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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

AS NEBLINAS


Com entusiasmo no movimento allegretto pastorale, a música As Neblinas, do compositor e maestro Souza Lima, destinada para canto e piano, foi escrita nos idos de 1947, e traz os versos do poeta Guilherme de Almeida, imortal da Academia Brasileira de Letras.
O tempo das estações estimula-nos a pensar o que está na natureza reflete-se dentro do homem. Inverno lembra-nos o frio, o gelo; o outono o desfolhar de árvores, o fim de uma etapa que irá mudar de fisionomia ou roupagem; o verão o calor, o entusiasmo de um empreendimento; a primavera o tempo ameno e agradável onde tudo parece rejuvenescer.
O poeta gosta das névoas cismadoras porque faz nascer nele visões consoladoras. Com a predisposição que tem no íntimo, ao olhar o tempo ao redor, faz criar um campo magnético vibratório propício a manifestação de eflúvios que se expande numa correlação de igualdade de forças. Pensamentos de amor atraem pensamentos de amor, não importa se estejam na esfera material ou espiritual.
As ideias cismadoras do que ocorrem lá em cima, onde as névoas seguem uma direção que os ventos encaminham, inspiraram a Guilherme de Almeida uma das mais belas imagens poéticas escritas na língua portuguesa:
“Quanta  ideia  despertam,  quanta!  Algumas
vezes,  eu  penso  que    qualquer  altar
erguido    no  céu,  e  que  estas  brumas
são  de  incenso  que a lua anda a queimar...”
Em seguida, o cenário desce como um véu pelas casas a roçar e a noite parece uma noiva casta e tímida que vai se casar, numa época em que o sentido do casamento estava mais ligado aos interesses da alma do que do corpo.
Ambos são úteis e necessários numa apreciação que deveria ser mais para o lado que tende a apresentar um sentido mais amplo. A escolha é de um cada. As consequências determinarão a qualidade da escolha.


          Blog Fernando Pinheiro, escritor
          Site  www.fernandopinheirobb.com.br

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