O impacto brusco serve para despertar a alma
adormecida. Antigamente, o poço de cobras e o eletrochoque eram muito usados na
cura dos doentes mentais e, ainda hoje, a decepção amarga leva-nos a destruir
os ídolos que construímos.
Carmina
Burana, a obra-prima do compositor Carl Orff, começa em cadências marciais que
se tornam suaves, num lindo adágio, depois prossegue deliberadamente
anti-romântica, quase sem harmonia, baseada em força rítmica de exuberante
alegria, com fortes traços de sofisticação e erotismo.
O
impacto é flagrante e sentimos vontade de não mais continuar ouvindo a música.
Mas, para aqueles que precisam ser despertados de todas as letargias, este é um
remédio eficaz. É uma terapia de doses fortes, de grande valor.
Numa
linda tarde de domingo, primavera carioca, no Teatro Galeria, o Dr. Luiz George
de Oliveira Bello, autor do Prefácio do best-sellers Minutos de Sabedoria, de
Carlos Torres
Pastorino, fazendo exposição de uma bela palestra, menciona que, durante dez
milênios de civilização, a humanidade sempre buscou levar a vida numa
brincadeira, pois a emoção estava à frente da inteligência norteando os
comportamentos humanos no lar, nas oficinas de trabalho, nos templos, nos palácios de governo.
Homens
e mulheres, prossegue o renomado médico, brincando de marido e esposa,
professores e alunos apostando brincadeiras pessoais, multidões envolvidas em
apostas coletivas para buscar a sorte, figuras escolhidas pelo povo, num clima
de total emoção, brincando de governantes, levando milhões de pessoas à
miséria, ao confronto de armas como acontece em muitos países do mundo.
Os
meios de comunicação de massa levam aos lares programas de audiência que têm
aceitação imediata do público. Faz sucesso tudo aquilo que está ligado à emoção.
A
civilização egípcia, onde a Grécia e Israel foram buscar conhecimentos que se
espalharam pela atual civilização, já possuía um sentido sério sobre a vida
humana. A palavra sagrada Deus, no
reinado de Aknaton (Amenófis IV), era entendida inteligentemente como o
passado, o presente e o futuro, em outras palavras era o infinito (tempo,
espaço).
Depois,
a humanidade conheceu duas grandes revelações de sabedoria, quando surgiu
Moisés, no aprendizado do monoteísmo de Aknaton, e os profetas e, num momento
inigualável a qualquer outro estágio
evolutivo, a presença de Jesus para revelar ao mundo o caminho, a
verdade e a vida.
Mesmo
assim, com toda essa bagagem rica de conhecimentos, a maioria da humanidade,
preferiu mergulhar nas ondas da emoção do que refletir, inteligentemente, acerca do seu caminhar.
Acostumada,
por tradição, a adorar ídolos e deuses desconhecidos, tem agora a concepção de
grandeza divina apenas num anjo, num profeta, nos santos, sem abranger a ideia do universo infinito.
Esse
reflexo espiritual se espalha em toda a humanidade. Ama-se alguém por ele ser do partido, da família, da religião ou, ainda,
porque lhe faz demonstrações de solidariedade. É um grande avanço, mas isto não se completa.
Acrescenta
o ilustre conferencista que estamos vivendo o momento de sermos felizes para
sempre ou chorarmos até encher lagos de lágrimas em outros vales da morte como
aconteceu com os fundadores da civilização egípcia, expulsos de outro planeta
que se transformou num recanto do paraíso [ARMOND, 1990].
Visitamos
em sonhos as regiões umbrais inferiores onde estão indo quem vive atualmente
com as mesmas vibrações desses umbrais. Não ficamos nas concentrações
tumultuadas onde o desespero é gritante. Num sítio ermo, presenciamos acordar do
entorpecimento, em que estavam enquanto vivas, pessoas deformadas possuindo
apenas cabeça e tronco, sem membros na forma humanóide. Apenas as observemos e
saímos de retorno ao corpo físico, pois estávamos em sonho.
A
profecia da herança da Terra aos mansos e pacíficos está sendo cumprida neste final de ciclo planetário, em que
se descortina os horizontes do 3° milênio, onde se vê o confronto de valores
diversos - a separação do joio e do trigo.
E
num despertar das ilusões, a música Carmina Burana vigorosamente bela e
expressiva, é mais uma mensagem para
a nossa alma adormecida neste chamamento dos últimos trabalhadores da seara.
Completando
a palestra, na tarde primaveril, o Dr. Bello, a pessoa querida que vive nos corações de milhares de pessoas, com um sorriso paterno, nos diz:
“Vamos
brincar ainda um pouco mais porque ainda somos um
pouco crianças. Mas, não deixemos que as emoções ocupem o lugar de nossa inteligência que precisa reconhecer os amores que a vida nos
oferece”.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
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