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domingo, 1 de dezembro de 2013

A DANÇA DA LUA

A lua surgiu no céu e veio dançar e todos cantam animados, clareou, clareou. A Escola de Samba Estácio de Sá narra a lenda dos índios Carajás: “Que nada existia, até Kananciuê criar na frágil luz da lua nova, faz a Terra e a flora, a fauna, o rio e o mar, o verdadeiro paraíso, Jardim do Éden ou quem sabe Shangrilah.”
As amazonas, mulheres que montavam a cavalo pela floresta, valentes guerreiras da nação Icamiabas, protegidas por guaquaris e outros seres míticos e místicos, lendas que se espalharam, antes ou depois, pelo mundo, como as valquírias alemães imortalizadas em óperas wagnerianas, a música do futuro.
O grito se espalha na aldeia sob a luz da lua e surge a súplica ao dragão lunar para a multidão de festeiros ter o prazer de contemplar as deusas protegidas por ele no imenso céu aberto de claridade suave e derramada em suaves eflúvios de amor.
A súplica é carregada de pressa estabelecida antes mesmo que a lua minguante surja, diminuindo a claridade, e a nova dança do Zodíaco trazendo sombras com bruxas negras dançando para servir a Satanás, o deus da polaridade negativa, criada nessas lendas que se atualizam nos cantos dos pastores. É o dualismo humano.
Há muita orgia nesse canto zodiacal, no entanto na busca do amor tudo é mais lindo no nosso interior, conclui a Estácio de Sá dançando com a lua que chegou na Sapucaí para nos alegrar.
Tupã é o deus dos índios, imortalizado pelo poeta Gonçalves Dias, na Invocação em Defesa da Pátria e no canto do Pajé, de Villa-Lobos, mas no rio Araguaia ele se chama Kananciuê pois ele criou a Terra e a Lua, o dia e a noite. São formas antropomórficas ainda adotadas pelo apelo religioso das tribos selvagens e das nações civilizadas, nesta aldeia global onde a separatividade ainda existe.
A Aldeia Maracanã mobilizou, nos idos de 2013, os segmentos sociais em todas as instâncias e permaneceu no mesmo lugar os escombros da casa que abrigava os índios em trânsito pela cidade do Rio de Janeiro. Os índios foram transferidos para um terreno onde existe a Colônia de Curupaiti, nome indígena, destinada aos portadores de hanseníase que, um dia no passado recente, visitamos e conhecemos o chefe Amazonas que nos recebeu com alegria.
A presença de um escritor sempre desperta atenção por onde vai porque ele é quem vai divulgar a narrativa que vira história. Isto aconteceu também dentro do Banco do Brasil, onde existe a tríade histórica imortalizada pela nossa lavra. Desse projeto de pesquisa nasceu também a Iconografia do Banco do Brasil.
A Aldeia Maracanã, situada a poucos metros do Estádio do Maracanã, palco da Copa do Mundo – 2014, ficou sem os índios, noticiado por longo tempo na imprensa nacional e internacional. Certamente, tudo isto aconteceu nas fases da lua minguante e não naquela lua cheia que veio dançar com a Estácio de Sá no carnaval de 1993.
Clareou, clareou, a dança já vai começar, é o grito inicial da Estácio de Sá, berço do samba, Escola de Samba de grande tradição, no bairro que abriga a Cidade Nova onde a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro mantém a sede administrativa.
Clareou, clareou, clareou (ôba, ôba). Que venham as passistas com requebros encantadores, com sapatos altos, enfeitadas de fantasia. Essas deusas da lua cheia que não cansamos de admirar. A bateria com batuque que abafa as sombras da noite. O canto é puxado por Dominguinhos. Alegria do samba, alegria de nossa festa, clareou, clareou, clareou (ôba, ôba).

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