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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A CASCAVEL


Escrita nos idos de 1917, na cidade do Rio de Janeiro, a música A Cascavel, destinada para canto e piano, de Villa–Lobos, é sustentada pelo movimento muito animado e alegre, apresentando a letra do poeta pernambucano Costa Rego Júnior (1887/1955), membro da Academia Pernambucana de Letras, que descreve a cascavel, uma chama lotada, dormindo enroscada parecendo um ninho furta-cores onde não existe passarinho. A música a faz despertar, acordando–lhe o carinho.
O poeta da canção finaliza o texto revelando a combinação dos gestos da cascavel com os aspectos musicais:
“Encanta-a a harmonia indolente, formando uma cadeia interrupta de ss (ésses), vai os guizos tinindo, elastecendo as veias e sacudindo no ar, desordenadamente, pizzicatos, rondós, semínimas, colcheias...”
As estrelas, os vulcões, os ventos, os rios, os minerais, os vegetais, a terra, a alma humana, os seres angelicais, os animais possuem, no íntimo, a chama lotada. Aí está a imortalidade que se reveste de muitas formas e se transmuda, no decorrer de milênios, em conteúdos e inúmeras formas.
Enroscada sobre si mesma, a cascavel dorme sono letárgico, tomando o aspecto de um ninho furta-cores onde a morte tem morada certa. O veneno palpita em ambiente que ameaça e mata. Os passarinhos inocentes, amparados pelo instinto de conservação, sentem o perigo e não se aproximam.
A presença de animal réptil é sempre ameaçadora. Vem desde os tempos bíblicos, a história da serpente espalhando desolação e terror numa situação que gerou a expulsão do paraíso de dois amantes que, segundo a tradição religiosa, deram início a prole humana, a raça adâmica, a que existe, desde eóns de anos, no planeta Terra.
Dentro da conversibilidade desencanto em encanto, a música surge como a moeda que adota o sistema de troca da morte para a vida. Não apenas o som, mas também e principalmente a vibração que revela a chama eterna que palpita dentro dos sentidos, vindo de regiões onde o mistério reina. Todos os seres da criação estão imantados nessa energia.
Temos algo em comum com tudo que existe.
A cascavel não é boa nem ruim, é simplesmente cascavel. A dualidade é característica da conscienca dissociada que está indo embora do planeta, juntamete com ela o livre-arbítrio.
Os componentes dos reinos mineral, vegetal e animal (excetuando-se os homens) por não terem o livre-arbítrio, estão disponíveis ao abandono da luz e o recebem sem as franjas de interferência que possuem os seres humanos na consciência planetária dissociada. Daí a importância de estarmos em contato com a natureza.
O instinto de preservação da vida, que a cascavel tem, existe também no reino humano. Elevar esse nível a um nível de consciência mais profundo é que torna o homem diferente das serpentes.
O despertar da consciência ou do saber–existir pode ocorrer dentro do reino animal onde a serpente tem o seu habitat. A música penetra nos sentidos da cascavel e a induz a entrar em harmonia com o que ouve e sente, manifestando-se participantes do reino animal em sua forma mais sublimada.
A música, por ser vibração, tem esse condão que vem do reino dos mistérios, mistérios porque a consciência dissociada da humanidade dividida e separada não pode perceber.
Dentro dessa vibração, a serpente fica encantada e dança no ritmo que sente os sonhos de ser gente igual a nós, assim como nós, em momentos de inefável beleza, sonhamos em ser anjos do paraíso de que nos revelaram os poetas e os compositores clássicos em suas poesias e músicas eternas.
Com o abandono à luz, sustentado por 4 pilares: simplicidade, humildade, transparência e alegria, o ser humano atinge o samadhi, o estado parabrahman, o êxtase espiritual, a beatitude, o estado absoluto, o nirvana, o paraíso, o espaço infinito onde existem os seres multidimensionais.
Aquele ser de luz, que foi preterido por Barrabás na varanda de Pilatos, está lá, vocês não acreditam ou estão acreditando no mito da caverna ou no mito de Prometeu que falsificou os sistemas da vida planetária na área humana?
No entanto, a Terra foi emancipada dessa falsificação nos albores do novo ciclo planetário que está ocorrendo deste o momento do alinhamento da galáxia inteira.
Sim, no centro da Via-Lactea, a galáxia onde o sistema solar onde a Terra gira, Jesus está comandando a transição planetária e vê a separação do joio e do trigo, no cumprimento da super-profecia.
      Retomando ao assunto inicial, nesse enlevo de sublime magia, a serpente movimenta-se, numa coreografia que estende no ar a forma de ss, vibrando de lá pra cá e de cá pra lá. Quem sabe não foi ela a primeira criatura a dançar a dança do ventre?

Blog Fernando Pinheiro, escritor

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