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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SÉRGIO DARCY E A ESTRELA SOLITÁRIA


Presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 a 1939 e 1963) 
Consultor  Jurídico do Banco do Brasil (1962/1966)
Nos idos de 1963, Ney Neves Galvão, presidente do Banco do Brasil nomeou o advogado Sérgio Darcy para o cargo de  Consultor Jurídico, em substituição de João Neves da Fontoura, falecido em março daquele ano. Ainda  em 1963,  Sérgio  Darcy  assumia,  pela  segunda vez, a Presidência do Botafogo de  Futebol  e  Regatas.
A trajetória profissional de Sérgio Darcy começou nos idos de 1925, quando James Darcy, presidente do Banco do Brasil  (2/1/1925 a 16/11/1926),  o nomeou Secretário.
Antes de prestar homenagem ao Consultor Jurídico, fazemos uma retrospectiva da vida de James Darcy, pai de nosso homenageado. Dos 27 aos 31 anos de idade, exerceu  mandato de deputado federal, representando o Rio Grande do  Sul.
Retirando-se da política, manteve banca de advogado. Por longo período, foi Consultor Jurídico da Associação Comercial do Rio de Janeiro. No governo de Epitácio Pessoa, o advogado James Darcy assume as funções de Consultor Geral da  Presidência da República.
Nos idos de 1921, ao ensejo do 4° Centenário de Morte de Dante Alighieri, realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, James Darcy profere palestra sobre a vida e obra do  autor da Divina Comédia, na presença do Corpo Diplomático e do presidente Epitácio Pessoa. 
Herdado do pai o mesmo amor às causas nobres, Sérgio Darcy demonstrou respeito e dignidade à frente da COJUR – Consultoria Jurídica do Banco do Brasil. Anteriormente, assumiu a direção do Departamento do Contencioso. E, contando o tempo de exercício, foram 4 décadas servindo ao Banco do Brasil. O primeiro funcionário de carreira a exercer as funções de Consultor Jurídico.
Com os méritos reconhecidos pelo Banco do Brasil, antes da posse na Consultoria Jurídica, Sérgio Darcy foi homenageado no banquete realizado, em 26/4/1963, no salão  nobre do Clube Comercial. A importância do evento é comentada pela Revista AABB – Rio que fazia a cobertura dos  grandes eventos no Banco do Brasil.   
Na ocasião, fez o uso da palavra o advogado Armando Serzedello Corrêa, e em seguida, Munir Hellayel, em nome do Departamento do Contencioso, traçou o perfil da personalidade de Sérgio Darcy, e concluiu: “dizendo, sobretudo, da justiça que presidiu ao ato de sua investidura em tão relevantes funções”   (65)
(65) Revista  AABB–Rio – edição junho de 1963
A palavra ainda foi franqueada aos oradores: desembargador Eduardo Espínola Filho, Arthur Martins Sampaio, chefe do Departamento do Contencioso, Astolpho Dutra Niccacio, Diretor da Caixa Econômica do Rio de Janeiro. Ao encerramentro do evento, Sérgio Darcy proferiu o discurso de agradecimento, ressaltando ser esta a festa do coração e da inteligência e, com grande emoção a recebia. 
No período de 1962 a 1966, Sérgio Darcy  exerceu o cargo de Consultor Jurídico do Banco do Brasil, sendo substituído pelo não menos ilustre advogado Martins Napoleão, que, sua vez, nos idos de 1977, foi substituído por José Augusto Moreira Guimarães, o advogado que conduziu a transferência da COJUR para Brasília–DF.  
Na seara dos esportes, Sérgio Darcy, quando jovem,  participou de competições de remo no Clube de Regatas Guanabara e chegou a ser campeão, nessa modalidade, no extinto Clube de Regatas Botafogo, hoje sob nova designação: Botafogo de Futebol e Regatas. 
Como presidente do Botafogo Football Club (1937/1939), empreendeu a vitoriosa campanha de 1 saco de cimento e com o dinheiro arrecadado, construiu a arquibancada de cimento que substituiu a de madeira. O engenheiro Rafael Galvão foi o autor do projeto executado pela firma Cavalcanti, Junqueira & Cia. Nessa época (1937/1941), João Havelange foi jogador de polo aquático do Club. Em 1940/1941, João Lyra Filho está à frente dos destinos do Botafogo, sucedendo o presidente Sérgio Darcy.
Ao ser reconduzido à Presidência do Botafogo, Sérgio Darcy, nos idos de 1963, contratou o técnico de futebol Danilo  Alvim. O Jornal do Brasil (edição: 10/4/1963), fez a cobertura da contratação e publicou a foto do técnico, ladeado por Renato Estelita, diretor de futebol, e pelo nosso homenageado. Fazia parte da Comissão Técnica, o Dr. Lídio Toledo que, durante muitos anos, foi médico da seleção brasileira de futebol.
Naquela época, como nos dias de hoje, o Botafogo de Futebol possuía jogadores de nível de seleção brasileira. Vale destacar a presença de craques, consagrados não apenas nos campeonatos cariocas e brasileiros, mas no futebol mundial: Manga (goleiro), Nilton Santos, Amoroso, Gérson, Didi, Amarildo, Zagalo, Quarentinha, Garrincha, e Jairzinho.
Ainda nos idos de 1963, precisamente no dia 21 de abril,  foram abertos, na cidade de São Paulo, os IV Jogos Pan-Americanos, com a presença do governador Adhemar de  Barros. É bom ressaltar a conquista da medalha de ouro pela tenista brasileira Maria Esther Bueno. Nesse Pan-Americano, o  Botafogo emprestou à seleção brasileira os jogadores Hélio Dias de Oliveira (goleiro) e Jair Ventura Filho (ponta-direita), tri-campeão carioca de juvenis. Ambos foram consagrados campeões dos IV Jogos Pan-Americanos. O jornalista Júlio Delamare fez a cobertura dos jogos para o Jornal O Globo.
O Presidente da Confederação Brasileira de Desportos era João Havelange, um dos nomes mais respeitáveis no cenário  esportivo mundial, que iria, mais tarde, presidir a FIFA e  divulgar o futebol, hoje o esporte mais conhecido no mundo,  graças à atuação brilhante do ilustre brasileiro.
Maio de 1963 é o mês de luto para o Brasil. No segundo  dia, o desastre com o avião Convair da Cruzeiro do Sul faz 37 vítimas. Perdendo o avião de carreira, o deputado federal Miguel Bahury (PSP/MA), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Segurança de Voo, na Câmara dos Deputados, não escapa da morte. No Aeroporto de Congonhas, embarca num bimotor e vem a falecer nos destroços do avião que caiu numa rua do bairro Jabaquara, na capital bandeirante.    
O círculo de morte da família Bahury se fecha. A precisão do tempo é estarrecedor. Há 3 anos, na mesma hora de uma  sexta-feira, morria a querida esposa do deputado maranhense.  Na iconografia dos fatos, a Revista O Cruzeiro, edição de 3/5/1963, publica a foto de Bahuri, em pé numa pequena embarcação, defronte da cabeceira da pista do Aeroporto Santos Dumont, em busca desesperada do corpo da mulher amada. 
Ainda em maio de 1963, outro desastre aéreo no Brasil.  No interior do Rio Grande do Sul, um avião Cessna cai e tira   de cena a atuação parlamentar de Fernando Ferrari. Velado em  dois palácios, primeiro no Palácio Piratini, Porto Alegre, e depois no Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro, o deputado gaúcho faz  comover em prantos a nação inteira. Ainda hoje é amado e sempre relembrado com viva emoção. 
Vale continuar destacando a presença de Sérgio Darcy à  frente dos destinos do Botafogo, no meio da turbulência de desastres aéreos, crise econômica, crise social e crise política,  em que o País estava mergulhado.
No dia 15 de junho de 1963, o Botafogo é manchete no   Estado da Guanabara:
“Botafogo vence aqui e em Paris – Tricampeão de  juvenis e campeão do Torneio de Paris.”
O Jornal do Commercio comenta ainda a atuação do time alvinegro, na vitória sobre o Racing (3 x 2), no Parc des Princes,  consagrando-se campeão do Torneio de Paris, “em partida das  mais sensacionais até hoje realizadas naquela cidade”.      
No dia 30 de junho de 1963, sob a presidência do Dr. Sérgio Darcy, o Botafogo fez sua estreia na Taça Libertadores das Américas, derrotando o Alianza, campeão peruano, com o placar de 1 x 0, gol do médio-apoiador Elton, sob a arbitragem  do juiz argentino José Luiz Pradante. O clube alvinegro atuou com a seguinte escalação: Manga, Paulistinha, Nagel, Nilton Santos e Rildo, Elton e Zagalo, Garrincha, Jair, Amarildo e  Oton.
No dia 04 de julho, o Botafogo alcançou outra vitória, em Lima, no Estádio Nacional, ganhando o Sporting Cristal, dirigido pelo técnico Didi, campeão mundial de futebol, pela  contagem de 3 a 1. Antes da partida, Didi queria jogar contra o  Botafogo, e pediu autorização ao chefe da delegação alvinegra, Renato Estelita, que, por sua vez, telefonou ao presidente  Sérgio Darcy a respeito da ideia. A resposta foi negativa. No  entanto, o jogador Didi poderia atuar, se assim desejasse, na partida, como jogador do Botafogo. A realidade é que Didi entrou em campo na condição de técnico do time peruano.
Mais uma vitória alvinegra pela Taça Libertadores da  América derrotando o clube Milionários, em Lima, no dia 07 de  julho de 1963, com o placar de 2 x 0.
Na página esportiva de O Globo, edição de 16/7/1963 –  Amarildo cedido afinal ao Milan – O Dr. Sérgio Darcy, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, em reunião com o  representante do Milan, da Itália, Sr. Rodolfo Rechi e o procurador do jogador Amarildo, Sr. Noel Guimarães, concordou  em ceder o passe do jogador alvinegro para o clube italiano,     mediante o recebimento de 400.000 dólares, por um contrato   de 3 anos.
Na declaração aos jornalistas, Sérgio Darcy revelou que  Botafogo não estava interessado em desfazer-se de nenhum  de  seus jogadores. Mas recebeu carta de Amarildo pedindo ao  clube facilitar a ida dele para o Milan. Diante das circunstâncias, o Botafogo não poderia cobrir o que o jogador  iria receber na Itália.
A manchete do Jornal do Brasil de 1/8/1963 destaca: Amarildo embarca com o pedido de CL para não ensinar o pulo  do gato. O JB comentou que o jogador do Botafogo, ao embarcar, no Aeroporto do Galeão, em companhia de suas irmãs Nicéia e Maria do Carmo, e de Rodolfo Rechi, encontrou-se com o governador Carlos Lacerda que estava aguardando a chegada da escritora francesa Suzanne Labin. e o ouviu a  recomendação de “mostrar todo seu futebol aos italianos, mas não ensinar-lhes o pulo do gato.”  
Amarildo  estava  muito  satisfeito da vida porque, além  do contrato assinado, recebeu do Botafogo 10 mil dólares extras, no almoço de despedida em que foi homenageado pelo clube. Muito emocionado, na homenagem, chorou e fez outros  jogadores presentes chorarem. Neste gesto, o presidente Sérgio Darcy demonstrou, mais uma vez, o valor de ser justo para quem prestou relevantes serviços ao clube (Amarildo, campeão carioca 1961 e 1962). Quanta dignidade num homem só!   
Com bastante dinheiro adquirido pela venda do jogador  Amarildo para o Milan, da Itália, o Botafogo de Futebol e Regatas adquire o passe do jogador Gérson comprado do Flamengo. A transação foi realizada, às 14:00  horas  do  dia  17  de setembro de 1963, dentro da Consultoria Jurídica do Banco  do Brasil, onde o Consultor Jurídico Sérgio Darcy, na qualidade de presidente do Botafogo assinou um cheque nominal no valor de Cr$ 150 milhões entregue a Fadel Fadel, presidente do Flamengo. Foi, sem dúvida, a maior negociação efetuada, até   então, entre clubes brasileiros. 
No contrato assinado, conforme divulgado pela imprensa, foi estabelecido ao jogador Gérson o pagamento de Cr$ 10  milhões de luvas e Cr$ 150 mil mensais por 2 anos.
Nesse mesmo dia (17/9/1963), dois fatos importantes   aconteceram na Guanabara, Estado governado por Carlos Lacerda: a inauguração da primeira das duas pistas do aterro  do Flamengo e a apresentação do cantor americano Ray  Charles, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
A atuação do Botafogo de Futebol e Regatas, que se  desenrolava no meio do Campeonato Carioca do ano de 1963,   foi comentada por Renato Estelita, diretor de Futebol,  justificando “se o time ainda não tem um bom ataque é porque  não foi possível, em curto prazo, preencher os lugares deixados  pelos atacantes que foram, teoricamente, os melhores”. (66) O dirigente botafoguense estava se referindo ao Didi que foi para  o Peru e ao Amarildo para a Itália, e à contusão de Garrincha vinha adiando sempre a sua volta aos gramados.
(66) Jornal  do  Brasil    1/11/1963
Observamos que, meses antes da declaração do Sr. Renato Estelita, realmente o Botafogo tinha o melhor ataque do mundo, com a presença de 3 bicampeões mundiais: Didi, Amarildo e Zagalo e, ainda, a participação de Quarentinha que jogou pela   seleção brasileira.  
Dias depois da declaração do dirigente Renato Estelita, o Botafogo mudou de técnico. Saiu Danilo Alvim, mesmo prestigiado pela Diretoria, mas sem sorte nos últimos  resultados dos jogos, e entrou Paraguaio. 
No dia 5/11/1963, o presidente Sérgio Darcy, sempre elegantemente, trajando terno, apresenta aos jogadores, que   estão de uniforme do clube, no meio do campo, o novo técnico  de futebol. Suas palavras explicam porque o Botafogo trocou de  técnico, permanecendo a mesma disposição para conquista do  tricampeonato e pediu o máximo apoio ao Paraguaio.     
Dias depois, o time teve excelente atuação em campo e a imprensa comenta: Botafogo mostrou pela primeira vez astúcia  e categoria de bicampeão (JB – 9/11/1963). Apesar do sucesso momentâneo, o time não conseguiu conquistar o campeonato carioca de 1963. O campeão foi o Flamengo.
No dia 16/11/1963 houve eleição para a nova Diretoria do Botafogo. Nei Cidade Palmeiro, juiz de Direito e professor do  Colégio D.Pedro II, foi eleito presidente. 
Na solenidade de transmissão de cargo ao novo   presidente do Botafogo, Nei Cidade Palmeiro, realizada no dia 3/1/1964, o nosso homenageado se despedia, com um discurso bastante aplaudido, na presença de inúmeras autoridades ligadas ao mundo dos esportes, destacando-se João Havelange, presidente da CBD – Confederação Brasileira de Desportos, Antônio do Passo, presidente da Federação Carioca  de Futebol,    
Ainda como presidente do Botafogo, Sérgio Darcy, viu  coroados de êxito, para gáudio nosso, no recinto esportivo do  Banco do Brasil, a AABB vencer a Hebraica, em 28/12/1963, conquistando o campeonato carioca de voleibol masculino. Segundo o Jornal do Commercio, Nuzman foi o jogador mais destacado da partida.
Dentre as atuações de Carlos Arthur Nuzman, como atleta da seleção brasileira de vôlei, destaca-se o Campeonato Mundial, realizado em Moscou, URSS, nos idos de 1962). O chefe da delegação brasileira era Adolpho Schermann, nome que muito honra o esporte brasileiro, o Banco do Brasil, a AABB-Rio e a Academia de Letras dos Funcionários do Banco  do Brasil. Dois anos depois, em 1964, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando o voleibol estreou em olimpíadas, Nuzman integrou a equipe brasileira. Carlos Arthur Nuzman é o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.
Retomando ao tema central, Sérgio Darcy, em 26/10/1969,  partiu  para o reino onde a sabedoria deslinda os enigmas do  caminhar. Nesse  mundo de sonhos, aureolado pela luz das  estrelas,  luz que se projeta dos feitos de grandeza que o nosso  homenageado sempre buscou dignificar a vida, se destacam os versos da música de Lamartine Babo:
“Na estrada dos louros,
Um facho de luz
Tua estrela  solitária
Te  conduz.”            

Blog Fernando Pinheiro, escrito

       

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