A
suíte Capricho Espanhol, opus 34, do compositor russo Rimsky-Korsakov
consta de cinco fragmentos sinfônicos, dentre os quais se destaca Cena e Canto
Cigano que se desdobra em ritmo de
dança.
Em
tudo vemos a beleza resplandecer. Sorrisos de bailarina da dança-do-ventre,
embalados por música que inspira o
amor e se perpetua nos clássicos.
No
estilo cigano a sedução é o cântico que chama a alma adormecida. A mulher gira
a luz que cria sonhos e fantasias. Suas vestes escarlates se desdobram no ar
como se fossem espumas do mar criando rendas na areia.
Amante
da liberdade, o povo cigano caminha levando a sua alegria aos tristes, a magia
da sedução àqueles que não
acreditam mais na conquista amorosa.
A
arte cigana se espalha nas artes divinatórias, revelando a inspiração dos
poetas e dos místicos, dos senhores do oráculo e dos profetas que enunciavam os
tempos. Debaixo dessa ponte, há muita água a ser dividida. Não somos esotéricos
porque a terceira visão ainda está mergulhada no plano mental nesta consciência
trina que está indo embora do planeta.
A
dança cigana é beleza que se manifesta para desabrochar sorrisos como o vento
brinca na areia do deserto para mostrar que é mais
forte que a ameaça da destruição.
Alma
cigana. Quem tem a alma cigana? Quem dança na luz? Quem ama acima de toda
ameaça? Quem acredita no amor em festas, nos sorrisos e nas mãos que espalham
ternura, sacudindo vestes que desdobram cascatas, cascatas de rendas?
Ainda
numa visão poética, essas vestes são asas de borboletas voando nos jardins ou
são mesmo cascatas de águas espumantes que caem no solo e se levantam
desfazendo-se no ar, num mergulho
dos sonhos.
O
ritual cigano prepara o momento do enlevo que sacode a alma adormecida e a
encaminha para seus sonhos de ventura.
Se
as estrelas no céu refletem luz que brilha sem apagar, o encanto cigano revela o amor se
agitando nos sorrisos e no sacudir do corpo da bailarina que espalha a sedução.
A
dança é um gesto do corpo, como o andar, o cantar, o ouvir e o ler. Não vamos
dar peso e referência a quem a aprecia de modo diferente.
Davi
dançou diante da arca e deixou versos que perpetuam os salmos, Salomé
deslumbrou os olhos do rei num bailado que ficou na História e, na cultura
oriental, a mulher dança antes de
se entregar ao seu amado.
A
soprano Maria Ewing, uma das mais belas Carmem, papel–título da ópera que
encantou o Metropolitan Opera House de Nova York, nos Estados Unidos,
encantamento que se espalhou pelo mundo, interpretou Salomé de Richard Strauss,
onde no palco deixou cair, cumprindo o script, a roupa que a vestia, no espaço
de segundos que a música não deixa os
ouvintes notar a nudez relâmpago.
O
ballet clássico tem o vigor da música que lhe dá cobertura, em vibrações
sonoras que se eternizam como a
beleza nas artes e nos sentimentos que revelam o amor.
A
bailarina cigana dança músicas de um cultura que não deixa o amor se apagar,
num momento tão agitado por
vibrações perturbadoras que passa o planeta inteiro, nos poucos anos que
antecedem ao choque da humanidade.
Refletindo
na missão que todos possuem, nos mais diversificados níveis da cultura, ficamos
a imaginar como é bonito o gesto daqueles que espalham sorrisos e alegria
àqueles que buscam apenas um pequeno impulso para se sentirem felizes.
Blog Fernando
Pinheiro, escritor
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