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sábado, 16 de fevereiro de 2013

VERÔNICA


Na praia formosa de Cafarnaum, o Mestre acabara de chegar da outra margem do lago Tiberíades e uma grande multidão o cercou na ânsia de ouvir suas mensagens. 

(64) MARCOS, 5:30 e 34

À frente de um pequeno grupo, estava Jairo, chefe da Sinagoga, que se dirigiu a Jesus pedindo-lhe que fosse à sua casa para curar-lhe a filha.

A multidão aumentava a cada instante, pois o amor enternecido, que doava àquela gente, era grande demais. Todos estavam admirados pela presença magnífica de um ser celestial entre eles, oriundo das mais elevadas esferas de luz e cor que se espalham pelo infinito.

Conhecedor profundo da alma humana, amava e deixava-se ser amado, para realçar a reciprocidade do amor, do amor que liga o homem ao Cosmos, numa visível manifestação da presença divina.

A mulher da Decápolis, região composta por dez cidades gregas que se erguiam ao longo da Palestina, sabia de seus feitos de grandeza que se manifestavam na cura dos leprosos, enfermos de toda doença e nas lições preciosas que esclarecem a realidade da vida.

A oportunidade era valiosa: agora estava diante dele que atraiu a atenção de todas as pessoas presentes naquela praia a fim de distribuir as dádivas preciosas de que era possuidor.

Todos os tratamentos para extinguir o fluxo de sangue foram inúteis. Sacerdotes, médicos, exorcistas estiveram diante de seus olhos sem apresentar resultados benéficos. Foram gastas as reservas de dinheiro que ela economizara.

Quase exausta na busca de saúde, sentia uma esperança nascer naquele dia. O alvoroço era geral. O Mestre, com passos firmes e fortes, seguia em direção da casa de Jairo para socorrer a filha que estava prostrada na cama.

Na caminhada que fez junto à multidão, gestos e exclamações de profunda admiração eram manifestados, misturando-se ao canto feliz das crianças – pueri hebreorum – carregado de versos de alegria. Esta cena comovente seria, mais tarde, repetida em Jerusalém, na entrada triunfal de Jesus.

A mulher hemorroíssa, vendo que aquele homem poderia curar-lhe o fluxo de sangue, tocou-lhe as fímbrias do manto e sentiu-se curada.

O sangue estancara, uma sensação de bem-estar invadiu-lhe o ser, intimamente agradecida, ouviu-o indagar: “Quem tocou nas minhas vestes? Responderam-lhe os discípulos: vês que a multidão te aperta, e dizes: quem me tocou?”

Ele olhou ao redor para ver quem foi curado pelas irradiações luminosas que saíam de sua aura divina, descritas nas narrativas evangélicas como as virtudes que curam.

Naquele instante, a mulher aproximou-se tremendo e, prostrando-se diante dele, disse toda a verdade: “fui eu, Senhor, que era uma pobre coitada! Sabia que tinhas o dom de curar e apenas tocando em tuas vestes eu seria curada”.

“Ele lhe disse: filha, a tua fé te salvou. Vai em paz, e sê curada deste teu mal”.

Quanta emoção sentiu naquele instante! Ele seguiu em frente à casa de Jairo e ela ficou parada ali como estivesse em profundo êxtase, revendo mentalmente aquele olhar doce e sereno que suavizou a sua alma cansada e triste.

Aqueles que presenciaram a cena de comovente beleza tocaram-na para despertar do sonho que seus olhos abertos viram.

A mulher curada retornou ao lar, agora nascida outra vez. O testemunho de que era portadora serviu para despertar o coração daqueles que ainda não conheceram Aquele que é o caminho, a verdade e a vida.

Acreditamos que a mulher da Decápolis era a mesma pessoa que enxugou o rosto de Jesus, a caminho do Calvário. Cenas de sangue antes e cenas de sangue depois, isto foi o elemento vital que uniu Verônica a Jesus. No plano espiritual os liames afetivos são eternos.

Acreditar está mais ligado ao estado emocional do que ao racional ou inteligente. A fé de que falou Jesus à mulher hemorroíssa tem um valor primordial na realização da cura. É o envolvimento na unidade, na consciência plena da realidade.

A manifestação da unidade que sentimos na ligação com as pessoas que estão convivendo conosco é muito importante, pois isola o culto à nossa transitória personalidade, enfocado de modo exclusivo.

Os atributos que compõem a nossa personalidade servem-nos apenas à identificação do campo de atividade em que estamos envolvidos. Usá-los em proveito próprio seria desperdiçar tesouros que não nos pertencem.

Há muitas lacunas no campo dos sentimentos à espera de nossa participação, a fim de que nada fique incompleto nas relações humanas que nos ajudam a recompor o equilíbrio.

Pode parecer monótona a hora em que estamos reunidos com pessoas que pensamos não vivenciar das ideias que trazemos conosco. Mas há um mecanismo entrelaçando-nos em circunstâncias que nos dizem respeito.

O princípio do todo, do conjunto da participação de cada um, nas experiências que se expressam junto de nós, eleva-nos a níveis superiores onde a consciência se expande.

O mecanismo dos encontros surge nas irradiações de nossos pensamentos e nas inclinações mentais em que nos posicionamos. Este é um princípio estabelecido em todas as manifestações de pessoas que se interligam por motivos que sugerem o despertar de um novo estágio evolutivo.

Quando sentimos a energia, que nos envolve, circulando no campo mental daqueles que nos rodeiam, vemos que a realidade única é o poder indivisível por qualquer força de circunstâncias transitórias.

Nessa aceitação, pelos sentimentos revestidos da inteligência, o nosso íntimo, em todos os campos da manifestação exterior, permanece estável e imperturbável, mesmo que a mais inquietante situação esteja acontecendo no mundo em que vivemos.

O serviço às circunstâncias envolvendo os companheiros, que precisam ter a elucidação dos valores reais da vida, é o sentido único de nossa existência.

A cada momento, sentimos em nosso íntimo a tranquilidade se manifestando como as águas do oásis, no deserto, quando a tempestade de areia passa. Isto é o resultado da conservação de atitudes coerentes com a inteligência, buscadas na simplicidade de todas as coisas.

Só pelo fato de mantermos essa atitude de equilíbrio emocional, estamos contribuindo na apreciação de pessoas que vêm conosco participar de momentos aparentemente passageiros.

A vibração, que sai de nosso íntimo, interliga-se com a disposição mental daqueles que nos observam tentando absorver as expressões que podem ser úteis à sua forma de viver.

Como a simplicidade deslinda qualquer enigma, sentimos que a nossa singela postura de vida vai servir de referencial para que suas atitudes sejam revisadas da forma que lhes for conveniente.

O importante é despertar as pessoas para as potencialidades que possuem arquivadas interiormente, deixando-as livres para escolher o padrão de comportamento que tem relação com suas tendências e aptidões.

Quando sentimos o nosso serviço à causa da vida sendo apreciado por aqueles que nos acompanham os passos, estamos elevando-nos a outros níveis de consciência, onde a unidade, nós, os companheiros e tudo que nos cerca, é a força que nos estimula a seguir adiante.

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