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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

PRESENÇA ROMÂNTICA


        A música tem uma ligação profunda com os estados d’alma da criatura humana. Quem a mantém dentro de si, cantando ou em silêncio, reproduz as vibrações do compositor ou do referencial vibratório em que ele está intimamente   ligado.

         Por exemplo: Danças Húngaras, de Brahms, Danças   Eslavas, de Dvorak, Danças Romenas, de Bartok são músicas de intensa harmonia que nos fazem lembrar os gestos dos pássaros, dos animais e dos peixes, quando buscam estabelecer relações com o conjunto. Isto é o principio da unidade que a humanidade está adquirindo em larga escala. 

         Os estilos musicais servem para expressar as tendências de cada autor que revela suas experiências sentimentais e, numa visão mais ampla, o caráter nacionalista de um povo. Sentimentos e emoções se misturam em jogos de notas musicais em diferentes movimentos; o ritmo e a harmonia  sempre  os  acompanham.

         A música faz a festa dos amores, recorda inefáveis lembranças que não deixam os momentos de felicidade se apagarem e aquece corações que se curtem ao vivo,   estimulando-os  a  amar  sempre.

         Tudo vibra em torno da música. É comovente a sonoridade das tempestades solares, dos reflexos de luz que dançam as auroras boreais, dos ventos que correm no deserto espalhando nuvens de areia, do relâmpago que converge num só instante a  tocata e a fuga.

         A composição romântica de Brahms, revelada pelas orquestras, é de intensa e profunda musicalidade que se derrama na felicidade dos amores, numa festa de sorrisos e beijos, na certeza do amanhã é agora, num amor eterno. A música embala momentos mágicos de rara beleza, um instante  do paraíso.

         Danças Eslavas, de Dvorak, têm muito a ver com os gestos da mulher que dança, de cabelos soltos, revelando todo o amor que sente num momento em que se prepara para a entrega, a doação total de tudo que vibra  em  seu  ser  mais  profundo. Vale assinalar Danças Eslavas não é música de programa, é simplesmente música, música romântica.

    De igual modo, numa expressão consagrada, Bartok, de nacionalidade húngara, celebra a arte da dança do povo  romeno que faz reunir os sentimentos românticos nos movimentos musicais  que revelam o encanto das horas.

         A mais expressiva das sonatas, a Sonata em dó sustenido menor, opus 27, n° 2, Ao Luar, de Beethoven, traz uma  visão  paradisíaca  que  somente  os  astronautas sentiram ao pisar na Lua. O compositor alemão, de caráter romântico pelo profundo subjetivismo, certamente contemplou as nascentes das chuvas  de prata.

         Como é encantador e real o homem se ligar à beleza do Universo; saber que a nossa casa planetária é azul, como um sinal de que devemos estar mergulhados nos sentimentos que irradiam uma atmosfera azulada. O amor, em seus caminhos cristalinos, mostra-nos por onde devemos passar.

         Assim como o homem gosta de viajar a lugares onde a natureza faz prodígios em santuários ecológicos, outros viveiros de forças mais atuantes se estendem diante de sua alma peregrina para revelarem que no paraíso há muitas moradas.

        Quem não gostaria de ver os anéis de Saturno? Poeiras luminosas, cintilações de cores que se multiplicam em matizes variadas, numa cadência de sons que nos fazem lembrar dos movimentos suaves e profundos das sinfonias de Sibelius.

         A presença romântica está no brilho do luar e no coração do homem que busca o amor como fonte inesgotável de suas aspirações que, por já estar vivendo-as, não sente mais desejo algum. Esse clima suave e alentador embala as noites na Ursa Maior, Andrômeda, Orion, por toda a Via-Láctea e outros  mundos de beleza imperecível.

         Quando ouvimos romance na composição de Beethoven, Dvorak, Tchaikowsky e tantos outros grandes compositores clássicos, o nosso pensamento flui numa  corrente diáfana, que vem da música, e sentimos como é cheio de tanta beleza este   movimento musical.

         Uma atmosfera azulada nos envolve a refletir nos  encantos da mulher amada, nos sorrisos que se doam, nas emoções derramadas em abraços e beijos. É muito importante os casais permanecerem ligados neste enlevo embriagador, no bom sentido, onde surgem espontâneos a sedução e a conquista, sem que tenhamos a preocupação de buscar ou fugir.

         Se apreciamos a beleza da paisagem que se reflete nos montes, nas lagoas, nos riachos e na vegetação que se escorre pelos ventos das campinas, por que não a veríamos mais   atuante na mulher?

     Sabemos que a montanha pode estar encoberta de neblina, trazendo sempre um clima mais frio, mas aparecerá quando o calor do sol vier surgindo lentamente para levar para a atmosfera aquilo que pensamos ser obstáculo. Esta imagem poética pode se refletir nos casais embaraçados no relacionamento conjugal. O calor, sempre o  calor, pode dissipar todas as neblinas.

         Como meio que pode aquecer a ligação entre os casais, pensamos no namoro. O marido e a mulher devem namorar o tempo todo. Não esquecer os menores detalhes e colocar a imaginação criando sonhos que se convertem em realidade ao   contato dos cinco sentidos e, numa dose mais forte, ao sexto sentido, elevando o amor a nível transcendente onde reina a  eternidade.

         O romance, que desperta o enlevo encantador, surge num olhar simples e profundo que pode comover a quem não se alinhou perfeitamente nas correntes fluindo energias que iluminam a interioridade da alma humana.

         A palavra, outro condutor que carrega energia, deve ser bem dirigida no clima romântico, nunca elevando em descompasso que pode destoar toda a harmonia já antes  conseguida.

         Ao contrário da crítica, que pode desestimar quem não a pode compreender em circunstâncias difíceis, devemos estimular o elogio naquilo que a companheira pode trabalhar para recompor situações em que toda a família depende para  se  manter firme.

         Elogiar sempre os encantos da mulher que nos comovem, como também aquelas possibilidades que podem aumentar o calor sempre crescente e vivo, pois somos iguais a notas musicais que precisam ser direcionadas numa pauta musical capaz de ser convertida num romance clássico.

        Quando o homem compreender a harmonia que a mulher traz consigo, verá a beleza se irradiando nos movimentos de expressão corporal, no aroma sensual que desperta os sentidos, no olhar que revela a nudez da alma que precisa, mais do que o corpo, ser acariciada e levada  a êxtase.   

Blog  Fernando Pinheiro, escritor

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