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domingo, 3 de abril de 2016

A TAÇA VAZIA

As águas dos oceanos se movem em todos os continentes, numa viagem incessante, graças aos movimentos  de  rotação  e  translação  da  Terra.
Há um nível normal das águas nas costas marítimas e, com exceção das áreas de maremoto, os continentes não são alagados pelas massas líquidas dos oceanos.
Na viagem ao porto do destino, o homem passa por intempéries de toda sorte, em todas as faixas de idade.
É comum se ver crianças pequeninas serem atingidas pelos acontecimentos que atestam a orfandade. Uma despedida silenciosa marca o destino de toda uma família.
No silêncio de suas reflexões, o parceiro que sente saudades busca compreender as razões por que um amor tão grande foi interrompido no calor dos lençóis.
Tudo parecia correr bem. Sorrisos e beijos do casal eram passados aos filhos que se completavam numa festa de alegria. De repente, uma  taça  de  quem  brinda é retirada do cenário familiar. As horas continuam a estender seus minutos controlando a duração dos afazeres de cada um.
Reflexão, apenas, reflexão. Se alguém falasse dessas circunstâncias necessárias ao aprendizado daqueles que precisam passar por isto, certamente ninguém compreenderia apenas na teoria.
Todos têm necessidade de aprender com a vida, mesmo  que não a vejam naqueles que seguiram a viagem das  nuvens. A  maioria daqueles que sentem saudades está mais  ligada à presença  física de quem partiu do que ao amor-essência que não precisa de formas para sobreviver.
Os órfãos, quanto mais pequeninos, menos se preocupam com as implicações de um adeus. A tristeza do adulto decorre da perda daquilo que sente ser importante, num momento em que não percebe um novo amanhecer apagando as sombras da noite anterior.
Crianças protegidas pelas forças evolutivas, como são todos os seres do mundo, não sentem tristeza nem desânimo. O adulto pode olhá-las com reflexões íntimas de desencanto e sensibilizá-las até a um certo ponto, mas isto não eliminará as forças que sustentam a sua infância.
A vida é valiosa em todas as circunstâncias e não permite que seus ciclos sejam interrompidos ao clamor humano. Se existe incompreensão acerca do ritmo que os move, o homem não pode criar a morte como algo que os extermina. O renascimento está em tudo.
A reencarnação é o recreio da alma, pois no mundo espiritual o esclarecimento da vida é bem maior do que nos laços físicos e, no clima  de  desventura, o sofrimento não tem refúgio na consciência encarnada que amortece os impulsos da culpa.
Nos idos de 1962, quando a música sertaneja estava começando a ganhar espaços na mídia, a dupla Tibagi e Miltinho, lança no mercado a Taça Vazia em que há uma interrogação do homem que foi mandado embora da vida da mulher amada: “Nesta noite quem será teu rei, querida? Nesta noite quem será teu beija-flor?”
A mensagem de minha amiga russa veio numa tarde que caía num suave e macio langor: “espero que as mudanças de minha vida pessoal não afetarão nossa amizade. Sempre interessada na leitura de seus textos. Você é um verdadeiro conhecedor da beleza. Obrigada por sua amizade!” 
É por isso que o ciclo da vida promove a beleza se irradiando em tudo que existe. Se o homem ficasse detido em acontecimentos que param a festa de seus dias, certamente uma nuvem sombria, que obscura seu caminho, estaria apenas em sua imaginação.

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