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segunda-feira, 13 de julho de 2015

FOSTE MINHA UM VERÃO

A música Fuiste mia uno verano, de Leonardo Favio, ganhou uma versão na voz do cantor Francisco Egydio e fala de um verão em que existiu um amor e a letra afirma que ela foi um dia dele. O que aconteceu entre ambos: uma conquista ou apoderação?
Ele estava num bar e ela o viu passar, ele lançou no ar um sorriso endereçado a ela e foi mais ousado quando lhe quis falar, ela respondeu não, na lata. E, como houve antes uma entrega física entre ambos em que carinhos ocorreram, ela  acrescentou: outra vez, talvez, que amanhã talvez.
No recato feminino o talvez significa sim, mas não definiu em que data seria o encontro, isto ocorreu depois de ter passado um mês, dando início ao indício de uma relação tantalizante (veja a crônica A MARCA DE TÂNTALO – 11 de maio de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor).
Nesse aspecto, ele relembra dela nos mínimos detalhes que vão desde os olhos, os lábios e o gosto dos lábios como ele irá esquecer? Ele nem sabe o nome dela. O mito grego Tântalo está presente na relação e se estende ao desejo de ter uma mulher em cada uma que passa na praça, batendo-lhe o coração. Mesmo na opacidade da situação, ele vê mais luz na praça, há outro verão.
Como a repetição serve para firmar e sedimentar um conceito estabelecido, vamos transcrever agora alguns parágrafos de nossa crônica de 11 de maio de 2015:
A marca de Tântalo, personagem da mitologia grega, aparece no semblante de pessoas aprisionadas em relação patológica, a denominada ligação tantalizante, pois, segundo a tradição, Tântalo tinha roubado os manjares dos deuses e, por isso, Zeus o condenou a passar fome e sede pelo resto da vida.
Na versão atual, o Olímpio vem a se constituir, na terra dos mortais, uma espécie de coisa pública (res publica), ou melhor dizendo, república que não pode ser roubada, conforme largamente anunciado pela mídia. Quando há impunidade é porque Zeus não apareceu nem tampouco Têmis. O símbolo da justiça é Têmis, a segunda mulher de Zeus, sinônimo de poder. A mitologia grega traz lições.
O castigo era circunscrito a um lago que tinha as águas influenciáveis pela maré, fazendo subir e descer de volume. Na subida das águas, ele ficava ansioso porque, submerso até o pescoço, não podia matar a sede. Na correnteza das águas, fluíam também deliciosos alimentos que ele não podia tocar. A vida dele se resumia em expectativas e frustrações.
O suplício de Tântalo é o arquétipo de um relacionamento amoroso onde há evidências patológicas: há a sedução, com promessas encantadoras que nunca chegam a se concretizar. Isto faz parte da conquista e da apoderação.
Foste minha um verão, música interpretada por Francisco Egypio (1927/2007), cantor brasileiro com voz de tenor lírico, troféu imprensa de melhor cantor (1961), tem gravação em vídeos no Youtube. Ele tornou-se mais conhecido pelo sucesso “Creio em ti” e pelas gravações do compositor Lupercínio Rodrigues e das músicas de Nat King Cole, também de saudosa memória.
Qual seria a solução para sair de uma relação tantalizante? O melhor seria que houvesse a conquista amorosa de ambas as partes, pois essa conquista envolve entrega total. Apoderação pode conter na conquista, mas a conquista não se caracteriza com apenas apoderação. Aliás, por ser mútuo, não há poder único em nenhuma conquista amorosa.
Como a relação é entre ambos, se houver ruptura de algum dos dois, a solução é aceitar essa ruptura, porque no final a relação sexual é entre os dois e nunca unilateral que pode criar uma situação patológica: ligar-se mentalmente a quem não está ligado.
Para haver a reaproximação é necessária a conquista e não apoderação por meios em que o coração não participa, isto está incluído os aspectos de sobrevivência, quando um deles não está emancipado financeiramente. Como dissemos anteriormente, para uma relação dar certo é necessário que ambos sejam livres em todos os sentidos.

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