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sábado, 6 de outubro de 2012

CANÇÃO DO AMOR


Destinada para canto e piano, a Canção do Amor, apresenta os seguintes movimentos: quase allegro, lento, più mosso e molto lento, peça integrante da suíte Floresta do Amazonas, de Villa–Lobos.

A letra da música foi redigida pela poetisa e diplomata  Dora Vasconcelos (1910/1953) que inicia nos seguintes  versos:
  “Sonhar  na  tarde  azul  de  teu  amor  ausente.
  Suportar  a  dor  cruel  com  esta  mágoa  crescente.
  o  tempo  em  mim  agrava o meu tormento, amor!”

Sonhar na tarde azul é manter uma atmosfera azulada que veio dentro do horizonte nos primeiros clarões do dia. É sentir a manhã radiosa, quando já começava a raiar o amanhecer.

Nessa atmosfera suave e amena, o amor ausente é envolvido pelo sentimento que sentimos vir da natureza.

Presença/ausência são situações que se modificam conforme as maneiras  como  as  encaramos. O longe pode estar perto e o perto pode estar longe. A presença ou a aparente solidão é questão do sentir e compreender uma realidade mais profunda, independente  da  distância.

A emoção recrudesce na distância: sentir saudades e deixar-se levar pelo desconhecido para agravar a dor, isto é apenas no plano mental. Diminuindo a certeza do amor pleno, aumenta cada vez mais a ausência que é mais física do que espiritual.
 
O tempo, recurso valioso que guarda as horas, agrava o tormento de uma ausência amorosa, como também ajuda-nos a  esquecer momentos que se desgastaram nos desencantos, dependendo do direcionamento que lhe dermos, dentro de nossa escolha.

A letra da canção diz textualmente: “Tão bom é saber  calar e deixar-se vencer pela realidade”. A realidade a que  estamos nos referindo, desde o início, é a natureza que nos envolve, a começar dos primeiros raios do sol, pois dela somos participantes ou, mais precisamente, somos integrantes no  reino que nos cabe por direito natural.

Observemos a gota d'água caída da chuva, sozinha no  espaço tremula oscilante sem parar, ao se encontrar com o  oceano, perde a individualidade própria e passa a ser parte integrante de uma massa gigantesca que atinge a linha do  horizonte.

O pensamento longe da pessoa amada, aumenta o amor que sentimos, talvez mais intenso do que quando estávamos  tão  perto,  tão  perto  fisicamente.  É  muito  bom viver o amor, presente ou ausente, alimentar o amor numa distância que  pode trazer saudades.

Recordar momentos de enlevo, sentir o ardor dos beijos e até mesmo viver triste a soluçar, ficar a sós apaixonadamente, faz muito bem à alma, embora não  possamos compreender o desconforto do momento. No reencontro, a chama estará mais  flamejante e bela. 


Blog  Fernando Pinheiro, escritor
 

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