As águas dos oceanos se movem em
todos os continentes, numa viagem incessante, graças aos movimentos de
rotação e translação
da Terra.
Há
um nível normal das águas nas costas marítimas e, com exceção das áreas de
maremoto, os continentes não são alagados pelas massas líquidas dos oceanos.
Na
viagem ao porto do destino, o homem passa por intempéries de toda sorte, em
todas as faixas de idade.
É
comum se ver crianças pequeninas serem atingidas pelos acontecimentos que
atestam a orfandade. Uma despedida silenciosa marca o destino de toda uma
família.
No
silêncio de suas reflexões, o parceiro que sente saudades busca compreender as
razões por que um amor tão grande foi interrompido no calor dos lençóis.
Tudo
parecia correr bem. Sorrisos e beijos do casal eram passados aos filhos que se
completavam numa festa de alegria. De repente, uma taça
de quem brinda é retirada do cenário familiar. As
horas continuam a estender seus minutos controlando a duração dos afazeres de
cada um.
Reflexão,
apenas, reflexão. Se alguém falasse dessas circunstâncias necessárias ao
aprendizado daqueles que precisam passar por isto, certamente ninguém
compreenderia apenas na teoria.
Todos
têm necessidade de aprender com a vida, mesmo
que não a vejam naqueles que seguiram a viagem das nuvens. A
maioria daqueles que sentem saudades está mais ligada à presença física de quem partiu do que ao amor-essência
que não precisa de formas para sobreviver.
Os
órfãos, quanto mais pequeninos, menos se preocupam com as implicações de um
adeus. A tristeza do adulto decorre da perda daquilo que sente ser importante,
num momento em que não percebe um novo amanhecer apagando as sombras da noite
anterior.
Crianças
protegidas pelas forças evolutivas, como são todos os seres do mundo, não
sentem tristeza nem desânimo. O adulto pode olhá-las com reflexões íntimas de
desencanto e sensibilizá-las até a um certo ponto, mas isto não eliminará as
forças que sustentam a sua infância.
A
vida é valiosa em todas as circunstâncias e não permite que seus ciclos sejam
interrompidos ao clamor humano. Se existe incompreensão acerca do ritmo que os
move, o homem não pode criar a morte como algo que os extermina. O renascimento
está em tudo.
A
reencarnação é o recreio da alma, pois no mundo espiritual o esclarecimento da
vida é bem maior do que nos laços físicos e, no clima de
desventura, o sofrimento não tem refúgio na consciência encarnada que
amortece os impulsos da culpa.
Nos
idos de 1962, quando a música sertaneja estava começando a ganhar espaços na
mídia, a dupla Tibagi e Miltinho, lança no mercado a Taça Vazia em que há uma
interrogação do homem que foi mandado embora da vida da mulher amada: “Nesta
noite quem será teu rei, querida? Nesta noite quem será teu beija-flor?”
A
mensagem de minha amiga russa veio numa tarde que caía num suave e macio
langor: “espero que as mudanças de minha vida pessoal não afetarão nossa
amizade. Sempre interessada na leitura de seus textos. Você é um verdadeiro
conhecedor da beleza. Obrigada por sua amizade!”
É
por isso que o ciclo da vida promove a beleza se irradiando em tudo que existe.
Se o homem ficasse detido em acontecimentos que param a festa de seus dias,
certamente uma nuvem sombria, que obscura seu caminho, estaria apenas em sua
imaginação.
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