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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O JOGO SOCIAL


"Nada é mais difícil para as pessoas comprometidas por psicose ou alguns outros transtornos psiquiátricos do que entender a lógica da sociedade: são explorados, entram em conflito com os vizinhos, com a polícia, são vítimas da dificuldade de compreensão sobre as regras do jogo social." [Valentim Gentil Filho, Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Professor Titular da Faculdade de Medicina da USP - in Entrevista publicada originalmente na Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, março de 2005 e, posteriormente, na Revista Temas - Teoria e Prática do Psiquiatra - v. 35, n. 68-69, p. 110 - Jan/Dez. 2005].

Na sociedade ainda dominada pelo medo que é alimentado pela mídia da comunicação e conservado pelas massas humanas que lhe dão peso e referência, presenciamos uma consciência planetária fragmentada, separatista, discriminatória, resultante da crítica e do julgamento. Mas, como temos dito anteriormente, essa densa dimensão dissociada está indo embora do planeta Terra.

O planeta, com 7 bilhões de habitantes, hospeda dois tipos de sociedade humana: a que está na consciência unificada (um bilhão) e a outra que se mantém ligada na consciência dissociada (seis bilhões). É o joio e o trigo crescendo juntos, recrudescendo a parábola de Jesus, notadamente na separação que caracteriza o final de um ciclo planetário.

O mito de Prometeu, o mais forte de todos os mitos, em fase de extinção, ainda é acolhido pela consciência dissociada, fez mudar a essência do conhecimento humano, falsificando-a. Mas, dentro do ser humano, existe o ser profundo que se liga à Fonte, mantendo-se inalterável diante das circunstâncias transitórias que o cercam apenas exteriormente que os sistemas, sob o signo da falsificação, propalam.

A lógica entendida pela sociedade humana, que está na consciência planetária dissociada, é a dualidade, é o ego que é complicado, se contradiz e se anula diante da realidade única. O ego não admite a simplicidade. Hoje quer uma coisa, amanhã outra, numa variação admitida como normal, mas que acaba em transtorno bipolar, aspecto que a psiquiatria admite existir.

A regra do jogo social, nessa densa densidade, funciona na atmosfera dualista em que o referencial é sempre o bem, o mal, o certo, o errado, o lícito, o ilícito, o amor, o ódio e outros aspectos congêneres.

A lógica da sociedade, em que há regras de jogo, na oscilação do ego, um dia no porvir risonho, irá desaparecer, não havendo, portanto, separação, confinamento, pois o eclodir da essência do ser profundo, que todos nós somos, sem exceção, irá eliminar todas as barreiras. A consciência do eu sou, a denominada a presença, a nossa única realidade.

Na entrevista do Prof. Valentim Gentil Filho, concedida a Mônica Teixeira (p. 111), há o reconhecimento de que os escritores, poetas, filósofos fazem melhor a abordagem do sofrimento psíquico do que os médicos, psicólogos, psicanalistas e psiquiatras. Ele menciona a preferência por Dostoiévski, Proust, Thomas Mann. Indiretamente, fomos beneficiados pela citação da classe a que pertencemos. Muito obrigado, Professor.




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