Iniciando com sons articulados em “an”, “an” e
seguidos de 23 sons da nota
musical “lá”, a canção Veleiro, integrante da suíte Floresta do Amazonas, de
Villa–Lobos, escrita nos idos de 1958, na cidade do Rio de
Janeiro, traz os seguintes movimentos: lento, medianamente forte, glissando
suave, rallentando, a tempo, suave
e pianíssimo.
A
letra da música é de autoria da poetisa Dora Vasconcelos. Com o desfile de sons em vocalize “an”,
“an”, inicia-se o canto.
A
floresta amazônica, que se estende além das fronteiras brasileiras, alcança as praias de rios
e as praias do mar onde existem veleiros, inclusive os veleiros caribeños, que
navegam inspirando poesia e canções.
Na
canção Veleiro o tempo é marcado pelas velas no mar que passam deixando a tarde azul
de anil. Rodeado de ondas do mar,
a poetisa vê as ondas no vai-e-vem sem a levar, e uma tristeza cai dentro dela.
A
frustração gera agressão, assim como a mágoa um doce murmúrio de um triste
amor. Saber perder é conquistar um lado que precisa ser demonstrado como sinal
de aceitação da vida que não se
restringe apenas à esfera de nossa alçada.
Mesmo
estando triste, a mulher recorda o passado e sente um alívio, uma suavidade que
a paz inspira e desabafa, em murmúrio: “.. sempre eu fiz muita atenção em não
pisar teu coração”.
No
relacionamento entre casais, situações diversas acontecem, há encontros e
desencontros, encantos e desencantos, em que se misturam sentimentos que
revelam a natureza intrínseca de
cada um dos parceiros. Uns estão mais perto da realidade única que nos envolve, outros mais
atentos à sua própria realidade que precisa ter
um sentido mais amplo de convívio.
Nesse
contexto é que a renúncia e o desprendimento têm aceitação total. Compreender as
situações vividas por nossos
amores em dificuldades em aceitar uma realidade contrária aos seus desejos pessoais, faz-nos sentir
satisfeitos e
inclinados a ajudá-los, caso, um dia na vida, venham a nos recorrer a atenção.
A
mulher na canção vai-se aos poucos mudando de atitude. O que está parado cede ao que está em
movimento. As ondas do
mar, no vai–e–vem, inspiram a mudança de comportamento percebido em seus
cismares de tristeza que se diluem como ondas do mar.
Com
lua crescente, a animação cresce e se espalha no horizonte, há um canto de
alegria nos últimos versos da canção:
“Ah!
longe no céu vai a onda jogar tudo que é meu dentro do mar, vem me esperar, ah! lua, lua branquinha, lua crescente me espera. Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!”
Blog Fernando
Pinheiro, escritor
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