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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A CURA DE UM LEPROSO


Experimentava o desprezo de seus compatriotas que lhe segregavam o convívio, alojando–o no Vale dos Imundos. Teve notícias daquele profeta da Galileia que curou muitos leprosos.

(49)  MARCOS,  1:40 a 44       LUCAS, 7:13  a 19  
       
Agora, reencontrando–o de passagem por Jerusalém, disse: “Senhor, se quiseres, bem podes limpar–me!”. Havia, na inflexão da voz, uma súplica. A esperança brotava, em seu ser mais profundo, como se fosse aquele dia a oportunidade única de ficar curado.

Sentindo a dor daquele irmão, o Mestre apiedou–se e, estendendo a mão, tocou–o e disse–lhe: “quero, sê limpo”. No mesmo instante, os tecidos degenerados se recompuseram, voltando à normalidade. A lepra desapareceu.

Impressionado com o seu novo estado de saúde e, parado, em êxtase, diante da grandeza radiante do Mestre, o leproso, acanhado, balbuciando, parecia perguntar: “que devo fazer, agora, Senhor?”

“Não digas a ninguém”, respondeu Jesus, “mas, vai mostrar–te aos sacerdotes e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para que lhes servir de testemunho”.
  
Amélia Rodrigues, no livro Primícias do Reino, psicografado por Divaldo Pereira Franco, relata o texto final deste episódio e o comenta à luz da sabedoria:

“O Estranho Rabi tornara–se diáfano. Uma beleza incomparável dEle se irradiava. Parecia sorrir.

A turba acercou–se, muda de espanto, e constatou–lhe a cura.

Estuante, emoções em desalinho, saiu a correr.

Mente em torvelinho, coração descompassado, voltava à  cidade.

Antes, a pedradas fora expulso. Agora, cantando felicidade,  retornava.

Pelo caminho, no entanto, sem poder guardar silêncio, contava o prodígio de que fôra objeto.

        Ω

A noite caíra sem preâmbulos.

À luz das estrelas longínquas o Mestre reuniu os discípulos, em agradável aconchego.

Chegado a hora do repasto e preparada a fogueira aquecedora, foram distribuídos pão e peixe defumado. Acercando–se do Rabi, Simão indagou curioso:

–  Seria necessário que o leproso pagasse o tributo?

–  À lei, os respeitos de justiça, respondeu Jesus.

E desejando esclarecer os companheiros não refeitos da  grande emoção, prosseguiu:

– Legalmente, ele estava morto. Trazido à vida, por mercê de Nosso Pai, deverá ser reconhecido por aqueles que representam a tradição. O tributo, não entendemos como pagamento ou louvor, puro e simples, mas como expressão de testemunho de reingresso nos estatutos dos homens.

Espicaçado pela curiosidade, André indagou:

– Será justa a recomendação de silêncio? Não se faz necessário que todos identifiquem os sinais da Mensagem de Vida, para que se disponham ao Reino de Deus que está próximo?

O Mestre espraiou os olhos em derredor, como a delimitar os sítios onde se encontrava, e redarguiu:

– Não transcorreu muito tempo, eu vos falei que sois o sal da Terra... Para que serve o sal se perde o sabor? Diluindo–se no repasto, o sal se faz presente sem alarde e todos o podem identificar...

E depois de uma breve pausa como se desejasse caracterizar melhor os dias próximos, esclareceu:

– O Reino dos Céus não fará notado pelas atrações externas. A Terra sempre foi rica de homens e mulheres prodigiosos, profetas e rabis, curadores e adivinhos. Acima deles todos, no entanto, o Filho do Homem há velado.

E esclarecendo melhor os discípulos incipientes, prosseguiu:

– O leproso de hoje contaminou–se espiritualmente em pretérito próximo. Ontem, soberbo e egoísta, banhou–se nas lágrimas dos oprimidos, abusando do corpo como os ventos bravios das tamareiras solitárias. Retornou aos caminhos de tormento em si mesmo atormentado, para ressarcir penosamente. O legado que hoje recebeu é de responsabilidade antes que de merecimento. O Pai misericordioso não deseja a punição do filho rebelde ou ingrato, mas a sua renovação...

Como se consultasse o leve cicio da noite, arrematou com um acento de tristeza na voz:

– Nem todos, porém, podem isto compreender.

“Neste momento, apalpando as carnes refeitas, exibe o corpo aos curiosos e fala sobre Aquele a Quem desconhece com alegria e leviandade. A cura mais importante não a experimentou: é aquela que não se restringe à forma, e sim ao espírito. Lavada a morféia, ele continua leproso. Acautelai–vos do contágio das misérias que os olhos não veem, mas que entenebrecem a razão e perturbam o coração...”

Simão, desejando mais esclarecimentos, inquiriu com respeito:

 – Rabi, se o doente não se pôde beneficiar com a cura, ter–lhe–ia sido esta de utilidade?

 – Simão, – respondeu, bondoso, Jesus – o Reino dos Céus é uma mensagem de amor para todos: desalentados e sofredores, atormentados e enfermos todos receberão o convite de acordo com as suas necessidades. A nós compete espalhar as dádivas de luz e bençãos, sem a preocupação imediata de como serão recebidas ou utilizadas. Cada coração é responsável pelas sementes que recolhe. Fruindo a dádiva de luz, pode escolher onde entesourar as esperanças. O Sol espraia vida em todo lugar, indistintamente e, embora o pântano continue pútrido, o astro rei insiste sobre o seu dorso, onde a peste e a  morte se agasalham, semeando esperança...

Levantou-se e, afastando–se do grupo, em silêncio, mergulhou na noite, e desapareceu.

A montanha continuava envolta em sombras, ao fundo.

Enquanto as gemas dos minutos formavam o colar dos séculos, os acontecimentos daquele dia passavam para os dias do amanhã sem–fim...”  (50 )             

(50)  AMÉLIA RODRIGUES – in Primícias do Reino, p.  132, 133, 134 – 4ª edição – psicografado por Divaldo Pereira Franco – Livraria  Espírita Alvorada Editora – 1987 – Salvador – BA. - Autorização concedida ao escritor Fernando Pinheiro por Nilson de Souza Pereira, presidente do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador–BA, cessionário das obras psicografadas por Divaldo Pereira Franco. 













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