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sábado, 4 de julho de 2015

SAMBA TRISTE

À noite, dentro do carro parado no sinal de trânsito, vimos a noite paulistana, mergulhada na neblina, estávamos acompanhado de uma linda mulher onde assistimos antes, na sede social do São Paulo Futebol Clube, a uma cerimônia de casamento. Do lado de fora, luzes amortecidas, jovens se aglomeravam com copos de bebida na mão e uma fumaça de cigarro saía pela rua que a garoa dissipava lentamente.
Ao som do clarinete que faz a introdução do Samba Triste, de Paulo Vanzolini, letra de Ana de Hollanda, a música é derramada em suaves cadências na voz delicada da letrista, irmã de Chico Buarque: “samba das almas vencidas, cada boêmio que passa na rua é sapo a sonhar com a lua, toda mulher é mariposa de asas queimadas”.
Almas vencidas porque não tem mais prazo de validade, a ilusão chegou ao fim, mas elas não se apercebem disso. O boêmio vira sapo sonhando com a lua, aliás o sapo também faz o colapso da função de onda e, quando tem a boca amarrada com o endereço astral do remetente, emite, na mesma frequência de onda em que foi atormentado, o tormento que sente, causando estragos físicos e emocionais a quem a ele se ligou.
Mariposas de asas queimadas não são apenas as profissionais do sexo, mas as que se atiram a aventuras desastrosas onde não sabem e nem querem saber o nome do acompanhante e o que ele faz na vida.
O cenário é de desencantos, embora não seja visto desta maneira por quem está dentro dessas aglomerações envolvidas em sombras que encobrem a beleza da juventude. A ilusão tem outra visão, a passageira. Esse cenário se espalha pelas casas noturnas pelo mundo inteiro, inclusive na Lapa carioca, onde as mulheres vão pra lá decotadas.
Na cena da novela Verdades Secretas, da Rede Globo de Televisão, em que o empresário Alex (ator Rodrigo Lombardi) se depara com a filha Giovanna (atriz Agatha Moreira) desfaz toda a ilusão em que a modelo tencionava passar a noite com um desconhecido. Ela desafiou o pai numa discussão. Nesse caso, a educação familiar falhou. É triste. Cenas de prostituição a novela apresenta numa capa de trabalho de modelos. A pílula está adocicada.
Em sentido oposto em que devemos dar peso e referência, há um comentário nosso, em três parágrafos a respeito da lua, a Lua Branca, de Chiquinha Gonzaga, interpretada em nossa visão no blog Fernando Pinheiro, escritor – 30 de julho de 2012, a seguir:
A canção Lua Branca é uma súplica enternecida de quem ama e busca uma proteção ao amor apaixonado que, no íntimo, sente vontade de matar aquela paixão que sente, dentro de si, andando com ele. Esse sentimento provoca prantos e incomoda demais.
A luz da lua é um véu imenso que se espalha em chuvas de prata pelo céu aberto, estendendo um enlevo inebriante que desperta uma satisfação de beleza inefável e está intimamente ligada a um doce estado de espírito que ameniza e dulcifica.
A poetisa a viu e a transmitiu aos ouvintes a lua como a salvadora de angústias de amar apaixonadamente. Sem dúvida, um recurso valioso para sentir, no íntimo, a suavidade da luz que dela se derrama, como também existem outros meios que possibilitam a recomposição de ânimo firme no caminho da vida.
Samba Triste é triste apenas no nome, mas é samba de primeira qualidade que fala da atmosfera noturna da cidade de São Paulo que nunca dorme em seus bares e casas noturnas onde se concentra grande quantidade de artistas, mesmo que cáia a garoa.

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