Destinada para soprano e orquestra de
violoncelos, Ária das Bachianas nº 5, de Heitor Villa-Lobos, é, a nosso ver, o
símbolo maior da música erudita brasileira para o canto, embora o autor tenha
reconhecido na suíte Floresta do Amazonas, que inclui A Canção do Amor e a
Melodia Sentimental, o seu canto de cisne.
A ária,
representando uma cantilena, começa no movimento adágio e ganha amplo voo
vocalizado em “a” e se apoia nos sons dos violoncelos que imprimem compassos em
pizzicatti.
No canto puramente declamado, surgem os versos de Ruth Valadares Correia.
No canto puramente declamado, surgem os versos de Ruth Valadares Correia.
A letra da
música é lírica e romântica, inspirada em tema que representa a natureza. A
chave de ouro é a mesma que inicia o poema.
Quando os
ventos brandos correm aos desertos, levantando camadas de areia, ficamos a
imaginar o som da música que se espalha nas folhas das palmeiras.
Nesses
instantes que nos toca à alma, o clima de ternura e a suavidade total levam-nos
à imaginação dos mundos de beleza que recebem luz do luar. Quantas luas, na
via-láctea, refletindo claridade em tonalidades suaves?
A poesia
revelou a fonte dos sonhos, criando arquétipos que estabeleceram marcos de
conduta, como também foi intérprete da arte reveladora dos caminhos que
conduzem à mesma fonte de onde a vida surge em grau de consciência.
O luar sempre
foi a claridade que envolveu os poetas em noites de inspiração, os namorados
nos enlevos em que a ternura se fazia mais presente e nos templos da
Antiguidade os ofícios religiosos ganhavam um destaque todo especial.
O luar... os
ventos brandos... as palmeiras... o clima de poesia que nos envolve para
despertar a beleza íntima, escondida pelas paisagens que a natureza nos dá em
mãos.
Os ventos
viajam mundos, estabelecem compassos musicais nas ondas do mar, sacodem as
folhas das palmeiras em ritmos que despertam a sensibilidade das próprias
árvores e daqueles que as observam.
As palmeiras
são altaneiras nos climas tropicais e ficam pequenas na aridez dos desertos,
revelando que a natureza escolhe espaços adequados à dimensão de formas que
inspiram lições que passam despercebidas.
Mas os ventos
vão e voltam para levar as folhas secas e sacudir as que permanecem ligadas às
árvores como a demonstrar que outros ventos de interpretações variadas levam
tudo aquilo que não está ligado às suas origens.
O luar sobre
as palmeiras fala mais alto, numa linguagem íntima que coloca na mesma direção
a claridade da luz doce e a suavidade que sentimos ser real.
Villa-Lobos
revelou, numa das mais fascinantes melodias já escritas no Brasil, a impressão
sonora da alma de nossa gente e nos faz lembrar a ária para a corda de sol, da suíte
nº 3, de Bach, de que se inspirou.
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