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domingo, 6 de dezembro de 2015

DAMAS DO BOSQUE

Filme francês dirigido por Robert Bresson, nos idos de 1945, inspirado na vida de Mme. de la Pommeraye, Les Dames du Bois de Boulogne, escrito por Maths Jesperson, é ambientado em Paris vivendo as restrições impostas pelos alemães. No elenco, Maria Casarés (Hélène), Elina Labourdette (Agnès), Paul Bernard (Jean), Lucienne Bogaert (Madame D.), Jean Marchant (Jacques).
No enredo Hélène é abandonada por Jean e fica acometida de raiva e de tristeza. Buscando um momento para espairecer, ela vai ao um show num cabaré e conhece Agnès, uma dançarina famosa, que começou a vida noturna levada pela pobreza, odiando todos os homens lascivos.
Quem não quer viver a vida sustentada por 5 pilares (simplicidade, humildade, transparência e alegria), menospreza a pobreza e arruma desculpas para viver situações que descamba para os desencantos. Será que num cabaré uma linda dançarina não é assediada? É difícil viver no perigo e não sair desgastada.
Hélène diz a Agnès que vai ajudá-la a sair dessa vida degradante, no conceito da época. Assim, no dia seguinte, a dançarina se muda para Port Royal, passando a residir com a mãe Madame M., num apartamento alugado pela amiga, numa vida anônima. As dívidas da família são pagas pela amiga e olhem que não há almoço grátis.
Começa, então, a ninhada de vingança: Hélène arruma um encontro de Agnès e Jean. Ele, pensando que Agnès é uma menina inocente do interior, se apaixona à primeira vista. Ela não lhe revela que é uma dançarina de cabaré.
No romance de ambos, vivendo no clima de mistério, os engramas do passado não são revelados, faltando dois pilares essenciais: transparência e alegria. Assim, ambos são namorados mas não usufruem do enlevo amoroso. Por falta de comunicação mais próxima, ele escreve-lhe uma carta que ela rasga sem ler. É um estranho romance, mesmo assim o casamento vem a acontecer, permanecendo o mesmo clima em que vivem.
Ele está disposto, a qualquer custo, a estar perto da amada, querendo saber o que se passa no íntimo com ela. Agnès sempre se recusa com evasivas que João não compreende. A situação permanece durante todo o filme e acaba não revelando o romance que tanto ele almeja.
Na apreciação da física quântica, ela fez o colapso da função de onda, buscando a fixação nos engramas do passado que lhe traziam sentimentos de culpa por ter sido uma dançarina de cabaré. Faltou-lhe descolapsar essa função de onda, liberando-lhe da culpa. Mas, ela tinha receio de que ele não lhe perdoaria o passado. Faltou-lhe tentar reverter o quadro para ser a esposa que ele tanto amou.
A ideia fixa, o vício em qualquer modo de viver, é sempre prejudicial, porque a liberação é essencial, isto vale também para aqueles que estão grudados o tempo todo com a internet. Os casais que têm vícios estão correndo o risco de sair da normalidade e entrar em caminhos sem volta.
Toda a angústia que Agnès vivia, sem dúvida, estava nela mesma, vivendo uma vida que ela imaginava ser a melhor, ou seja, a moça do interior que ainda não se maculou com os desencantos da noite, tal como imaginado por João.
Esconder o passado ou mesmo ser diferente do que realmente é, naturalmente, isto irá acarretar sérios problemas tanto para si como para aqueles que mantêm um relacionamento amigável ou amoroso.
Ainda no filme vimos a antiga dançarina de cabaré dançar sozinha, fazendo movimentos de dança com saltos do balé clássico, na casa dela, usando um vestido estampado, em frente da mãe, depois cansada, cai no chão, sentindo dor no coração e diz não poder mais voltar a dançar. Esta foi a cena mais linda que assistimos.

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