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domingo, 17 de julho de 2016

TANNHÄUSER


A ópera Tannhäuser, em três atos, do compositor alemão Richard Wagner, teve a sua estreia no dia 19 de outubro de 1845, na cidade de Dresden, Alemanha, sob a regência do compositor.

Em cinco récitas nos dias 22, 24, 27, 30 de junho e 03 de julho de 2001, Tannhäuser esteve, mais uma vez, nos palcos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a direção cênica de Werner Herzog, cineasta alemão. Os tenores Wolfgang Neumann e Heikle Siukola fizeram o revezamento no papel-título. O papel de Elisabetta foi representado pela soprano americana Cheryl Studer, a diva do Festival de Bayreuth, Alemanha, enquanto o de Vênus pela brasileira Céline Imbert. Wladimir de Kanel encarnou o personagem Hermann e os brasileiros Lício Bruno (Wolfram), Fernando Portari (Walter) e Paulo Szot (Biterolf) [JB, 2001]

A música de Wagner, esplendidamente manifestada em momentos de sublime enlevo, em que se destacam o revérbero e a pujança de uma tessitura divinamente bela que marcou na Alemanha um símbolo nacional, foi apresentada, naquela oportunidade, pela Orquestra Sinfônica e Coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência do maestro suíço Karl Martin.

A cena lírica se abre, no século 13, época de menestréis, e surge uma caverna incrustada dentro da Montanha de Vênus, domínios da deusa do amor, em que frequentam ninfas, mênades e faunos, personagens mitológicos. No fundo, são estendidos paineis retratando lendas antigas. Perto está o Castelo de Wartburg, Saxônia. 

No primeiro ato, Tannhäuser, cavaleiro e poeta, desfruta dos prazeres sensuais oferecidos por Vênus. Esgotado, ele sente saudades da vida de homem comum. A deusa do Amor, lhe pede cantar as delícias do prazer. Em sua lira, ele entoa o Hino a Vênus, dando a todos perceber que estimaria voltar a ser livre, então, pronuncia o nome da Virgem e o mágico encanto desaparece. O cenário fica escuro, a orquestra emite sons fortes e violentos. 

Na segunda cena, o cenário é comovente: um vale próximo ao castelo de Warturb. Na montanha, ouvem-se sinos de cabra. O pastor entoa uma singela canção em louvor de Holda, a deusa germânica da bondade e da doçura. No final, executa com a flauta alguns sons vibrantes. Ao redor, uma caravana de peregrinos passa em direção a Roma.

Em frente ao santuário da Virgem, Tannhäuser, arrependido em sua solidão, faz uma prece. Ele é interrompido pelo toque de caça que dá início aos sons de fanfarra tocados por trompas. Acompanhado de muitos cavaleiros, surge Hermann, o príncipe de Turíngia. Tannhäuser é reconhecido por eles e o conduzem alegremente ao castelo.

Segundo ato – A cena se desenrola no castelo. Com um prelúdio em andamento dançante, tem início o torneio de canto, a fim de prestar homenagem a Tannhäuser, o mais importante menestrel do reino e ao mesmo tempo outorgar um prêmio ao vencedor que será entregue por Elisabetta. O prelúdio prossegue até chegar a um dos trechos mais conhecidos do repertório wagneriano: a entrada dos convidados. A jovem Elisabetta fica encantada com a presença do homenageado, e canta a ária Dich teure Halle ("Mais uma vez, te saúdo, amado salão"). Ele se dirige a ela e a cumprimenta emocionado.

Os jovens cantores iniciam o torneio de canto focalizando o amor. Ao se apresentar, Wolfram enaltece o amor puro, sem aventuras e arroubos. A seleta plateia o aplaude. Anestesiado por um clima sensual, o cavaleiro e poeta se apresenta solenemente, e mergulha na lembrança inefável dos prazeres desfrutados junto a Vênus, exaltando o amor carnal.

No terceiro ato, a cena se desenvolve no vale de Wartburg, onde aparece Elisabetta entoando a célebre ária Oração à Virgem. Ao se aproximar lentamente, Wolfram a contempla amorosamente e, após a oração, se oferece para acompanhá-la de volta a casa. Ouve-se o coro dos peregrinos cantado ao longe e ela se levanta à procura de seu amado e não o encontra. Volta ao santuário para fazer uma oração, depois se retira.        

Quando ela vai embora, Wolfram interpreta a Canção da Estrela Vespertina, a fim de que os caminhos dela possam ser iluminados.

Invocando a presença de Vênus, Tannhäuser vê diante de si um cenário diáfano onde a deusa aparece cantando em volúpias venusianas, atraindo almas em ruínas.

Ele fica enfeitiçado e caminha em direção dela, o príncipe tenta impedi-lo num esforço de gestos corporais. Nisso, dentro do reino da espiritualidade, a oração de Elisabetta se expande vitoriosa e desaparece a magia cheia de fumaça rósea e perfumada.

O tema amor é o ponto máximo da ópera, a começar do momento do torneio de cantores, no segundo ato, depois prossegue até o final com a devoção amorosa de Elisabetta por Tannhäuser, que não termina com a morte, deixando transparecer claramente a imortalidade desse sentimento. 

O drama lírico de Wagner, composto em música, libreto e regência do autor, coloca o amor como presença vitoriosa, expandindo-se em outras dimensões.  A morte – face oculta da lua – está brilhando dentro do seu encantamento.

BIBLIOGRAFIA

WAGNER – A ÓPERA DO FUTURO (Apostila de Curso de Música), de Victor Giudice (1934/1997), membro da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, sob a presidência do escritor Fernando Pinheiro.

JORNAL DO BRASIL – Caderno B – 20 de junho de 2001 – Matar a sede de Wagner, por Clóvis Marques.
 

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