Na
praia formosa de Cafarnaum, o Mestre acabara de chegar da outra margem do lago
Tiberíades e uma grande multidão o cercou na ânsia de ouvir suas mensagens.
(64)
MARCOS, 5:30 e 34
À
frente de um pequeno grupo, estava Jairo, chefe da Sinagoga, que se dirigiu a
Jesus pedindo-lhe que fosse à sua casa para curar-lhe a filha.
A
multidão aumentava a cada instante, pois o amor enternecido, que doava àquela
gente, era grande demais. Todos estavam admirados pela presença magnífica de um
ser celestial entre eles, oriundo das mais elevadas esferas de luz e cor que se
espalham pelo infinito.
Conhecedor
profundo da alma humana, amava e deixava-se ser amado, para realçar a
reciprocidade do amor, do amor que liga o homem ao Cosmos, numa visível
manifestação da presença divina.
A
mulher da Decápolis, região composta por dez cidades gregas que se erguiam ao
longo da Palestina, sabia de seus feitos de grandeza que se manifestavam na
cura dos leprosos, enfermos de toda doença e nas lições preciosas que
esclarecem a realidade da vida.
A
oportunidade era valiosa: agora estava diante dele que atraiu a atenção de
todas as pessoas presentes naquela praia a fim de distribuir as dádivas
preciosas de que era possuidor.
Todos
os tratamentos para extinguir o fluxo de sangue foram inúteis. Sacerdotes,
médicos, exorcistas estiveram diante de seus olhos sem apresentar resultados
benéficos. Foram gastas as reservas de dinheiro que ela economizara.
Quase
exausta na busca de saúde, sentia uma esperança nascer naquele dia. O alvoroço
era geral. O Mestre, com passos firmes e fortes, seguia em direção da casa de
Jairo para socorrer a filha que estava prostrada na cama.
Na
caminhada que fez junto à multidão, gestos e exclamações de profunda admiração eram
manifestados, misturando-se
ao canto feliz das crianças – pueri hebreorum – carregado de versos de alegria.
Esta cena comovente seria, mais tarde, repetida em Jerusalém, na entrada
triunfal de Jesus.
A
mulher hemorroíssa, vendo que aquele homem poderia curar-lhe o fluxo de sangue,
tocou-lhe as fímbrias do manto e sentiu-se curada.
O
sangue estancara, uma sensação de bem-estar invadiu-lhe o ser, intimamente
agradecida, ouviu-o indagar: “Quem tocou nas minhas vestes? Responderam-lhe os
discípulos: vês que a multidão te aperta, e dizes: quem me tocou?”
Ele
olhou ao redor para ver quem foi curado pelas irradiações luminosas que saíam
de sua aura divina, descritas nas narrativas evangélicas como as virtudes que
curam.
Naquele
instante, a mulher aproximou-se tremendo e, prostrando-se diante dele, disse
toda a verdade: “fui eu, Senhor, que era uma pobre coitada! Sabia que tinhas o
dom de curar e apenas tocando em tuas vestes eu seria curada”.
“Ele
lhe disse: filha, a tua fé te salvou. Vai em paz, e sê curada deste teu mal”.
Quanta
emoção sentiu naquele instante! Ele seguiu em frente à casa de Jairo e ela
ficou parada ali como estivesse em profundo êxtase, revendo mentalmente aquele
olhar doce e sereno que suavizou a sua alma cansada e triste.
Aqueles
que presenciaram a cena de comovente beleza tocaram-na para despertar do sonho
que seus olhos abertos viram.
A
mulher curada retornou ao lar, agora nascida outra vez. O testemunho de que era
portadora serviu para despertar o coração daqueles que ainda não conheceram
Aquele que é o caminho, a verdade e a vida.
Acreditamos
que a mulher da Decápolis era a mesma pessoa que enxugou o rosto de Jesus, a
caminho do Calvário. Cenas de sangue antes e cenas de sangue depois, isto foi o
elemento vital que uniu Verônica a Jesus. No plano espiritual os liames
afetivos são eternos.
Acreditar
está mais ligado ao estado emocional do que ao racional ou inteligente. A fé de
que falou Jesus à mulher hemorroíssa tem um valor primordial na realização da
cura. É o envolvimento na unidade, na consciência plena da realidade.
A
manifestação da unidade que sentimos na ligação com as pessoas que estão
convivendo conosco é muito importante, pois isola o culto à nossa transitória
personalidade, enfocado de modo exclusivo.
Os
atributos que compõem a nossa personalidade servem-nos apenas à identificação
do campo de atividade em que estamos envolvidos. Usá-los em proveito próprio
seria desperdiçar tesouros que não nos pertencem.
Há
muitas lacunas no campo dos sentimentos à espera de nossa participação, a fim
de que nada fique incompleto nas relações humanas que nos ajudam a recompor o
equilíbrio.
Pode
parecer monótona a hora em que estamos reunidos com pessoas que pensamos não
vivenciar das ideias que trazemos conosco. Mas há um mecanismo entrelaçando-nos
em circunstâncias que nos dizem respeito.
O
princípio do todo, do conjunto da participação de cada um, nas experiências que
se expressam junto de nós, eleva-nos a níveis superiores onde a consciência se
expande.
O
mecanismo dos encontros surge nas irradiações de nossos pensamentos e nas
inclinações mentais em que nos posicionamos. Este é um princípio estabelecido
em todas as manifestações de pessoas que se interligam por motivos que sugerem
o despertar de um novo estágio evolutivo.
Quando
sentimos a energia, que nos envolve, circulando no campo mental daqueles que
nos rodeiam, vemos que a realidade única é o poder indivisível por qualquer
força de circunstâncias transitórias.
Nessa
aceitação, pelos sentimentos revestidos da inteligência, o nosso íntimo, em
todos os campos da manifestação exterior, permanece estável e imperturbável,
mesmo que a mais inquietante situação esteja acontecendo no mundo em que
vivemos.
O
serviço às circunstâncias envolvendo os companheiros, que precisam ter a
elucidação dos valores reais da vida, é o sentido único de nossa existência.
A
cada momento, sentimos em nosso íntimo a tranquilidade se manifestando como as
águas do oásis, no deserto, quando a tempestade de areia passa. Isto é o
resultado da conservação de atitudes coerentes com a inteligência, buscadas na
simplicidade de todas as coisas.
Só
pelo fato de mantermos essa atitude de equilíbrio emocional, estamos
contribuindo na apreciação de pessoas que vêm conosco participar de momentos
aparentemente passageiros.
A
vibração, que sai de nosso íntimo, interliga-se com a disposição mental
daqueles que nos observam tentando absorver as expressões que podem ser úteis à
sua forma de viver.
Como
a simplicidade deslinda qualquer enigma, sentimos que a nossa singela postura
de vida vai servir de referencial para que suas atitudes sejam revisadas da
forma que lhes for conveniente.
O
importante é despertar as pessoas para as potencialidades que possuem
arquivadas interiormente, deixando-as livres para escolher o padrão de
comportamento que tem relação com suas tendências e aptidões.
Quando
sentimos o nosso serviço à causa da vida sendo apreciado por aqueles que nos
acompanham os passos, estamos elevando-nos a outros níveis de consciência, onde
a unidade, nós, os companheiros e tudo que nos cerca, é a força que nos
estimula a seguir adiante.
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