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domingo, 27 de dezembro de 2015

PAIXÃO (II)

Um conto de Júlio Cortazar serviu de inspiração ao roteiro do filme Jogo Subterrâneo, escrito por Roberto Gervitz e Jorge Durán, referente à busca pela mulher ideal que Martin, um pianista da noite, vivido pelo ator Felipe Camargo, em várias passagens pelo metrô da cidade de São Paulo.  
As mulheres escolhidas na paquera do pianista são: Tânia (Daniela Escobar), mãe de uma filha autista, Laura (Júlia Lemmertz), uma escritora cega, e ainda Mercedes (Maitê Proença), Victória (Thavyne Ferrari), Sofia (Sabrina Greve) e Ana (Maria Luísa Mendonça).
Em todos as idas ao metrô, ele idealizou que daria certo o namoro se alguma delas seguisse o mesmo caminho dele, o jogo  subterrâneo. Mas, quando conhece Ana, o pianista não obedece mais ao plano de paquera e se deixa envolver em situações que não sabe controlar, pois ela está vivendo experiências com um antigo parceiro que a faz ficar sufocada.
A trilha sonora é de Luiz Henrique Xavier, mas o enredo é  lúgubre, embora tenha momentos em que se ouve músicas conhecidas do público: Alma brasileira do choro nº  5, de Villa-Lobos, Phantasiestücke, op. 12, nº 1, de Schumann. O ator Felipe Camargo faz a dublagem das músicas tocadas ao piano pela pianista Lídia Bazarian.
As músicas brasileiras, que aparecem depois da trilha sonora, melhor define o enredo do filme: “Às vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois, eu fico ali, sonhando acordado, juntando o antes, o agora e o depois... [Sozinho, de Peninha], “sentindo frio em minha alma, te convidei pra dançar, a tua voz me acalmava, são dois pra lá, dois pra cá”. [Dois pra lá, dois pra cá, de João Bosco e Aldir Blanc].
A paixão é a fé cega que não olha ao que está ao redor, apenas o desejo de realizar seus objetivos alimentados no plano mental onde os sentidos têm o seu reino. No plano espiritual a paixão pode encontrar guarida mas não é um porto seguro onde há um clima de tranquilidade e de paz. Esse mesmo plano abriga também um clima mais sutil.
Tudo depende como devemos encarar a situação que elegemos por vontade própria. Navegar em mares bravios é muito diferente de navegar em águas tranquilas onde o clima é sempre bom.
No relacionamento amoroso é necessário ver a transparência e a alegria em tudo que nos cerca. Se não houver esse olhar, tudo virá para nos tirar da tranquilidade em que estávamos antes de haver esses encontros galopantes numa corrida que leva a caminhos perigosos.
O mesmo acontece com quem ascendeu a uma dimensão mais sutil de consciência, se houver crítica e julgamento, volta automaticamente a dimensão em que antes estava. Aliás, dizer que está numa dimensão mais sutil é algo prepotente que denota discriminação e faz separar quem está perto de nós. Por causa disso, ninguém pode conseguir se elevar a uma dimensão mais sutil. Faz-se necessário a simplicidade e a humildade.
A paixão desperta a identificação dos encontros de caminhos espirituais em outro tempo e em outra ocasião, onde sempre há algo a se recompor. O sábio reconhece os caminhos percorridos, nessa ótica os encontros são missões que devem ser compartilhadas por companheiros de jornada evolutiva. O apaixonado apenas vive as emoções sem compreendê-las os sentidos. Aliás, nem é bom compreender, principalmente se houver marcas de desencantos no ar.
Não buscar nem fugir é a melhor postura diante da paixão. Se acontecer, não pode retê-la, pois tudo que é retido precisa ser escoado como os rios que correm para o mar. Se o coração for despertado, melhor ainda, porque vai acontecer a transmutação do improvável para a certeza que deve existir.
É sempre bom ouvir dizer que somos compenetrados e centrados no que fazemos, fora disso seríamos apaixonados por algo que não sabemos e nem podemos conhecer. Sem conhecer perde todo o sentido que devíamos ter. Você já pensou andar no escuro, apenas porque o local lhe traz emoções? No escuro pode ocorrer tropeços e quedas.
A nossa caminhada tem que haver transparência, um dos cinco pilares que compõem o esquema: simplicidade, humildade, transparência, alegria e gratidão. A ideia de incluir a gratidão é de nossa amiga búlgara Nona Orlinova que, em sintonia, nos acompanha os passos. 

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