ária Dich teure Halle ("Mais uma vez,
te saúdo, amado salão"). Ele se dirige a ela e a cumprimenta emocionado.
Os jovens cantores iniciam o torneio de canto
focalizando o amor. Ao se apresentar, Wolfram enaltece o amor puro, sem
aventuras e arroubos. A seleta plateia o aplaude. Anestesiado por um clima
sensual, o cavaleiro e poeta se apresenta solenemente, e mergulha na lembrança
inefável dos prazeres desfrutados junto a Vênus, exaltando o amor carnal.
No terceiro ato, a cena se desenvolve no vale de
Wartburg, onde aparece Elisabetta entoando a célebre ária Oração à Virgem. Ao
se aproximar lentamente, Wolfram a contempla amorosamente e, após a oração, se
oferece para acompanhá-la de volta a casa. Ouve-se o coro dos peregrinos
cantado ao longe e ela se levanta à procura de seu amado e não o encontra.
Volta ao santuário para fazer uma oração, depois se retira.
Quando ela vai embora, Wolfram interpreta a Canção
da Estrela Vespertina, a fim de que os caminhos dela possam ser iluminados.
Invocando a presença de Vênus, Tannhäuser vê
diante de si um cenário diáfano onde a deusa aparece cantando em volúpias
venusianas, atraindo almas em ruínas.
Ele fica enfeitiçado e caminha em direção dela, o
príncipe tenta impedi-lo num esforço de gestos corporais. Nisso, dentro do
reino da espiritualidade, a oração de Elisabetta se expande vitoriosa e
desaparece a magia cheia de fumaça rósea e perfumada.
O tema amor é o ponto máximo da ópera, a começar
do momento do torneio de cantores, no segundo ato, depois prossegue até o final
com a devoção amorosa de Elisabetta por Tannhäuser, que não termina com a
morte, deixando transparecer claramente a imortalidade desse sentimento.
O drama lírico de Wagner, composto em música,
libreto e regência do autor, coloca o amor como presença vitoriosa,
expandindo-se em outras dimensões. A
morte – face oculta da lua – está brilhando dentro do seu encantamento.
BIBLIOGRAFIA
WAGNER – A ÓPERA DO FUTURO (Apostila de Curso de
Música), de Victor Giudice (1934/1997), membro da Academia de Letras dos
Funcionários do Banco do Brasil, sob a presidência do escritor Fernando
Pinheiro.
JORNAL DO BRASIL – Caderno B – 20 de junho de 2001
– Matar a sede de Wagner, por Clóvis Marques.
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