A Melodia Sentimental, escrita para canto e
piano, nos movimentos poco
moderato e com final allegro vivace, integra a Suíte Floresta do Amazonas, de Villa–Lobos,
obteve inúmeras gravações, no Brasil e no exterior, e se destaca, em
primeiro plano, a voz da soprano
lírico Bidu Sayão, nome tradicional na história do canto no Brasil e no exterior. Nos idos de 1996, a
cantora popular Zizi Possi também gravou esta melodia em CD.
Derramando
imagens intensamente românticas, a letra desta melodia, com assinatura da
poetisa Dora Vasconcelos,
acompanha o lirismo que a música transmite, tão bela como a Melodia Sentimental, de Tchaikovsky. Os primeiros versos evocam a luz da lua:
“Acorda,
vem ver a lua que dorme na noite escura que fulge
tão bela e branca, derramando doçura. Clara chama silente ardendo o
meu sonhar.”
A
lua dos fulgores é a luz dos amores, nela um mundo refulgente
estende sonhos aos amantes que buscam inspiração para transmitir a mesma luz
que dela se derrama. Por isso, a
lua é meiga e tem a cor d'alma de mulher. A Igreja Católica colocou a imagem da
lua debaixo dos pés da Virgem para
mostrar, a nosso ver, a relação de meiguice existente entre ambas.
Toda
a poesia da Melodia Sentimental é um convite e, se tivéssemos um milhão de
dólares, faríamos à mulher amada
uma proposta para ver a lua. Parece fora de propósito a nossa colocação, mas o que se nos afigura
bizarro e esquisito é a ignorância
da beleza que emana da vida.
Todo
um clima de amor que o luar inspira vale tantas riquezas que a nossa proposta
seria inferior ao que pudéssemos receber de volta. Quanto custa a felicidade,
um momento de paz profundo, um
olhar que os anjos inspiram, a ternura da mulher amada que descobriu o amor
dentro de nosso coração?
É
claro que a aquisição dos bens transitórios e a dos valores eternos são diferentes, mas uma não prescinde
da outra, assim como a alma não
abandona o corpo, enquanto trilhar a trajetória terrena. Pode até fazer viagens
astrais, no decorrer do sono, mas deixa um pequeno percentual, mais ou menos 15%, para movimentar as funções orgânicas.
A
letra da música descreve a lua que fulge tão bela
e branca, no céu, derramando doçura, e nessa chama faz arder o sonhar de quem ama. A mulher amada
dorme, e quem sabe, o ser mais profundo, que nela habita,
não está mais perto da lua!
No
enlevo dos amores, ele desabafa: “quisera saber-te minha, na hora serena e calma; a sombra confia ao vento o
limite da espera”. A sombra simboliza o desconhecimento, mesmo assim impulsionada pela
inspiração que o luar transmite, confia nas mudanças, simbolizadas pelo
vento, para acabar com o tempo de espera.
O
coração palpita entre os amores, ele prossegue o canto: “quando dentro da noite, reclamo o teu
amor”. E, ainda,
suplica pela última vez: “acorda, vem olhar a lua que brilha na noite escura, querida és linda e meiga, sentir meu amor e sonhar. Ah!”
Há
uma súplica dentro da noite, e essa súplica será maior se ele também estiver dormindo. É a alma que sonha e
pode revelar os segredos mais íntimos que as circunstâncias passageiras abafam. Nesse reino da luz,
onde a lua surge como testemunha dos amores possíveis e dos amores
impossíveis, colocamos a
nossa vida, a
nossa alma.
A
luz é um convite ao amor, precisamos conhecer o caminho, os encantos que os segredos femininos nos
revelam à medida que
nos colocamos mais próximo, tanto da mulher como da lua,
fulgurante e bela. Amar o sonho hoje é amar o desejo que se
realiza amanhã, tão próximo, tão
próximo que pode ser um instante depois.
Blog
Fernando Pinheiro, escritor
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