"Nada
é mais difícil para as pessoas comprometidas por psicose ou alguns outros
transtornos psiquiátricos do que entender a lógica da sociedade: são
explorados, entram em conflito com os vizinhos, com a polícia, são vítimas da
dificuldade de compreensão sobre as regras do jogo social." [Valentim
Gentil Filho, Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Professor
Titular da Faculdade de Medicina da USP - in Entrevista publicada originalmente
na Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, março de 2005 e,
posteriormente, na Revista Temas - Teoria e Prática do Psiquiatra - v. 35, n.
68-69, p. 110 - Jan/Dez. 2005].
Na sociedade ainda dominada pelo medo
que é alimentado pela mídia da comunicação e conservado pelas massas humanas
que lhe dão peso e referência, presenciamos uma consciência planetária
fragmentada, separatista, discriminatória, resultante da crítica e do
julgamento. Mas, como temos dito anteriormente, essa densa dimensão dissociada
está indo embora do planeta Terra.
O planeta, com 7 bilhões de
habitantes, hospeda dois tipos de sociedade humana: a que está na consciência
unificada (um bilhão) e a outra que se mantém ligada na consciência dissociada
(seis bilhões). É o joio e o trigo crescendo juntos, recrudescendo a parábola
de Jesus, notadamente na separação que caracteriza o final de um ciclo
planetário.
O mito de Prometeu, o mais forte de
todos os mitos, em fase de extinção, ainda é acolhido pela consciência
dissociada, fez mudar a essência do conhecimento humano, falsificando-a. Mas,
dentro do ser humano, existe o ser profundo que se liga à Fonte, mantendo-se
inalterável diante das circunstâncias transitórias que o cercam apenas
exteriormente que os sistemas, sob o signo da falsificação, propalam.
A lógica entendida pela sociedade
humana, que está na consciência planetária dissociada, é a dualidade, é o ego
que é complicado, se contradiz e se anula diante da realidade única. O ego não
admite a simplicidade. Hoje quer uma coisa, amanhã outra, numa variação admitida
como normal, mas que acaba em transtorno bipolar, aspecto que a psiquiatria
admite existir.
A regra do jogo social, nessa densa
densidade, funciona na atmosfera dualista em que o referencial é sempre o bem,
o mal, o certo, o errado, o lícito, o ilícito, o amor, o ódio e outros aspectos
congêneres.
A lógica da sociedade, em que há
regras de jogo, na oscilação do ego, um dia no porvir risonho, irá desaparecer,
não havendo, portanto, separação, confinamento, pois o eclodir da essência do
ser profundo, que todos nós somos, sem exceção, irá eliminar todas as
barreiras. A consciência do eu sou, a denominada a presença, a nossa única
realidade.
Na entrevista do Prof. Valentim
Gentil Filho, concedida a Mônica Teixeira (p. 111), há o reconhecimento de que
os escritores, poetas, filósofos fazem melhor a abordagem do sofrimento
psíquico do que os médicos, psicólogos, psicanalistas e psiquiatras. Ele
menciona a preferência por Dostoiévski, Proust, Thomas Mann. Indiretamente,
fomos beneficiados pela citação da classe a que pertencemos. Muito obrigado,
Professor.
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