A lua surgiu no
céu e veio dançar e todos cantam animados, clareou, clareou. A Escola de Samba
Estácio de Sá narra a lenda dos índios Carajás: “Que nada existia, até
Kananciuê criar na frágil luz da lua nova, faz a Terra e a flora, a fauna, o
rio e o mar, o verdadeiro paraíso, Jardim do Éden ou quem sabe Shangrilah.”
As amazonas,
mulheres que montavam a cavalo pela floresta, valentes guerreiras da nação
Icamiabas, protegidas por guaquaris e outros seres míticos e místicos, lendas
que se espalharam, antes ou depois, pelo mundo, como as valquírias alemães
imortalizadas em óperas wagnerianas, a música do futuro.
O grito se
espalha na aldeia sob a luz da lua e surge a súplica ao dragão lunar para a
multidão de festeiros ter o prazer de contemplar as deusas protegidas por ele no
imenso céu aberto de claridade suave e derramada em suaves eflúvios de amor.
A súplica é
carregada de pressa estabelecida antes mesmo que a lua minguante surja,
diminuindo a claridade, e a nova dança do Zodíaco trazendo sombras com bruxas
negras dançando para servir a Satanás, o deus da polaridade negativa, criada
nessas lendas que se atualizam nos cantos dos pastores. É o dualismo humano.
Há muita orgia
nesse canto zodiacal, no entanto na busca do amor tudo é mais lindo no nosso
interior, conclui a Estácio de Sá dançando com a lua que chegou na Sapucaí para
nos alegrar.
Tupã é o deus
dos índios, imortalizado pelo poeta Gonçalves Dias, na Invocação em Defesa da
Pátria e no canto do Pajé, de Villa-Lobos, mas no rio Araguaia ele se chama
Kananciuê pois ele criou a Terra e a Lua, o dia e a noite. São formas
antropomórficas ainda adotadas pelo apelo religioso das tribos selvagens e das
nações civilizadas, nesta aldeia global onde a separatividade ainda existe.
A Aldeia
Maracanã mobilizou, nos idos de 2013, os segmentos sociais em todas as
instâncias e permaneceu no mesmo lugar os escombros da casa que abrigava os
índios em trânsito pela cidade do Rio de Janeiro. Os índios foram transferidos
para um terreno onde existe a Colônia de Curupaiti, nome indígena, destinada
aos portadores de hanseníase que, um dia no passado recente, visitamos e
conhecemos o chefe Amazonas que nos recebeu com alegria.
A presença de
um escritor sempre desperta atenção por onde vai porque ele é quem vai divulgar
a narrativa que vira história. Isto aconteceu também dentro do Banco do Brasil,
onde existe a tríade histórica imortalizada pela nossa lavra. Desse projeto de
pesquisa nasceu também a Iconografia do Banco do Brasil.
A Aldeia
Maracanã, situada a poucos metros do Estádio do Maracanã, palco da Copa do
Mundo – 2014, ficou sem os índios, noticiado por longo tempo na imprensa
nacional e internacional. Certamente, tudo isto aconteceu nas fases da lua
minguante e não naquela lua cheia que veio dançar com a Estácio de Sá no
carnaval de 1993.
Clareou,
clareou, a dança já vai começar, é o grito inicial da Estácio de Sá, berço do
samba, Escola de Samba de grande tradição, no bairro que abriga a Cidade Nova
onde a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro mantém a sede administrativa.
Clareou, clareou,
clareou (ôba, ôba). Que venham as passistas com requebros encantadores, com
sapatos altos, enfeitadas de fantasia. Essas deusas da lua cheia que não
cansamos de admirar. A bateria com batuque que abafa as sombras da noite. O
canto é puxado por Dominguinhos. Alegria do samba, alegria de nossa festa,
clareou, clareou, clareou (ôba, ôba).
Nenhum comentário:
Postar um comentário