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sábado, 6 de agosto de 2016

BACHIANAS BRASILEIRAS nº 5 – Ária

Destinada para soprano e orquestra de violoncelos, Ária das Bachianas nº 5, de Heitor Villa-Lobos, é, a nosso ver, o símbolo maior da música erudita brasileira para o canto, embora o autor tenha reconhecido na suíte Floresta do Amazonas, que inclui A Canção do Amor e a Melodia Sentimental, o seu canto de cisne.
A ária, representando uma cantilena, começa no movimento adágio e ganha amplo voo vocalizado em “a” e se apoia nos sons dos violoncelos que imprimem compassos em pizzicatti.
No canto puramente declamado, surgem os versos de Ruth Valadares Correia.
A letra da música é lírica e romântica, inspirada em tema que representa a natureza. A chave de ouro é a mesma que inicia o poema.
Quando os ventos brandos correm aos desertos, levantando camadas de areia, ficamos a imaginar o som da música que se espalha nas folhas das palmeiras.
Nesses instantes que nos toca à alma, o clima de ternura e a suavidade total levam-nos à imaginação dos mundos de beleza que recebem luz do luar. Quantas luas, na via-láctea, refletindo claridade em tonalidades suaves?
A poesia revelou a fonte dos sonhos, criando arquétipos que estabeleceram marcos de conduta, como também foi intérprete da arte reveladora dos caminhos que conduzem à mesma fonte de onde a vida surge em grau de consciência.
O luar sempre foi a claridade que envolveu os poetas em noites de inspiração, os namorados nos enlevos em que a ternura se fazia mais presente e nos templos da Antiguidade os ofícios religiosos ganhavam um destaque todo especial.
O luar... os ventos brandos... as palmeiras... o clima de poesia que nos envolve para despertar a beleza íntima, escondida pelas paisagens que a natureza nos dá em mãos.
Os ventos viajam mundos, estabelecem compassos musicais nas ondas do mar, sacodem as folhas das palmeiras em ritmos que despertam a sensibilidade das próprias árvores e daqueles que as observam. 
As palmeiras são altaneiras nos climas tropicais e ficam pequenas na aridez dos desertos, revelando que a natureza escolhe espaços adequados à dimensão de formas que inspiram lições que passam despercebidas.
Mas os ventos vão e voltam para levar as folhas secas e sacudir as que permanecem ligadas às árvores como a demonstrar que outros ventos de interpretações variadas levam tudo aquilo que não está ligado às suas origens.
O luar sobre as palmeiras fala mais alto, numa linguagem íntima que coloca na mesma direção a claridade da luz doce e a suavidade que sentimos ser real.
Villa-Lobos revelou, numa das mais fascinantes melodias já escritas no Brasil, a impressão sonora da alma de nossa gente e nos faz lembrar a ária para a corda de sol, da suíte nº 3, de Bach, de que se inspirou.

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