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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

VELEIRO

      Iniciando com sons articulados em “an”, “an” e seguidos  de 23 sons da nota musical “lá”, a canção Veleiro, integrante da suíte Floresta do Amazonas, de Villa–Lobos, escrita nos  idos de 1958, na cidade do Rio de Janeiro, traz os seguintes movimentos: lento, medianamente forte, glissando suave,  rallentando, a tempo, suave e pianíssimo.

         A letra da música é de autoria da poetisa Dora Vasconcelos. Com o desfile de sons em vocalize “an”, “an”,  inicia-se o canto.

     A floresta amazônica, que se estende além das fronteiras  brasileiras, alcança as praias de rios e as praias do mar onde existem veleiros, inclusive os veleiros caribeños, que navegam inspirando poesia e canções.

       Na canção Veleiro o tempo é marcado pelas velas no mar que passam deixando a tarde azul de anil. Rodeado de  ondas do mar, a poetisa vê as ondas no vai-e-vem sem a levar, e uma tristeza cai dentro dela.

       A frustração gera agressão, assim como a mágoa um doce murmúrio de um triste amor. Saber perder é conquistar um lado que precisa ser demonstrado como sinal de aceitação da  vida que não se restringe apenas à esfera de nossa alçada.

         Mesmo estando triste, a mulher recorda o passado e sente um alívio, uma suavidade que a paz inspira e desabafa, em murmúrio: “.. sempre eu fiz muita atenção em não pisar teu  coração”.

         No relacionamento entre casais, situações diversas acontecem, há encontros e desencontros, encantos e desencantos, em que se misturam sentimentos que revelam a  natureza intrínseca de cada um dos parceiros. Uns estão mais perto da realidade única que nos envolve, outros mais atentos  à  sua própria realidade que precisa ter um sentido mais amplo  de convívio.

         Nesse contexto é que a renúncia e o desprendimento     têm aceitação total. Compreender as situações vividas por  nossos amores em dificuldades em aceitar uma realidade  contrária aos seus desejos pessoais, faz-nos sentir satisfeitos    e inclinados a ajudá-los, caso, um dia na vida, venham a nos  recorrer a atenção.          

         A mulher na canção vai-se aos poucos mudando de  atitude. O que está parado cede ao que está em movimento. As ondas do mar, no vai–e–vem, inspiram a mudança de comportamento percebido em seus cismares de tristeza que se diluem como ondas do mar.

         Com lua crescente, a animação cresce e se espalha no horizonte, há um canto de alegria nos últimos versos da canção:

         “Ah! longe no céu vai a onda jogar tudo que é meu dentro  do  mar, vem me esperar, ah! lua, lua branquinha, lua crescente me  espera. Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!”

Blog Fernando Pinheiro, escritor

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