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sábado, 17 de novembro de 2012

ANGOLA

Tudo começou nos idos de 1975, após a Revolução dos Cravos, em Portugal, quando é rompido o Tratado de Alvor que estabelecia para Angola um governo de transição. Eclode a guerra civil.
Uma diáspora se forma nos portos e aeroportos de Angola onde partem 500 mil retirantes com destino para Portugal, Canadá, Brasil, Austrália. As fronteiras da África do Sul são fechadas, após o apoio do regime do apartheid ao grupo da UNITA – União pela Total Independência de Angola, liderado pelo guerrilheiro Jonas Savimbi.
No clima de guerra, Agostinho Neto, poeta, médico, líder do MPLA – Movimento para Libertação de Angola, é proclamado  presidente da República.
Na década de 70, milhares de soldados cubanos chegam a Angola para apoiar o regime comunista e permanecem por lá até o ano de 1988, no final da Guerra Fria entre os EUA e a antiga União Soviética, quando é assinado um acordo entre Angola,  Cuba e África do Sul para retirada das tropas militares   estrangeiras. 
Corre o tempo. Em 1991 é assinado um acordo de paz entre o governo e a UNITA. No ano seguinte, realiza-se eleição presidencial. O eleito é José Eduardo dos Santos que já estava  no poder deste 1979. A UNITA, liderada por Jonas Savimbi, não  reconhece a vitória das urnas e, sem ter mais o apoio dos EUA,   parte para a força brutal. Recomeça a guerra civil.
Em 1994 é assinado entre a UNITA e a MPLA um novo acordo  de paz. É prevista a desmobilização de tropas e a formação de  um governo de união nacional. A ONU reconhece esse acordo e  envia para Angola 7.000 soldados em missão de paz.
Em 1997 é formado o governo de União nacional. A UNITA,  mais uma vez, descumpre o acordo ao não entregar o controle  de áreas produtivas de minérios. A guerrilha recrudesce, graças ao apoio financeiro do tráfico de diamantes. Com a evasão de riquezas, o PIB de Angola caiu pela metade nos anos   subsequentes (1998 e 1999).
No dia 22 de fevereiro de 2002, é morto Savimbi. No mesmo ano, as tropas em litígio em Angola assinam o acordo de  cessar-fogo.
Angola Livre, editorial do Jornal do Brasil (edição de 26 de fevereiro de 2002) comenta que a catástrofe durou 30 anos provocando a morte de 1 milhão de mortos, 4 milhões de deslocados.
Na mesma edição, traçando uma retrospectiva do passado histórico do país africano, o JB acrescenta que, nos idos de  1975, ano da independência de Angola, o país 
“era o quarto produtor de diamantes do mundo e chegou a  atingir o segundo lugar de produtor de café da África. Mas  no auge da guerra civil morriam mil angolanos por dia. É  a mais antiga guerra do século. Angola ficou esquecida enquanto o mundo se preocupava com outros assuntos, na Bósnia, Namíbia, Camboja, Somália, Kosovo e  recentemente  Afeganistão.”  (8)   
(8) JORNAL DO BRASIL (Editorial - edição de 26 de fevereiro de 2002)
Angola, recém-saída da guerra que durou quase 30 anos, agora é um país pronto a acolher imigrantes que desejam colaborar  com o soerguimento da vida nacional, em todas as áreas: saúde, educação, cultura, agricultura, indústria, comércio, construção civil, turismo, profissão liberal, como advogados, engenheiros, médicos, enfermeiros, mecânicos, etc.  
Imensamente rica em petróleo, ouro e diamantes, Angola  tem  a  riqueza maior: um povo acolhedor que mais tem identificação   com as raízes brasileiras.
A Bahia, o Maranhão e o Rio de Janeiro lideram os estados que mais têm influência da cultura africana, principalmente a de Angola. O consagrado escritor baiano Adonias Filho escreveu o romance Luanda Beira Bahia que evoca os costumes africanos e o romancista maranhense Josué Montello marcou, de forma  inapagável,  a  história da literatura nacional com o romance da escravidão nas páginas retumbantes dos Tambores de São Luís.
O Banco do Brasil possui a tradição de colaborar com o progresso dos países africanos, notadamente o de Angola, em operações conhecidas internacionalmente de bid bond (garantia  para habilitação em oferta) e performance bond (garantia para cumprimento de contrato), prestadas com a finalidade de amparar a prestação de serviços ou exportações de bens. Na Área Internacional do Banco do Brasil, onde trabalhamos durante 19 anos, redigimos muitos processos de operações de câmbio de empresas brasileiras se lançavam a empreendimentos na África.
Na condição de autor da HISTÓRIA DO BANCO DO BRASIL, privilégio único e singular, antecedido apenas por Afonso Arinos e Cláudio Pacheco (falecidos), sentimo-nos à vontade para falar sobre a Empresa no continente africano:
Com o funcionamento dos Escritórios de Representação em Casablanca, Marrocos (1972), Lagos, Nigéria (1976), e da Agência de Abidjan, Costa do Marfim (1980), o Banco do Brasil expande seus negócios na África, na 2ª quinzena de maio de 1982, com a inauguração de cinco escritórios: Libreville, Dacar, Túnis e Cairo [Almanaque do Pessoal – BIP – 1982]:
ABIDJAN – COSTA DO MARFIM Inaug. 1980 – Desativada 1996
Ebenezer Walter  Araújo do Nascimento, gerente 1980
Divancy de Oliveira – 11/3/1957, subgerente 1980/1981
Raul Alves Moreira, gerente–adjunto 1980/1981/1983
Hélio Caetano Frota Leitão, gerente 1981/1983
Luiz Geraldo do Nascimento,  gerente 1985
Paulo Crisóstomo da Silva, gerente–adjunto 1985  
Dilermando  Xavier  de  4/11/1985 a 4/9/1990
Geraldo  Gonçalves  Sacramento 23/05/1986 a 08/04/1990
Luiz  Sidney  de  Figueiredo 07/04/1992 a 15/03/1995
Roberto  da  Silva  Vargas 27/11/1989 a 14/04/1991
LIBREVILLE    GABÃO Inaug. 17/5/1982 – Desativada 1986
Braz Marques Murtinho Braga,  repres. 1981/1983
Nilo de Lucca – 15/8/1956, representante 1985
DACAR – SENEGAL Inaug. 19/5/1982 – Desativada 1986
Pedro Ricardo Carnaval,  representante 1981/1984
Nilo de Lucca – 15/8/1956, assist. repres. 1983
Nelson Ortega Terra,  representante 1985
TÚNIS – TUNÍSIA Inaug. 24/5/1982 – Desativada 1986
Walter Espedito Hott,  representante 1982/1983
CAIRO – EGITO Inaug. 26/6/1982 – Desativada 1987
Rolf  Blatt    1/9/64,  representante 23/06/1981 a  22/02/1987
Em 2004, após oito anos de encerramento das atividades do Banco do Brasil no continente africano, a terra do poeta Agostinho Neto, o fundador da República de Angola, é escolhida  para abrigar as instalações do BB:    
LUANDA    ANGOLA
Inauguração:  2004
Carlos Vitor Cerqueira Fernandes 22/03/2004  a  19/09/2004
Márcio Luiz Jordão C. Cunha 28/02/2005  a  99/99/9999
Acreditamos que, graças a presença de empresas nacionais que  estavam prestando serviços naquele país, com o apoio  operacional do Banco do Brasil, pôde ter o Brasil a honra e a satisfação de ser o primeiro país do mundo a reconhecer, nos idos de 1975, a independência de Angola.
Encerrando nossa singela homenagem a Angola, divulgamos a poesia Quitandeiras, de Adelaide Violante Jardim, que está no  mesmo patamar de beleza humanitária dos versos do poeta Agostinho Neto que abordou o tema no livro Sagrada  Esperança: 
QUITANDEIRAS
Adelaide Violante 
“Filho às costas, pés descalços,
A quinda equilibrada na cabeça,
As ancas a balançar,
Lá íam, todas as manhãs,
Nossas quintadeiras a cantar:
Compra, senhora...
Senhora, compra...”
“Quitandeiras que vêm da beira da praia,
O peixe da quinda, ainda, a saltar,
Sardinha, senhora!
Peixe  espada
Compra, senhora; tudo fresquinho.
Com suas vozes,
Cada manhã, elas chegavam
A cada rua, a cada bairro,
A colher o pão de cada dia,
A colher o pão da família.
Laranja fresca, laranja doce,
Laranja do pomar,
Amarelinha, doce, não precisa adoçar.”  (9)
(9) ADELAIDE VIOLANTE (in Poesias Soltas, Papagaios ao vento – Rio  de  Janeiro  -  RJ)
No poema Quitandeira, Agostinho Neto retrata o dia-a-dia da vendedora ambulante, anunciando, num dia de muito sol, à  sombra da mulemba: “laranja, minha senhora, laranjinha boa!”  e descreve a realidade da vida que brinca o jogo de cabra-cega.
Prisões em Luanda e em Portugal não afastaram Agostinho   Neto de seu ideal de ver livre e unida a sua terra natal, Angola. Pelo contrário, muito lutou e despertou a atenção dos intelectuais europeus,  sendo  que  o  seu  primeiro  livro  foi  publicado no idioma croata na Iugoslávia, país pertencente à  antiga e extinta cortina de ferro ou bloco comunista.
Amado pelo povo de Angola e do mundo inteiro, Agostinho Neto semeou o ideal pela liberdade e a união de um povo. Nos nossos sonhos, ele nos disse: “quem dera se fosse tudo diferente” e o legado de sua poesia:
“Assim
o caminho das estrelas
pela curva ágil do pescoço da gazela
para a harmonia do mundo.” (11)
(11) AGOSTINHO NETO, ANTÓNIO (1922/1979) in Sagrada  Esperança – União dos Escritores Angolanos – 1974.

Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site  www.fernandopinheirobb.com.br
 


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