Destinada para
canto e piano, a Canção do Amor, apresenta os seguintes movimentos: quase allegro,
lento, più mosso e molto lento, peça integrante da suíte Floresta do Amazonas,
de Villa–Lobos.
A letra da
música foi redigida pela poetisa e diplomata
Dora Vasconcelos (1910/1953) que
inicia nos seguintes versos:
“Sonhar
na tarde azul
de teu amor
ausente.
Suportar
a dor cruel
com esta mágoa
crescente.
o
tempo em mim
agrava o meu tormento, amor!”
Sonhar na
tarde azul é manter uma atmosfera azulada que veio dentro do horizonte nos
primeiros clarões do dia. É sentir a manhã radiosa, quando já começava a raiar
o amanhecer.
Nessa
atmosfera suave e amena, o amor ausente é envolvido pelo sentimento que
sentimos vir da natureza.
Presença/ausência
são situações que se modificam conforme as maneiras como
as encaramos. O longe pode estar
perto e o perto pode estar longe. A presença ou a aparente solidão é questão do
sentir e compreender uma realidade mais profunda, independente da
distância.
A emoção
recrudesce na distância: sentir saudades e deixar-se levar pelo desconhecido
para agravar a dor, isto é apenas no plano mental. Diminuindo a certeza do amor
pleno, aumenta cada vez mais a ausência que é mais física do que espiritual.
O tempo,
recurso valioso que guarda as horas, agrava o tormento de uma ausência amorosa,
como também ajuda-nos a esquecer
momentos que se desgastaram nos desencantos, dependendo do direcionamento que
lhe dermos, dentro de nossa escolha.
A letra da
canção diz textualmente: “Tão bom é saber
calar e deixar-se vencer pela realidade”. A realidade a que estamos nos referindo, desde o início, é a
natureza que nos envolve, a começar dos primeiros raios do sol, pois dela somos
participantes ou, mais precisamente, somos integrantes no reino que nos cabe por direito natural.
Observemos a
gota d'água caída da chuva, sozinha no
espaço tremula oscilante sem parar, ao se encontrar com o oceano, perde a individualidade própria e
passa a ser parte integrante de uma massa gigantesca que atinge a linha do horizonte.
O pensamento
longe da pessoa amada, aumenta o amor que sentimos, talvez mais intenso do que
quando estávamos tão perto,
tão perto fisicamente.
É muito bom viver o amor, presente ou ausente,
alimentar o amor numa distância que pode
trazer saudades.
Recordar momentos de enlevo, sentir o ardor dos beijos e até mesmo
viver triste a soluçar, ficar a sós apaixonadamente, faz muito bem à alma,
embora não possamos compreender o
desconforto do momento. No reencontro, a chama estará mais flamejante e bela.
Blog Fernando
Pinheiro, escritor
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