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terça-feira, 17 de setembro de 2013

CHÃO DE GIZ

A cena descrita na música Chão de Giz, na voz de Zé Ramalho, é pertinente à solidão e ao cenário em que as relações amorosas se desdobram em dificuldade para romper o ambiente vicioso: “Há tantas violetas velhas sem um colibri. Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de vênus”.
Essa mesma dificuldade, no amplo sentido social, está manifestado em Elysium, filme dirigido por Neill Blomkamp, tendo como principais atores Matt Damon e Jodie Fost e, ainda, Wagner Moura e Alice Braga. O enredo é de ficção projetada em 2159, mas que tem um viés de realidade, nos idos de 2013: a separatividade, característica da consciência planetária dissociada, que está indo embora, essa saída anunciada no final da música.
A procura dos homens mais velhos por mulheres mais novas está aumentando muito em decorrência da lei conhecida no mercado de valores: oferta e procura, aliás é sempre a mulher que conquista e não o homem, pois se não houver aceitação por parte dela, nada se realiza.
A fome no mundo empurrou homens e mulheres a buscar abrigo em circunstâncias favoráveis, pois a comida e a habitação determinam a estabilidade de um casal e até dizem, no dito popular, que saco vazio não se põe em pé.
O sentimento, como expressão da vontade, não é apreciado entre a maioria que visa unicamente desfrutar de bens materiais. O cartão e a senha do banco e, ainda, o dinheiro na mão determinam a escolha do pretendente. O amor e a cabana para quê? Reputam sempre nas descartadas.
A separatividade já nasce naqueles que se unem nesse propósito. Ora, se no campo mental isto existe, para que ter uma união corporal? Mas isto não é levado à consideração, basta o corpo satisfeito e, ainda, pensam: existe outra coisa melhor? Assim, a mulher é vista por partes de seu corpo e nunca pelo todo, aliás o todo para quem pensa assim é somente o corpo e nada mais.
Resultado: na descida pela solidão se espalham coisas sobre um chão de giz e os devaneios tolos torturam em lembranças que mostram fotografias do passado. Quantas vezes? amiúde.
As imagens passadas na internet e na televisão desfilam esses devaneios, em forma do que é considerado o melhor, dentro da luz bruxuleante do mito da caverna que passa a ser real aquilo que observamos nessas imagens. Há outros mitos recrudescendo na vida planetária como vimos comentando.
A carga de vibrações densas é passada nesses meios de comunicação de massas e não a notamos deletéria porque estamos acostumados a viver assim, porque assim fomos bombardeados, por longo tempo e o tempo todo, por notícias que divulgam desencantos na forma mais cruel. A manada está presa no curral. Os donos dessa carga se acham o dono da manada.
A voz do cantador paraibano faz disparar balas de canhão e se acha inútil porque existe um grão-vizir, aquele que é o dono das massas e das maçãs velhas. A voz vai se levantando, querendo usar os mesmos apetrechos da opressão: uma camisa de força e ou de vênus, depois se redime: “mas não vou gozar de nós”.
Isto nos remete a forma como é recebida pelo público as notícias que geram os desencantos. Não devemos dar peso e referência àquilo que nos aprisiona, vindo das teias invisíveis dos meios de comunicação que temos na internet, televisão, vizinhos que repetem as notícias e os pensamentos que nos aprisionam por tudo isto.
Vamos ser colibri e voar em direção de todas as violetas. Há jardins perfumados na amplidão dos espaços infinitos.

Um comentário:

  1. Interessante sua interpretação, mas estava longe da intenção do Zé ao compor a referida música.
    Ela foi escrita baseada num episódio da vida dele, quando era jovem e foi amante de uma mulher mais velha ([...]violetas velhas).

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