A matrix do tempo de Roma antiga não é muito diferente
da dos dias de hoje. O Senado romano outorgou poderes ao jovem general Crassus para
ficar à frente da campanha cruel de conquista e traz de roldão, em corrente de
ferro, um grupo de homens e mulheres prisioneiros, entre os quais Spartacus e Phrygia,
marido e mulher.
Em festa de orgia, as cortesãs dançando fazem
a festa animada. Descendo a tribuna, Crassus vai receber a escrava Phrygia,
oferecendo-lhe vinho que ela recusa. Em seguida, dois gladiadores são obrigados
a lutar, com viseiras fechadas. Spartacus vence a luta e, ao retirar a viseira
do adversário, reconhece o amigo e, contrito de dor, fica desesperado, revolta-se
contra Crassus. Daí nasce o monólogo de Spartacus que incita os gladiadores a
se revoltar.
O 2º Ato do balé se inicia com a dança dos camponeses
e pastores, usando cajado, festejando o acontecimento com suas mulheres e a
entrada no palco de Spartacus com os gladiadores convocados à luta. Erguido de
pé pelas mãos dos companheiros, Spartacus lança a mão para o alto bradando
vitória antecipada.
Em seguida, entra Phrygia, a amada do herói,
brinda a vida pensando no amor do amado, dançam em efusivas manifestações de
alegria. Ele, com apenas uma mão, levanta Frígia para o alto, como troféu que o
casamento lhe deu. Passos saltitantes em corrida calorosa se cruzam um perto do
outro. Várias vezes, ele a carrega nos ombros, ficando o corpo dela estendido
no ar em pose de entrega e deleite.
Ao mudar de cena, surgem dançarinas em
evolução de passes que acompanham a música, quando elas se retiram, a cortesã
Aegina faz um monólogo numa dança sensual e garbosa. Ao se retirar, surge
Crassus e seus convidados da festa em orgia. Aegina junta-se outra vez no
imenso salão e, ao dançar junto com Crassus, toca o cetro da águia romana que
ele ostenta para mostrar que ela quer participar do poder. No meio da dança,
entram soldados para dizer a Crassus que a rebelião contra ele começou, assim
acaba a festa.
Cercado pelos gladiadores rebeldes, Crassus
se defronta com Spartacus em luta em que é desarmado. Com a espada em punho,
Spartacus poderia matá-lo, mas não o fez, fazendo um gesto para que o cerco se
desfaça e, no mesmo instante, Crassus foge correndo e Aegina o acompanha,
encerrando o 2º Ato.
No 3º Ato, o casal Aegina e Crassus surge
dançando, ela o toca como sinal de carinho, ele a rejeita porque não é a hora
de fazer amor, então, ela entrega-lhe a espada e o incentiva a reagir contra a
rebelião dos soldados de Spartacus. Ele se anima e convoca suas legiões de
milicianos a lutar. Aegina vai até o acampamento de Spartacus, dá uma olhada de
soslaio, como espiã, e desaparece. De lá surge, Phrygia, a mulher de Spartacus.
Phrygia entra em cena dançando, é o adágio de
Spartacus e Frygia. Quando Spartacus chega perto dela, a vê um pouco aflita
quanto ao que há-de vir em sua vida, mas com a presença dele, ela se entrega em
abraço confiante, é o que os poetas do passado chamavam de abandono, não uma
fuga, mas uma entrega aos deuses pelo amanhã que virá.
As mãos dela estendidas denota isso. O amor
tem essa transcendência. Ele a carrega, levantando-a numa só mão, a direita, em
gesto que desperta a sensibilidade de quem assiste a cena. Há beijos velados,
quem sabe esses não são os melhores? Eles estão abraçados, quando ouve passos
de soldados. Spartacus leva a esposa para o acampamento. Os seus amigos
rebeldes se apresentam.
Aegina traz suas amigas para distrair os
camponeses que pretendiam ir lutar junto de Spartacus, diminuindo o contingente
de rebeldes contra o seu amado Cassius. Eles se amam na relva, sem se preocupar
com o que estava acontecendo em Roma. Surge Cassius e surpreende esse contingente
desarmado, Aegina entregou-os de bandeja. Ela sai da cena de guerra escoltada
pelos soldados de Cassius.
Spartacus agora está sem a força total que
tinha antes, pois muitos desistiram de continuar a lutar, mesmo assim a
rebelião acontece e sai derrotado por Crassus que o sacrifica com uma lança,
aliás eram muitas lanças que o levantam em forma de cruz. Phrygia chora diante
do corpo de Spartacus e implora aos céus para que a memória dele nunca se
apague.
Basta dizer que,
nos idos 71 a.C., na Via Ápia, que liga Roma a Capua, 6.472 escravos foram
crucificados à beira da estrada, num só dia, eram os últimos remanescentes
mortos que seguiram Spartacus, o gladiador que liderou uma revolta contra o
Império Romano. O grupo começou com 70 gladiadores fugidos, foi crescendo,
crescendo até atingir o número de 65 mil escravos, todos mortos. Agora, vocês
já perceberam porque Jesus não foi para Roma. Ele não permaneceria vivo por lá
nem uma hora. [NUDEZ VIOLENTADA – 06 de maio de 2014 – blog Fernando Pinheiro,
escritor].
Spartacus é herói e, ao
mesmo tempo, símbolo de luta dos escravos e outras pessoas oprimidas pelo
poder. No
cinema, o ator Kirk Douglas no papel-título interpreta Spartacus, filme dirigido, em 1960, por Stanley Kubrick,
fez crescer o fascínio do gladiador rebelde que no imaginário coletivo não
morreu. O ator Laurence Olivier vivenciou o personagem Crassus.
A mando do Senado romano, Crassus não permitiu que
a matrix fosse mudada, como até hoje acontece no mundo. Uma vantagem deve ser
creditada a ele: soube conquistar a cortesã Aegina como se vê no balé
Spartacus, de Khachaturian, onde Svetlana Zakharova & Vladislav Lantratov
fazem essa revelação no Bolshoi Ballet, Rússia
Nos idos de 2008, Bolshoi Ballet & Orchestre
Colonne apresentaram no Garnier Palais, Paris, o balé Spartacus em 3 atos,
baseado no livro por Raffaello Tziovanoli, música de Aram Khachaturian, coreografia de Yuri
Grigorivich, diretor Ross MacGibbon, orquestra
conduzida pelo maestro Pavel Klinichev. Dançarinos: Carlos ACosta (Spartacus) Alexander Volchkov
(Cassius), Nina Kaptsova (Phrygia) e Maria Allash (Aegina).
O pensamento difuso, quando alcança os grupos afins,
fluindo no colapso da função de onda, vira uma corrente muito forte que ganha
reforço em cadeia que se multiplica em número sempre crescente, assim nasce a
ideologia.
Se a população da Roma antiga tivesse a adesão
maciça que Spartacus convocou, certamente acabaria com a escravidão naquela
época e não teríamos hoje a escravidão manifestada em muitas formas de
opressão, manipulada pelos detentores do poder. A matrix daquela época
recrudesce nos tempos de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário