Com entusiasmo no movimento allegretto pastorale, a música As
Neblinas, do compositor e maestro Souza Lima, destinada para canto e piano, foi
escrita nos idos de 1947, e traz os versos do poeta Guilherme de Almeida,
imortal da Academia Brasileira de Letras.
O tempo das estações estimula-nos a pensar o que está na
natureza reflete-se dentro do homem. Inverno lembra-nos o frio, o gelo; o
outono o desfolhar de árvores, o fim de uma etapa que irá mudar de fisionomia
ou roupagem; o verão o calor, o entusiasmo de um empreendimento; a primavera o
tempo ameno e agradável onde tudo parece rejuvenescer.
O poeta gosta das névoas cismadoras porque faz nascer nele
visões consoladoras. Com a predisposição que tem no íntimo, ao olhar o tempo ao
redor, faz criar um campo magnético vibratório propício a manifestação de
eflúvios que se expande numa correlação de igualdade de forças. Pensamentos de
amor atraem pensamentos de amor, não importa se estejam na esfera material ou
espiritual.
As ideias cismadoras do que ocorrem lá em cima, onde as
névoas seguem uma direção que os ventos encaminham, inspiraram a Guilherme de
Almeida uma das mais belas imagens poéticas escritas na língua portuguesa:
“Quanta ideia despertam,
quanta! Algumas
vezes, eu penso que há qualquer altar
erguido lá no céu, e
que estas brumas
são de incenso que a lua anda a queimar...”
Em seguida, o cenário desce como um véu pelas casas a
roçar e a noite parece uma noiva casta e tímida que vai se casar, numa época em
que o sentido do casamento estava mais ligado aos interesses da alma do que do
corpo.
Ambos são úteis e necessários numa apreciação que deveria
ser mais para o lado que tende a apresentar um sentido mais amplo. A escolha é
de um cada. As consequências determinarão a qualidade da escolha.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
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