Tudo começou nos idos
de 1975, após a Revolução dos Cravos, em Portugal, quando é rompido o Tratado
de Alvor que estabelecia para Angola um governo de transição. Eclode a guerra
civil.
Uma diáspora se forma
nos portos e aeroportos de Angola onde partem 500 mil retirantes com destino
para Portugal, Canadá, Brasil, Austrália. As fronteiras da África do Sul são fechadas,
após o apoio do regime do apartheid ao grupo da UNITA – União pela Total Independência de Angola, liderado pelo guerrilheiro Jonas Savimbi.
No clima de guerra,
Agostinho Neto, poeta, médico, líder do MPLA – Movimento para Libertação de
Angola, é proclamado presidente da
República.
Na década de 70,
milhares de soldados cubanos chegam a Angola para apoiar o regime comunista e
permanecem por lá até o ano de 1988, no final da Guerra Fria entre os EUA e a
antiga União Soviética, quando é assinado um acordo entre Angola, Cuba e África do Sul para retirada das
tropas militares
estrangeiras.
Corre o tempo. Em 1991
é assinado um acordo de paz entre o governo e a UNITA. No ano seguinte,
realiza-se eleição presidencial. O eleito é José Eduardo dos Santos que já
estava no poder deste 1979. A
UNITA, liderada por Jonas Savimbi, não
reconhece a vitória das urnas e, sem ter mais o apoio dos EUA, parte para a força brutal.
Recomeça a guerra civil.
Em 1994 é assinado
entre a UNITA e a MPLA um novo acordo
de paz. É prevista a desmobilização de tropas e a formação de um governo de união nacional. A ONU
reconhece esse acordo e envia para
Angola 7.000 soldados em missão de paz.
Em 1997 é formado o
governo de União nacional. A UNITA,
mais uma vez, descumpre o acordo ao não entregar o controle de áreas produtivas de minérios. A
guerrilha recrudesce, graças ao apoio financeiro do tráfico de diamantes. Com a
evasão de riquezas, o PIB de Angola caiu pela metade nos anos subsequentes (1998 e 1999).
No dia 22 de fevereiro
de 2002, é morto Savimbi. No mesmo ano, as tropas em litígio em Angola assinam
o acordo de cessar-fogo.
Angola Livre,
editorial do Jornal do Brasil (edição de 26 de fevereiro de 2002) comenta que a
catástrofe durou 30 anos provocando a morte de 1 milhão de mortos, 4 milhões de
deslocados.
Na mesma edição,
traçando uma retrospectiva do passado histórico do país africano, o JB acrescenta que, nos idos de 1975, ano da independência de Angola, o
país
“era o quarto produtor
de diamantes do mundo e chegou a
atingir o segundo lugar de produtor de café da África. Mas no auge da guerra civil morriam mil
angolanos por dia. É a mais antiga
guerra do século. Angola ficou esquecida enquanto o mundo se preocupava com
outros assuntos, na Bósnia, Namíbia, Camboja, Somália, Kosovo e recentemente Afeganistão.”
(8)
(8) JORNAL DO BRASIL
(Editorial - edição de 26 de fevereiro de 2002)
Angola, recém-saída da
guerra que durou quase 30 anos, agora é um país pronto a acolher imigrantes que
desejam colaborar com o
soerguimento da vida nacional, em todas as áreas: saúde, educação, cultura,
agricultura, indústria, comércio, construção civil, turismo, profissão liberal,
como advogados, engenheiros, médicos, enfermeiros, mecânicos, etc.
Imensamente rica em
petróleo, ouro e diamantes, Angola
tem a riqueza maior: um povo acolhedor que
mais tem identificação com
as raízes brasileiras.
A Bahia, o Maranhão e
o Rio de Janeiro lideram os estados que mais têm influência da cultura africana,
principalmente a de Angola. O consagrado escritor baiano Adonias Filho escreveu
o romance Luanda Beira Bahia que evoca os costumes africanos e o romancista
maranhense Josué Montello marcou, de forma inapagável,
a história da literatura
nacional com o romance da escravidão nas páginas retumbantes dos Tambores de
São Luís.
O Banco do Brasil
possui a tradição de colaborar com o progresso dos países africanos,
notadamente o de Angola, em operações conhecidas internacionalmente de bid bond
(garantia para habilitação em
oferta) e performance bond (garantia para cumprimento de contrato), prestadas
com a finalidade de amparar a prestação de serviços ou exportações de bens. Na
Área Internacional do Banco do Brasil, onde trabalhamos durante 19 anos,
redigimos muitos processos de operações de câmbio de empresas brasileiras se
lançavam a empreendimentos na África.
Na condição de autor
da HISTÓRIA DO BANCO DO BRASIL, privilégio único e singular, antecedido apenas
por Afonso Arinos e Cláudio Pacheco (falecidos), sentimo-nos à vontade para
falar sobre a Empresa no continente africano:
Com o funcionamento
dos Escritórios de Representação em Casablanca, Marrocos (1972), Lagos, Nigéria
(1976), e da Agência de Abidjan, Costa do Marfim (1980), o Banco do Brasil
expande seus negócios na África, na 2ª quinzena de maio de 1982, com a
inauguração de cinco escritórios: Libreville, Dacar, Túnis e Cairo [Almanaque do Pessoal – BIP – 1982]:
ABIDJAN – COSTA DO
MARFIM Inaug. 1980 – Desativada 1996
Ebenezer Walter Araújo do Nascimento, gerente 1980
Divancy de Oliveira –
11/3/1957, subgerente 1980/1981
Raul Alves Moreira,
gerente–adjunto 1980/1981/1983
Hélio Caetano Frota
Leitão, gerente 1981/1983
Luiz Geraldo do
Nascimento, gerente 1985
Paulo Crisóstomo da
Silva, gerente–adjunto 1985
Dilermando Xavier de Sá 4/11/1985 a 4/9/1990
Geraldo Gonçalves Sacramento 23/05/1986 a 08/04/1990
Luiz Sidney de Figueiredo 07/04/1992
a 15/03/1995
Roberto da Silva Vargas 27/11/1989 a 14/04/1991
LIBREVILLE –
GABÃO Inaug. 17/5/1982 – Desativada 1986
Braz Marques Murtinho
Braga, repres. 1981/1983
Nilo de Lucca –
15/8/1956, representante 1985
DACAR – SENEGAL Inaug. 19/5/1982 – Desativada 1986
Pedro Ricardo
Carnaval, representante 1981/1984
Nilo de Lucca –
15/8/1956, assist. repres. 1983
Nelson Ortega
Terra, representante 1985
TÚNIS – TUNÍSIA Inaug.
24/5/1982 – Desativada 1986
Walter Espedito
Hott, representante 1982/1983
CAIRO – EGITO Inaug.
26/6/1982 – Desativada 1987
Rolf Blatt – 1/9/64, representante 23/06/1981 a 22/02/1987
Em 2004, após oito
anos de encerramento das atividades do Banco do Brasil no continente africano,
a terra do poeta Agostinho Neto, o fundador da República de Angola, é
escolhida para abrigar as
instalações do BB:
LUANDA –
ANGOLA
Inauguração: 2004
Carlos Vitor Cerqueira
Fernandes 22/03/2004 a 19/09/2004
Márcio Luiz Jordão C.
Cunha 28/02/2005 a 99/99/9999
Acreditamos que,
graças a presença de empresas nacionais que estavam prestando serviços naquele país, com o apoio operacional do Banco do Brasil, pôde
ter o Brasil a honra e a satisfação de ser o primeiro país do mundo a
reconhecer, nos idos de 1975, a
independência de Angola.
Encerrando nossa
singela homenagem a Angola, divulgamos a poesia Quitandeiras, de Adelaide
Violante Jardim, que está no mesmo
patamar de beleza humanitária dos versos do poeta Agostinho Neto que abordou o
tema no livro Sagrada Esperança:
QUITANDEIRAS
Adelaide
Violante
“Filho às costas, pés
descalços,
A quinda equilibrada
na cabeça,
As ancas a balançar,
Lá íam, todas as
manhãs,
Nossas quintadeiras a
cantar:
Compra, senhora...
Senhora, compra...”
“Quitandeiras que vêm
da beira da praia,
O peixe da quinda,
ainda, a saltar,
Sardinha, senhora!
Peixe espada
Compra, senhora; tudo
fresquinho.
Com suas vozes,
Cada manhã, elas
chegavam
A cada rua, a cada
bairro,
A colher o pão de cada
dia,
A colher o pão da
família.
Laranja fresca,
laranja doce,
Laranja do pomar,
Amarelinha, doce, não
precisa adoçar.” (9)
(9) ADELAIDE VIOLANTE
(in Poesias Soltas, Papagaios ao vento – Rio de Janeiro -
RJ)
No poema Quitandeira,
Agostinho Neto retrata o dia-a-dia da vendedora ambulante, anunciando, num dia
de muito sol, à sombra da mulemba:
“laranja, minha senhora, laranjinha boa!”
e descreve a realidade da vida que brinca o jogo de cabra-cega.
Prisões em Luanda e em
Portugal não afastaram Agostinho
Neto de seu ideal de ver livre e unida a sua terra natal, Angola. Pelo contrário, muito lutou e despertou
a atenção dos intelectuais europeus, sendo que o
seu primeiro livro foi publicado
no idioma croata na Iugoslávia, país pertencente à antiga e extinta cortina de ferro ou bloco comunista.
Amado pelo povo de
Angola e do mundo inteiro, Agostinho Neto semeou o ideal pela liberdade e a união de um
povo. Nos nossos sonhos, ele nos disse: “quem dera se fosse tudo diferente” e o
legado de sua poesia:
“Assim
o caminho das estrelas
pela curva ágil do
pescoço da gazela
para a harmonia do
mundo.” (11)
(11) AGOSTINHO NETO, ANTÓNIO (1922/1979) in
Sagrada Esperança – União dos
Escritores Angolanos – 1974.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site www.fernandopinheirobb.com.br
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