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terça-feira, 9 de outubro de 2012

MELODIA SENTIMENTAL


      A Melodia Sentimental, escrita para canto e piano, nos  movimentos poco moderato e com final allegro vivace, integra  a Suíte Floresta do Amazonas, de Villa–Lobos, obteve inúmeras gravações, no Brasil e no exterior, e se destaca, em primeiro  plano, a voz da soprano lírico Bidu Sayão, nome tradicional  na história do canto no Brasil e no exterior. Nos idos de 1996, a cantora popular Zizi Possi também gravou esta melodia em CD.

         Derramando imagens intensamente românticas, a letra desta melodia, com assinatura da poetisa Dora Vasconcelos,  acompanha o lirismo que a música transmite, tão bela como a Melodia Sentimental, de Tchaikovsky. Os primeiros versos  evocam  a  luz  da  lua: 

         “Acorda, vem ver a lua que dorme na noite escura que  fulge tão bela e branca, derramando doçura. Clara chama silente ardendo  o  meu  sonhar.”

         A lua dos fulgores é a luz dos amores, nela um  mundo refulgente estende sonhos aos amantes que buscam inspiração para transmitir a mesma luz que dela se derrama.  Por isso, a lua é meiga e tem a cor d'alma de mulher. A Igreja Católica colocou a imagem da lua debaixo dos pés da Virgem  para mostrar, a nosso ver, a relação de meiguice existente entre  ambas.

         Toda a poesia da Melodia Sentimental é um convite e, se tivéssemos um milhão de dólares, faríamos à mulher amada  uma proposta para ver a lua. Parece fora de propósito a nossa  colocação, mas o que se nos afigura bizarro e esquisito é a  ignorância da beleza que emana da vida.

         Todo um clima de amor que o luar inspira vale tantas riquezas que a nossa proposta seria inferior ao que pudéssemos receber de volta. Quanto custa a felicidade, um momento de  paz profundo, um olhar que os anjos inspiram, a ternura da mulher amada que descobriu o amor dentro de nosso coração? 

         É claro que a aquisição dos bens transitórios e a dos  valores eternos são diferentes, mas uma não prescinde da  outra, assim como a alma não abandona o corpo, enquanto trilhar a trajetória terrena. Pode até fazer viagens astrais, no decorrer do sono, mas deixa um pequeno  percentual, mais ou menos 15%, para movimentar as funções  orgânicas.

         A letra da música descreve a lua que fulge tão bela            e branca, no céu, derramando doçura, e nessa chama faz arder  o sonhar de quem ama. A mulher amada dorme, e quem  sabe,  o ser mais profundo, que nela habita, não está  mais  perto  da  lua!

         No enlevo dos amores, ele desabafa: “quisera saber-te  minha, na hora serena e calma; a sombra confia ao vento o limite da espera”. A sombra simboliza o desconhecimento,  mesmo assim impulsionada pela inspiração que o luar transmite, confia nas mudanças, simbolizadas pelo vento,    para  acabar  com  o  tempo  de  espera.

         O coração palpita entre os amores, ele prossegue o    canto: “quando dentro da noite, reclamo o teu amor”. E,    ainda, suplica pela última vez: “acorda, vem olhar a lua que  brilha na noite escura, querida és linda e meiga, sentir meu  amor  e  sonhar.  Ah!”

         Há uma súplica dentro da noite, e essa súplica será  maior se ele também estiver dormindo. É a alma que sonha e pode revelar os segredos mais íntimos que as circunstâncias  passageiras abafam. Nesse reino da luz, onde a lua surge como testemunha dos amores possíveis e dos amores impossíveis,  colocamos  a  nossa  vida,  a  nossa  alma.

         A luz é um convite ao amor, precisamos conhecer o  caminho, os encantos que os segredos femininos nos revelam à medida que nos colocamos mais próximo, tanto da mulher como da lua, fulgurante e bela. Amar o sonho hoje é amar o desejo que se realiza amanhã, tão próximo, tão  próximo  que  pode  ser  um  instante  depois.

Blog  Fernando Pinheiro, escritor

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