A
Seresta n° 7 – Cantiga de Viúvo, de Villa-Lobos, para canto e piano, foi escrita nos idos de 1926,
na cidade do Rio de Janeiro. Posteriormente, em fevereiro de 1979, o compositor
paulista Osvaldo Lacerda, o célebre autor da Suite Piratininga e de inúmeras
músicas para canto, obras sacras, peças de orquestra e músicas de câmara,
escreveu Cantiga de Viúvo, com a letra do poeta Carlos Drummond de
Andrade.
Refletindo
o sonho, na praia do sono, a vida apresenta-nos estuante e bela, dentro dos
arcanos que deslindam os enigmas do caminhar. O estado de vigília, numa
alternância dormir e acordar, revela-nos diariamente os liames que
estabelecemos em esferas subjetivas ou etéricas.
O
poeta mineiro, ao escrever a letra da Cantiga de Viúvo, usou imagens
ideoplásticas da alma humana mergulhadas nos
liames que tecem
o destino criado
até mesmo antes
que o homem abrisse os olhos. Eis, a seguir, o
início do texto:
“A
noite caiu na
minh'alma,
Fiquei
triste sem querer,
Uma
sombra veio vindo,
Veio
vindo, me abraçou.
Era
a sombra de
meu bem
que
morreu há tanto
tempo.”
Mesmo
mencionando que “a noite caiu na minha´alma”,
o poeta não diz que teve um sonho; isto comprova que o estado de vivência da alma, que ele sente,
independente da condição de sonhar no
sono. Isto lhe permite entender a vida, na
informação da fonte de origem, nem mesmo tem a necessidade de
consultar os travesseiros.
No
sentido inverso, o homem que ainda não se desprendeu dos instintos grosseiros
que o fazem criar uma atmosfera pouco inteligente, não tem condições de
perceber que o seu mundo íntimo tem as revelações necessárias à sua caminhada
como ser inteligente à busca de sua
identificação com a harmonia do Universo.
A
esposa do poeta, falecida, conforme menciona a letra da música, veio ao
encontro dele. Ela o abraçou com tanto amor, o apertou com tanto fogo e o
beijou. Isto comprova que a morte, como
fim de tudo, não existe, e ainda nos dá a oportunidade de refletir na continuação dos amores que se
imortalizam. Nas óperas Navio Fantasma, de Wagner e Aída, de Verdi, esta fé
é demonstrada..
A
canção diz que o poeta ficou triste sem querer. A tristeza que ele sentiu era ainda aquela saudade e aquele
vazio em seu coração pela partida da mulher amada. Acostumado com este
sentimento, alimentado por recordações do passado. Quando ela sorriu
devagarinho, certamente a tristeza desapareceu.
Aquele
sorriso da mulher amada é o canto sem palavras que penetrou na alma do poeta.
Isto faz-nos pensar na importância do amor, quanto mais intenso mais vivido. A
alegria são raios cintilantes que se espalham pelas estrelas e que são
devolvidos pelos amores nas noites de
esplendor.
No
reencontro dos amores é desfeita a névoa densa que impedia a visão de um panorama encantador. A
alegria confirma o sentido de amar,
estende todas as virtudes que as religiões buscam passar aos fiéis e ainda
enaltece a vida aos sonhos do Criador.
Confiante
nos segredos da Criação, a jovem mulher que partiu há tanto tempo (a alma que
ama não envelhece, nem morre) disse ao
poeta um adeus com a cabeça, fechou a porta e saiu pela sacada, retornando aos
jardins floridos da espiritualidade que
o seu coração plantou.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
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