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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A FIGUEIRA DO INFERNO

A esterilidade humana na procriação tem raízes profundas. O homem ou a mulher podem ser acometidos desse mal-estar quando desejam ter filhos.
A ciência, que está no laboratório de pesquisas, pode converter o quadro de expectativas em realizações concretas. A matéria está ligada a outros níveis transcendentes de onde surgem as condições que favorecem a manifestação da vida.
Sem a permissão divina nada acontece. Até mesmo o inferno dogmático teve a sua época para assustar pessoas de comprovada ingenuidade.
Ele ainda existe dentro de um tema poético como se expressou Dante Alighieri numa linguagem eterna para provar que há regiões criadas somente pelo homem para escravizá-lo temporariamente no clima dos desencantos.
Temos respeito a tudo que existe, pois tudo tem um fim proveitoso mesmo fora de alcance das inteligências que não buscam desvendar os enigmas do destino.
Há situações inalteráveis pelo homem, pois estão encobertas dentro do véu do tempo e somente em suas manifestações, os minutos, as horas, os dias, num ciclo que se fecha, pode desvanecer essas situações.
O destino é o arauto do tempo. Para destruí-lo será preciso primeiramente eliminar o tempo. Quem pode fazê-lo? Pobre homem que não dá ouvidos aos poetas e prosadores que o enterneciam em suas mensagens de criação de comovente beleza.
O destino teve inúmeras interpretações como a palavra amor nos estágios daqueles que o sentiam mais próximo às suas necessidades, tanto materiais como transcendentais.
Haverá sempre figueiras que não produzirão frutos e, num clima do paraíso que um dia envolverá a Terra, serão lembranças da época em que o inferno existia.
Não produzir frutos também tem ressonância nos casais que desejam ter filhos. Quando o tempo suspender o seu véu e deixar as horas ecoar em outras etárias, eles poderão recorrer à flexibilidade das manifestações da natureza.
A ciência não agride essas manifestações. Pelo contrário, dá-lhes provas de que o destino pode ser mudado, como o homem muda de profissão, estado civil e naturalidade, dentro de suas condições.
O que vemos na inseminação in vitro é o perigo que surge diante da incapacidade do pai adotivo em aceitar a vida que cresceu no leito interno e sai ao mundo como produto natural de quem a gerou. É o ciúme, o preconceito contra quem não conheceu a sua companheira, o doador do sêmen.
Não somos contra os que se debatem em conflitos íntimos, na incerteza do possível valeu a pena da inseminação artificial    em filhos que estão sujeitos às mesmas condições humanas nas áreas da saúde física e mental.
A ciência pode eliminar defeitos orgânicos nas experiências de laboratórios, mas quem pode prever a alteração de um quadro clínico quando os sintomas ainda não apareceram?
Cada um deve fazer o que lhe convém. Além da vontade dos casais ter seus próprios filhos, vemos outras crianças nas ruas, nos orfanatos que precisam de um lar.
Há implicações de ordem transcendental, ligadas à natureza imortal do homem, que estabelecem as situações para que ocorram as inseminações artificiais e a adoção dos filhos que andam, brincam e trazem a luz no olhar.
O título da crônica é uma homenagem ao dramaturgo Joracy Camargo, membro da Academia Brasileira de Letras, prestigiado autor da obra Figueira do Inferno.
Ao ensejo da solenidade na Academia Brasileira de Letras, nos idos de 1988, realizada pela AICLAF – Academia Internacional de Ciências, Letras, Artes e Filosofia do Rio de Janeiro, recebemos o Prêmio Nacional de Livros Publicados, ao mesmo tempo fomos eleitos pela AICLAF para ocupar a Cadeira n°18, patronímica de Joracy Camargo.

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