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terça-feira, 16 de outubro de 2012

CARMINA BURANA

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     O impacto brusco serve para despertar a alma adormecida. Antigamente, o poço de cobras e o eletrochoque eram muito usados na cura dos doentes mentais e, ainda hoje, a decepção amarga leva-nos a destruir os ídolos que construímos.

         Carmina Burana, a obra-prima do compositor Carl Orff, começa em cadências marciais que se tornam suaves, num lindo adágio, depois prossegue deliberadamente anti-romântica, quase sem harmonia, baseada em força rítmica de exuberante alegria, com fortes traços de sofisticação e erotismo.

         O impacto é flagrante e sentimos vontade de não mais continuar ouvindo a música. Mas, para aqueles que precisam ser despertados de todas as letargias, este é um remédio eficaz. É uma terapia de doses fortes, de grande valor.

         Numa linda tarde de domingo, primavera carioca, no Teatro Galeria, o Dr. Luiz George de Oliveira Bello, autor do Prefácio do best-sellers Minutos de Sabedoria, de Carlos Torres Pastorino, fazendo exposição de uma bela palestra, menciona que, durante dez milênios de civilização, a humanidade sempre buscou levar a vida numa brincadeira, pois a emoção estava à frente da inteligência norteando os comportamentos humanos no lar, nas oficinas de trabalho, nos  templos, nos palácios de governo.

         Homens e mulheres, prossegue o renomado médico, brincando de marido e esposa, professores e alunos apostando brincadeiras pessoais, multidões envolvidas em apostas coletivas para buscar a sorte, figuras escolhidas pelo povo, num clima de total emoção, brincando de governantes, levando milhões de pessoas à miséria, ao confronto de armas como acontece em muitos países do mundo.

         Os meios de comunicação de massa levam aos lares programas de audiência que têm aceitação imediata do público. Faz sucesso tudo aquilo que está ligado à emoção.

      A civilização egípcia, onde a Grécia e Israel foram buscar conhecimentos que se espalharam pela atual civilização, já possuía um sentido sério sobre a vida humana. A palavra  sagrada Deus, no reinado de Aknaton (Amenófis IV), era entendida inteligentemente como o passado, o presente e o futuro, em outras palavras era o infinito (tempo, espaço). 

         Depois, a humanidade conheceu duas grandes revelações de sabedoria, quando surgiu Moisés, no aprendizado do monoteísmo de Aknaton, e os profetas e, num momento inigualável a qualquer outro estágio  evolutivo, a presença de Jesus para revelar ao mundo o caminho, a verdade e a vida.

           Mesmo assim, com toda essa bagagem rica de conhecimentos, a maioria da humanidade, preferiu mergulhar nas ondas da emoção do que refletir, inteligentemente,  acerca  do  seu  caminhar.

       Acostumada, por tradição, a adorar ídolos e deuses desconhecidos, tem agora a concepção de grandeza divina apenas num anjo, num profeta, nos santos, sem abranger a  ideia do universo infinito.

         Esse reflexo espiritual se espalha em toda a humanidade. Ama-se  alguém  por ele ser do partido, da família, da religião ou, ainda, porque lhe faz demonstrações de solidariedade. É  um grande avanço, mas isto não se completa.

        Acrescenta o ilustre conferencista que estamos vivendo o momento de sermos felizes para sempre ou chorarmos até encher lagos de lágrimas em outros vales da morte como aconteceu com os fundadores da civilização egípcia, expulsos de outro planeta que se transformou num recanto do paraíso [ARMOND, 1990].

         Visitamos em sonhos as regiões umbrais inferiores onde estão indo quem vive atualmente com as mesmas vibrações desses umbrais. Não ficamos nas concentrações tumultuadas onde o desespero é gritante. Num sítio ermo, presenciamos acordar do entorpecimento, em que estavam enquanto vivas, pessoas deformadas possuindo apenas cabeça e tronco, sem membros na forma humanóide. Apenas as observemos e saímos de retorno ao corpo físico, pois estávamos em sonho.

         A profecia da herança da Terra aos mansos e pacíficos  está sendo cumprida neste final de ciclo planetário, em que se descortina os horizontes do 3° milênio, onde se vê o confronto de valores diversos  -  a separação do joio e do trigo.

      E num despertar das ilusões, a música Carmina Burana vigorosamente bela e expressiva, é mais uma mensagem para  a nossa alma adormecida neste chamamento dos últimos   trabalhadores da seara.

         Completando a palestra, na tarde primaveril, o Dr. Bello, a pessoa querida que vive nos corações de milhares de pessoas,  com  um  sorriso  paterno,  nos  diz:     

         “Vamos brincar ainda um pouco mais porque ainda somos um pouco crianças. Mas, não deixemos que as emoções   ocupem o lugar de nossa inteligência que precisa   reconhecer os amores que a vida nos oferece”.                  

Blog  Fernando Pinheiro, escritor

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