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segunda-feira, 30 de maio de 2016

SPARTACUS


A matrix do tempo de Roma antiga não é muito diferente da dos dias de hoje. O Senado romano outorgou poderes ao jovem general Crassus para ficar à frente da campanha cruel de conquista e traz de roldão, em corrente de ferro, um grupo de homens e mulheres prisioneiros, entre os quais Spartacus e Phrygia, marido e mulher.
Em festa de orgia, as cortesãs dançando fazem a festa animada. Descendo a tribuna, Crassus vai receber a escrava Phrygia, oferecendo-lhe vinho que ela recusa. Em seguida, dois gladiadores são obrigados a lutar, com viseiras fechadas. Spartacus vence a luta e, ao retirar a viseira do adversário, reconhece o amigo e, contrito de dor, fica desesperado, revolta-se contra Crassus. Daí nasce o monólogo de Spartacus que incita os gladiadores a se revoltar.
O 2º Ato do balé se inicia com a dança dos camponeses e pastores, usando cajado, festejando o acontecimento com suas mulheres e a entrada no palco de Spartacus com os gladiadores convocados à luta. Erguido de pé pelas mãos dos companheiros, Spartacus lança a mão para o alto bradando vitória antecipada.
Em seguida, entra Phrygia, a amada do herói, brinda a vida pensando no amor do amado, dançam em efusivas manifestações de alegria. Ele, com apenas uma mão, levanta Frígia para o alto, como troféu que o casamento lhe deu. Passos saltitantes em corrida calorosa se cruzam um perto do outro. Várias vezes, ele a carrega nos ombros, ficando o corpo dela estendido no ar em pose de entrega e deleite.
Ao mudar de cena, surgem dançarinas em evolução de passes que acompanham a música, quando elas se retiram, a cortesã Aegina faz um monólogo numa dança sensual e garbosa. Ao se retirar, surge Crassus e seus convidados da festa em orgia. Aegina junta-se outra vez no imenso salão e, ao dançar junto com Crassus, toca o cetro da águia romana que ele ostenta para mostrar que ela quer participar do poder. No meio da dança, entram soldados para dizer a Crassus que a rebelião contra ele começou, assim acaba a festa.
Cercado pelos gladiadores rebeldes, Crassus se defronta com Spartacus em luta em que é desarmado. Com a espada em punho, Spartacus poderia matá-lo, mas não o fez, fazendo um gesto para que o cerco se desfaça e, no mesmo instante, Crassus foge correndo e Aegina o acompanha, encerrando o 2º Ato.
No 3º Ato, o casal Aegina e Crassus surge dançando, ela o toca como sinal de carinho, ele a rejeita porque não é a hora de fazer amor, então, ela entrega-lhe a espada e o incentiva a reagir contra a rebelião dos soldados de Spartacus. Ele se anima e convoca suas legiões de milicianos a lutar. Aegina vai até o acampamento de Spartacus, dá uma olhada de soslaio, como espiã, e desaparece. De lá surge, Phrygia, a mulher de Spartacus.
Phrygia entra em cena dançando, é o adágio de Spartacus e Frygia. Quando Spartacus chega perto dela, a vê um pouco aflita quanto ao que há-de vir em sua vida, mas com a presença dele, ela se entrega em abraço confiante, é o que os poetas do passado chamavam de abandono, não uma fuga, mas uma entrega aos deuses pelo amanhã que virá.
As mãos dela estendidas denota isso. O amor tem essa transcendência. Ele a carrega, levantando-a numa só mão, a direita, em gesto que desperta a sensibilidade de quem assiste a cena. Há beijos velados, quem sabe esses não são os melhores? Eles estão abraçados, quando ouve passos de soldados. Spartacus leva a esposa para o acampamento. Os seus amigos rebeldes se apresentam.
Aegina traz suas amigas para distrair os camponeses que pretendiam ir lutar junto de Spartacus, diminuindo o contingente de rebeldes contra o seu amado Cassius. Eles se amam na relva, sem se preocupar com o que estava acontecendo em Roma. Surge Cassius e surpreende esse contingente desarmado, Aegina entregou-os de bandeja. Ela sai da cena de guerra escoltada pelos soldados de Cassius.
Spartacus agora está sem a força total que tinha antes, pois muitos desistiram de continuar a lutar, mesmo assim a rebelião acontece e sai derrotado por Crassus que o sacrifica com uma lança, aliás eram muitas lanças que o levantam em forma de cruz. Phrygia chora diante do corpo de Spartacus e implora aos céus para que a memória dele nunca se apague.
Basta dizer que, nos idos 71 a.C., na Via Ápia, que liga Roma a Capua, 6.472 escravos foram crucificados à beira da estrada, num só dia, eram os últimos remanescentes mortos que seguiram Spartacus, o gladiador que liderou uma revolta contra o Império Romano. O grupo começou com 70 gladiadores fugidos, foi crescendo, crescendo até atingir o número de 65 mil escravos, todos mortos. Agora, vocês já perceberam porque Jesus não foi para Roma. Ele não permaneceria vivo por lá nem uma hora. [NUDEZ VIOLENTADA – 06 de maio de 2014 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Spartacus é herói e, ao mesmo tempo, símbolo de luta dos escravos e outras pessoas oprimidas pelo poder. No cinema, o ator Kirk Douglas no papel-título interpreta Spartacus,  filme dirigido, em 1960, por Stanley Kubrick, fez crescer o fascínio do gladiador rebelde que no imaginário coletivo não morreu. O ator Laurence Olivier vivenciou o personagem Crassus.
A mando do Senado romano, Crassus não permitiu que a matrix fosse mudada, como até hoje acontece no mundo. Uma vantagem deve ser creditada a ele: soube conquistar a cortesã Aegina como se vê no balé Spartacus, de Khachaturian, onde Svetlana Zakharova & Vladislav Lantratov fazem essa revelação no Bolshoi Ballet, Rússia
Nos idos de 2008, Bolshoi Ballet & Orchestre Colonne apresentaram no Garnier Palais, Paris, o balé Spartacus em 3 atos, baseado no livro por Raffaello Tziovanoli, música de  Aram Khachaturian, coreografia de Yuri Grigorivich, diretor  Ross MacGibbon, orquestra conduzida pelo maestro Pavel Klinichev. Dançarinos:  Carlos ACosta (Spartacus) Alexander Volchkov (Cassius), Nina Kaptsova (Phrygia) e Maria Allash (Aegina).
O pensamento difuso, quando alcança os grupos afins, fluindo no colapso da função de onda, vira uma corrente muito forte que ganha reforço em cadeia que se multiplica em número sempre crescente, assim nasce a ideologia.
Se a população da Roma antiga tivesse a adesão maciça que Spartacus convocou, certamente acabaria com a escravidão naquela época e não teríamos hoje a escravidão manifestada em muitas formas de opressão, manipulada pelos detentores do poder. A matrix daquela época recrudesce nos tempos de hoje.

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