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sábado, 13 de outubro de 2012

APPASSIONATA

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         Num clima tempestuoso em que se desenrola a Sonata   n° 23, em fá menor, opus 57, Beethoven retratou, de forma magistral, as paixões humanas diante da inexorabilidade dos fatos que se impõem como as ondas do mar.

         Os sons harmoniosos e vibrantes expõem a ligação intrínseca do homem com o seu destino que se revela em condições justas e exatas como o movimento allegro assai que se desdobra nos primeiros andamentos da Sonata.

      Nesse clima de alegria, as paixões humanas seguem à frente traçando rumos que se recomeçam para compor o que  sempre estava faltando. Só o amor dá a plenitude.

        As paixões humanas são cavalos selvagens que correm mostrando força acima das rédeas, buscando sempre a liberdade dos ventos. O compositor alemão igualmente retrata o drama interior do homem que busca, numa paixão   desenfreada,  ser  livre.

         Como os ventos, as ondas do mar, as tempestades de areia são forças que têm uma direção, a Sonata nos revela a lógica evolutiva das formas temáticas, harmônicas e rítmicas em que o compositor deixou ao mundo como lição de beleza  imperecível.

         Os desejos, que explodem numa paixão, buscam a felicidade, como as crianças alegres caminhando entre perigos da rua. É o impulso maior da criatura humana que luta para que tudo dê certo, embora não saiba o que realmente lhe  convém.

         Nas caminhadas em busca da evolução, o homem se veste das mais diversificadas roupagens e acolhe, se for inteligente, as circunstâncias que lhe dizem respeito. Não precisa lutar por nada, porque tudo se lhe apresenta claro e cristalino e, numa visão consciente, reconhece o que está incluído nesse jogo de luzes.

      As imagens fluídicas da Sonata nos revela o turbilhão de pensamentos humanos voltados ao campo do desejo e, numa visão distante, parece-nos que esses pensamentos se transmutam na efervescência das abelhas fazendo o mel.

         A paixão é o ponto máximo do desejo. Nela tudo palpita, geme e chora como a criança procurando os seios maternos e na separação dos sonhos que fugiram por outros caminhos.

         Assim como não precisamos sacrificar um cavalo selvagem, mas domesticá-lo, aproveitando suas forças, as paixões não devem ser extintas abruptamente, pois são impulsos fortes revelando o destino. Busquemos a inspiração para saber por onde devemos seguir. 

       Em dois movimentos allegro da Sonata sentimos as paixões humanas, em busca da felicidade, são amores que não esperam o amanhã, vivendo nas madrugadas o que pode ser desfrutado à luz do dia. Transportando esse sentimento para o clima nacional, a canção Beijo Sem, de autoria de Adriana Calcanhoto, na voz de Teresa Cristina & Marisa Monte, retrata  bem este perfil.

      Nesse clima de busca, encontro, desencontro e o encontro definitivo com os verdadeiros amores, há uma jornada de tempo revelando as etapas que compõem o roteiro  do  destino.

         Antes mesmo do final da composição musical, sentimos que as paixões são amadas pelo compositor como amamos o sexo e os anjos, o dinheiro e o desprendimento, o lar, o trabalho, as leis e os costumes e a própria música como meios de nos engrandecer cada vez mais no conceito que deslinda os  enigmas do caminhar.

       Nos jogos das paixões e das situações adversas que não favorecem a sincronia do tempo e espaço, nos sonhos que   pensamos ser sonhos, aceitamos o aparente fracasso como algo  que não seria bom para  o  nosso viver.

         A atmosfera do fiat voluntas Tua abafa todos os desejos, paixões, até mesmo o decantado livre-arbítrio que se anula diante do Absoluto, em manifestações multifacetadas que fazem girar as galáxias e abrem uma flor.

    Beethoven, o artista da transcendência, revelou, na mais convincente das artes, as paixões humanas que caminham em direção do amor, como o trigo a caminho  da  mesa.

       A Appassionata é um dos grandes momentos da música, tão sublime como naquele instante em que o homem passa a compreender toda a sua trajetória na Terra e caminha inteligentemente ao estágio da angelitude, como  fez  Beethoven.

         Beethoven, um ser multidimensional, no momento atual poderia estar nas estrelas, mas preferiu estar na psicosfera da Terra, acompanhando a luz crística retornando ao planeta. Não é dito que Jesus voltaria com os anjos?

     Beethoven, retratista das paixões humanas e, acima de tudo, semeador do paraíso.

Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site  www.fernandopinheirobb.com.br

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