Escrita
nos idos de 1917, na cidade do Rio de Janeiro, a música A Cascavel, destinada
para canto e piano, de Villa–Lobos, é sustentada pelo movimento muito animado e
alegre, apresentando a letra do poeta pernambucano Costa Rego Júnior
(1887/1955), membro da Academia Pernambucana de Letras, que descreve a
cascavel, uma chama lotada, dormindo enroscada parecendo um ninho furta-cores
onde não existe passarinho. A música a faz despertar, acordando–lhe o carinho.
O poeta da canção finaliza o texto revelando a
combinação dos gestos da cascavel com os aspectos musicais:
“Encanta-a a
harmonia indolente, formando uma cadeia interrupta de ss (ésses), vai os guizos
tinindo, elastecendo as veias e sacudindo no ar, desordenadamente, pizzicatos,
rondós, semínimas, colcheias...”
As estrelas, os vulcões, os ventos, os rios,
os minerais, os vegetais, a terra, a alma humana, os seres angelicais, os
animais possuem, no íntimo, a chama lotada. Aí está a imortalidade que se
reveste de muitas formas e se transmuda, no decorrer de milênios, em conteúdos
e inúmeras formas.
Enroscada sobre si mesma, a cascavel dorme
sono letárgico, tomando o aspecto de um ninho furta-cores onde a morte tem
morada certa. O veneno palpita em ambiente que ameaça e mata. Os passarinhos
inocentes, amparados pelo instinto de conservação, sentem o perigo e não se
aproximam.
A presença de animal réptil é sempre
ameaçadora. Vem desde os tempos bíblicos, a história da serpente espalhando
desolação e terror numa situação que gerou a expulsão do paraíso de dois
amantes que, segundo a tradição religiosa, deram início a prole humana, a raça
adâmica, a que existe, desde eóns de anos, no planeta Terra.
Dentro da conversibilidade desencanto em
encanto, a música surge como a moeda que adota o sistema de troca da morte para
a vida. Não apenas o som, mas também e principalmente a vibração que revela a
chama eterna que palpita dentro dos sentidos, vindo de regiões onde o mistério
reina. Todos os seres da criação estão imantados nessa energia.
Temos algo em comum com tudo que existe.
A cascavel não é boa nem ruim, é simplesmente cascavel. A dualidade é característica da conscienca dissociada que está indo embora do planeta, juntamete com ela o livre-arbítrio.
A cascavel não é boa nem ruim, é simplesmente cascavel. A dualidade é característica da conscienca dissociada que está indo embora do planeta, juntamete com ela o livre-arbítrio.
Os componentes dos reinos mineral, vegetal e
animal (excetuando-se os homens) por não terem o livre-arbítrio, estão
disponíveis ao abandono da luz e o recebem sem as franjas de interferência que
possuem os seres humanos na consciência planetária dissociada. Daí a
importância de estarmos em contato com a natureza.
O instinto de preservação da vida, que a
cascavel tem, existe também no reino humano. Elevar esse nível a um nível de
consciência mais profundo é que torna o homem diferente das serpentes.
O despertar da consciência ou do saber–existir
pode ocorrer dentro do reino animal onde a serpente tem o seu habitat. A música
penetra nos sentidos da cascavel e a induz a entrar em harmonia com o que ouve
e sente, manifestando-se participantes do reino animal em sua forma mais
sublimada.
A música, por ser vibração, tem esse condão
que vem do reino dos mistérios, mistérios porque a consciência dissociada da
humanidade dividida e separada não pode perceber.
Dentro dessa vibração, a serpente fica
encantada e dança no ritmo que sente os sonhos de ser gente igual a nós, assim
como nós, em momentos de inefável beleza, sonhamos em ser anjos do paraíso de
que nos revelaram os poetas e os compositores clássicos em suas poesias e
músicas eternas.
Com o abandono à luz, sustentado por 4
pilares: simplicidade, humildade, transparência e alegria, o ser humano atinge
o samadhi, o estado parabrahman, o êxtase espiritual, a beatitude, o estado
absoluto, o nirvana, o paraíso, o espaço infinito onde existem os seres
multidimensionais.
Aquele ser de luz, que foi preterido por
Barrabás na varanda de Pilatos, está lá, vocês não acreditam ou estão
acreditando no mito da caverna ou no mito de Prometeu que falsificou os
sistemas da vida planetária na área humana?
No entanto, a Terra foi emancipada dessa
falsificação nos albores do novo ciclo planetário que está ocorrendo deste o
momento do alinhamento da galáxia inteira.
Sim, no centro da Via-Lactea, a galáxia onde o
sistema solar onde a Terra gira, Jesus está comandando a transição planetária e
vê a separação do joio e do trigo, no cumprimento da super-profecia.
Retomando ao assunto inicial, nesse enlevo de
sublime magia, a serpente movimenta-se, numa coreografia que estende no ar a
forma de ss, vibrando de lá pra cá e de cá pra lá. Quem sabe não foi ela a
primeira criatura a dançar a dança do ventre?
Blog Fernando Pinheiro, escritor
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